O
presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto da Silva,
está preocupado com a proibição de manifestações e o silenciamento dos média.
Várias
organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau têm criticado, nas últimas
semanas, o que consideram "ameaças e intimidações" de agentes do
Estado às liberdades cívicas no país. Por exemplo, no último sábado
(15.07), a polícia impediu uma nova manifestação em Bissau do Movimento dos
Cidadãos Conscientes e Inconformados.
Muitos guineenses já questionam a
legalidade das decisões do Ministério do Interior que reiteradamente têm
impedido a realização dessas manifestações.
Em
entrevista à DW África, o advogado e presidente da LGDH, Augusto da Silva,
disse que vê a atual situação com muita preocupação porque se trata de uma
tentativa de instalação de um regime ditatorial na Guiné-Bissau.
DW
África: Como interpreta a posição do Governo da Guiné-Bissau que tem
impedido sistematicamente os cidadãos do país de realizarem manifestações,
nomeadamente em Bissau?
Augusto
da Silva (AS): Isso é pronúncio de uma tentativa de instauração de uma
ditadura na Guiné-Bissau. As autoridades nacionais estão a tentar, de todas as
formas, silenciar vozes críticas no país. Já silenciaram estações de rádio
e televisão internacionais independentes e agora estão a impedir a realização
das manifestações. Isso demonstra, claramente, a intenção ditatorial do regime.
DW
África: O que é que a Liga Guineense dos Direitos Humanos pode fazer?
AS: Primeiro,
nós temos de consciencializar os nossos concidadãos sobre o perigo que estamos
a correr se nós continuarmos a permitir que o regime interfira arbitrariamente
no exercício ou no gozo dos nossos direitos. É preciso tomarmos consciência
disso e podermo-nos mobilizar para enfrentar essa situação. Também estamos a
desenvolver contatos com a comunidade internacional, com o grupo de P5
[representa as Nações Unidas, Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO), União Europeia, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
e União Africana], com representantes de algumas organizações a nível da Guiné
Bissau e não só. Portanto, estamos a tentar mobilizar-nos o máximo possível,
que é para enfrentar a situação e chamar eventuais inquilinos do poder à razão.
DW
África: Mas será que a sociedade civil guineense não está ainda à altura de
fazer face a essas exigências?
AS: A
sociedade civil está à altura. Falta é consciencializar o grosso dos cidadãos,
porque esta crise dividiu os guineenses e as pessoas estão a utilizar golpes de
muito baixo nível para se atingirem mutuamente. Então, é preciso nós fazermos
de fato esse trabalho de sensibilização para mostrar às pessoas que aqui não
está em causa o interesse do fulano, aqui está em causa o povo guineense.
Estão
em causa valores nos quais todos nós nos revemos. E, por isso, todos nós temos
de nos levantar para lutar pela afirmação desses valores, pela defesa desses
valores. É esse trabalho que ainda está a faltar e que nós pensamos que vamos
conseguir fazer e, com isso, podermo-nos levantar contra qualquer intromissão
no gozo dos nossos direitos. O povo guineense já deu provas da sua maturidade e
já mostrou que é livre e que nunca permitirá que alguém ponha em causa as
conquistas já alcançadas.
DW
África: O Conselho de Paz e Segurança da União Africana voltou a manifestar a
sua profunda preocupação com o impasse político na Guiné-Bissau e lançou, mais
uma vez, o apelo ao diálogo para o cumprimento do Acordo de Conacri. Acredita
que as autoridades vão ouvir este novo apelo?
AS: Apelos
não resolvem. Parece-me que estão insensíveis a tantos apelos que temos
lançado. Então, é preciso passarmos para a fase de efetivação de algumas
medidas, para obrigar os atores políticos guineenses a respeitar os compromissos
assumidos.
DW
África: Como por exemplo?
AS: Para
a comunidade internacional há mecanismos como sanções, embargos de regime e
outros que podem ser acionados para obrigar um regime a respeitar os
compromissos internacionalmente assumidos.
DW
África: Será que falta esta vontade por parte da comunidade internacional?
AS: A
comunidade internacional tem sido muito ponderada face à complexidade da
situação e quer privilegiar uma solução que possa ser encontrada
voluntariamente entre os atores políticos, mas o tempo já se arrasta há muito,
o que demonstra que efetivamente não há vontade política interna para
encontrarmos essa solução. É preciso acionar outros mecanismos capazes de
forçar a nossa classe política a encontrar uma solução consensual para
dialogarem seriamente, para tirar o país da situação em que se encontra.
António
Rocha | Deutsche Welle | em 18.07.2017 | Na foto: José
Mário Vaz, Presidente guineense
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