terça-feira, 29 de agosto de 2017

EM ANGOLA HÁ ELEIÇÕES, MAS NÃO HÁ DEMOCRACIA



Angola é um dos regimes mais corruptos do mundo. Disso dão nota os indicadores internacionais, como o Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International, em que o país surge num vergonhoso 164º lugar, em 176 avaliados – o 13º pior do mundo!

Paulo de Morais | opinião

Prova de corrupção em Angola é também a obscena fortuna da família Dos Santos, com a sua filha Isabel à cabeça, uma das mulheres mais ricas do mundo, que ostenta diariamente no Instagram, a riqueza que partilha com o congolês Sindika Dokolo. A riqueza estende-se a toda a família, à irmã de Eduardo dos Santos, Marta, aos filhos e sobrinhos.

Aliás, todos os que gravitaram à volta de Eduardo dos Santos nas últimas décadas ficaram multi-milionários, à custa de sugar os recursos naturais (petróleo, diamantes e outros), de destruir bancos como o BES (Angola), que concedeu empréstimos sem garantias a toda a cúpula do MPLA, inclusive ao próprio presidente anunciado, João Lourenço; e graças a muitas outras edificantes actividades que depauperaram o país e hipotecaram o seu futuro.

Mas o testemunho mais doloroso de toda esta corrupção são as crianças que morrem na rua, numa pátria que lhes é madrasta e que, apesar do seu petróleo e dos seus diamantes, possui o pior indicador mortalidade infantil do mundo, com o aterrador score de 156/1000. A este indicador de pobreza junta-se uma esperança média de vida de apenas 52 anos. Em suma, um povo em sofrimento, uma sociedade em extinção.

Com a corrupção a dominar o regime, Angola vê destruído o seu Estado de Direito. E um estado que não é de direito não é, obviamente, democrático. Pelo que Angola não é uma democracia.

As eleições de amanhã serão assim apenas uma legitimação formal da escolha, por parte de Eduardo dos Santos, do regente João Lourenço. A sua legitimidade é nula e semelhante à dos actos eleitorais nos anos terminais de vigência do regime fascista colonizador; à época, organizava-se um acto eleitoral formal e, no final, vencia a União Nacional no poder e reforçava-se o ditador. Era esse o regime contra o qual o MPLA genuíno de então lutava; mas que o actual MPLA decrépito – e abastardado por uma geração de líderes corruptos – optou por imitar.


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