terça-feira, 31 de outubro de 2017

VASSALAGEM SEM LIMITES



Martinho Júnior | Luanda

1- Numa prova de vassalagem doutrinária e ideológica sem limites, que não esconde o proverbial cinismo e hipocrisia duma Europa de decadente conservadorismo e neoliberalismo, o Parlamento Europeu representativo dos poderes das oligarquias cada vez mais divorciadas dos povos, decidiu atribuir o “Prémio Sakarov para a liberdade de pensamento” à oposição venezuelana, no preciso momento em que mais uma injecção de “revoluções coloridas” se esgota e se estilhaça nos processos eleitorais da Venezuela Bolivariana, no seguimento da Assembleia Nacional Constituinte!...

O prémio revela uma acintosa sincronização doutrinária e ideológica das oligarquias europeias para com a poderosa oligarquia venezuelana, incapaz de se afirmar nas urnas, fora do clima artificioso das tensões nas ruas.

A decisão foi encontrada também num momento em que na transversalidade, o modelo escolhido para a Europa pelas representações dessas oligarquias no Parlamento da União Europeia é assolado por telúricas crises reveladoras de tensões internas, decorrentes de espectativas sociais e humanas não satisfeitas de origem diversa, em relação às quais a União Europeia tarda democraticamente em abordar, avaliar, saber integrar ou solucionar!...

As “revoluções coloridas” também não deixaram de tisnar o solo europeu, recorde-se a Jugoslávia e a Ucrânia, ou o “arranjo”subjacente do Kosovo, para não citar os exemplos mais remotos, entre eles o que tenho evidenciado como o caso português (e o que foi feito do 25 de Abril de 1974 quando eclodiu o 25 de Novembro de 1975), que considero um dos primeiros exemplos de (contra) “revolução colorida”.

Sahara Ocidental sob ocupação militar | Marrocos expulsa eurodeputados por medo da verdade



Um grupo de 5 eurodeputados do Intergrupo para o Sahara Ocidental tentou visitar El Aaiun nos territórios ocupados do Sahara Ocidental sob ocupação militar marroquina desde 1975, após a aterragem no aeroporto os eurodeputados foram impedidos de sair do avião e forçados a regressar no mesmo avião a Las Palmas (Espanha). De acordo com declarações da deputada sueca, Bodil Valero, as autoridades pediram-lhes os seus passaportes, no interior do avião, a que os eurodeputados se recusaram.

Diversos passageiros mostraram a sua solidariedade com este grupo de deputados europeus.

A delegação era composta pela deputada sueca Jytte Guteland (S & D), presidente do Intergrupo; Paloma López Bermejo (IU) vice-presidente, Josu Juaristi (EH Bildu), Lidia Senra (Galega Alternativa Esquerdas) de Espanha e Bodil Valero (Verdes / ALE), também sueca, acompanhados por um assistente. O objectivo da vista era realizar reuniões com a sociedade civil saharaui, vítimas de violações dos direitos humanos e ativistas na cidade, além de verificar de perto a situação sob a ocupação marroquina e a mudança demográfica, com a introdução de centenas de milhares de colonos marroquinos.

O grupo parlamentar da Esquerda Unida / Esquerda Nórdica Verde (GUE / NGL) descreveu como "inaceitável" a expulsão de cinco dos seus deputados, três deles espanhóis do Sahara Ocidental, após as autoridades marroquinas não lhes permitem sair de um avião em El Aaiún . Paloma López Bermejo, vice-presidente do Intergrupo para o Sahara Ocidental afirma que as autoridades marroquinas lhes disseram que como turistas eram bem-vindos mas não como observadores com uma "agenda" de uma das "partes" Lopez reafirmou que os deputados não vão abandonar o povo saharaui e o seu legítimo direito à autodeterminação.

Portugal | CENSURA NA TVI



A censura prévia, ou auto-censura, existe desde há muito nas estações portuguesas de televisão. Mas inédito foi o acontecido dia 30 de Outubro, cerca das 21h30, na TVI. 

Em meio a um debate sobre os incêndios florestais, na sequência de uma reportagem da jornalista Ana Leal , a emissão foi cortada subitamente e sem qualquer explicação. Isto aconteceu quando intervinha o Comandante do Bombeiros de Leiria, o qual mal principiara a sua análise. Este acto censóreo da direcção da TVI constitui uma afronta tanto ao público que assistia ao debate como aos seus intervenientes e ao moderador do mesmo. Assim vai o jornalismo em Portugal.

Resistir.info

Censura interna nas manhãs da TVI

A exclusão de um jornal na 'Sala de Imprensa' da TVI é um exemplo gritante e revelador de enviesamento e má informação a quem a vê.

A revista de imprensa das manhãs da TVI não mostra o CM. Porquê? "Por ordem da Direcção de Informação", dizem-me da TVI. Se é capaz desta censura sistemática, imagine-se como são alinhados os noticiários quando os "amigos" do director estão em causa.

Todas as manhãs, a TVI censura o Correio da Manhã. Esta censura interna, que prejudica o canal e os seus espectadores, é aceite pelos jornalistas da casa como normal. Já que são servos sem coragem nem vergonha, ao menos não se armem em independentes.

Eduardo Cintra Torres | Correio da Manhã | 08.09.2017

PORTUGAL | Os nossos juízes estão a precisar de polícia?



Pedro Tadeu | Diário de Notícias | opinião

Para agir o Conselho Superior de Magistratura teve de ser pressionado pelos jornais, por colunistas, por comentadores, pelo Presidente da República, pela ministra da Justiça, pelas redes sociais e até por pequenas mas inéditas manifestações de rua contra o acórdão do juiz da Relação Neto Moura (co-assinado "de cruz", segundo o jornal "Expresso", pela juíza Maria Luísa Arantes) que teceu largas considerações gerais sobre a suposta imoralidade da mulher adúltera, aparente estatuto da vítima do caso, que levou no corpo com uma moca de pregos.

Para decidir estabelecer um simples inquérito disciplinar esse órgão de magistrados que aprecia o desempenho dos seus (e são tantos a ter "muito bom", tal como o próprio Neto Moura já teve, nas respetivas classificações de carreira que deveríamos esperar ter um serviço de justiça absolutamente excecional, em vez de termos de conviver com o arrastado desastre diário que ele é) teve de ser empurrado para uma espécie de beco sem saída mediático e político, cuja única escapatória foi tentar anunciar que ia fazer alguma coisa mais ou menos relevante, suponho que na esperança do assunto entrar no esquecimento.

Já foi ultra escalpelizada a sentença polémica deste juiz, suficientemente grave e anacrónica para até dar azo a que se sustentem opiniões de gente prestigiada que acabam, voluntária ou involuntariamente, a pôr em causa a independência dos juízes, privilégio fundamentalmente sustentado no facto de eles não deverem ser responsabilizados pelas decisões que tomam, o que até é garantido constitucionalmente.

NO PSD VÃO MUDAR AS MOSCAS, MAS…



Operação cosmética no PSD não muda política

Jornadas parlamentares decorreram nos últimos dois dias, em Braga

No PSD mudam as caras mas mantém-se o rumo: Rui Rio disse aos deputados do partido que faria «igual ou pior» do que fez Maria Luís Albuquerque nas Finanças. Passos anuncia voto contra ao Orçamento.

As jornadas parlamentares do PSD em Braga, que terminam hoje, tiveram de tudo um pouco. No primeiro dia a estrela foi Rui Rio, um dos candidatos à liderança do partido. De acordo com relatos recolhidos de deputados presentes no encontro à porta fechada pela Lusa, o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto ter-se-à dirigido à anterior ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e dito que faria «igual ou pior» no seu lugar.
O pretendente ao lugar de Passos Coelho já tinha afirmado que, com ele no Governo, haveria um défice zero. Agora, concretiza o método: repetir e aprofundar a política do anterior governo mas de forma ainda mais agressiva. As eleições internas do PSD parecem estar destinadas a não passar de um exércio de relações públicas, em que mudam alguns dos protagonistas, outros são reabilitados, mas a política é a mesma.
Em coerência, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, anunciou que o partido que ainda dirige vai votar contra a redução do IRS para os trabalhadores que menos ganham, o descongelamento das carreiras dos trabalhadores da Administração Pública ou o aumento extraordinário das pensões.

AbrilAbril

Imagem:  O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, acompanhado pelos candidatos à liderança do partido, Rui Rio e Pedro Santana Lopes, durante as jornadas parlamentares, em Braga. 30 de Outubro de 2017CréditosHugo Delgado / Agência LUSA

*Título PG

PORTUGAL À SOMBRA DE AMBIGUIDADES AINDA NÃO ULTRAPASSADAS – IX



Martinho Júnior | Luanda 

Em saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos 43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra. 

17- O 25 de Abril de 1974 em Portugal, favoreceu a descolonização, sem contudo impedir que essa descolonização fosse pautada pelos imponderáveis ao sabor das potências da época, assim como das correntes dominantes, que articularam seus interesses por via de interpostas entidades, resguardando-se na época, de certo modo, da visibilidade político-diplomática em direcção a África, em particular em direcção ao “apartheid”.

Dimensionavam seus passos, programas e relações numa atmosfera meio clandestina, meio envergonhada e sempre com a tradicional dose de subtil hipocrisia e cinismo, conformes aos costumes digeridos durante séculos!

A descolonização foi assim um processo inquinado, por que as ingerências e as manipulações sobre as até então colónias, interferiram duma forma ou de outra, com maior ou menor intensidade, a partir desde logo dos Estados Unidos e em vários“tabuleiros”: em Portugal, nas colónias em vias de independência, na Europa e em África (sobretudo na África Austral e Central).

Efectivamente, a posição de múltipla vassalagem de Portugal, era por si um incentivo às ingerências e manipulações das potências dominantes, sobretudo dos Estados Unidos em função dos interesses da aristocracia financeira mundial e isso foi desde então um processo continuado, uma constante prova de conspiração.

Nesse âmbito, Angola haveria de sofrer com mais intensidade esses impactos, pois face ao Não Alinhamento activo do Movimento de Libertação (MPLA), estavam disponíveis ao poder de manobra das potências que compõem a “civilização judaico-cristã ocidental”, os etno-nacionalismos angolanos (FNLA e UNITA), assim como seus vínculos de orientação, quer a partir do Zaíre, quer a partir do“apartheid” instalado na África do Sul e Namíbia ocupada, quer a partir da muleta portuguesa, tudo isso aproveitando o rescaldo do Exercício ALCORA e os bons ofícios dos conservadores do “Le Cercle” que se haviam antes implicado com a “Aginter Press”, enquanto houve Estado Novo em Portugal (Jaime Nogueira Pinto é uma das “emanações” que deu sequência, como foi antes Jorge Jardim), todos eles revendo-se no “aconselhamento” a Savimbi e a Dlakhama!

O 25 de Abril de 1974 enquanto revolução sustentou-se numa curta duração, por que a 25 de Novembro de 1975 sobreveio a contrarrevolução, que se apossou do rótulo para implementar os conteúdos a condizer aos interesses das oligarquias portuguesa e europeia: a “revolução dos cravos” serviu para o primeiro ensaio das “revoluções coloridas” da história, indexando o processo português à própria formação da União Europeia (Comissão Europeia), mas mantendo-o sempre em “rédea curta”, quer em relação aos auspícios e ideologias dominantes propagadas pelos Estados Unidos, quer em relação às doutrinas e auspícios da NATO.

domingo, 29 de outubro de 2017

CENTRIFUGAÇÃO EUROPEIA



Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Por mais que os diferentes governos europeus e as instituições da União Europeia (UE) repitam que o processo independentista catalão é um assunto que só ao Estado espanhol diz respeito, a verdade é que o drama catalão não pode ser desligado de uma situação de descarrilamento do "projeto europeu", que afeta os diversos sistemas políticos nacionais e põe em evidência as tensões internas da UE e a sua incapacidade de movimentação política útil.

Expressões de desagregação ao nível dos sistemas políticos nacionais incluem o reforço de independentismos (Escócia e Norte de Itália), a rutura de coligações centristas (envolvendo a social-democracia e atrofiando-a) e o reforço da Direita nacionalista, particularmente a Leste. Manifestações de descarrilamento da União Europeia incluem, nomeadamente, o processo do Brexit, a exclusão da agenda negocial de questões vitais para meia UE - desde logo a questão da dívida -, divisões crescentes nas questões das migrações e impasses quanto ao Euro, as suas regras e instituições.

É certo que o independentismo catalão está longe de ser uma novidade e que as suas raízes históricas são diversas. No entanto, é muito ampla a perceção do crescimento da vontade independentista de largos setores da sociedade catalã durante os últimos anos. Foi um período marcado pela crise associada à imposição da agenda neoliberal e pela ingerência externa, mas também, em Espanha, pela construção de perspetivas de ampliação da autonomia da Catalunha seguidas de manobras das forças mais conservadoras para as aniquilar.

MEMORIAL DE ESPANHA!



Martinho Júnior | Luanda

Sonora e ardente,
Tão apaixonada como sempre
Espanha estala
Sob o chicote de Rajoy…

Nada será uma vez mais,
Como antes não o foi
Nem para o neofascismo,
Nem para uma malparada
E ensombrada monarquia
E seus artesões!

Nas ruas de Barcelona,
Há um velho sentido
Duma história antiga,
Mas sempre presente,
Que numa diáspora intemporal,
Uniu, une e unirá
A dignidade dos povos!

Nem o sangue,
Nem as lágrimas,
Nem a memória pungente,
Nem o chicote de Rajoy,
Nos poderão agora
Parar!

A RÚSSIA E A CHINA CONTRA O IMPÉRIO DO DÓLAR



Manlio Dinucci*

Existe uma grande variedade de tensões e conflitos que se estendem desde o Leste Asiático até à Ásia Central, do Médio Oriente à Europa, da África à América Latina. Os "pontos quentes" ao longo deste arco intercontinental - Península da Coreia, Mar Meridional da China, Afeganistão, Síria, Iraque, Irão, Ucrânia, Líbia, Venezuela e outros - têm histórias geopolíticas e características diferentes, mas, ao mesmo tempo, também estão ligadas por um único factor : a estratégia com a qual o “Império Ocidental Americano em declínio” procura evitar a manifestação de novos problemas estatais e sociais.

O que Washington teme é que o que se designa como Cimeira BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), ocorrida de 3 a 5 de Setembro, em Xiamen, na China. Dando voz “à preocupação do BRICS com a injusta arquitetura económica e financeira mundial, que não tem em consideração o peso crescente das economias emergentes", o Presidente russo, Putin, salientou a necessidade de "superar a influência excessiva de um número limitado de moedas de reserva”.

É uma referência clara ao dólar americano, que representa quase dois terços das reservas monetárias mundiais e a moeda com a qual se determina o preço do petróleo, do ouro e de outras matérias primas estratégicas. Isso permite que os EUA mantenham um papel dominante ao imprimir dólares cujo valor se baseia, não na verdadeira capacidade económica dos EUA, mas, no facto, do dólar ser usado ​​como moeda global.

No entanto, o yuan chinês, entrou há um ano no cabaz de câmbio da reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina), e Pequim está prestes a lançar contratos de compra de petróleo em yuans/iuanes, conversíveis em ouro.

BLOQUEIO A CUBA, A MAIS LONGA PRÁTICA DE CONSPIRAÇÃO



Martinho Júnior | Luanda 

1- As práticas de conspiração são, duma forma geral, a mais provada experiência contínua levada a cabo pelo poder da hegemonia unipolar, onde quer que seja e numa escala sem precedentes para a história da humanidade, desde 1945 aos nossos dias!

Elas são evidências dum princípio doutrinal de relacionamento com os outros que integram procedimentos recorrentes, com duas alienações inerentes que lhe são subjacentes, entre as muitas que poderíamos evocar, que eu realço: o “slogan” da “Guerra Fria” e o“slogan” da “teoria da conspiração”!

A “Guerra Fria” enquanto “slogan” por que, quando os ideólogos de feição querem retratar a época de 1945 a 1991 recorrem a essa figura, aparentemente limitada no espaço e no tempo, também por que a partir dela mais facilmente reduzem todos os fenómenos sócio-políticos ao “diktat” de sua alienação, algo que tanto serve a expressão sintomática da “civilização judaico-cristã ocidental” e da NATO;

A “teoria da conspiração” para, por um lado lavar a imagem dos fulcros globais do poder hegemónico unipolar, por outro integrar com essa crença difusa e mil vezes repetida, o pacote de medidas que compõem os métodos e vias de formatação das mentalidades, (tornando-as avassaladas, dóceis ou submissas) que visam melhor consolidar o seu domínio, inclusive nos termos duma acção psico-social afim aos expedientes típicos da “afirmação” da hegemonia unipolar!

PORTUGAL | Jerónimo de Sousa: Corte de 10% no subsídio de desemprego é para cair



Grande entrevista DN/TSF com o secretário-geral do PCP

Com tanta gente chocada, o senhor também está chocado com o ambiente de crispação que se gerou entre o governo socialista e o Presidente na sequência das comunicações feitas ao país quer por António Costa quer por Marcelo Rebelo de Sousa?

Nós não consideramos isso um elemento político relevante, consideramos que esse processo, o estado de choque ou não choque, não é um elemento político de avaliação tanto do Governo como do próprio Presidente da República; registamos, fazemos a devida avaliação, mas eu desdramatizaria esse acontecimento.

Considera que há um novo patamar no relacionamento entre o Governo e o Presidente com este episódio que tem diversos contornos?

Naturalmente compreenderão que eu não posso antecipar o que está no pensamento do Senhor Presidente da República, o que posso dizer é que pode tender a haver uma evolução da situação, mas seria excessivo dizer que a partir daqui vai haver um novo ciclo, um desenvolvimento político de consequências ainda imprevisíveis, não chego a esse ponto. O Presidente da República naturalmente saberá, mas há que observar esses possíveis desenvolvimentos.

Na discussão da moção de censura, muito centrada nos fogos que aconteceram este ano no país, o PS ficou, de alguma forma, a defender-se sozinho, contando com a ajuda do PCP apenas para atacar a direita e apontar-lhe responsabilidades históricas pelo que aconteceu. Em seu entender, o Governo não tinha defesa nesta questão?

Eu creio que é importante, em nome da coerência política, fazer o sublinhado em relação a omissões e responsabilidades próprias do Governo nesse trágico acontecimento. Creio que isso tinha de estar presente e particularmente claro na nossa intervenção, o que não invalida - e não invalidou -, a desmontagem do aproveitamento político e partidário do CDS, que talvez em concorrência com o próprio PSD, admito, procurou cavalgar nessa mesma tragédia, o que aconteceu pela primeira vez numa moção de censura. A moção de censura parte geralmente de um quadro político e social existente, seja no bom ou no mau sentido mas, particularmente, quando as coisas se agudizavam, ao longo destas décadas, no plano político, económico e social justificava-se essa moção de censura num quadro mais abrangente. Aqui não, o CDS escolheu apenas potenciar as emoções, os sentimentos e a própria dor de quem foi vítima da tragédia e, por isso mesmo, nós consideramos que tendo em conta as próprias responsabilidades diretas do CDS no Governo anterior, tendo em conta a ocupação da deputada Assunção Cristas na governação e, em especial, no Ministério da Agricultura, com medidas que eram contraproducentes para a necessidade de recuperação da nossa floresta, enfim, grandes questões que se colocavam no plano do financiamento, no plano da prevenção, no plano do combate, o CDS não tinha moral nenhuma para, aproveitando essa tragédia, fazer ali um exercício de instrumentalização política. Possivelmente para assumir um protagonismo maior em relação ao PSD e, simultaneamente, fazer um certo ajuste de contas com a derrota que teve nas eleições legislativas passadas.

DIREITA.PT | Perante o vazio de ideias




A vida não estava a ser fácil para a direita, tanto mais é assim que a própria liderança do PSD acabou por soçobrar às mãos do sucesso da solução governativa de esquerda e perante o mais absoluto vazio de ideias.

Depois da Europa ter abrandado a fome de austeridade (entre outras razões, ter-se-á apercebido que existem problemas incomensuravelmente mais graves do que a consolidação das contas públicas de Portugal e Grécia, sendo o Brexit um bom exemplo dessa enormidade de problemas com que a Europa se confronta), ter-se registado uma melhoria da economia mundial, por precária e efémera que seja, e depois ainda da actual solução governativa ter demonstrado que se podia ter as contas em ordem sem dar cabo da vida dos cidadãos, a direita viu-se confrontada com um enorme vazio de ideias, depois de ter aplicado um enorme aumento de impostos.

A comunicação social tem a seu cargo o desgaste diário da actual solução governativa, procurando, quer através da selecção das notícias, mas também através da opinião, mostrar as fragilidades da chamada "geringonça". Esta tem sido uma ajuda preciosa para um direita desnorteada.

Num dia fatídico, a tragédia abate-se sobre o país e que melhor oportunidade para desferir o golpe fatal ao Governo de António Costa. Assim, CDS e PSD (embora claramente fragilizado, ainda tem nas suas hostes quem consiga espernear), aliados a uma comunicação social refém dos grandes interesses económicos, jogam todas as cartas nesta oportunidade, incluindo uma moção de censura.

Todavia, o vazio de ideias e de estratégia permanece, restando a velha e gasta cartilha neoliberal cuja aplicação não encontra, neste momento, as melhores condições.

Quanto aos partidos mais à esquerda do PS, e pese embora os fracos resultados autárquicos, sabem que seria pior sair desta solução governativa, deixando espaço a uma direita que, embora despida de ideias, não perde energia, como se viu nos últimos dias. Paralelamente, ainda resta uma incógnita no horizonte: a liderança do PSD.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

CASTELA vs CATALUNHA | O poder e as nádegas



Afonso Camões* | Jornal de Notícias | opinião

Bem pode a independência ser um sonho catalão. Até ver, porém, a independência da Catalunha é um ato falhado. Dois dias depois da declaração unilateral, em Barcelona, nenhum Estado no mundo real reconhece tal república. E o português terá sido o primeiro a negá-la, condenando "a quebra da ordem constitucional e o ataque ao Estado de direito em Espanha - parte integrante do quadro jurídico da União Europeia".

A Espanha que Ortega y Gasset definia como "criação de Castela" estremece com a ameaça separatista, a mais grave crise constitucional que a democracia espanhola enfrenta nos seus 40 anos de existência. E tudo o que de mau possa acontecer ali não deixará de nos afetar negativamente. Os estilhaços não tardarão a chegar, sobretudo os económicos.

E agora? - pergunta a geral, quando se dão os primeiros passos num túnel escuro que ninguém pisou. Porque não há precedente legal em Espanha para a suspensão da autonomia, a demissão de um governo e a dissolução de um parlamento regionais. O Governo central de Madrid marcou eleições regionais para 21 de dezembro, enquanto o Ministério Público espanhol se prepara para acusar de crime de rebelião os arquitetos da declaração de independência. O braço de ferro vai continuar e sobra para as ruas. A escalada pode degenerar em violência. E há forças que apostam nisso.

Em Espanha, como noutras paragens europeias, os movimentos nacionalistas têm sido terreno fértil para a incitação à revolta social e ao aumento do populismo, fundado no crescimento das desigualdades. A ira popular - perante a corrupção política, a escassez de mão de obra e tantas outras urgências ignoradas pelos poderes - por mais justificada que seja, acabará em desilusão, porventura desesperada, se os líderes políticos e sociais não souberem conduzir os desejos de mudança e de vida melhor aos seus cidadãos. É disso que trata a política. O arrepio, esse, é lembrarmo-nos de que ainda há 80 anos, aqui mesmo ao lado, se travava a sangrenta Guerra Civil que serviria de ensaio geral à mais ensanguentada das guerras mundiais.

Oxalá os dirigentes políticos espanhóis tenham lido bem Ortega y Gasset, um dos seus filósofos maiores no século XX, quando ele dizia que "o poder é menos uma questão de punhos e mais uma questão de nádegas". Foi ele que traduziu para os espanhóis o célebre diálogo em que um bispo, opondo-se às políticas de hegemonia centralista, explicava a Napoleão que nenhum regime se sustenta só pela força: "Com as baionetas pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre elas".

*Diretor do JN

Contra a Catalunha independente | Símbolos fascistas na manifestação espanholista em Madrid



Bandeiras da Espanha franquista e saudações nazis marcaram presença na Praça Colón, onde se pediu prisão para os dirigentes catalães.

Uma manifestação pela "unidade do país e a Constituição", convocada pela Fundação para a Defesa da Nação Espanhola (Denaes), reuniu este sábado centenas de pessoas na Praça de Colón de Madrid – incluindo vários manifestantes de extrema-direita, que agitaram bandeiras de Espanha com o escudo da águia de São João (a bandeira espanhola durante a ditadura de Franco) e fizeram a saudação nazi. Também foram vistas bandeiras da Cruz de Borgonha, adoptada por Filipe I rei de Castela no início do século XVI.

Entre gritos de "prisão" para os independentistas catalães e "vivas" para a Polícia Nacional, a Guardia Civil, e o rei Felipe VI, os manifestantes criticaram a actuação do Governo de Mariano Rajoy e a sua resposta, que consideram demasiado branda, ao desafio da Catalunha.

"Não basta o artigo 155 da Constituição, esta crise não se resolve em dois meses com umas eleições autonómicas para as quais não existem as mínimas garantias. O que é preciso é que se aplique o código penal contra os golpistas, com toda a contundência", defendem o secretário e fundador da Fundação Denaes e presidente do partido de extrema direita Vox, Santiago Abascal, que convocou o protesto.

Alguns dirigentes do Partido Popular, como a presidente da Comunidade de Madrid, Cristina Cifuentes, o vice-secretário nacional de comunicações, Pablo Casado, ou o autarca de Alcorcón, David Pérez, estiveram na Praça Colón a "título pessoal", disseram ao El País. 

Público | Foto: Sérgio Perez/Reuters

sábado, 28 de outubro de 2017

O ABISMO BRASILEIRO



A concentração de riqueza aprofunda a ferida nacional

Guilherme Boulos [*]

Nas últimas semanas, foram publicados dois estudos reveladores do abismo social brasileiro. O primeiro e mais completo deles foi o relatório da Oxfam Brasil, tema da reportagem de capa da edição 972 de Carta Capital, sobre as desigualdades em termos de riqueza, rendimento [NR] , gênero e raça em nosso país.

O outro foi um levantamento do mapa de homicídios publicado pelo jornal Folha de S. Paulo na última segunda-feira 9. Duas faces do mesmo problema, concentração de riqueza e violência aprofundam a ferida nacional.

Os números apresentados pelo estudo A Distância Que Nos Une, da Oxfam, são chocantes:   a riqueza dos seis maiores bilionários brasileiros equivale à dos 100 milhões mais pobres. Considerando o 0,1% mais rico, seu rendimento [NR] em um mês é o mesmo que um trabalhador com ganho de um salário mínimo receberia em 19 anos. Difícil explicar pela meritocracia uma desigualdade tão gritante.

O trabalho da Oxfam tem a vantagem de operar não apenas com o conceito de rendimento, mas também com o de riqueza, que inclui a propriedade imobiliária. Por aqui, a terra historicamente foi o pivô da desigualdade.

No campo, os dados do último Censo Agropecuário mostraram o aumento da concentração, medida pelo Índice de Gini, sendo os latifúndios mais da metade da terra agrícola do País. Nas cidades não é diferente: em São Paulo , 1% dos proprietários concentra 25% dos imóveis, o que, por sua vez, representa 45% de todo o valor imobiliário municipal. Enquanto isso, o déficit de moradia na cidade supera 470 mil famílias.

BRASIL | Ingente desafio programático



Programático tanto no sentido de que é preciso ir mais a fundo na devida consideração do drama que o país atravessa, como na formulação de alternativas

Luciano Siqueira*, de Recife | Correio do Brasil | opinião

Apenas o protesto (sempre justo e oportuno) e a denúncia (também necessária) das negociatas que mantêm Temer no governo não são suficientes para converter em ação prática a insatisfação que se alastra na população.

A empreitada é muito maior e mais complexa.

Recordo-me de que à altura do terceiro ano do primeiro governo Lula, por sugestão do próprio presidente; uma dezena de integrantes da Comissão Política Nacional do PCdoB se reuniu no Palácio do Planalto com a então ministra-chefe da Casa Civil; Dilma Rousseff e o também ministro Jacques Wagner, tendo como mote as reiteradas críticas do nosso Partido à política macroeconômica.

Na ocasião, Dilma nos fez uma ampla apresentação da ações de governo, sobressaindo-se o esforço intenso; e continuado em desfazer uma gama de leis, decretos e instruções normativas que Fernando Henrique Cardoso deixara; cujo sentido era engessar o Estado brasileiro naquilo que poderia servir à indução do desenvolvimento econômico em bases soberanas. Inclusive a interdição de recursos para as Universidades públicas, para a pesquisa científica e para a manutenção e fortalecimento da rede de escolas técnicas federais, por exemplo.

CONTRA AS CONSTANTES INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES…



...QUE TÊM VINDO A SOFRER A EMERGÊNCIA E OS ESTADOS DO SUL

Martinho Júnior | Luanda

A hegemonia unipolar de que se rege o domínio da aristocracia financeira mundial nas suas vestes neoliberais, desde os tempos das administrações de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher que não cessam de promover por via da pré anunciada vontade de“portas escancaradas” (George Soros, seus filósofos-aliados e a sua filantrópica-especulativa “Open Society”), os mais diversos programas de ingerência e manipulação nos estados em emergência e em todos os estados do sul, a fim de, em nome da democracia, os moldar à feição dos seus interesses.

Aplicam nesse âmbito, “ementa” a “ementa”, políticas de “geometria variável” nos seus recursos e intensidade, de forma a manter a sua presença numa constante equação de tensão, colocando quantas vezes em risco a independência e a soberania dos estados, das nações e dos povos, sempre em nome da democracia e dos direitos humanos!


Utilizando recursos inesgotáveis, propiciados sobretudo pela fluência do dólar nos circuitos financeiros internacionais e pelo“diktat” sobre as políticas de preços das matérias-primas, a hegemonia unipolar tem, por via de seu “soft power”, garantida uma presença dominante constante onde quer que seja.

Em relação ao petróleo e ao gás, a hegemonia unipolar tira partido das cotações internacionais como acontece em relação a todas as outras matérias-primas e está a utilizar isso como uma “catapulta” que providencia a desestabilização, particularmente onde há disputas sobre os seus próprios interesses.

CATALUNHA, A NAÇÃO QUE QUER REGRESSAR À INDEPENDÊNCIA



A Espanha não é uma nação mas sim um estado composto por várias nações de que o reino de Castela se apoderou, como também o tentou em Portugal, mantendo-se a ocupar o país por cerca de 60 anos, até à libertação e expulsão do exército castelhano e dos que eram por Castela. Em 1640 Portugal beneficiou do esforço de guerra que em Castela estava em curso para manter a Catalunha sob o seu domínio. Na atualidade a Catalunha, os catalães, pretendem regressar à independência da nação. Naturalmente que Castela se opõe. Conheça um pouco da história da nação catalã num breve texto da Wikipédia (apesar de alguns "vícios"). Quanto aos portugueses, devem recordar que também eles hoje poderiam estar a debaterem-se pela independência de Portugal se em 1640 não tivessem conseguido escorraçar os castelhanos que por seis décadas ocuparam o país que Afonso Henriques e outros antepassados lusos fundaram a partir do Condado Portucalense. (PG)

Catalunha (em catalão: Catalunya, em occitano: Catalonha, em espanhol: Cataluña) é uma comunidade autônoma da Espanha localizada na extremidade leste da Península Ibérica. É designada como uma nacionalidade pelo seu Estatuto de Autonomia.[2] A Catalunha é composta por quatro províncias: Barcelona​​GironaLérida e Tarragona. A capital e a maior cidade é Barcelona, ​​o segundo município mais povoado de Espanha e o núcleo da sétima área urbana mais populosa da União Europeia. A Catalunha compreende a maior parte do território do antigo Principado da Catalunha(com exceção de Rossilhão, agora parte dos Pirineus Orientais da França). Tem fronteiras com a França e Andorra ao norte, o Mar Mediterrâneo a leste e as comunidades autônomas espanholas de Aragão a oeste e Valência ao sul. As línguas oficiais são o catalão, o espanhol e o occitano aranês.[3]

No final do século VIII, os municípios da Marca de Gotia e a Marca Hispânica foram estabelecidos pelo Reino Franco como vassalos feudais perto dos Pirineus orientais como uma barreira defensiva contra invasões muçulmanas. Os municípios orientais dessas marchas estavam unidos sob o domínio do vassalo franco, o Conde de Barcelona, ​​e mais tarde passaram a se chamar "Catalunha". Em 1137, a Catalunha e o Reino de Aragão foram fundidos após a união real entre a Coroa de Aragão e o Principado da Catalunha. A região tornou-se a base do poder naval da Coroa de Aragão e do expansionismo no Mediterrâneo. No final da Idade Média, a literatura catalã floresceu. Entre 1469 e 1516, o rei de Aragão e a rainha de Castela se casaram e governaram seus reinos juntos, mantendo todas as suas instituições, tribunais e constituições distintas.

INDEPENDÊNCIA | Puigdemont recusa afastamento do governo da Catalunha



O presidente do governo catalão destituído por Madrid, Carles Puigdemont, não aceita o afastamento e pediu este sábado aos catalães para fazerem uma "oposição democrática".

"Numa sociedade democrática são os parlamentos que escolhem os seus presidentes", disse Carles Puigdemont numa declaração oficial gravada previamente e transmitida em direto pelas televisões espanholas.

Puigdemont sublinha que a sua vontade é "continuar a trabalhar" e pede a todos os catalães "paciência, perseverança e perspetiva".

Na curta intervenção de cerca de três minutos, Puigdemont explicou que, para "defender as conquistas conseguidas até hoje", é preciso manter uma "oposição democrática" à aplicação das medidas aprovadas em Madrid.

"Continuamos a trabalhar para conseguirmos um país [Catalunha] livre" do domínio espanhol, afirmou o líder separatista catalão, assegurando que rejeita a utilização da "força".

Carles Puigdemont fez a declaração oficial ao lado das bandeiras da Catalunha e da União Europeia, assumindo-se como líder de um país independente que pertence ao clube europeu.

O parlamento regional da Catalunha aprovou na sexta-feira a meio da tarde a independência da região de Espanha, numa votação sem a presença da oposição, que abandonou a Assembleia Regional e deixou bandeiras espanholas nos lugares que ocupavam.

Ao mesmo tempo, em Madrid, o Senado espanhol deu autorização ao Governo espanhol para aplicar o artigo 155º. da Constituição para restituir a legalidade na região autónoma.

O executivo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (direita), apoiado pelo maior partido da oposição, os socialistas do PSOE, anunciou ao fim do dia a dissolução do parlamento regional, a realização de eleições em 21 de dezembro próximo e a destituição de todo o Governo catalão, entre outras medidas.

A partir de agora, cada ministério governamental de Madrid irá dirigir os correspondentes serviços regionais, tendo o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, delegado na sua vice-presidente, Soraya Sáenz de Santamaria, as funções e competências do presidente do governo da Catalunha cessante, Carles Puigdemont.

O Governo regional agora demitido por Madrid, apoiado desde 2015 por uma maioria parlamentar de partidos separatistas, organizou e realizou um referendo, considerado ilegal pelo Estado espanhol, em 01 de outubro último.

Nesse dia, numa votação com uma taxa de participação de 43% dos eleitores, votaram "sim" à independência 90% e os "constitucionalistas" (defensores da união com Espanha) boicotaram a consulta, ficando em casa.

Jornal de Notícias | Foto: Jordi Bedmar/EPA

RACISMO | "Em Portugal não gostam de pessoas mais escuras"



Afrodescendentes. Como é ser negro em Portugal? Somos um país racista? Talvez não haja melhor forma de aferir isso que perguntar a crianças e jovens como é crescer negro neste país. Como se sentem, como os fazem sentir, como reagem, que esperança têm de que as coisas melhorem e como lutam por isso. Uma reportagem dura, que evidencia a necessidade de, nas escolas, se fazer pedagogia antirracista. E de todos tomarmos consciência de que como está não pode continuar

"Antes de vir para Portugal julgava que Portugal ficava assim nas nuvens. Quando estava lá na minha terra os aviões entravam nas nuvens, então eu achava que era lá, Portugal. E que quando chegávamos a Portugal cresciam-nos asas nas costas."

Há falas assim, que parecem o início de um romance, ou a voz off que nos primeiros fotogramas de um filme nos mergulha na narrativa, noutro olhar, o de uma criança que olha o céu e sonha com uma terra de anjos. Mas esta fala não está em nenhum livro, nenhuma ficção: é a de Niorka, 12 anos, são-tomense há dois anos neste país que afinal não é nas nuvens, e ficou assim, tal qual, gravada no iphone, na voz de sílabas muito marcadas desta menina sorridente sobre o som do recreio ao lado.

Niorka é uma das três crianças que a escola lisboeta Gago Coutinho escolheu para falar com o DN, respondendo a um pedido para entrevistar alunos afrodescendentes. As outras são Nivaldo Joaquim, de 11 anos, e Aissatou Djallo, de 12, que todos, informa ela, tratam por Aicha. Das três, só Nivaldo nasceu em Portugal: é o único afrodescendente de catálogo, filho de uma guineense e de um angolano. Uma confusão natural, a da escola, já que a expressão "afrodescendente", criada para designar os descendentes de africanos negros a viver em países de maioria não negra e cunhada pela ONU no lançamento da década dos afrodescendentes (2015-2024, uma iniciativa que visa retirar estes cidadãos da invisibilidade e lutar contra a discriminação), ainda não está vulgarizada. Assim, o pedido foi entendido como para entrevistar crianças negras.

E é isso que antes de mais é preciso explicar aos três, que neste dia de sol outonal se sentam na biblioteca da escola, expectantes, curiosos e algo embaraçados, frente a dois adultos que nunca viram: porque é que estão aqui. Como é que se diz a crianças que estão a ser entrevistadas porque a cor da sua pele não é a mesma da da maioria das outras crianças e queremos saber como isso as faz sentir, e como as fazem sentir por isso? Melhor não ir por aí, até porque condicionaria as respostas; dizer-lhes antes que é porque são afrodescendentes e perguntar se sabem o que é. Nivaldo é o primeiro a responder: "Acho que sim. Descendentes de africanos, não é?"

terça-feira, 24 de outubro de 2017

LUTA DE DÉCADAS | Saarauís insistem no referendo perante o enviado da ONU



Na primeira viagem à região de Horst Köhler, novo enviado especial das Nações Unidas para o Saara Ocidental, os saarauís deixaram claro que Marrocos tem de respeitar o Direito Internacional e insistiram na realização do referendo sobre a autodeterminação

A primeira viagem aos campos de refugiados saarauís do novo enviado especial da ONU para o território, nomeado a 8 de Setembro último, está a gerar expectativas sobre a realização do referendo de autodeterminação que a população do Saara Ocidental exige, revela a Prensa Latina.

«Espero que a visita pressione o secretário-general, António Guterres, e o Conselho de Segurança [das Nações Unidas] no sentido de se fixar uma data para a celebração da consulta sobre a nossa independência», disse, na quarta-feira, o ministro de Estado saarauí, Rachid Mostafa Sayed.

Por seu lado, o presidente do Parlamento saarauí, Khatri Edouh, declarou que «as Nações Unidas deviam forçar Marrocos a respeitar o Direito internacional e a legalidade internacional no que se refere à questão saarauí».

«Trata-se da base para relançar as negociações de paz, estancadas desde 2012, e para o êxito da missão de Köhler relativamente à organização do referendo de autodeterminação no Saara Ocidental», disse Edouh após uma reunião com o enviado especial.

Edouh expressou a inteira disponibilidade dos representantes saarauís para cooperar com Köhler, «com base no princípio de que a questão saarauí é um processo de descolonização e um território cujo estatuto pós-colonial nunca foi definido», noticia o Sahara Press Service.

PORTUGAL | Quase 18 mil famílias com carências habitacionais em 149 municípios



O Governo já recebeu informação de 149 dos 308 municípios sobre o levantamento das necessidades habitacionais, identificando perto de 18 mil famílias com carências habitacionais, disse hoje no parlamento a secretária de Estado da Habitação.

Dos 149 municípios que já submeteram o inquérito sobre as necessidades habitacionais, foram identificados 2.593 núcleos, onde vivem "17.699 agregados familiares" em condições precárias, avançou Ana Pinho, no âmbito de uma audição parlamentar na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação.

"O que nos preocupa são os 44 municípios que ainda não iniciaram o preenchimento" do inquérito, declarou a tutelar da pasta da Habitação, indicando que os restantes municípios já iniciaram o processo, mas ainda não submeteram a informação.

As Câmaras Municipais tinham de entregar até 31 de julho o levantamento das suas necessidades de realojamento habitacional, mas o Governo decidiu prolongar o prazo até ao final do ano para garantir que esse levantamento tem a representatividade de todos os municípios.

Questionada pelos deputados sobre a conclusão do Programa Especial de Realojamento (PER), Ana Pinho revelou que "o número de carências face a 2013 baixou 44%", referindo que são oito os municípios que ainda não concluíram este programa: Amadora, Odivelas, Loures, Seixal e Almada, na Área Metropolitana de Lisboa, e Espinho, Maia e Matosinhos, na Área Metropolitana do Porto.

CRISTAS DE PORTUGAL | "Enquanto fui ministra não houve uma tragédia de grandes proporções"...



Isso e pode ser que chova. Rezemos.

Ana Alexandra Gonçalves*

Percebe-se que Assunção Cristas se sente galvanizada com os resultados obtidos em Lisboa; compreende-se que Cristas se sinta satisfeita por ninguém falar de Paulo Portas; compreende-se ainda que a líder do CDS encontre particular felicidade no facto de, perante o quase vazio de poder no PSD e face ao enfraquecimento do maior partido de direita, o seu próprio partido tenha vindo a sentir um novo alento. Mas não resistir a tanta demagogia sobretudo em tempos difíceis não a engrandece como a ex-ministra da Agricultura e afins poderá pensar.

Enquanto foi ministra o seu Governo aplicou cortes nas florestas e incrementou a plantação de eucalipto com as consequências que todos conhecemos, e nos intervalos rezava para que chovesse.

Agora, emproada na bancada da oposição, sente que vale tudo para deitar o Governo abaixo e sente sobretudo que este seria o melhor momento para que isso acontecesse: tem do seu lado os resultados positivos das autárquicas, a par de um PSD em gestão, à espera de um novo líder.

Assunção Cristas procura assim brilhar, o mais que conseguir. A demagogia, aplicada em tempos difíceis, é instrumento de políticos medíocres, mas à falta de melhor serve. Entretanto e se tudo se complicar, designadamente com o PSD a recuperar o seu espaço, reza-se para minimizar os estragos. Por enquanto é saborear os acontecimentos e esperar que todos se continuem a esquecer de Paulo Portas, rei dos submarinos e da demagogia.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

ORÇAMENTO | Fazer as contas ao que é importante



Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

Apresentada a proposta de Orçamento do Estado para 2018, é tempo de fazer contas ao que é importante.

Impostos sobre o trabalho. A subida do mínimo de existência determina que nenhum trabalhador poderá ficar com um salário depois de imposto inferior a 8998 euros anuais. A introdução de novos escalões vai beneficiar quem ganha até cerca de 40 mil euros anuais. A eliminação da sobretaxa reduzirá o imposto para os restantes. Ao todo, são 490 milhões de alívio.

Pensões. Fruto da aplicação da lei (descongelada após negociações para a viabilização do Governo), todos os pensionistas serão aumentados e, nas pensões até 857euro, acima da inflação. Reformas de 589euro vão receber mais 10euro/mês e, aquelas que ficarem abaixo disso serão aumentadas, a partir de agosto, até perfazer esse valor (6euro no caso daquelas mínimas aumentadas no passado). No total, são 512 milhões.

Trabalhadores do Estado. Verão reconhecido o seu direito à progressão na carreira, com a respetiva atualização salarial a acontecer até ao final da legislatura. São 211 milhões. Além destas contas, está ainda a vinculação de 3500 professores precários.

Apoios sociais. Para além do abono, que continua a subir, é criada uma nova prestação social dirigida às pessoas com deficiência, no valor de 72 milhões.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Portugal | RECADO AO PEDRO




Eu vou-te avivar a memória, já que não te lembras daquilo que fizeste quando eras Primeiro Ministro.

A primeira medida que tomaste foi o aumento do IVA, recordas?

Dessa medida resultou a falência de milhares de PMEs e o desemprego de milhares de trabalhadores.

Milhares de pequenos empresários ficaram sem meio de vida, cheios de dívidas viram-se obrigados a entregar casas aos bancos e a pedir esmola.

Conheci vários que se mataram dentro das empresas em desespero porque como eram empresários nem direito tinham a um subsídio de desemprego.

O desemprego disparou para níveis nunca vistos neste país.

As IPSSs, a Cáritas e outras organizações de Solidariedade Social não tinham mãos a medir para atender pedidos de ajuda de famílias inteiras que sem apoios da Segurança Social estavam a passar fome e desesperadas sem conseguirem fazer face ás despesas básicas.

Milhares de famílias foram atiradas para a rua, despejadas das suas casas pela Banca, por senhorios e pelas Finanças através de penhoras por dívidas ao Estado, quando muitas dessas dívidas eram de valor inferior ao valor real das habitações.

Depois vieram os cortes nas pensões de reforma, no complemento solidário para idosos, nas pensões de viuvez, nos abonos de família e nas pensões não contributivas como por exemplo no RSI que cortaste a torto e a direito sem olhar a quem e sem apelo nem agravo.

Aumentaste o IMI, começaste a cobrar IUC sobre veículos independentemente de estarem ou não em circulação, chegando ao ponto de cobrares esse imposto a quem nem carro tinha ou sobre veículos já abatidos há anos.

Aumentaste impostos na gasolina, no gasóleo, no tabaco, nas bebidas alcoólicas, aumentaste as portagens e todos esses aumentos foram reflectir-se no aumento do custo de vida que como é óbvio foi mais sentido pelas classes sociais mais frágeis e carenciadas.

Criaste as taxas moderadoras e com essa medida muitos idosos deixaram de ir ao médico ou aos hospitais.

Fechaste Centros de Saúde, Maternidades e Hospitais e muitos idosos morreram por falta de assistência médica, mas também jovens e parturientes morreram por falta de cuidados médicos.

Doentes oncológicos viram as suas cirurgias adiadas e sem cuidados continuados.

Doentes crónicos ficaram sem médicos de família e sem comparticipação em medicamentos imprescindíveis ao tratamento das suas doenças.

Lembras-te dos doentes com Hepatite C a quem negaste um medicamento que podia salvar vidas e mesmo curar?

Deu até azo a manifestações populares na AR que a tua amiga Assunção Esteves reprimiu e mandou deter alguns doentes que se manifestavam indignados e com razão!

Não eram suicidas mas tu querias bem lá no fundo que fossem para poupares algum. Fazia-te jeito para ficares bem visto perante a Troika e a tua amiga Merkel.

Fechaste escolas e fizeste dos professores e das suas vidas gato sapato, obrigando-os a andar em Bolandas sem saberem o que fazer e onde ir!

Mudaste Freguesias, alteraste comarcas, encerraste Tribunais e deste com os juízes e advogados em doidos com a porcaria do sistema Citius todo baralhado.

Esqueceste essa cena?

Eu lembro-te.

Dessa confusão resultaram prejuízos para empresas, para cidadãos e para todo o país que nunca mais se vai recuperar!

Pais que perderam a guarda dos filhos conheci 19, 5 mataram-se.

Fora os que não conheço e olha que não conheço muita gente.

Mães que se viram sem as pensões de alimentos por culpa da baralhada com o Citius foram milhares.

Uma era professora e o filho era deficiente.

Atirou-se da varanda de um hotel.

Mas também houve mães que envenenaram os filhos e a seguir mataram-se porque não tinham nem emprego nem apoios e nem ajuda de psicólogos.

Sabes Pedro, moro em Almada.

Fui obrigada a vir morar para aqui.

Não, não foi culpa tua.

As coisas neste país já não estão bem há muitos anos.

Realmente apanhaste o país num grande caos económico, mas mesmo assim se fosses honesto e um bom gestor terias evitado cortar onde mais doeu!

Os cortes atingiram os mais fracos e para recuperar um país começa-se por por ordem nas finanças públicas cobrando impostos aos que não pagam.

Mas para o fazeres, para cobrares aos que sempre fugiram aos impostos terias de começar por ti, não é assim?

E depois os teus amigos e financiadores não iriam gostar nada de terem de alargar os cordões à bolsa.

Mas como te dizia, vim viver para Almada há uns anos e sabes, aqui temos uma Ponte onde todos os dias durante o teu governo assistimos a muitos suicídios.

E também temos o Metro que não é subterrâneo, é como um eléctrico sabes?

Pois volta e meia para não dizer uma a duas vezes por semana, lá se tinha de chamar o INEM por causa de um velhote ou velhota que "escorregava" e caía à linha!

E quantos eu vi a chorar de vergonha por serem apanhados no supermercado a guardar uma lata de salsichas ou de atum na mala ou num bolso do casaco!

E outros a sairem da farmácia sem aviar a receita porque a reforma tinha encolhido e os filhos tinham-se mudado lá para casa e estavam desempregados e sem subsídios de desemprego!

Sabes Pedro, sabes qual é o teu mal?

Teres tido um pai fantástico e uma mãe que tudo te desculpou.

Os anos de cabulice, as más notas no liceu, as noitadas na vadiagem, a vida boémia, as drogas, a pouca ou nenhuma vontade de estudar ou trabalhar e a falta de respeito por toda a gente.

Tu não tens noção da quantidade de vidas que deste cabo ao longo da tua vida, não só nos quatro anos em que te tivemos de aturar como Primeiro Ministro, mas desde que te conheci quando vivias na Rua República da Bolívia.

Tenho pena de não ter adivinhado naqueles anos naquilo em que tu te irias transformar!

A sério Pedro.

Naquele dia em que chamei a PSP de Benfica e evitei que a malta do Bairro do Charquinho te desse um arraial de porrada, se eu tivesse adivinhado no que te irias transformar, eu tinha fechado os olhos e fingido que te tinhas atirado da varanda do quinto andar.

Teria evitado tanta coisa, até ouvir as alarvidades que continuas a atirar pela boca fora.

Tantos anos depois e continuas a ser o mesmo chulo que conheci na nossa adolescência e juventude.

Olha Pedro, queres um conselho?

Reforma-te da política e mete uma rolha na boca ou um dia destes apareces suicidado nalguma esquina da vida.

É que nem todos os que te conhecem bem são tão pacíficos e compreensivos como eu e como a malta que te aparou as pancas lá em Benfica, tu sabes bem na casa de quem.

Espero que a Laura recupere depressa da maldita doença.

Ela não merece tanto sofrimento!

E se um dia nos voltarmos a cruzar nalguma rua de Lisboa vira o rosto, para que eu não me sinta tentada a sujar as minhas mãos na tua cara.

É que eu tentei duas vezes o suicídio por tua causa quando me vi atirada para a rua sem qualquer apoio e a lutar contra o cancro e sem ajuda psiquiátrica.

Não acertei na dosagem.

Não tinha de ser.

Quem sabe o que a vida me reserva?

Talvez me reserve a felicidade de te ver a ti Pedro e aos teus amiguinhos (tu sabes a quem me refiro) atrás das grades e a pagares pelos milhares de vidas dos que se suicidaram ou tentaram em desespero por vossa causa!

Assino o nick com que me conhecias: Nini Nilo

*Em Facebook, Mário CamposMaria Henriques e outros

Os dois partidos apoiam o rearmamento dos EUA contra a Rússia



Manlio Dinucci*

Os Democratas, que diariamente atacam o republicano Trump por suas declarações belicosas, votaram no Senado juntamente com os Republicanos pelo aumento em 2018 do orçamento do Pentágono de 700 bilhões de dólares, 60 bilhões a mais do que o próprio Trump pediu.

Acrescentando os 186 bilhões anuais para os militares reformados e outros itens, a despesa militar total dos Estados Unidos chega a cerca de um trilhão de dólares, um quarto do orçamento federal.

Foi decisivo o voto unânime do Comitê de questões militares, formado por 14 senadores republicanos e 13 democratas. O Comitê sublinha que “os Estados Unidos devem reforçar a contenção da agressão russa: a Rússia continua a ocupar a Crimeia, a desestabilizar a Ucrânia, a ameaçar os nossos aliados da Otan, a violar o Tratado sobre mísseis de curto e médio alcance, conhecido como Tratado INF (sigla em inglês), e a sustentar o regime de Assad na Síria”.

Também acusa a Rússia de conduzir “um ataque sem precedentes aos nossos interesses e valores fundamentais”, em particular através de “uma campanha voltada para minar a democracia americana”. Uma verdadeira declaração de guerra, com a qual o alinhamento bipartidário motiva o fortalecimento de toda a máquina bélica estadunidense.

Eis alguns itens da despesa militar para o ano fiscal de 2018 (iniciado em 1° de outubro de 2017): 10,6 bilhões para adquirir 94 caças F-35, 24 a mais do que a administração Trump pediu; 17 bilhões para o “escudo antimísseis” e a atividade militar espacial, 1,5 a mais do que a cifra pedida pela administração; 25 bilhões para construir mais 13 navios de guerra, 5 a mais do que a administração demandou.

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