sábado, 17 de março de 2018

ANGOLA | JES dá sinais de não querer sair da liderança do MPLA


José Eduardo dos Santos garantiu que o próximo congresso extraordinário do partido no poder deverá realizar-se só entre dezembro de 2018 e abril de 2019. O evento deve ditar o fim da sua carreira política.

José Eduardo dos Santos (JES) fez o anúncio dias depois de MPLA, o partido no poder em Angola, ter rejeitado informações sobre clivagens na organização.

É que recentemente circularam informações dando conta de que o líder do partido teria sido obrigado a abandonar a direção do MPLA para pôr fim a bicefalia que para alguns está a interferir na governação de João Lourenço.

Dos Santos, que não dá sinais de querer abandonar a liderança do partido no poder, disse que pretende empenhar-se "pessoalmente” no grupo de trabalho que este ano vai "preparar a estratégia” do MPLA para as primeiras eleições autárquicas: "Assim, recomendo, por ser mais prudente, que a realização do congresso extraordinário do partido, que vai resolver a liderança do MPLA, seja em dezembro de 2018 ou abril de 2019”.

Entretanto, apesar de apresentar duas datas, o líder do partido não disse se vai ou não por fim a vida política.

JES  vai cumprir a promessa?

O comentarista político Augusto Báfua Báfua está cético quanto à vontade do ex-Presidente angolano em deixar as suas funções no partido.

"Fica um pouco confuso entender como é que José Eduardo dos Santos quer fazer a transição. Uma vez que ele declarou que iria sair da política ativa em 2018, [e agora] ele remete para o último mês [do ano] a realização do congresso. E outra hipótese para depois do fim ano, isso dá a entender que não quer fazer a transição tão cedo", sublinha Báfua.

Para o diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos de Angola, Agostinho Sicato, há um paradoxo no discurso de JES ao tentar marcar o congresso extraordinário para abril do próximo ano.

"O anúncio não traz novidades. A novidade que se espera é o cumprimento da promessa que José Eduardo dos Santos fez de abandonar a vida política ativa em 2018. Em relação a realização do congresso o MPLA há essa prerrogativa, mas que não seja em 2018, porque isso contradiz com a promessa de José Eduardo dos Santos ", observa Sicato.

Riscos de tumultos se JES não abandonar a liderança do MPLA

Para Augusto Bafua Bafua, dos Santos poderá ainda adiar o congresso para um outro período, pelo facto de querer trabalhar pessoalmente nas estratégias que o MPLA está a traçar para as autarquias.

De acordo com o Báfua Báfua, "deve haver muitas vozes que entendem que chegou a hora de José Eduardo dos Santos abandonar o partido".

"Um partido não é uma empresa ou um bem familiar. Se o Presidente José Eduardo dos Santos for aquele presidente que faz as devidas leituras, vai entender que melhor mesmo é convocar o congresso ainda neste ano, entre junho ou agosto, porque por menos provável que seja ainda é possível que aconteça um tumulto, a medida em que o tempo vai passando [e pode] haver contestação, não só interna mas como também externa".

Muitas vozes dentro do MPLA defendem que João Lourenço, Presidente da República e vice-presidente do MPLA, é a pessoa ideal para dirigir o partido depois da saída de JES.

Há coragem para a democratização no seio do MPLA?

Mas Agostinho Sicato defende a realização de congressos democráticos, que contem com a presença de mais candidaturas.

Para o diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos de Angola deve apenas focar-se na governação do país.

"Se o José Eduardo dos Santos na verdade não quer mais continuar a liderar o partido, então o MPLA tem que ter a coragem de se democratizar. Ou seja, devem surgir novos candidatos a concorrer para o mandato desde que não seja com o atual vice-presidente do partido que também é Presidente da República", disse Agostinho Sikato.

E o analista alerta para o risco de excesso de poderes: "Não acredito que se o MPLA eleger um outro presidente que não seja João Lourenço haverá bicefalia. O Presidente da República tem muitas funções. E o país deve entender que João Lourenço é humano como qualquer outro cidadão. Se lhe atribuirmos muitos poderes, vamos transformar João Lourenço num ditador em três meses."

José Eduardo dos Santos lidera o MPLA desde 1979, ano em que foi igualmente investido como Chefe de Estado, depois da morte do primeiro Presidente do país, Agostinho Neto.

Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle

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