Frelimo nega e passa a vítima
A Renamo, maior partido da
oposição, acusa a Frelimo de ter tentado assassinar ou assassinado pelo menos
306 membros, nos últimos três anos, nas regiões sul, centro e norte Moçambique.
Já a formação política no poder, há 42 anos, alega que ao menos 15 militantes
seus foram também vítimas do antigo movimento rebelde, ora transformado em
partido político, que desde 1994 diz chegar ao poder mas nunca governa porque
pretensamente a Frelimo rouba votos. Em 2017, dezenas de elementos e simpatizantes
dos dois maiores partidos da oposição foram mortos a tiros por indivíduos ainda
não identificados.
As acusações entre as duas
formações políticas constam dum relatório da Human Rights Watch (HRW),
divulgado no princípio desta semana em Maputo.
Iain Levine, director de
programas daquela organização internacional, disse, em entrevista ao @Verdade,
que a Frelimo, partido no poder, e a Renamo precisam de cultivar confiança
mútua para que cheguem a um acordo definitivo que permita o alcance de uma paz
duradoura em Moçambique. “Em resposta às questões da Human Rights Watch, a
Renamo forneceu uma lista com 306 nomes de membros do partido que foram
alegadamente atacados ou assassinados pelas forças governamentais entre Março
de 2015 e Dezembro de 2016”, avança o documento, intitulado «“O Próximo a
Morrer”: Abusos das Forças de Segurança do Estado e da Renamo em Moçambique».
Durante a sua pesquisa, a HRW
endereçou cartas à Presidência da República e à Renamo, por exemplo, pedindo
esclarecimento a determinadas questões. A formação política liderada por Afonso
Dhlakama imputou a autoria dos ataques que custaram a vida de dezenas de
pessoas ao seu eterno rival, a Frelimo.
Augusto Mateus, chefe do gabinete
de Dhlakama, disse que 12 pessoas, entre guardas da segurança da “Perdiz” e
quadro civis , foram mortas.
“Entre Novembro de 2015 e
Dezembro de 2016, as forças de defesa e segurança do Estado detiveram
arbitrariamente indivíduos suspeitos de estarem ligados ao grupo armado da
Renamo e torturaram ou maltrataram alguns deles sob sua custódia. O governo
ainda não divulgou qualquer informação sobre os membros ou apoiantes da Renamo
que deteve ou acusou legalmente, apesar de porta-vozes da polícia terem alegado
em várias ocasiões, que detiveram homens armados da Renamo”.
Na mesma missiva à HRW, a Renamo
apresenta uma outra extensa lista de vítimas dos chamados “esquadrões da morte
do governo” nas províncias de Nampula, Zambézia, Tete, Manica, Sofala,
Inhambane e cidade de Maputo, sobretudo em 2016.
O partido no poder reportou, por
sua vez, à mesma entidade, que, desde Outubro de 2015, os homens armados da
Renamo se envolveram em homicídios de pessoas ligadas, ou que se acredita
estarem ligadas, à Frelimo.
Em Outubro de 2016, a Frelimo
apresentou à HRW os nomes de 15 membros que foram alegadamente assassinados,
seis que foram alegadamente espancados e seis que foram alegadamente raptados
nas províncias de Manica, Sofala, Inhambane e Nampula entre Fevereiro de 2015 e
Setembro de 2016, juntamente com as datas e locais dos alegados incidentes.
“A Frelimo disse que a Renamo era
responsável pelos crimes, mas não forneceu qualquer informação que sustentasse
a acusação (...). Em 2 de Setembro de 2016, alegados atiradores da Renamo
raptaram e mataram o regulo (chefe tradicional) de Nhampoca, Joaquim
Chirangano, e outro homem, o chefe do posto administrativo da Tica, Abílio
Jorge”, disse a organização.
Na entrevista que Iain Levine
concedeu ao @Verdade, disse que não acredita na resposta do governo, segundo a
qual as Forças de Defesa e Segurança (FDS) não cometeram abusos e outras
atrocidades contra a civis.
Na ocasião, ele disse ainda
esperar que as próximas eleições autárquicas, marcadas para Outubro de 2018, e
gerais, em 2019, não sejam motivo para o Governo e a Renamo entrarem, de novo,
em rota de colisão por causa dos resultados eleitorais.
Emildo Sambo | @Verdade
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