domingo, 17 de dezembro de 2017

MIL INQUIETANTES DIAS

Afonso Camões * | Jornal de Notícias | opinião

Em vésperas de Natal e dos festejos que todas as religiões devotam ao solstício, a ameaça de uma explosão de violência paira sobre Jerusalém, a capital disputada onde se trava a paz. O presidente norte-americano incendiou o pavio ao declarar a Cidade Santa como capital de Israel. De costas para o Mundo, contra a comunidade palestiniana e apesar das advertências da generalidade dos líderes muçulmanos e dos seus aliados ocidentais, Donald Trump dinamita, assim, 70 anos de consenso internacional sobre o delicado estatuto daquele solo de partilhas que acolhe lugares sagrados não só do judaísmo, mas também do islão e do cristianismo.

A aliança entre os Estados Unidos e Israel é, há décadas, o principal esteio do Estado judeu, que nasceu das cinzas morais da Segunda Guerra Mundial. Até hoje, porém, nenhum inquilino da Casa Branca tinha decidido ou anunciado transferir a embaixada americana de Telavive para Jerusalém, num espaço sagrado cuja parte oriental os palestinianos ainda reivindicam como capital do Estado que também reclamam - ali, onde a comunidade internacional nunca validou a soberania judaica.

Embora a mudança da sede diplomática seja uma operação para levar anos (e talvez nunca se concretize), a provocação de Trump rompe com décadas de política externa americana e abre um ciclo sombrio para as agonizantes negociações de paz entre israelitas e palestinianos, numa região do Médio Oriente onde os equilíbrios já estão muito abalados com a guerra da Síria, com as vagas de milhares de refugiados, com o terrorismo do autoproclamado Estado Islâmico e com os habituais conflitos na Cisjordânia e em Gaza. Eis como, no plano da política externa, e à parte a melena que lhe acentua o retrato, o presidente norte-americano ameaça virar a caricatura do homem-bomba que segura as calças com um cinturão de explosivos prontos a deflagrar, nem que seja verbalmente, sobre as gentes ou lugares de que ele não gosta ou desconhece. Eleito há um ano, e agora acossado internamente (acaba de perder as eleições para o Senado, no Alabama, onde o seu partido ganhava há 40 anos), Trump desafia a prudência para acenar aos seus eleitores mais radicais.

Podem não ter nenhuma razão os 27 psicólogos e psiquiatras norte-americanos que, em livro agora conhecido, afirmam que "uma pessoa mentalmente instável e de qualidades sociopáticas, como o senhor Trump, não deve exercer competências presidenciais com poder de vida ou morte". Mas é inquietante pensarmos que ainda lhe podem restar mais de mil dias com tal poder.

*Diretor do JN

… E O PESADELO AMERICANO CONTINUA!

 Martinho Júnior | Luanda 

Três anos depois da “normalização” das relações bilaterais entre Cuba e os Estados Unidos, a única anormalidade provém do pesadelo canceroso que domina os Estados Unidos: um exacerbado capitalismo imposto pela aristocracia financeira mundial sobre o povo estado unidense, sobre a América Latina e sobre o resto da humanidade!

A janela aberta entre a administração de Barack Hussein Obama e o estado cubano sob a clarividente e revolucionária direcção do comandante Raul de Castro, tem sido fechada pela administração de Donald Trump, que tende a regressar às origens dum contencioso de trevas que se arrasta dos tempos em que da expansão se passava à construção do império e queriam fazer de Cuba, uma fruta madura pronta a cair!

O isolamento da hegemonia unipolar, na fase de barbárie e decadência em que se encontra, há de inexoravelmente ocorrer em relação a Cuba (lembre-se os resultados anuais da condenação ao bloqueio na Assembleia geral da ONU), mas também em relação a muitos outros aspectos dos relacionamentos internacionais, ainda agora observados com a trasladação da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, uma das últimas decisões da administração de Donald Trump.

Os “lobbies” que têm sustentado as decisões de Donald Trump em relação a Cuba e em relação à Palestina, cruzam-se nos mesmos corredores e por arrasto outro indício é a posição de força, que não reconhece a necessidade de diálogo em busca de consensos, em relação à Coreia (e não só em relação ao contencioso para com a Coreia do Norte)!  

A humanidade pouco a pouco vai compreendendo o carácter do domínio que tomou de assalto o poder dos Estados Unidos, com seus “sargentos às ordens” que perfazem os turnos da Casa Branca: os Estados Unidos estão a tornar-se uma ilha perversa, enquanto matriz dos pesadelos globais, enquanto a pequena e bloqueada Cuba, tem já um destacado lugar, pela sua solidariedade, pelo seu internacionalismo e pela sua imensa cultura de paz e respeito para com a Mãe Terra!

Alguém ousa dizer que o sonho da revolução cubana tem de ser extirpado, quando ele é na verdade uma saudável matriz de prática e esperança para toda a humanidade?

Martinho Júnior - Luanda, 17 de Dezembro de 2017

EUA | O inferno para Weinstein, Obama e os Clinton

Alfredo Jalife-Rahme*

O Presidente Donald Trump havia prometido limpar os estábulos de Augias. Foi exactamente o que começou em Hollywood com o escândalo Weinstein. Por sua iniciativa ou simplesmente com o seu apoio, os principais magnatas de Hollywood estão em vias de cair levando na sua queda os puritanos do Partido Democrata. Colocado no contexto político dos Estados Unidos, este assunto precede uma operação similar que será lançada contra Silicon Valley e terminará no Calexit.

Não é um assunto menor. Hollywood, um dos principais feudos de poder nos EUA, com os seus hábitos eróticos subterrâneos acaba de sofrer um assalto simultâneo do New York Times [1] e do New Yorker [2], à vez ; isto é profundamente destrutivo, porque o foco dos projectores sobre o psicopata-sexual israelo-americano revela também as suas conexões crapulosas ao nível financeiro e político. Foi Ronan, o filho da actriz Mia Farrow, quem chegou fogo à pólvora, com um artigo que tinha sido recusado pela censura selectiva da NBC [3]. Com efeito, Noah Oppenheim, o director da NBC, é um correligionário muito próximo de Harvey Weinstein [4].

Resumindo, este mega-escândalo sexual envolvendo um lendário produtor de cinema, reportando a 64 mulheres violadas ou assediadas durante cerca de meio século, é muito conveniente para Trump, o qual quase perdia a investidura do Partido Republicano por causa da sua mão atrevida com as damas; e causa grande dano ao Partido Democrata para o qual Hollywood é uma espécie de bosque sagrado; isto emporcalha ao mesmo tempo os Clinton (Bill, Hillary e a sua filha Chelsea) e o casal Obama [5].

Todos são apanhados nisto : o líder da minoria no Senado, o israelo-americano Chuck Schumer e mesmo a Senadora Elizabeth Warren, suposta modelo de pureza. Uma vez que Weinstein foi um dos grandes angariadores de fundos de Obama [6].

Embora pouco bruto, Harvey, de 65 anos, atacou estrelas, desde Jane Fonda e Angelina Jolie até Gwyneth Paltrow, que guardaram um silêncio corporativo muito estranho até que a actriz Rose McGowan teve a coragem de destapar as bíblicas Sodoma e Gomorra que são os reinos hollywoodescos onde reina Weinstein.

Rose Mc Gowan não se coibiu de assinalar que o patrão da Amazon e filantropo, Jeff Bezos (o homem mais rico do mundo, com quase 90 mil milhões de dólares [7]), que é proprietário do Washington Post, é um bastião de protecção para a pedofilia; ela viu imediatamente a sua conta do Twitter censurada [8]. Protegeria o poderoso GAFAT (Google, Apple, Facebook, Amazon e Twitter) a rede sexo-criminosa de Hollywood?

Claro, a conduta oscilante e pouco edificante das estrelas icónicas deixa a desejar; a outrora admirável Meryl Streep havia coroado Weinstein qualificando-o então de «deus», antes de participar ardentemente na vingança. O círculo vicioso, propriamente falando, constituído pela "entente" dos mundos financeiro, do entretenimento e dos média (mídia-br), pôde dar-se ao luxo de esconder as torpezas de Weinstein durante quase um meio século, sublinha o New York Times [9].

Toda a gente se pode enganar : Harvey Winsenthal recebera, há apenas dois anos, a medalha humanitária do Centro Wiesenthal que se qualifica como «Grupo Internacional para os Direitos Humanos Judaicos» [10]. E, ele tinha ganho um Óscar, em 1999, pelo seu Shakespeare Apaixonado; Ele tinha brilhado durante as campanhas de Clinton e Barak Obama, e recolhido somas enormes de fundos para o Partido Democrata [11].

Com um sentido político oportuno, as figuras proeminentes do dito Partido Democrata anunciaram que restituiriam as doações envenenadas, que seriam redirigidas para instituições de caridade; no entanto a Fundação Clinton absteve-se.

O Daily Mail, ligado ao MI6, o serviço de espionagem britânico, com o maior dos prazeres tratou de espalhar o escândalo sexual e oferecendo, em exclusivo, a informação segundo a qual Chelsea Clinton, cuja carreira política se encontra um tanto fragilizada, tinha recusado responder aos jornalistas sobre a restituição do quarto de milhão de dólares recebido pela Fundação Clinton de Weinstein; o seu pai Bill teve que a mandar proteger por uma equipa de segurança para afastar os média. Tendo, aparentemente, as filhas de Presidentes democratas deixado seduzir-se, no plano financeiro entenda-se : Malia, a filha de Obama, beneficia actualmente de uma bolsa financiada por Weinstein.

David Walsh, do WSWS boicotado pelo Google, fez saber que, em 2012, a televisão junto com a indústria do cinema e da música tinham contribuído no montante de 81% para o financiamento do Partido Democrata, mas que, em 2016, a mesma indústria do entretenimento tinha entregue 23,6 milhões de dólares a Hillary, enquanto Bernie Sanders só obtivera 1,2 milhões, e Trump uns meros 388,000 [12].

Teria isto alguma relação como papel da Televisa no México neoliberal ?

Os média anti-sionistas exploraram a saliente etiqueta sionista de Harvey Weinstein, extremamente devotado a Israel, ao ponto de desencadear uma polémica. Um sítio internet judeu criticou mesmo, amargamente, a conduta sectária de Weinstein [13].

Tudo isso parece uma vingança divina para Trump, tão duramente atacado por Hollywood. De facto, o escândalo ajuda-o, e Steve Bannon, mais “trumpista” que o próprio Donald, vê o seu sítio Breitbart.com atingir uma popularidade frenética [14]. Mas há qualquer coisa que não bate certo : as infâmias dos «perversos em série» foram reveladas pelo New York Times, que é praticamente o órgão oficial do Partido Democrata, e onde a cabala de George Soros goza de uma influência colossal.

Tratar-se-ia então de “fogo amigo”? Ou, melhor, de um ajuste contas entre grupos israelo-americanos, na altura em que entram em colisão os interesses do duo Netanyahu / Adelson, os máximos aliados do supremacismo trumpista, e os de Soros, o mais anti-trumpista no mundo, de quem um dos vassalos no México exigiu o assassínio público de Trump [15] ?

Isso revelaria um ajuste de contas sangrento no cerne do liberalismo israelo-americano, onde se vê mesmo Bob, irmão e sócio de Harvey Weinstein, reclamar a sua liquidação, de forma canibalesca ? Ou, uma ferida sangrenta no seio do grupo Soros? Em breve se saberá.

A depravação sexual de Hollywood, exposta desde há mais de cinquenta anos e ligada às máfias do poder, não é uma novidade. Agora ela emprega o seu outsourcing, a sua deslocalização, na medida em que é indissociável do mundo financeiro (os investimentos cinematográficos), do entretenimento e da informação, tanto quanto do domínio político.

Já em 1959, o cineasta maldito e escritor controvertido, Kenneth Anger, havia publicado Hollywood Babylon [16], espalhando os mais sórdidos segredos deste meio, ao ponto de ser interdito nos EUA, o que violava a primeira Emenda da Constituição dos EUA; O livro tinha então sido levado para fora e publicado em França. Vinte e cinco anos mais tarde, o mesmo Kenneth Anger publicava Hollywood Babylone II, que cobria o período dos anos 1920 até aos anos 1970. Ele tentou, em seguida, publicar um Hollywood Babylon III com uma vasta investigação sobre as depravações de Tom Cruise e da Igreja da Cientologia. Mas parece ter sido travado pelo medo de ser assassinado.

Em suma, a lenda paleo-bíblica de Sodoma e Gomorra assemelha-se a um conto de fadas quando em comparação com o nojento Hades hollywoodiano, do qual Harvey Weinstein está em vias, sem a menor intenção, de levantar o véu.

Alfredo Jalife-Rahme* | Voltaire.net | Tradução Alva | Fonte La Jornada (México)

Foto: Harvey Weinstein tinha brilhado aquando das campanhas dos dois Clinton e de Barack Obama, e angariou enormes somas para o Partido Democrata.

* Professor de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Escreve artigos sobre política internacional no jornal La Jornada. Último livro publicado: China irrumpe en Latinoamérica: ¿dragón o panda? (Orfila, 2012).

Notas
[1] “Harvey Weinstein Paid Off Sexual Harassment Accusers for Decades” («H.Weinstein Comprou Silêncio de Denunciantes de Assédio Sexual durante Décadas»- ndT), Jodi Kantor & Megan Twoheyoct, The New York Times, October 5, 2017.
[2] “From Aggressive Overtures to Sexual Assault: Harvey Weinstein’s Accusers Tell Their Stories” («De Insinuações Agressivas a Violação Sexual : Acusadores de H. Weinstein Contam As Suas Histórias»- ndT), Ronan Farrow, The New Yorker, October 10, 2017.
[3] “How Top NBC Executives Quashed The Bombshell Harvey Weinstein Story”, Huffington Post, October 11, 2017.
[4] “How NBC ‘Killed’ Ronan Farrow’s Weinstein Exposé” («Como a NBC "Matou" a Denúncia de Ronan Farrow sobre Weinstein»- ndT), Lloyd Grove, The Daily Beast, October 11, 2017.
[6] “Barack Obama’s Bundlers”, Open Secrets, 2012.
[7] “Amazon CEO Jeff Bezos Becomes Richest Man in the World” («Dono da Amazon Torna-se o Homem Mais Rico do Mundo»- ndT), Nucas Noland, Breitbart, July 24, 2017.
[8] “Rose McGowan Torches Jeff Bezos on Twitter: ‘Stop Funding Rapists, Alleged Pedos, and Sexual Harassers’” («R. Mc Gowan Frita J. Bezzos no Twitter : Pára de Financiar Violadores, Alegados Pedófilos e Abusadores Sexuais»- ndT), Allum Bokhari, Breitbart, October 12, 2017
[10] “Wiesenthal Center isn’t withdrawing prize given to Harvey Weinstein, but denounces him” («Centro Wiesenthal não retira prémio dado a H.Weinstein, mas denuncia-o»- ndT), Ben Sales, Jewish Telegraphic Agency, October 9, 2017.
[12] “The politics of the Harvey Weinstein scandal”, David Walsh, World Socialist Web Site, October 12, 2017
[13] “Jewish site refers to Harvey Weinstein as a ‘Jewish kind of pervert’” («Sítio Judaico refere-se a H. Weinstein como «espécie de pervertido Judeu»- ndT), Aaron Bandler, Jewish Journal, October 10, 2017.
[15] «El twitt que borró Krauze Kleinbort de Televisa que incita al magnicidio de Trump», Alfredo Jalife-Rahme, November 25, 2016.
[16Hollywood Babylone, Kenneth Anger, Jean-Jacques Pauvert éd., 1959.

EUA | TRUMP, UM DOIDO VARRIDO NA CASA BRANCA?



Mário Motta, Lisboa

Foi tema jornalístico ainda há quatro dias passados. Trump, sempre Trump. Que há especialistas a pretender saber sobre a saúde mental do atual presidente norte-americano, Donald Trump. Na TSF pudemos escutar psicólogos e psiquiatras que manifestaram dúvidas sobre o saudável perfil mental de Trump para exercer o cargo para que foi eleito. Há os que estão convencidos que aquele presidente refastelado na sala oval da Casa Branca tem mais de doido varrido que de exemplar humano cuja saúde mental se coaduna com o cargo presidencial. É que “ele deixa muitas dúvidas sobre a sua saúde mental e a estabilidade que deve possuir enquanto individuo e presidente”, acrescentou um experimentado psicólogo.

Pela parte de muitos cidadãos do mundo, o facto de Trump ter sido eleito presidente dos EUA e só agora suspeitarem que o sujeito é um exemplar de doido varrido, não é novidade. A sociedade norte-americana padece de muitos males na saúde mental, isso mesmo está demonstrado ao terem eleito Trump. Mas também nas mortandades praticadas nas escolas ou ao virar da esquina de qualquer rua das cidades do país. Viver nos EUA é um perigo. Frequentar as escolas nos EUA também constitui um perigo para os jovens e para os professores. E essas são somente as circunstâncias que vêm aqui à tona. Aprofundar o tema é o mesmo que pretendermos afundar-nos no lodo nauseabundo da sociedade norte-americana. Os EUA já são um gigantesco manicómio que vitima todos os cidadãos ainda de cabeça sã. Acontece internamente mas também com as exportações dos males que os EUA espalham e contagiam por todo o mundo.

A seguir a transcrição de título e prosa na TSF e outra da Lusa com divulgação no Notícias ao Minuto. Uma no cravo, outra na ferradura. Resumindo: o doido Trump fez ou faz “panelinha” com a Rússia. É o que dizem e é o que às vezes parece aos que ainda possuem algum juízo perfeito. Até ver. Leiam e cuidem-se. Cuidado com os doidivanas estilo Trump. Aquilo mata que se farta por todo o mundo. É só carregar no botão e abrir portas ao nuclear. É o que falta.

MM | PG

Dúvidas sobre a saúde mental de Donald Trump

Numa carta enviada ao congresso, os psiquiatras dizem que há muito que Donald Trump excedeu os parâmetros que, numa situação normal, o levariam a ser internado para avaliação. Como ocupa o cargo de presidente isso não é possível.

Lee Bandy, psiquiatra especialista em violência e professora na Universidade de Yale, defende que Trump deve ser submetido a um exame psicológico. Ela considera que há muitos sinais de que ele pode não ter a capacidade para assumir as funções que o cargo exige.

Nos Estados Unidos, todos os militares ou pessoal civil que trabalhe nas forças armadas são obrigados a fazer testes psicológicos. O mesmo acontece com muitos dos que têm empregos governamentais. Já para os candidatos às presidenciais esses testes não são obrigatórios. Lee Bandy defende que, perante o que se está a passar, essa lei deve ser alterada.

A psiquiatra defende que Donald Trump é "conhecido por ser impulsivo, imprudente, tem uma noção distorcida da realidade, tem reações de raiva, parece atraído pela violência, incita à violência nos outros e fica muito zangado e enfurecido. "Resumindo, esta médica em Yale defende que o presidente dos Estados Unidos é um perigo para o país e para o mundo.

A mesma opinião tem Leonard Glass, psiquiatra e professor em Harvard. Ele diz que Donald Trump não consegue lidar com as frustrações de uma forma saudável: "Ele é muito sensível em relação a qualquer coisa que entenda como um insulto ou como um desprestígio. Ele tende a reagir de forma impulsiva, sem refletir e de uma forma que apenas agrava as situações. Isto é muito preocupante porque o senhor Trump tem muito poder, controla as nossas armas nucleares, é o comandante supremo das forças armadas e parece que encara tudo de forma pessoal. Ele vê todos os acontecimentos como um desafio à sua confiança, poder e inteligência e por isso reage como uma criança e não como um adulto maduro que resolve problemas com a ajuda de outros."

Esta é a primeira vez que profissionais da área da saúde mental falam de uma figura pública. Há um código ético que os impede, mas Leonard Glass diz que estão apenas a cumprir uma obrigação.

"Muitos de nós pensam que temos o dever avisar o povo de que aquilo que vêm e que podem não perceber são afinal sinais de uma doença mental perigosa de alguém que revela todos os traços de uma pessoa propensa à violência. Nós temos a obrigação de avisar quando um dos nosso doentes se pode tornar perigoso. Ele não é nosso paciente mas como médicos especialistas temos a obrigação de compreender os padrões de comportamentos violentos e de chamar a atenção do publico."

Margarida Serra | TSF

Investigação obtém milhares de emails do período de transição de Trump

A investigação de Robert Mueller aos contactos russos com a campanha do Presidente dos EUA obteve acesso a milhares de e-mails enviados e recebidos por funcionários de Trump antes do início da sua administração, segundo pessoas familiarizadas com a transição.

Procurador Especial do Departamento da Justiça, Robert Mueller, está a investigar o alegado conluio do governo da Rússia com a campanha de Trump para influenciar o resultado das eleições presidenciais americanas de novembro de 2016.

Os investigadores não requereram diretamente os registos do grupo de transição ainda existente, Trump for America, e em vez disso obtiveram-nos de uma agência federal que armazenou o material, segundo as mesmas fontes.

Um advogado enviou no sábado cartas para dois comités do congresso a dizer a agência federal (General Services Administration - GSA) forneceu de forma imprópria os registos da transição aos investigadores de Mueller.

Kory Langhofer, conselheiro geral para o grupo de transição, escreveu ao republicano que preside ao comité do Senado sobre a segurança interna, contestando a revelação "não autorizada" dos emails.

A GSA tem nos últimos anos fornecido espaço no gabinete e ajuda para as transições presidenciais e tipicamente aloja os registos eletrónicos da transição no seu sistema informático. Mas o grupo Trump for America considera os registos privados e não propriedade do governo.

As fontes familiares com a organização da transição falaram à Associated Press sob condição de anonimato por causa da sensibilidade dos registos, indicando que os materiais incluíam comunicações de mais de uma dúzia de responsáveis séniores do grupo de Trump.

Entre os responsáveis que usaram contas de email deste grupo estava o antigo conselheiro para a segurança nacional Michael Flynn, que se declarou culpado de uma série de acusações de falsos testemunhos aos agentes do FBI em janeiro e que agora está a cooperar com a investigação de Mueller.

Flynn foi despedido por Trump em fevereiro por enganar responsáveis seniores da administração norte-americana sobre os seus contactos com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos.

Não é claro o quão reveladores para Mueller serão os conteúdos das contas de email mantidas pela GSA.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto: Getty Images

NA ÁSIA, A DISPUTA GEOPOLÍTICA DO SÉCULO

China investe suas reservas de dólares num projeto gigantesco de infraestrutura. EUA articulam, com a Índia e o Japão, uma resposta — mas podem ter chegado tarde demais…

Pepe Escobar | Outras Palavras | Tradução: Vila Vudu

No contexto do Novo Grande Jogo na Eurásia, as Novas Rotas da Seda, conhecidas como Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE) integram todos os instrumentos do poder nacional da China –político, econômico, diplomático, financeiro, intelectual e cultural– para modelar a ordem geopolítica/geoeconômica do século 21. ICE é o conceito que organiza a política externa da China para o futuro que se pode antever; o coração do qual foi posto em termos de conceito antes até do presidente Xi Jinping, como “a ascensão pacífica da China”.

A reação do governo Trump ao fôlego e aos objetivos da ICE foi, pode-se dizer, minimalista. Por hora, resume-se a uma mudança de terminologia, do que antes se conhecia como Pacífico Asiático, para o que hoje se conhece como “Indo-Pacífico”. O governo Obama, até a última visita do ex-presidente à Ásia, em setembro de 2016, sempre falou de Pacífico Asiático.

O Indo-Pacífico inclui o sul da Ásia e o Oceano Índico. Assim, de um ponto de vista norte-americano, implica elevar a Índia ao status de superpotência global ascendente capaz de “conter” a China.

O secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson não poderia ter dito em termos mais claros: “O centro de gravidade do mundo está mudando, para o coração do Indo-Pacífico. EUA e Índia – com nossos objetivos partilhados de paz, segurança, liberdade de navegação e uma arquitetura livre e aberta – devem servir como faróis oriental e ocidental do Indo-Pacífico. Como o porto e as luzes de estibordo entre os quais a região pode atingir sem maior e melhor potencial.”

Tentativas para pintá-la como “abordagem holística” podem mascarar uma clara mudança geopolítica de rumo, na qual “Indo-Pacífico” soa como remix “movimento de pivô para a Ásia”, de Obama, estendido à Índia.

Indo-Pacífico aplica-se diretamente ao trecho do Oceano Índico na Rota Marítima da Seda, o qual, como uma das principais rotas de conectividade da China, aparece com grande destaque na “globalização com características chinesas”. Tanto quanto Washington, Pequim é completamente favorável a livres mercados e acesso aberto às mercadorias. Mas isso não tem de implicar necessariamente que, de um ponto de vista chinês, uma rede institucional única, gigante e supervisionada pelos EUA.

“Eurasáfrica”

No que tenha a ver com Nova Delhi, abraçar o conceito de Indo-Pacífico implica assumir um risco de caminhar na corda bamba.

Ano passado, Índia e Paquistão foram incorporados como membros formais da Organização de Cooperação de Xangai, elemento chave da parceira estratégica Rússia-China.

Índia, China e Rússia são países BRICS; o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com sede em Xangai, é indiano. A Índia é membro do Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura liderado pela China. E até recentemente a Índia também participava da Iniciativa Cinturão e Estrada, ICE.

As coisas começaram a se complicar, em maio passado, quando o primeiro-ministro Narendra Modi recusou-se a comparecer à reunião de cúpula da ICE em Pequim, por causa do Corredor Econômico China-Paquistão (CECP), entroncamento chave da ICE e que atravessa o Gilgit-Baltistão e a sensível região que o Paquistão define como Azad Caxemira e a Índia como a Caxemira ocupada pelo Paquistão.

Na sequência, numa reunião do Banco de Desenvolvimento da África em Gujarat, Nova Delhi apresentou-se o que pode ser definido como projeto rival da ICE: o Corredor para Crescimento Ásia-África (CCAA) – em parceria com o Japão. Esse CCAA não poderia ser mais “Indo-Pacífico”, e realmente demarca um Corredor Liberdade no Indo-Pacífico, pago pelo Japão e com o know-how da Índia sobre a África, capaz de rivalizar com – e o que seria? – a Iniciativa Cinturão Estrada.

Por enquanto, nada há além de um já confesso “documento de visão geral” partilhado por Modi e seu contraparte japonês Shinzo Abe para fazer várias coisas em tudo assemelhadas ao que faz a ICE, tipo desenvolver infraestruturas e conectividade digital de ponta.

E com o CCAA vem o Quadrilateral, que o Ministério de Relações Exteriores do Japão divulga como projeto de “uma ordem internacional livre e aberta, baseada no Estado de Direito no Indo-Pacífico.” Mais uma vez se opõe a “estabilidade da região do Indo-Pacífico” e o que Tóquio define como “a agressiva política exterior da China” e “beligerância no Mar do Sul da China”, que gera riscos contra o que a Marinha dos EUA define como “liberdade de navegação”.

Apesar de Xi e Abe terem comemorado um novo início das relações sino-japonesas, a realidade indica outra coisa. O Japão, invocando a ameaça que viria da República Popular Democrática da Coreia, mas, na verdade, temendo a rápida modernização militar da China, comprará mais armas dos EUA. Ao mesmo tempo, Nova Delhi e Canberra estão preocupadíssimas com o massacre econômico militar pelos chineses.

Essencialmente, o CCAA e o Quadrilateral conectam a Política Act East Policy da Índia, e a estratégia japonesa de Free and Open Indo-Pacífico. Se se leem esses dois documentos, não é exagero concluir que a estratégia indo-japonesa visa a constituir uma “Eurasáfrica”.

Na prática, à parte a expansão na África, Tóquio também visa a espalhar projetos de infraestrutura por todo o Sudeste da Ásia, em cooperação com a Índia – alguns que competem ou se sobrepõem à ICE. O Banco Asiático de Desenvolvimento, enquanto isso, pesquisa modelos alternativos de financiamento para projetos de infraestrutura externos à ICE.

No pé em que estão as coisas, o Quadrilateral é ainda obra em progresso, com seu foco na “estabilidade da região do Indo-Pacífico” apostando contra o desejo confesso de Pequim de criar uma “comunidade com futuro partilhado” no Pacífico Asiático. Há razões para que nos preocupemos com a evidência de que essa nova configuração possa realmente evoluir para clara e violenta polarização econômica/militar da Ásia.
Racha no coração dos BRICS

A Ásia precisa de estonteantes $1,7 trilhões por ano, para projetos de infraestrutura, segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento. Em teoria, a Ásia como um todo tem muito a ganhar com essa chuva de projetos da ICE chinesa acrescida de mais projetos financiados pelo BDA e conectados ao CCAA.

Considerando o âmbito e o escopo extremamente ambiciosos de toda a estratégia, a ICE largou à frente e tem hoje considerável vantagem de partida. As vastas reservas de Pequim já estão orientadas para investir numa rede asiática gigante de infraestrutura, com o que exportam seu excedente de capacidade para construir e melhoram a conectividade em todo o mundo.

Diferente disso, Nova Delhi mal tem capacidade industrial para atender às necessidades da Índia. De fato, a Índia precisa muitíssimo de investimentos em infraestrutura; segundo extenso relatório, a Índia precisa de pelo menos $1,5 trilhão ao longo da próxima década. E para piorar, a Índia amarga um persistente déficit comercial com a China.

Sucesso tangível provável é o investimento indiano no porto de Chabahar no Irã, como parte de uma estratégia comercial afegã (vide a segunda parte do relatório).

Além dos projetos de energia/conectividade como o sistema nacional digital ID Aadhaar (1,18 bilhões de usuários) e investimentos numa série de usinas de energia solar, a Índia tem muito que andar. Segundo o recentemente publicado Índice Global da Fome [ing. Global Hunger Index (GHI)], a Índia está em 100º lugar dentre 119 countries pesquisados sobre fome infantil, considerados quatro indicadores: subnutrição, mortalidade infantil, crianças abandonadas e doenças infantis. A Índia está preocupantes sete pontos abaixo da Coreia do Norte. E só sete pontos acima do Afeganistão, o último da lista.

Nova Delhi não perderia se construísse projeto consciente para construir uma parceria de cooperação Índia-China, no quadro dos BRICS. Aí se inclui aceitar que os investimentos da ICE são úteis e essenciais para desenvolver a infraestrutura indiana. As portas continuam abertas. Todos os olhos estão postos nos dias 10-11 de dezembro, quando a Índia hospeda uma reunião trilateral Rússia-Índia-China – em nível ministerial.

*Pepe Escobar - Jornalista brasileiro, correspondente internacional desde 1985, morou em Paris, Los Angeles, Milão, Singapura, Bangkok e Hong Kong. Escreve sobre Asia central e Oriente Médio para as revistas Asia Times Online, Al Jazeera, The Nation e The Huffington Post.

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