< J. Bazeza, Luanda >
Mafioso é um apreciador da música angolana dos anos 60 e 70. Peças criadas antes da Dipanda. Nessa constelação de grandes artistas, vozes excepcionais, masculinas e femininas, destacava-se o grande Minguito, rei do merengue. Rei do talento. Rei dos quintalões e de todas as festas. Na boémia chamavam-lhe o Manguito. Carinhosamente. Todas e todos respeitavam esse génio da música popular angolana urbana.
Depois de ouvir artistas angolanos, no seu gira-discos do antigamente, Mafioso fez uma chamada telefónica ao seu amigão Boca Azul, para recordar a visita que ambos fizeram à cidade do Caxito, na altura província de Luanda. Corria o ano de 1978. Os dois amigalhaços foram ao Salão Mandafama, onde o saudoso Domingos Luís Garcia, Minguito, fez um grande espectáculo. Memorável. Ainda hoje falamos dessa maravilha.
Minguito volta. Vai tocar e
cantar ao Palácio da Cidade Alta. Anima as cessões do Conselho de Ministros.
Canta para o soba grande e seus auxiliares (auxiliam mesmo ou partem o semieixo
da carripana do Executivo?) aquele tema que nos alegrava o coração e fazia
tremer os bufos e seus derivados. A cena era
Mafioso quis saber se o Minguito estava ligado à política. Boca Azul respondeu que nos anos 60 e 70 muitos músicos passavam a mensagem política nas letras das canções. E passavam. Tinham apoiantes. Consumidores e fãs fidelíssimos.
Boca Azul disse que um auxiliar de segunda (ministro) da República da Sanzala quando lhe falam em pobreza, puxa logo da pistola. Odeia quem lhe lembra o tempo em que andava de motorizada e vivia num bairro suburbano. O soba grande também não gosta de ouvir essas músicas que retratam o sofrimento do povito pobre.Afinal, o chefão o sabe que a música é uma arma de longo alcance e pode ajudar destruir, sem derramamento de sangue, quem quer que seja. Nada que preocupe o titular do poder destrutivo. Antes era o campeão da paz em África. Quando ia ao Leste da República Democrática do Congo os guerreiros fugiam para a selva e deitavam fora a armas.
No Sudão, bastava ele mostrar a sua faixa de campeão para parar tudo, até a guerra. Nem mais um tiro! A paz reina em África e no mundo. Aí o chefão foi premiado com o título de rei da energia. A luz vai e tarde ou nunca volta. Se com ele for igual, que vá mas nunca mais volte. Temos o rei da energia em África e no mundo. Grande homem.
A música do grande Minguito que denunciava os gamanços no tempo dos colonos tem grande actualidade. Está a acontecer tal e qual na República da Sanzala. Se é uma comparação possível, Boca Azul recusa comentar, mas diz que os trabalhadores dão no duro. Duríssimo. Mesmo quem está desempregado. E o kitadi é um k o x i t o.
À custa dos votos do povo, o soba grande e seus auxiliares conquistaram o poder misturado: Político, Legislativo e Judicial. O povito, pelo contrário, ficou apenas com o poder de levar porrada e passar fome. E perdeu o famoso e inatingível Poder de Compra.
Mafioso lamentou-se, chorou, bateu na cabeça com raiva. E jurou que se um dia tiver Poder de Compra vai mesmo comprar a Kingila dos Impostos. Ministra do kumbu. Depois vende-a em saldo aos bandidos de Bruxelas.
A verdade é só uma: Os chefões
esquecem os caminhos iluminados por Manguxi e Ngazuza.
Mafioso aceita o jogo limpo do Boca Azul e jura que em 2027 tudo vai mudar. Mas
antes há o congresso ordinário do partido que é o povo e o povo é o partido. O
chefão vai ouvir das boas. A verdade dos delegados pode doer muito. A mentira
comparada fica à porta.
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