Como o primeiro-ministro de
Israel se viu enredado em mais um caso de suspeita de corrupção, desta vez
envolvendo a poderosa siderúrgica alemã ThyssenKrupp.
Os personagens: Benjamin
Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, e uma das maiores
corporações industriais da Alemanha. E agora esses dois foram flagrados em um
escândalo que pode derrubar o governo israelense.
Dois homens próximos
a Netanyahu são suspeitos de terem feito lobby para que funcionários
do setor de defesa israelense optassem pela compra de um modelo de submarino
produzido pelo braço naval da gigante do setor siderúrgico ThyssenKrupp,
baseada em Essen, no oeste alemão. Os israelenses têm sido ao longo dos
anos compradores fiéis de submarinos alemães nucleares e não nucleares.
A história começou em outubro
passado, quando o governo alemão aprovou um acordo de 2 bilhões de euros (8
bilhões de reais) para vender três submarinos Dolphin e quatro corvetas da
ThyssenKrupp para a Marinha israelense.
Berlim chegou a congelar o acordo
por três meses, enquanto o caso gerou escândalo em Israel, mas acabou por
aprová-lo. Em Israel, a investigação – chamada "caso 3000" – envolve
funcionários do establishment militar israelense, bem como trabalhadores locais
da ThyssenKrupp.
Netanyahu não é, por enquanto, um
suspeito no caso, mas duas pessoas do círculo de confiança do primeiro-ministro
foram convocadas para depor pela polícia israelense no início de novembro.
Uma dessas pessoas é o enviado
diplomático de Netanyahu, Yitzhak Molcho, enquanto o outro é David Shimron, um
dos confidentes mais próximos de Netanyahu, que foi descrito pelo jornal Jerusalem
Post como "mão direita" do político.
Shimron não é apenas o advogado
de família de Netanyahu (quando jovem ele era próximo do falecido irmão de
Netanyahu, Yoni), mas também atuou como representante do agente da ThyssenKrupp
em Israel, Miki Ganor, que também é apontado como suspeito no caso.
A mãozinha de Sigmar Gabriel
Em novembro passado, Raviv
Drucker, repórter da rede de TV Channel 10 de Israel, revelou que
investigadores estavam analisando alegações de que Shimron fez lobby junto a
funcionários da Defesa israelense em nome da ThyssenKrupp.
Drucker acompanhou o caso por
mais de um ano. Ele sentiu que havia algo errado no negócio com a ThyssenKrupp,
especialmente a compra das corvetas, que o governo havia apontava como
necessárias para a proteção de seus campos de gás no Mar Mediterrâneo.
"A Marinha israelense queria
inicialmente comprar corvetas da Coreia do Sul", disse ele à emissora
alemã NDR na semana passada. "Mas eles acabaram mudando de ideia. De
repente, os navios necessários eram alemães, mesmo sendo muito maiores e com prazo
de entrega mais demorado.”
Miki Ganor é visto como uma
figura central nesse escândalo. Agente da ThyssenKrupp em Israel desde 2009,
ele virou um delator em julho de 2017, quando foi preso por suspeita de
subornar as autoridades do governo israelense para beneficiar a empresa alemã.
Ninguém do lado alemão quer falar
muito sobre o tema. Acredita-se que a Chancelaria tenha congelado a autorização
do acordo da ThyssenKrupp por três meses no ano passado, mas então o ministro
das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, acabou mediando a disputa
(talvez para melhorar sua própria relação com Netanyahu, que à época
estava abalada).
A ThyseenKrupp disse que está
planejando uma investigação interna sobre o caso. A empresa também suspendeu
seu contrato com Ganor. O Ministério da Defesa alemão declarou que o episódio é
"um caso interno israelense".
Mesmo com tudo isso, o negócio
permanece de pé. A construção das quatro corvetas começou no início de
fevereiro, nos estaleiros em Kiel, na costa báltica da Alemanha.
Este não é o primeiro caso de
corrupção envolvendo Netanyahu ou alguém do seu círculo. Em 2016, ele se
viu obrigado a se defender durante as investigações do "caso 1000”, um
escândalo envolvendo presentes ofertados por milionários.
Já o "caso 2000” envolve
acusações de que o primeiro-ministro fechou um acordo com um magnata da mídia
para que a cobertura do governo fosse positiva. Em troca ele teria
oferecido prejudicar um jornal concorrente.
Ben Knight (jps) | Deutsche Welle
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