domingo, 19 de fevereiro de 2017

NEOCOLONIALISMO RADICAL



Martinho Júnior, Luanda 

A EXTENSÃO DA PRESENÇA MILITAR FRANCESA EM ÁFRICA, A PRETEXTO DO COMBATE AO CAOS E AO TERRORISMO QUE A FRANÇA CONTRIBUIU PARA EXPANDIR AO DESTRUIR KADAFI NA LÍBIA.

1 – Tudo o que de mau se poderia prever para África no seguimento da intervenção militar que acabou com Kadafi na Líbia em 2011 (“Opération Harmattan” e “Unified Protector”), está a verificar-se conforme este ignóbil inventário:

. Na Líbia instalou-se o caos até aos nossos dias, inviabilizando progresso, democracia, direitos humanos, independência e soberania do país;

. No Sahel, contíguo à fronteira sul da Líbia, disseminou-se o caos e o terrorismo, assistindo-se ao reforço de grupos rebeldes desde o AQMI (Al Qaeda do Magrebe Islâmico) ao Boko Haram e ao Seleka;

. Essa disseminação reflecte a tendência para os grupos fundamentalistas islâmicos, financiados a partir de fontes de países aliados das potências ocidentais como a Arábia Saudita ou o Qatar, dominem espaços vitais próximos de fontes interiores de água (rio Níger, lago Chade, ou afluentes da bacia do Congo próximos da região central dos Grandes Lagos);

. A disseminação do caos e do terrorismo nos espaços imensos de África, da Mauritânia à Somália e ao longo de toda a transversal do Sahel, propiciou por seu turno a justificação para a presença militar da FrançAfrique, à mercê da posição dominante da França nessa imensa região, como se caos e terrorismo, pela via contraditória, servissem como uma tácita motivação em proveito dessa presença;

. A instalação do caos e do terrorismo foi feita por isso e essencialmente em países ricos em minerais do interior do continente sem acesso directo ao oceano, exportadores de matérias-primas (urânio, petróleo, ferro…), com economias frágeis, dependentes e deliberadamente precarizadas, países que ocupam alguns dos últimos lugares dos relatórios anuais dos Índices de Desenvolvimento Humano (Mali, Níger, Chade, República Centro Africana, Sudão, Sudão do Sul…);

. O terrível enredo neocolonial que foi criado, incide sobretudo na África do Oeste e na África Central, em países que integram a zona de utilização do Franco CFA, uma moeda sob tutela francesa que está em vigor desde a última fase do colonialismo, há 72 anos;

. O conjunto das acções económicas, financeiras, militares e sócio-políticas, favorece a continuidade do sistema de inteligência dominante francesa, revertida aos tempos do “pré carré” e das redes de Jacques Foccart;

. Inspirados nos franceses, os Estados Unidos afinam no mesmo diapasão: a pretexto de dar combate ao Boko Haram no Chade, aprontam o Exercício “Unified Focus 2017”, justificando assim a sua presença militar na região;

. Fazem parte desse exercício “de treino” os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a Holanda, a Itália, o Benin, os Camarões, o Níger, o Chade e a Nigéria!

. Esse tipo de influência está a ser de tal maneira forte, que se reflecte já no domínio sócio-político em termos de relacionamentos externos conseguido na textura da União Africana, a partir da última reunião cimeira em Adis Abeba;

. A entrada de Marrocos para a União Africana, sem que a autodeterminação e a independência do Sahara, colónia de Marrocos, estivesse garantida, é uma imediata redundância desse domínio, em reforço por seu turno dos interesses neocoloniais britânicos relativos à desenfreada exploração mineral desse território.

 2 – A presença militar francesa em África cresceu depois do ataque à Líbia (“Opération Harmattan”e “Unified Protector”), seja por via de unidades sob seu próprio pavilhão, seja por via dos interesses e cobertura da União Europeia, da NATO, da ONU, ou mesmo sob mandato internacional.

Quando a França desencadeou a “Opération Harmattan”, simultaneamente a Grã Bretanha (“Operation Ellamy”), os Estados unidos (“Operation Odyssey Dawn”) e o Canadá (“Operation Mobile”), combinaram esforços com a Itália a fim de criar a base sincronizada das operações da NATO na Líbia, que conduziram à “Operation Unified Protector”…

A “Unified Protector” aniquilou Kadafi e as forças líbias que lhe eram fieis, dando azo ao fortalecimento dos grupos terroristas que no terreno ganharam força a partir dessas acções e criaram na Líbia um forte impulso para disseminar o terrorismo por todo o Sahel.

A presença neocolonial militar francesa em África, acima de 10.000 efectivos, assume agora os seguintes esforços:

. Operações marítimas no Atlântico ao longo das costas da África do Oeste e Golfo da Guiné, até à fronteira sul de Angola (“Opération Corymbe” sob seu próprio pavilhão);

. Operações marítimas no Índico, em torno da Somália (“Opération Atalante”, ao abrigo dos interesses e cobertura da União Europeia);

. Pontos de apoio na costa em torno do continente africano, mediante acordos, alguns deles acordos secretos bilaterais, com o Senegal, a Costa do Marfim e o Gabão (na costa Atlântica), o Djibouti, as Comores, as Seichelles e a Reunião (nas costas e arquipélagos do Índico);

. Operações no interior do continente africano contra o caos e o terrorismo (Mali, Níger, Chade e República Centro Africana); neste âmbito decorrem sob seu próprio pavilhão a “Opération Licorne”(Costa do Marfim), a “Opération Barkhane” (no Sahel com intervenções sem-fronteira no Mali, no Níger e no Chade) e a “Opération Boali” (na República Centro Africana);

. Operações no interior sob interesse e cobertura da União Europeia e da ONU, como a “Opération Artémis” (Grandes Lagos), a Eufor no Chade e República Centro Africana e a “Opération Sangaris”na República Centro Africana;

. Atracção por via da União Europeia e da ONU de outros aliados europeus à “Opération Sangaris”, entre eles Portugal, a pedido do governo francês, mais publicamente exposta com a recente visita do 1º Ministro Português à Companhia de Forças Especiais reforçada colocada em Bangui, a capital daquele país.

A França militarmente garante um extraordinário dispositivo de geometria variável no interior, mas com apoios fixos e perenes no litoral, um dispositivo bem articulado e muito móvel, correspondendo a uma implantação militar que coloca a França acima das capacidades no terreno das forças armadas africanas, conferindo-lhe por isso uma posição dominante e colocando os africanos como complementares, correspondendo às características das suas redes de influência inteligente (desde as de carácter sócio-político, às de carácter económico e financeiro)!

3 – O conjunto das iniciativas francesas após 2011 (“Operação Harnattan” e integração na “Unified Protector”), radicaliza os expedientes neocoloniais franceses em África, em estreita consonância e ligação com expedientes do âmbito do USAFRICOM e britânicos.

Estas questões têm hoje uma maior oportunidade para serem apresentadas e balanceadas (é isso que estou a fazer), até por que, decorrente das campanhas eleitorais francesas para a Presidência, há finalmente um candidato, do sector mais à esquerda do Parido Socialista Francês, que em visita à Argélia considerou a colonização como “um crime contra a humanidade” e teve a ousadia de o fazer ao mesmo tempo que o actual Secretário de Estado dos Antigos Combatentes da França, Jean-Marc Todeschini, visitou em nome da França e pela primeira vez, o cemitério de Sétif, onde repousam os restos mortais de muitas das primeiras vítimas dos massacres coloniais das primeiras revoltas que estiveram na origem da Frente de Libertação Nacional da Argélia!

Mesmo com este reconhecimento e o contexto profundo em que ele se insere, numa época em que os balanços se vão sucedendo por todo o mundo, considero que se Emmanuel Macron chegar à Presidência, não dissolverá a célula africana no Eliseu (assente por Charles de Gaulle que esteve na origem das redes de Jacques Foccart), mas ao tentar “reformá-la”, acabará apenas por “refinar” a sua actualização, e com  isso, “refinar” as máscaras neoliberais e o radicalismo neocolonial francês do “pré carré” que constitui a “FrançAfrique”!

Esta polémica está a ser utilizada pelas elites capitalistas neoliberais francesas contra a candidatura de Emmanuel Macron, o que é sintomático do seguinte: ao considerar juridicamente que Macron não tem razão, é afastado o anátema da palavra “crime” em relação ao passado colonial, para assim continuarem impunemente os procedimentos criminosos que sustentam o carácter eminentemente neocolonial da presença francesa em África a coberto e segundo pretextos que sustentam o presente modelo intoxicado de “globalização”!

Com a radicalização neocolonial em curso, a pretexto de combater o caos e o terrorismo em relação aos quais os franceses, tal como os estado-unidenses e os britânicos, deram a sua notável contribuição para expandir ao rebentar com Kadafi que era um factor de combate ao caos e ao terrorismo, África que se declarou um continente livre de armas nucleares, evoca em vão esse risco, pois a ser sujeita a um tipo de armas não só reflexo do “soft power” das ex-potências coloniais, mas também de autênticas operações cirúrgicas em termos de inteligência e em termos militares, cujas consequências são muito mais lesivas e duradouras para o tecido humano dos povos africanos!

O radicalismo neocolonial enquanto doença crónica que subsiste agora em pleno século XXI, precisa dum novo Franz Fannon para o poder antes de mais psicologicamente dissecar e é nessa razão que aqueles que como eu perfilham a lógica com sentido de vida enquanto sustentam a necessidade de resgatar África das trevas do subdesenvolvimento, têm a sua trincheira firme, na continuidade da mesma ética e da mesma moral que tem dado vida à Luta de Libertação em África!...

Em Angola, é preciso que se lembre, o Programa Maior do MPLA está em curso, mas tem imensas razões para se balancear e melhor decidir, em função dos deveres patrióticos identificados legitimamente com a luta de todo o povo angolano nos seus anseios de mais liberdade, de mais justiça, de mais progresso, de mais desenvolvimento sustentável, de mais democracia, de mais internacionalismo e de mais solidariedade humana e respeito para com a Mãe Terra, também para benefício e mérito de toda a humanidade!...

A consultar (Martinho Júnior):
. Salvar a Líbia – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-libia.html
. Salvar os reis – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html
. Castas das Arábias – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/castas-das-arabias.html
. Iraque, Iraque, 75 anos depois – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html
. Opção pelo inferno – Martinho Júnior – Página Global – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/opcao-pelo-inferno.html
. O “arco de crise” em direcção a África – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/o-arco-de-crise-em-direccao-africa.html
. Rapidinhas do Martinho – 19 – Níger – O neocolonialismo francês mortal e a pleno vapor – Página Global –http://paginaglobal.blogspot.com/2011/06/rapidinhas-do-martinho-19.html
. Rapidinhas do Martinho – 26 – Somália – Ainda a Somália – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/07/rapidinhas-do-martinho-26.html
. Rapidinhas do Martinho – 59 – França: pequena radiografia do poder global – Página Global –http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html
. O rio Níger e a dicotomia Mali /Azawad – I – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/o-rio-niger-e-dicotomia-mali-azawad-i.html
. O rio Níger e a dicotomia Mali /Azawad – II – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/o-rio-niger-e-dicotomia-maliazawad-ii.html
. Operação Serval – I – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/02/operacao-serval-i.html
. Operação Serval – II – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/02/operacao-serval-ii.html
. Operação Serval – III – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/02/operacao-serval-iii.html
. Operação Serval – IV – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/02/operacao-serval-iv.html
. Operação Serval – IV – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/03/operacao-serval-v.html
. IIIª Guerra Mundial – Martinho Júnior – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/11/iii-guerra-mundial.html

Fotos:
. Plano militar francês na direcção do coração de África, de acordo com a implantação de seus efectivos;
. “Opération Barkhane” e “Opération Sangaris”;
. Franco CFA resiste temporalmente mais (tem já 72 anos) que o Franco Francês, que na União Europeia cedeu o passo ao Euro;
. Cômputo do domínio militar francês em África; (só falta mesmo a África Austral);
. Emmanuel Macron em visita ao cemitério onde repousam os primeiros mártires da moderna Luta de Libertação Nacional na Argélia.

Angola. ENSINO SUPERIOR: FINANCIAMENTO E ACESSIBILIDADE 4



M. Azancot de Menezes*Jornal Tornado

Publicamos hoje a 4ª parte da Entrevista a Azancot de Menezes sobre o estudo acerca do ensino superior em Angola, iniciada em Dezembro último

Jornal Tornado: E quanto aos modelos de financiamento do ensino superior e à acessibilidade?

Azancot de Menezes: Ora bem, os mecanismos e as fontes de financiamento podem ser públicos, privados ou mistos, em consonância com as perspectivas de cada um, portanto, é possível enquadrar os sistemas de ensino superior num cenário teórico que aponta para a existência de três modelos de financiamento: público, privado e baseado no mercado, todavia, como seria de esperar, com muita frequência, há situações híbridas.

Agora, o que começa a ser preocupante, e não vivêssemos nós em tempos de neoliberalismo, nos países do hemisfério Sul, mais vulneráveis e dependentes, está a aumentar a pressão do Banco Mundial e de outras agências internacionais, com agendas estruturadas, para a crescente privatização da educação e para o alheamento dos Estados em matéria de políticas de apoio social.

Posso deduzir que está contra o ensino superior privado…!?

Eu não tenho nada contra o ensino superior privado, desde que respeite os princípios da equidade e não mercantilize a educação superior.

O que eu não concordo é que os estudantes participem no financiamento do ensino superior público porque essa função deverá ser exercida pelo Estado, o qual deve proporcionar ensino gratuito de qualidade, ou a preços simbólicos, a todos os cidadãos com capacidade para frequentar o ensino superior.

Mas o ensino superior tem custos…

Exactamente! Por isso importa problematizar sobre quem deve suportar os custos do ensino superior sejam eles, despesas de alojamento, alimentação, vestuário, livros, transporte, propinas, ou outros, se devem ser partilhados ou não, e por quem, e em que medida os estudantes e as famílias são prejudicados face às dificuldades orçamentais com que os governos em geral se dizem debater no financiamento da educação superior. É preciso não esquecer, como já referi, a educação superior produz externalidades.

No caso da sua pesquisa sobre o Ensino Superior em Angola verificou algum tipo de situação que mostre haver diferenças na população estudantil no que diz respeito ao género, sexo ou em outro aspecto que pudesse evidenciar desigualdades entre os estudantes na frequência do ensino superior? A tal acessibilidade…

Desde logo, constatei haver 61,5% de estudantes do sexo masculino e 38,5% do sexo feminino, ou seja, verifica-se uma larga predominância do sexo masculino sobre o feminino, à semelhança do que se passa com outros países em vias de desenvolvimento. Portanto, em Angola, a mulher continua em desvantagem no acesso ao ensino superior.

Por outro lado, no que respeita à idade, 33,3% dos inquiridos encontra-se no escalão 22 anos, o que seria expectável pois é a idade normal para frequência do ensino superior.

Mas, é de realçar que a maior parte dos inquiridos já não se encontra na situação normal de acesso e para explicar esta situação confirmei que havia uma relação estatística entre idade e situação no trabalho.

Ensino superior em Angola: Financiamento e acessibilidade

Distribuição dos estudantes por sexo e idade


N
%
Sexo
Masculino
525
61,5
Feminino
328
38,5
Total
853
100,0
Idade
Até 22 anos
280
33,3
23-30 anos
374
44,5
>30 anos
186
22,1
Total
840
100,0
Fonte: M. Azancot de Menezes (2014)

Verificou mais algum aspecto que evidenciasse diferenças entre os estudantes?

Sim, sim… porque no estudo foi dada particular atenção à caracterização socioeconómica do estudante e do seu agregado familiar.

Também constatei, como de resto se registou em estudos similares no EUA, da autoria de Bruce Johnstone, e em Portugal, realizados por Belmiro Cabrito, Luísa Cerdeira e Rui Brites, há uma relação entre o contexto socioeconómico e académico dos pais e dos estudantes e a opção tipo de instituição escolhida (escola secundária pública/privada e universidade pública/privada) e o tipo de ensino superior frequentado (universitário ou politécnico).

Quer fazer o favor de concretizar algumas dessas evidências para melhor podermos compreender esses aspectos?

Em geral constatei que quanto mais elevada é a escolaridade dos pais maior é a percentagem de frequências de estudantes em escolas secundárias privadas.

Efectivamente, no caso em que a escolaridade da mãe é de nível superior, bacharelato, licenciatura ou mestrado, a percentagem de estudantes que frequentaram a escola secundária privada está compreendida no intervalo 28,6% e 31,6%, com valores bastante mais elevados do que aqueles que correspondem a níveis de escolaridade mais baixos.

Os valores percentuais vão diminuindo à medida que o nível de escolaridade da mãe baixa, atingindo-se os 9,8%, valor percentual relacionado com a percentagem de estudantes cujas mães não sabem ler nem escrever.

Em relação aos pais, de forma genérica, a constatação é idêntica. Quando a escolaridade é alta (bacharelato, licenciatura e mestrado) os valores percentuais dos estudantes que optaram pelo secundário privado situam-se no intervalo 23,3% / 28,6%, à excepção do caso em que os pais tinham doutoramento (14.3%), descendo de forma significativa para 3,3% e 5%, no caso em que os pais dos estudantes sabiam ler e escrever mas não concluíram o ensino primário, e não sabiam ler nem escrever, respectivamente.

Os resultados do estudo mostram que há a mesma tendência na escolha das instituições do ensino superior. Portanto, existe uma forte relação entre origem social e instituições frequentadas, como no caso em análise, em que os estudantes cujos pais têm escolaridades mais baixas, sendo em geral jovens de estratos sociais menos favorecidos são levados a procurar o ensino superior público, nomeadamente por questões financeiras.

Ensino Superior em Angola: Financiamento e acessibilidade

Escolaridade dos pais e Tipo de escola secundária frequentada


Tipo de escola secundária que frequentou
Pública
Religiosa
Privada
Total
Escolaridade do pai
Não sabe ler nem escrever
90,0
5,0
5,0
100,0
Sabe ler e escrever mas não concluiu o ensino primário
90,0
6,7
3,3
100,0
Ensino Primário
80,0
8,0
12,0
100,0
Ensino Secundário (1º Ciclo – Ensino Geral e Formação Profissional Básica)
66,4
15,4
18,1
100,0
Ensino Secundário (2º Ciclo – Ensino Geral, Formação Média Normal e Média Técnica)
71,8
10,0
18,2
100,0
Ensino Superior (Bacharelato)
70,0
6,7
23,3
100,0
Ensino Superior (Licenciatura)
71,3
12,5
16,3
100,0
Ensino Superior (Mestrado ou Especialização Profissional)
57,1
14,3
28,6
100,0
Ensino Superior (Doutoramento)
85,7

14,3
100,0
Total
73,6
10,4
16,0
100,0
Escolaridade da mãe
Não sabe ler nem escrever
78,9
11,4
9,8
100,0
Sabe ler e escrever mas não concluiu o ensino primário
77,2
12,0
10,9
100,0
Ensino Primário
78,8
5,9
15,3
100,0
Ensino Secundário (1º Ciclo – Ensino Geral e Formação Profissional Básica)
66,2
13,9
19,9
100,0
Ensino Secundário (2º Ciclo – Ensino Geral, Formação Média Normal e Média Técnica)
75,4
7,0
17,6
100,0
Ensino Superior (Bacharelato)
57,9
10,5
31,6
100,0
Ensino Superior (Licenciatura)
65,1
4,7
30,2
100,0
Ensino Superior (Mestrado ou Especialização Profissional)
57,1
14,3
28,6
100,0
Ensino Superior (Doutoramento)
100,0


100,0
Total
73,0
9,8
17,2
100,0
Fonte: M. Azancot de Menezes (2014)

Analisei e discuti muitas outras relações entre variáveis, sobre os estudantes bolseiros angolanos, sobre as fontes de rendimentos dos estudantes, sobre as propinas e os custos do ensino superior, entre outras dimensões, com resultados surpreendentes, que poderão ser muito úteis para quem decide em matéria de políticas de educação superior em Angola, e que terei todo o gosto em partilhar.

Nota de edição
Os primeiros artigos deste estudo foram publicados a:

*Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST) e Professor Universitário

*M.Azancot de Menezes, Díli – também colabora no Página Global

Angola. CORAGEM TODOS FINGEM TER... INCLUSIVE EU



Noves fora o pleonasmo, todos fingimos corajosamente ser corajosos

Raul Diniz, opinião

Enquanto José Eduardo dos Santos finge que sai ficando, João Lourenço por sua vez finge que é de facto candidato do MPLA para chegar ao merecido pólio presidencial! Ah e o Bornito, é verdade, o honestamente correto Bornito de Sousa Diogo, que caramba de situação a do Bornito.

O candidato a vice-presidente, que JES impôs-nos numa eventual presidência, que não é a dele, é por demais caricata... para não lhe chamar por outros apelidos a contento.

Todo militante minimamente desperto sabe que Bornito de Sousa Diogo, representa um veemente perigo para o processo eleitoral em curso que, de acidente em acidente, circula em torno de um alarmante círculo vicioso.

Bornito não é um militante que goza de simpatias efervescentes nem dentro e muito menos fora do MPLA. De facto ele provoca de insofismável desagregação da militância, além de provocar desconfortos e uma enorme movimentação de desconfiança generalizada ao pleito em causa.

Que cidadão honesto em sua sã consciência acreditaria num resultado eleitoral, quando se tem a cabeça do registo eleitoral o ministro, que é igualmente o candidato a vice-presidente da república pelo partido que sustenta o regime, e, que, em simultâneo realiza as eleições?

Qual é a do Bornito de Sousa Diogo afinal? Quer por acaso passar um atestado de burrice a todos angolanos? Todos sabemos como funciona a mente mafiosa de JES, o tutor de Bornito de Sousa.

O que está a acontecer não passa de uma simples repetição daquilo que aconteceu em 2012, com a nomeação de Edeltrudes Costa, no cargo de ministro de estado chefe da casa civil do PR. Esse miserável santomense, não passa de um capacho ao serviço da casa de segurança da PR.

Edeltrudes Costa é de facto um reles fraudador de eleições, ele nunca teria sido nomeado para o cargo por competência, pois tinha acabado de formar-se no brasil e nenhuma prova de competência havia dado ao país nem ao MPLA. Esse energúmeno foi no passado, nomeado por gratidão dos serviços prestados na efetivação da fraude eleitoral de 2012.

O afortunado dessa vez é o Bornito de Sousa, recompensado com a imerecida vice-presidência da república, pela sua direta participação na elaboração e monitoração da fraude eleitoral.

Na política angolana há um pouco de tudo. Temos um presidente da república que mais se parece com um chico esperto qualquer fingindo que é honesto.

JES até afirma ser o desejado do MPLA para adoração “in Corpus Santi”, imitação da adoração que se observa por Cristo Jesus. Porém ele é peremptoriamente um mentiroso deslavado, e que, apenas está comprometido com a fraude eleitoral em curso.

Por outro lado, assistimos um governo fingir que governa, e uma oposição descomprometida, que finge ser oposição, mas nunca se opõem a nada. A oposição angolana é deveras estranha, por estar irremediavelmente comprometida com a ditadura.

Afinal somos bons fingidores. Fingimos que somos enganados pelo ditador... quando na verdade somos medrosos ao extremo. Ou não é verdade, que somos apenas meros espectadores desesperados, de um facto consumado?

É intrigante, mas, parecemos todos uns desalmados servos do feudo, ciosos em obter rapidamente lucros financeiros inundados de sangue inocente, derramado por desprotegidas crianças, jovens e velhos pobres e negros, assassinados pela arma portentosa da corrupção.

Fingimos até que o Bento Kangamba é um herói por jogar batota nos casinos do Principado do Mônaco! Ora vejam só isso camaradas. O nosso Bento Kangamba decidiu demonstrar o seu receio de ser em breve órfão.

Perdido e aflitíssimo com a saída do ditador, Kangamba afirmou de boca cheia, se o povo algum dia pedir contas ao ditador pelos seus excessos cometidos no seu conturbado reinado de 38 longos anos, esse gesto seria traduzido como uma tremenda ingratidão da parte deles.

Para aqueles que temem a mudança de políticas no país, pedir contas ao ditador facínora é ultrajante. Seria algum desconfortável constrangimento pedir contas dos roubos executados por JES e família? Os adeptos da roubalheira consideram que sim e não só, seria igualmente uma blasfêmia, e, das grandes. Pôde isso?

Aceitamos como estandarte o cognome de bajuladores, e por consequência adulteramos a explicita verdade. Fingimos acerca do estado real da opressão reinante. Vandalizamos o princípio altruístico de governar. Para os infelizes do MPLA ser membro do governo significa obtenção de riqueza rápida e fácil, governar a muito deixou de ser serviço voluntarioso.

Sabemos que o regime não é impoluto, porém, fingimos que somos governados com total transparência, digno de total confiança.

Como corajosos fingidores de meia-tigela que somos, fingimos que vivemos no país das maravilhas, onde a opressão, perseguição, a tortura, assassinatos, nepotismo e a corrupção não fazem morada. Apesar de paradoxal fingimos que a repressão que existe é dolorosamente inexpressiva.

Temos absoluta certeza que o presidente da república, é um capcioso delinquente ladrão, despótico e corrupto.

No entanto aparentamos calma, e, fingimos que somos governados competentemente por um arauto defensor dos direitos civis e da cidadania bem-intencionado. E ainda aplaudimos todos os seus distorcidos discursos.

Sabemos que José Eduardo dos Santos é um velho despótico, astuto malfeitor, e, um infeliz, bem pior que o seu sobrinho Bento Kangamba dos Santos. Mas tratamo-lo como se fosse um Confúcio amado em Angola.

JES não se coíbe em utilizar-se de maliciosas práticas de sedição, só para obter o poder pelo poder. Mas nós fingimos reconhecer nele o papel de arquiteto da paz, num país que vive sem paz há 41 anos.

Ventilam-se em amiúde falsas expectativas desenvolvimentistas para o país, sem que a veracidade dos factos sejam constatáveis.

Só que, enquanto fingimos, os filhos da Angola profunda, forjados na luta pela independência, são expostos compulsivamente à toda espécie extorsão e vandalizados ao extremo. Vivenciamos todo tipo de tortuosas ciladas ultrajantes, dignas de realizações petrificantes nos filmes de gangsteres hollywoodianos. Mesmo sem merecer, eles são expostos a todo tipos de sevícias.

Temos até líderes opositores que se dizem competentes e leais ao povo, mas, o povo desconfia, e não os reconhece como tal. Na verdade, as lideranças opositoras, se assim podemos chama-las, nunca deram provas de qualquer comprometimento relevante na luta pela alternância do poder em Angola.

Não existe nenhuma oposição em Angola, que se oponha fortemente contra a governação despótica que estamos com ela, há mais de 41 anos. Somos especialistas em vender mentiras transformadas em verdades ao mundo exterior, e tudo com o excelso aval das oposições.

Damos o dito pelo não dito sem quaisquer constrangimentos, e ainda temos inspiração para endossar inverdades lastimáveis ao mundo civilizado, e afirmamos mentirosamente que Angola, é o país das maravilhas.

Enfáticos fingimos que o país é governado com lisura moral, e existe uma condizente transparência normal idêntica a dos país civilizados, debalde.

Fingimos que a corrupção é um mal menor facilmente ultrapassável, mas, não é. Fingimos que bajulação faz parte metiê governativo. Que descaramento. Fingimos que esses itens estão convencionalmente institucionalizados como prerrogativa viável de governação aceitável. Assim também não.

Fingimos viver radiantes de alegrias diante do mundo exterior, que admirados, e, de boca aberta, entoam louvores empíricos, por constatarem de perto, o milagre da recessão não ter constrangido os angolanos, e muito menos a oposição domesticada.

Vivemos abraçadinhos com a miséria e caminhamos lado a lado com a fome, e convivemos fidelizados com a santa morte de todos os dias. Porém, fingimos que somos imunes a todo tipo de enfermidades, e apesar de infelizes masoquistas que somos, cantarolamos canções de uma estrondosa alegria, qual arco-íris, qual colorido mundo gay.

Aladroamos aos setentrionais ventos enfadonhos com cantigas alegres falsas, para em soslaio choramos pelo vergonhoso o estado de miséria que vivemos. Somos exageradamente dóceis, mesmo estando diante de uma realidade obsoleta, difusa e deliberadamente deprimente.

Porque razão não sei, mas fingimos viver uniformemente seguros num país em nada seguro, onde as liberdades de ir e vir e de expressão são uma respeitável miragem. Fingimos que vivemos num país onde os direitos humanos são deliberadamente respeitados, debalde.

Fingimos também que Angola está entre as nações com destino marcado rumo ao progresso junto das nações livres e democráticas. Mentira. Fingimos ser governados competentemente por um arauto defensor dos direitos civis e de cidadania! Puro engodo enganoso.

Sabemos que JES usurpou por largos anos a presidência da república, subverteu o poder judicial, reverteu a independência da assembleia nacional em proveito próprio.

A olhos nus reconhecemos a necessidade de se alterar urgentemente as cores da bandeira e a letra do hino nacional, que aliás, de nacional só têm mesmo o nome. Mas fingimos que está tudo como combinamos que seria!

Apesar de argumentos insustentáveis, algumas pessoas por medo, e outras por adoração ao líder da gatunagem, fingem não ser oportuno alterar as insígnias ditas nacionais, por representarem os motivos que levaram a fundar a república do MPLA.

A verdade é que JES não passa de um homem horripilante e maldito. JES é parte do subproduto ordinário, originário do fundamentalismo decrépito, que servem como pedra angular, que sustentam os regimes ditatoriais em avançado estado de decomposição.

Jose Eduardo não é deus nenhum, nem aqui nem em parte alguma do planeta terra.

Ele é somente um verdugo envelhecido, que soube aproveitar-se sorrateiramente da ingenuidade do povo que um dia acreditou fervorosamente nele, e no MPLA, como seus libertadores, uma vez mais, debalde.

Os angolanos não podem continuar a fingir que o regime de JES tem um governo dialogante, e defensor de direitos de ir e vir e de expressão. Não há em Angola nenhum regime saudável e/ou equilibrado.

O sistema de regime angolano faliu, descambou de podridão. Mas que palhaçada a nossa hein... sempre a fingir que somos corajosos.

Ainda assim, caso João Lourenço estenda a mão, e venha dizer para o que vem, com toda certeza o apoiarei.

Sem nenhum constrangimento, vou apoia-lo buscando apoio consensuais, onde os cidadãos desavindos com o MPLA de JES se encontrem. Falarei com os mais velhos e os jovens descontentes sem exceção, pois apesar dos pesares, nós somos muito mais unidos que os do MPLA de JES.

Desta vez prometo não fingir que engulo sapos, pelo simples facto de nunca os ter engolido. Nada de fingimentos, porém estarei a léguas da vergonhosa fraude eleitoral já em marcha.

Isso significa que estrei muito distante do intriguista, bajulador, e golpista fraudador da verdade, o malanjino Bornito de Sousa Diogo.

Vamos correr o país e o exterior a nossa custa, pois somos muitos, vamos explicar o momento novo, e a oportunidade de mudar de vida que se nos apresenta. Será um prazer pedir nas ruas o voto para o meu antigo camarada de armas JL, sem passar pelo MPLA enquanto este continuar como propriedade da família Dos Santos.

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