Alfredo
Jalife-Rahme*
O
Presidente Donald Trump havia prometido limpar os estábulos de Augias. Foi
exactamente o que começou em Hollywood com o escândalo Weinstein. Por sua
iniciativa ou simplesmente com o seu apoio, os principais magnatas de Hollywood
estão em vias de cair levando na sua queda os puritanos do Partido Democrata.
Colocado no contexto político dos Estados Unidos, este assunto precede uma
operação similar que será lançada contra Silicon Valley e terminará no Calexit.
Não
é um assunto menor. Hollywood, um dos principais feudos de poder nos EUA, com
os seus hábitos eróticos subterrâneos acaba de sofrer um assalto simultâneo
do New York Times [1]
e do New Yorker [2],
à vez ; isto é profundamente destrutivo, porque o foco dos projectores sobre o
psicopata-sexual israelo-americano revela também as suas conexões crapulosas ao
nível financeiro e político. Foi Ronan, o filho da actriz Mia Farrow, quem
chegou fogo à pólvora, com um artigo que tinha sido recusado pela censura
selectiva da NBC [3].
Com efeito, Noah Oppenheim, o director da NBC, é um correligionário muito
próximo de Harvey Weinstein [4].
Resumindo,
este mega-escândalo sexual envolvendo um lendário produtor de cinema,
reportando a 64 mulheres violadas ou assediadas durante cerca de meio século, é
muito conveniente para Trump, o qual quase perdia a investidura do Partido
Republicano por causa da sua mão atrevida com as damas; e causa grande dano ao
Partido Democrata para o qual Hollywood é uma espécie de bosque sagrado; isto
emporcalha ao mesmo tempo os Clinton (Bill, Hillary e a sua filha Chelsea) e o
casal Obama [5].
Todos
são apanhados nisto : o líder da minoria no Senado, o israelo-americano Chuck
Schumer e mesmo a Senadora Elizabeth Warren, suposta modelo de pureza. Uma vez
que Weinstein foi um dos grandes angariadores de fundos de Obama [6].
Embora
pouco bruto, Harvey, de 65 anos, atacou estrelas, desde Jane Fonda e Angelina
Jolie até Gwyneth Paltrow, que guardaram um silêncio corporativo muito estranho
até que a actriz Rose McGowan teve a coragem de destapar as bíblicas Sodoma e
Gomorra que são os reinos hollywoodescos onde reina Weinstein.
Rose
Mc Gowan não se coibiu de assinalar que o patrão da Amazon e filantropo, Jeff
Bezos (o homem mais rico do mundo, com quase 90 mil milhões de dólares [7]),
que é proprietário do Washington Post, é um bastião de protecção para a
pedofilia; ela viu imediatamente a sua conta do Twitter censurada [8].
Protegeria o poderoso GAFAT (Google, Apple, Facebook, Amazon e Twitter) a rede
sexo-criminosa de Hollywood?
Claro,
a conduta oscilante e pouco edificante das estrelas icónicas deixa a desejar; a
outrora admirável Meryl Streep havia coroado Weinstein qualificando-o então de
«deus», antes de participar ardentemente na vingança. O círculo vicioso,
propriamente falando, constituído pela "entente" dos mundos
financeiro, do entretenimento e dos média (mídia-br), pôde dar-se ao luxo de
esconder as torpezas de Weinstein durante quase um meio século, sublinha
o New York Times [9].
Toda
a gente se pode enganar : Harvey Winsenthal recebera, há apenas dois anos, a
medalha humanitária do Centro Wiesenthal que se qualifica como «Grupo
Internacional para os Direitos Humanos Judaicos» [10].
E, ele tinha ganho um Óscar, em 1999, pelo seu Shakespeare Apaixonado; Ele
tinha brilhado durante as campanhas de Clinton e Barak Obama, e recolhido somas
enormes de fundos para o Partido Democrata [11].
Com
um sentido político oportuno, as figuras proeminentes do dito Partido Democrata
anunciaram que restituiriam as doações envenenadas, que seriam redirigidas para
instituições de caridade; no entanto a Fundação Clinton absteve-se.
O Daily
Mail, ligado ao MI6, o serviço de espionagem britânico, com o maior dos
prazeres tratou de espalhar o escândalo sexual e oferecendo, em exclusivo, a
informação segundo a qual Chelsea Clinton, cuja carreira política se encontra
um tanto fragilizada, tinha recusado responder aos jornalistas sobre a
restituição do quarto de milhão de dólares recebido pela Fundação Clinton de
Weinstein; o seu pai Bill teve que a mandar proteger por uma equipa de
segurança para afastar os média. Tendo, aparentemente, as filhas de Presidentes
democratas deixado seduzir-se, no plano financeiro entenda-se : Malia, a filha
de Obama, beneficia actualmente de uma bolsa financiada por Weinstein.
David
Walsh, do WSWS boicotado pelo Google, fez saber que, em 2012, a televisão junto
com a indústria do cinema e da música tinham contribuído no montante de 81%
para o financiamento do Partido Democrata, mas que, em 2016, a mesma indústria
do entretenimento tinha entregue 23,6 milhões de dólares a Hillary, enquanto
Bernie Sanders só obtivera 1,2 milhões, e Trump uns meros 388,000 [12].
Teria
isto alguma relação como papel da Televisa no México neoliberal ?
Os
média anti-sionistas exploraram a saliente etiqueta sionista de Harvey
Weinstein, extremamente devotado a Israel, ao ponto de desencadear uma
polémica. Um sítio internet judeu criticou mesmo, amargamente, a conduta
sectária de Weinstein [13].
Tudo
isso parece uma vingança divina para Trump, tão duramente atacado por
Hollywood. De facto, o escândalo ajuda-o, e Steve Bannon, mais “trumpista” que
o próprio Donald, vê o seu sítio Breitbart.com atingir uma
popularidade frenética [14].
Mas há qualquer coisa que não bate certo : as infâmias dos «perversos em série»
foram reveladas pelo New York Times, que é praticamente o órgão oficial do
Partido Democrata, e onde a cabala de George Soros goza de uma influência
colossal.
Tratar-se-ia
então de “fogo amigo”? Ou, melhor, de um ajuste contas entre grupos
israelo-americanos, na altura em que entram em colisão os interesses do duo
Netanyahu / Adelson, os máximos aliados do supremacismo trumpista, e os de
Soros, o mais anti-trumpista no mundo, de quem um dos vassalos no México exigiu
o assassínio público de Trump [15]
?
Isso
revelaria um ajuste de contas sangrento no cerne do liberalismo
israelo-americano, onde se vê mesmo Bob, irmão e sócio de Harvey Weinstein,
reclamar a sua liquidação, de forma canibalesca ? Ou, uma ferida sangrenta no
seio do grupo Soros? Em breve se saberá.
A
depravação sexual de Hollywood, exposta desde há mais de cinquenta anos e
ligada às máfias do poder, não é uma novidade. Agora ela emprega o seu
outsourcing, a sua deslocalização, na medida em que é indissociável do mundo
financeiro (os investimentos cinematográficos), do entretenimento e da
informação, tanto quanto do domínio político.
Já
em 1959, o cineasta maldito e escritor controvertido, Kenneth Anger, havia
publicado Hollywood Babylon [16],
espalhando os mais sórdidos segredos deste meio, ao ponto de ser interdito nos
EUA, o que violava a primeira Emenda da Constituição dos EUA; O livro tinha
então sido levado para fora e publicado em França. Vinte e cinco anos mais
tarde, o mesmo Kenneth Anger publicava Hollywood Babylone II, que cobria o
período dos anos 1920 até aos anos 1970. Ele tentou, em seguida, publicar
um Hollywood Babylon III com uma vasta investigação sobre as
depravações de Tom Cruise e da Igreja da Cientologia. Mas parece ter sido
travado pelo medo de ser assassinado.
Em
suma, a lenda paleo-bíblica de Sodoma e Gomorra assemelha-se a um conto de
fadas quando em comparação com o nojento Hades hollywoodiano, do qual Harvey
Weinstein está em vias, sem a menor intenção, de levantar o véu.
Foto:
Harvey Weinstein tinha brilhado aquando das campanhas dos dois Clinton e de
Barack Obama, e angariou enormes somas para o Partido Democrata.
*
Professor de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autónoma do
México (UNAM). Escreve artigos sobre política internacional no jornal La
Jornada. Último livro publicado: China irrumpe en Latinoamérica: ¿dragón o
panda? (Orfila, 2012).
Notas
[1]
“Harvey
Weinstein Paid Off Sexual Harassment Accusers for Decades” («H.Weinstein
Comprou Silêncio de Denunciantes de Assédio Sexual durante Décadas»- ndT), Jodi
Kantor & Megan Twoheyoct, The New York Times, October 5, 2017.
[2]
“From
Aggressive Overtures to Sexual Assault: Harvey Weinstein’s Accusers Tell Their
Stories” («De Insinuações Agressivas a Violação Sexual : Acusadores de H.
Weinstein Contam As Suas Histórias»- ndT), Ronan Farrow, The New Yorker,
October 10, 2017.
[3]
“How
Top NBC Executives Quashed The Bombshell Harvey Weinstein Story”, Huffington
Post, October 11, 2017.
[4]
“How
NBC ‘Killed’ Ronan Farrow’s Weinstein Exposé” («Como a NBC
"Matou" a Denúncia de Ronan Farrow sobre Weinstein»- ndT), Lloyd
Grove, The Daily Beast, October 11, 2017.
[5]
“Le
soutien d’Harvey Weinstein aux démocrates refait surface et embarrasse Hillary
Clinton et Barack Obama”, France Info et AFP, 11 octobre
2017.
[6]
“Barack Obama’s
Bundlers”, Open Secrets, 2012.
[7]
“Amazon
CEO Jeff Bezos Becomes Richest Man in the World” («Dono da Amazon Torna-se
o Homem Mais Rico do Mundo»- ndT), Nucas Noland, Breitbart, July 24, 2017.
[8]
“Rose
McGowan Torches Jeff Bezos on Twitter: ‘Stop Funding Rapists, Alleged Pedos,
and Sexual Harassers’” («R. Mc Gowan Frita J. Bezzos no Twitter : Pára de
Financiar Violadores, Alegados Pedófilos e Abusadores Sexuais»- ndT), Allum
Bokhari, Breitbart, October 12, 2017
[9]
“Meryl
Streep Once Called Harvey Weinstein a ’God,’ Now Actress Is Calling Him ’Disgraceful’”,
Janice Williams, Newsweek, October 9, 2017.
[10]
“Wiesenthal
Center isn’t withdrawing prize given to Harvey Weinstein, but denounces him”
(«Centro Wiesenthal não retira prémio dado a H.Weinstein, mas denuncia-o»-
ndT), Ben Sales, Jewish Telegraphic Agency, October 9, 2017.
[11]
“Chelsea
Clinton runs from questions about handing back Harvey Weinstein’s tainted
$250,000 donations - and her father deploys security to keep the Press away”,
Alana Goodman, Daily Mail, October 14, 2017.
[12]
“The
politics of the Harvey Weinstein scandal”, David Walsh, World
Socialist Web Site, October 12, 2017
[13]
“Jewish
site refers to Harvey Weinstein as a ‘Jewish kind of pervert’” («Sítio
Judaico refere-se a H. Weinstein como «espécie de pervertido Judeu»- ndT),
Aaron Bandler, Jewish Journal, October 10, 2017.
[14]
“NY
Attorney General Probes Weinstein Co.; Woody Allen Next Film Features Sex
Between Adult and 15-Year-Old Girl; Oscar-Winner Haggis: Hollywood Finished”,
Jerome Hudson, Breitbart, October 13, 2017.
[15]
«El
twitt que borró Krauze Kleinbort de Televisa que incita al magnicidio de Trump», Alfredo
Jalife-Rahme, November 25, 2016.
[16] Hollywood Babylone, Kenneth Anger, Jean-Jacques Pauvert éd., 1959.
[16] Hollywood Babylone, Kenneth Anger, Jean-Jacques Pauvert éd., 1959.
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