Domingos de Andrade* | Jornal de
Notícias | opinião
Até Luís Filipe Menezes, no seu
curto mandato de oito meses à frente do PSD, teve direito a estado de graça. A
votação humilhante de Fernando Negrão para a liderança parlamentar dos
sociais-democratas foi esse último sinal de que Rui Rio está sozinho na Oposição,
com oposição na Assembleia da República dos seus próprios deputados.
O candidato que teve o aval do
líder para substituir Hugo Soares não só não conquistou a maioria dos
deputados, como reuniu menos votos do que os nomes que constavam da lista de
candidatura, no que foi encarado por Negrão como um caso grave de falta de ética
dos deputados, ou golpe palaciano, como nomeia nestas páginas André Coelho
Lima, da Comissão Política Nacional.
Um filho único de quem os pais
não gostam, portanto. Mas que não é mais do que um sinal da profunda divisão
ideológica, geográfica e de tomada de poder que alimenta ruturas profundas num
partido também ele com um fosso cavado entre a elite e os militantes rurais.
Sem palco quinzenal para
confrontar o primeiro-ministro, sem preparação para a realidade frenética das
redes sociais e da urgência mediática, Rio só pode dedicar-se a fazer o que
sabe fazer melhor. Arrumar a casa, escolher lideranças para as eleições nas
distritais - a do Porto, a maior do país, é um saco de gatos, mas não é a única
-, fazer a lista dos nomes a riscar. São muitos. A limpeza vai ser grande. E
subestimá-lo é um erro.
Os deputados sabem disso. Que o
lugar está dependente da disciplina de voto. E que ir contra os poderes
estabelecidos é a arma que o novo líder do PSD mais gosta de brandir.
Hostilizar a máquina instalada vai ser o passatempo preferido do homem que
coleciona inimigos e que, como o próprio assumiu, vive bem em ambientes de
tensão. Alimenta-se deles. Na hora da verdade estarão ao lado de quem mandar, o
que também dirá muito da classe política que o país tem.
O desafio de Rio não está,
portanto, em unir os cacos que o próprio se encarrega também de fazer, por
muitas juras levadas ao congresso do último fim de semana. Está em saber abrir
o partido à sociedade civil e saber atrair os melhores. Mas isso é uma refundação.
Sem o tempo que ele tanto gosta de gerir.
Ele é um homem só, mas estará
sozinho?
*Diretor-executivo do JN
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