domingo, 17 de dezembro de 2017

EUA | O inferno para Weinstein, Obama e os Clinton

Alfredo Jalife-Rahme*

O Presidente Donald Trump havia prometido limpar os estábulos de Augias. Foi exactamente o que começou em Hollywood com o escândalo Weinstein. Por sua iniciativa ou simplesmente com o seu apoio, os principais magnatas de Hollywood estão em vias de cair levando na sua queda os puritanos do Partido Democrata. Colocado no contexto político dos Estados Unidos, este assunto precede uma operação similar que será lançada contra Silicon Valley e terminará no Calexit.

Não é um assunto menor. Hollywood, um dos principais feudos de poder nos EUA, com os seus hábitos eróticos subterrâneos acaba de sofrer um assalto simultâneo do New York Times [1] e do New Yorker [2], à vez ; isto é profundamente destrutivo, porque o foco dos projectores sobre o psicopata-sexual israelo-americano revela também as suas conexões crapulosas ao nível financeiro e político. Foi Ronan, o filho da actriz Mia Farrow, quem chegou fogo à pólvora, com um artigo que tinha sido recusado pela censura selectiva da NBC [3]. Com efeito, Noah Oppenheim, o director da NBC, é um correligionário muito próximo de Harvey Weinstein [4].

Resumindo, este mega-escândalo sexual envolvendo um lendário produtor de cinema, reportando a 64 mulheres violadas ou assediadas durante cerca de meio século, é muito conveniente para Trump, o qual quase perdia a investidura do Partido Republicano por causa da sua mão atrevida com as damas; e causa grande dano ao Partido Democrata para o qual Hollywood é uma espécie de bosque sagrado; isto emporcalha ao mesmo tempo os Clinton (Bill, Hillary e a sua filha Chelsea) e o casal Obama [5].

Todos são apanhados nisto : o líder da minoria no Senado, o israelo-americano Chuck Schumer e mesmo a Senadora Elizabeth Warren, suposta modelo de pureza. Uma vez que Weinstein foi um dos grandes angariadores de fundos de Obama [6].

Embora pouco bruto, Harvey, de 65 anos, atacou estrelas, desde Jane Fonda e Angelina Jolie até Gwyneth Paltrow, que guardaram um silêncio corporativo muito estranho até que a actriz Rose McGowan teve a coragem de destapar as bíblicas Sodoma e Gomorra que são os reinos hollywoodescos onde reina Weinstein.

Rose Mc Gowan não se coibiu de assinalar que o patrão da Amazon e filantropo, Jeff Bezos (o homem mais rico do mundo, com quase 90 mil milhões de dólares [7]), que é proprietário do Washington Post, é um bastião de protecção para a pedofilia; ela viu imediatamente a sua conta do Twitter censurada [8]. Protegeria o poderoso GAFAT (Google, Apple, Facebook, Amazon e Twitter) a rede sexo-criminosa de Hollywood?

Claro, a conduta oscilante e pouco edificante das estrelas icónicas deixa a desejar; a outrora admirável Meryl Streep havia coroado Weinstein qualificando-o então de «deus», antes de participar ardentemente na vingança. O círculo vicioso, propriamente falando, constituído pela "entente" dos mundos financeiro, do entretenimento e dos média (mídia-br), pôde dar-se ao luxo de esconder as torpezas de Weinstein durante quase um meio século, sublinha o New York Times [9].

Toda a gente se pode enganar : Harvey Winsenthal recebera, há apenas dois anos, a medalha humanitária do Centro Wiesenthal que se qualifica como «Grupo Internacional para os Direitos Humanos Judaicos» [10]. E, ele tinha ganho um Óscar, em 1999, pelo seu Shakespeare Apaixonado; Ele tinha brilhado durante as campanhas de Clinton e Barak Obama, e recolhido somas enormes de fundos para o Partido Democrata [11].

Com um sentido político oportuno, as figuras proeminentes do dito Partido Democrata anunciaram que restituiriam as doações envenenadas, que seriam redirigidas para instituições de caridade; no entanto a Fundação Clinton absteve-se.

O Daily Mail, ligado ao MI6, o serviço de espionagem britânico, com o maior dos prazeres tratou de espalhar o escândalo sexual e oferecendo, em exclusivo, a informação segundo a qual Chelsea Clinton, cuja carreira política se encontra um tanto fragilizada, tinha recusado responder aos jornalistas sobre a restituição do quarto de milhão de dólares recebido pela Fundação Clinton de Weinstein; o seu pai Bill teve que a mandar proteger por uma equipa de segurança para afastar os média. Tendo, aparentemente, as filhas de Presidentes democratas deixado seduzir-se, no plano financeiro entenda-se : Malia, a filha de Obama, beneficia actualmente de uma bolsa financiada por Weinstein.

David Walsh, do WSWS boicotado pelo Google, fez saber que, em 2012, a televisão junto com a indústria do cinema e da música tinham contribuído no montante de 81% para o financiamento do Partido Democrata, mas que, em 2016, a mesma indústria do entretenimento tinha entregue 23,6 milhões de dólares a Hillary, enquanto Bernie Sanders só obtivera 1,2 milhões, e Trump uns meros 388,000 [12].

Teria isto alguma relação como papel da Televisa no México neoliberal ?

Os média anti-sionistas exploraram a saliente etiqueta sionista de Harvey Weinstein, extremamente devotado a Israel, ao ponto de desencadear uma polémica. Um sítio internet judeu criticou mesmo, amargamente, a conduta sectária de Weinstein [13].

Tudo isso parece uma vingança divina para Trump, tão duramente atacado por Hollywood. De facto, o escândalo ajuda-o, e Steve Bannon, mais “trumpista” que o próprio Donald, vê o seu sítio Breitbart.com atingir uma popularidade frenética [14]. Mas há qualquer coisa que não bate certo : as infâmias dos «perversos em série» foram reveladas pelo New York Times, que é praticamente o órgão oficial do Partido Democrata, e onde a cabala de George Soros goza de uma influência colossal.

Tratar-se-ia então de “fogo amigo”? Ou, melhor, de um ajuste contas entre grupos israelo-americanos, na altura em que entram em colisão os interesses do duo Netanyahu / Adelson, os máximos aliados do supremacismo trumpista, e os de Soros, o mais anti-trumpista no mundo, de quem um dos vassalos no México exigiu o assassínio público de Trump [15] ?

Isso revelaria um ajuste de contas sangrento no cerne do liberalismo israelo-americano, onde se vê mesmo Bob, irmão e sócio de Harvey Weinstein, reclamar a sua liquidação, de forma canibalesca ? Ou, uma ferida sangrenta no seio do grupo Soros? Em breve se saberá.

A depravação sexual de Hollywood, exposta desde há mais de cinquenta anos e ligada às máfias do poder, não é uma novidade. Agora ela emprega o seu outsourcing, a sua deslocalização, na medida em que é indissociável do mundo financeiro (os investimentos cinematográficos), do entretenimento e da informação, tanto quanto do domínio político.

Já em 1959, o cineasta maldito e escritor controvertido, Kenneth Anger, havia publicado Hollywood Babylon [16], espalhando os mais sórdidos segredos deste meio, ao ponto de ser interdito nos EUA, o que violava a primeira Emenda da Constituição dos EUA; O livro tinha então sido levado para fora e publicado em França. Vinte e cinco anos mais tarde, o mesmo Kenneth Anger publicava Hollywood Babylone II, que cobria o período dos anos 1920 até aos anos 1970. Ele tentou, em seguida, publicar um Hollywood Babylon III com uma vasta investigação sobre as depravações de Tom Cruise e da Igreja da Cientologia. Mas parece ter sido travado pelo medo de ser assassinado.

Em suma, a lenda paleo-bíblica de Sodoma e Gomorra assemelha-se a um conto de fadas quando em comparação com o nojento Hades hollywoodiano, do qual Harvey Weinstein está em vias, sem a menor intenção, de levantar o véu.

Alfredo Jalife-Rahme* | Voltaire.net | Tradução Alva | Fonte La Jornada (México)

Foto: Harvey Weinstein tinha brilhado aquando das campanhas dos dois Clinton e de Barack Obama, e angariou enormes somas para o Partido Democrata.

* Professor de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Escreve artigos sobre política internacional no jornal La Jornada. Último livro publicado: China irrumpe en Latinoamérica: ¿dragón o panda? (Orfila, 2012).

Notas
[1] “Harvey Weinstein Paid Off Sexual Harassment Accusers for Decades” («H.Weinstein Comprou Silêncio de Denunciantes de Assédio Sexual durante Décadas»- ndT), Jodi Kantor & Megan Twoheyoct, The New York Times, October 5, 2017.
[2] “From Aggressive Overtures to Sexual Assault: Harvey Weinstein’s Accusers Tell Their Stories” («De Insinuações Agressivas a Violação Sexual : Acusadores de H. Weinstein Contam As Suas Histórias»- ndT), Ronan Farrow, The New Yorker, October 10, 2017.
[3] “How Top NBC Executives Quashed The Bombshell Harvey Weinstein Story”, Huffington Post, October 11, 2017.
[4] “How NBC ‘Killed’ Ronan Farrow’s Weinstein Exposé” («Como a NBC "Matou" a Denúncia de Ronan Farrow sobre Weinstein»- ndT), Lloyd Grove, The Daily Beast, October 11, 2017.
[6] “Barack Obama’s Bundlers”, Open Secrets, 2012.
[7] “Amazon CEO Jeff Bezos Becomes Richest Man in the World” («Dono da Amazon Torna-se o Homem Mais Rico do Mundo»- ndT), Nucas Noland, Breitbart, July 24, 2017.
[8] “Rose McGowan Torches Jeff Bezos on Twitter: ‘Stop Funding Rapists, Alleged Pedos, and Sexual Harassers’” («R. Mc Gowan Frita J. Bezzos no Twitter : Pára de Financiar Violadores, Alegados Pedófilos e Abusadores Sexuais»- ndT), Allum Bokhari, Breitbart, October 12, 2017
[10] “Wiesenthal Center isn’t withdrawing prize given to Harvey Weinstein, but denounces him” («Centro Wiesenthal não retira prémio dado a H.Weinstein, mas denuncia-o»- ndT), Ben Sales, Jewish Telegraphic Agency, October 9, 2017.
[12] “The politics of the Harvey Weinstein scandal”, David Walsh, World Socialist Web Site, October 12, 2017
[13] “Jewish site refers to Harvey Weinstein as a ‘Jewish kind of pervert’” («Sítio Judaico refere-se a H. Weinstein como «espécie de pervertido Judeu»- ndT), Aaron Bandler, Jewish Journal, October 10, 2017.
[15] «El twitt que borró Krauze Kleinbort de Televisa que incita al magnicidio de Trump», Alfredo Jalife-Rahme, November 25, 2016.
[16Hollywood Babylone, Kenneth Anger, Jean-Jacques Pauvert éd., 1959.

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