O novo Presidente sul-africano,
Cyril Ramaphosa, retoma a intenção de combate à corrupção no país, no seu
primeiro discurso sobre o Estado da nação enquanto Chefe de Estado, dois dias
após a renúncia de Jacob Zuma.
Na África do Sul, o novo
Presidente apresentou nesta sexta-feira (16.02) o seu primeiro discurso sobre o
estado da Nação. Cyril Ramaphosa que reconheceu as crises que o país vive, fez
promessas de melhorias nos setores críticos, como por exemplo o emprego.
Logo no começo do seu discurso no
Parlamento, o novo Presidente da África do Sul fez referência ao seu
antecessor, Jacob Zuma, elogiando-o em meio a vaias dos deputados.
"Gostaria também de estender a minha gratidão ao ex-Presidente Jacob Zuma
pela maneira como ele conduziu este processo difícil e sensível. E quero
agradecer-lhe também pelo serviço prestado a esta nação durante dos seus dois
mandatos como Presidente da República", disse o novo Presidente.
E não é apenas o campo político
que vive maus dias no país, a economia também está em crise, as taxas de
desemprego são altas e as classes mais desfavorecidas têm uma escolarização
deficitária. E as promessas de Ramaphosa são justamente de melhoria nos setores
problemáticos.
"Criação de emprego,
especialmente para os jovens do nosso país. Vamos tomar medidas para enfrentar
os desafios do desemprego. E uma das iniciativas que levaremos a cabo é a
realização de uma cimeira de emprego nos próximos meses para juntar esforços de
todos os setores com o objetivo de criar empregos", promete Ramaphosa.
Cyril Ramaphosa representa a
esperança para muitos sul-africanos, depois da governação de Jacob Zuma
manchada por escândalos de corrupção e outros tipo de crises.
O economista sul-africano Azar
Jammine é um dos otimistas em relação à nova presidência. "Muita coisa se
perdeu e vai levar vários anos a recuperar isso, sem dúvidas. Mas com
esperança, sob a nova liderança, especialmente com Ramaphosa, nós iremos
recuperar o que se perdeu. E a longo prazo, o céu é o limite para este
país", afirma o economista.
Cyril Ramaphosa 5° Presidente da
África do Sul
Cyril Ramaphosa, que tem 65 anos,
assume como sucessor
de Jacob Zuma. Com isso, concretiza-se um dos maiores desejos de Nelson
Mandela.
Nelson Mandela, símbolo de
liberdade em África, parecia já saber há mais de 20 anos que o seu camarada
Cyril Ramaphosa, que contribuiu muito para o desenvolvimento da África do Sul
democrática, tinha uma capacidade enorme de liderança. "Eu quero aproveitar
essa oportunidade para elogiar o meu camarada Cyril Ramaphosa. Nós
continuaremos a tirar proveito da sua imensa capacidade de
liderança".
O sexagenário Cyril Ramaphosa foi
na sua juventude um engajado ativista anti-apartheid e pelo facto muitas vezes
preso. Foi membro da direção do sindicato União Nacional dos Mineiros (NUM) e
participou da fundação da poderosa Confederação Sindical Sul-africana, a
COSATU. Depois do fim do Apartheid, ele desempenhou o papel de mediador-chefe
do ANC na elaboração da nova Constituição do país, um trabalho considerado uma
obra-prima por Ray Hartley no seu livro sobre o novo Presidente.
"Ele é o arquiteto de partes
essenciais dessa Constituição inacreditavelmente avançada. De fato,
devemos agradecer as suas habilidades excepcionais o fato de termos hoje um
inventário abrangente de direitos fundamentais", afirma Hartley.
Ramaphosa é considerado um
experiente chefe de negociações e estratega. Isso também foi percebido por
Nelson Mandela nos anos 90, que já queria fazê-lo seu sucessor. No entanto, o
ANC se posicionou contra o desejo de Mandela e escolheu Thabo Mbeki como novo
chefe do partido e mais tarde Presidente da África do Sul.
Profundamente ressentido,
Ramaphosa deixa a política e torna-se empresário. Possuidor de uma grande
fortuna avaliada em muitos milhões de euros, ele é hoje um dos homens mais
ricos da África do Sul. Como diretor da Lonmin, conglomerado especializado na
extração de platina Ramapphosa cometeu o maior erro da sua carreira, segundo
afirma Ray Hartley. Protestos levados a cabo pelos trabalhadores da
Lonmin saldaram-se no que ficou conhecido como o "Massacre de
Mariakana", no qual 34 mineiros morreram vítimas de tiros disparados pela
polícia.
"Como antigo chefe do
sindicato dos trabalhadores mineiros e diretor da Lonmin, ele estava na
situação privilegiada de poder influenciar os acontecimentos em Marikana. No
entanto, ele agiu tardiamente. Ele não arregaçou as mangas e envolveu-se nas
negociações que poderiam ter resolvido a crise pacificamente. Isso o perseguirá
ainda por muito tempo", afirma Hartley.
Regresso à vida política e
ascensão à Presidência
Há cinco anos Ramaphosa regressou
à vida política e como parte da equipa de Jacob Zuma, foi mais tarde
eleito Vice-Presidente da África do Sul. Em dezembro foi eleito líder do
ANC. Na sua camapnha ele apresentou-se como salvador do ANC. Alguém que queria
livrar o ANC da corrupção e das práticas clientelistas. No entanto, ele fez
parte do Governo de Zuma e com isso é também parte do problema.
"Quando Ramaphosa retornou à
política em 2012 para se tornar Vice-Presidente do ANC, ali ele já tinha o
plano de se tornar o próximo Presidente da África do Sul. Ele faria tudo que
fosse preciso para receber o apoio necessário do partido. Para isso juntou-se a
muitos membros do partido, e Infelizmente a sua proximidade com Zuma não foi
bem recebida pela opinião pública geral", analisa Hartley,
Na fase inicial do congresso do
partido, Ramaphosa tinha-se distanciado significativamente de Zuma. Após a sua
eleição como líder do ANC, ele fez de tudo para que o poder de Zuma fosse aos
poucos restringido, até culminar na sua renúncia do cargo de Presidente da
África do Sul. "Nós estamos a dialogar sobre o período de transição
para um novo Governo. Especialmente no que se refere à posição do Presidente da
África do Sul", discursa Ramaphosa.
Agora Cyril Ramaphosa chegou ao
lugar onde Nelson Mandela o havia visto já há 23 anos. Ray Hartley está
convencido de que ele poderá ser o Presidente que a África do Sul tanto
precisa. "Especialmente se ele se lembrar do seu passado, da sua
capacidade como estratega e negociador. A política na África do Sul está totalmente
dividida. Eu acho que coordenação, organização e disciplina podem resolver a
situação. E nós precisamos disso de qualquer maneira", afirmou o escritor.
Jan-Philippe Schlüter, nm, ni | Deutsche
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