José Eduardo dos Santos garantiu
que o próximo congresso extraordinário do partido no poder deverá realizar-se
só entre dezembro de 2018 e abril de 2019. O evento deve ditar o fim da sua
carreira política.
José Eduardo dos Santos (JES) fez
o anúncio dias depois de MPLA, o partido no poder em Angola, ter rejeitado
informações sobre clivagens na organização.
É que recentemente circularam
informações dando conta de que o líder do partido teria sido obrigado a
abandonar a direção do MPLA para pôr fim a bicefalia que para alguns está a
interferir na governação de João Lourenço.
Dos Santos, que não dá sinais de
querer abandonar a liderança do partido no poder, disse que pretende
empenhar-se "pessoalmente” no grupo de trabalho que este ano vai
"preparar a estratégia” do MPLA para as primeiras eleições autárquicas:
"Assim, recomendo, por ser mais prudente, que a realização do congresso
extraordinário do partido, que vai resolver a liderança do MPLA, seja em
dezembro de 2018 ou abril de 2019”.
Entretanto, apesar de apresentar duas datas, o líder do partido não disse se vai ou não por fim a vida política.
JES vai cumprir a promessa?
O comentarista político Augusto Báfua Báfua está cético quanto à vontade do ex-Presidente angolano em deixar as suas funções no partido.
"Fica um pouco confuso
entender como é que José Eduardo dos Santos quer fazer a transição. Uma vez que
ele declarou que iria sair da política ativa em 2018, [e agora] ele remete para
o último mês [do ano] a realização do congresso. E outra hipótese para depois
do fim ano, isso dá a entender que não quer fazer a transição tão cedo",
sublinha Báfua.
Para o diretor do Centro de
Debates e Estudos Académicos de Angola, Agostinho Sicato, há um paradoxo no
discurso de JES ao tentar marcar o congresso extraordinário para abril do
próximo ano.
"O anúncio não traz
novidades. A novidade que se espera é o cumprimento da promessa que José
Eduardo dos Santos fez de abandonar a vida política ativa em 2018. Em relação a
realização do congresso o MPLA há essa prerrogativa, mas que não seja em 2018,
porque isso contradiz com a promessa de José Eduardo dos Santos ", observa
Sicato.
Riscos de tumultos se JES não
abandonar a liderança do MPLA
Para Augusto Bafua Bafua, dos Santos poderá ainda adiar o congresso para um outro período, pelo facto de querer trabalhar pessoalmente nas estratégias que o MPLA está a traçar para as autarquias.
De acordo com o Báfua Báfua,
"deve haver muitas vozes que entendem que chegou a hora de José Eduardo
dos Santos abandonar o partido".
"Um partido não é uma
empresa ou um bem familiar. Se o Presidente José Eduardo dos Santos for aquele
presidente que faz as devidas leituras, vai entender que melhor mesmo é
convocar o congresso ainda neste ano, entre junho ou agosto, porque por menos
provável que seja ainda é possível que aconteça um tumulto, a medida em que o
tempo vai passando [e pode] haver contestação, não só interna mas como também
externa".
Muitas vozes dentro do MPLA
defendem que João Lourenço, Presidente da República e vice-presidente do MPLA,
é a pessoa ideal para dirigir o partido depois da saída de JES.
Há coragem para a democratização
no seio do MPLA?
Mas Agostinho Sicato defende a
realização de congressos democráticos, que contem com a presença de mais
candidaturas.
Para o diretor do Centro de
Debates e Estudos Académicos de Angola deve apenas focar-se na governação do
país.
"Se o José Eduardo dos Santos
na verdade não quer mais continuar a liderar o partido, então o MPLA tem que
ter a coragem de se democratizar. Ou seja, devem surgir novos candidatos a
concorrer para o mandato desde que não seja com o atual vice-presidente do
partido que também é Presidente da República", disse Agostinho Sikato.
E o analista alerta para o risco
de excesso de poderes: "Não acredito que se o MPLA eleger um outro
presidente que não seja João Lourenço haverá bicefalia. O Presidente da
República tem muitas funções. E o país deve entender que João Lourenço é humano
como qualquer outro cidadão. Se lhe atribuirmos muitos poderes, vamos
transformar João Lourenço num ditador em três meses."
José Eduardo dos Santos lidera o
MPLA desde 1979, ano em que foi igualmente investido como Chefe de Estado,
depois da morte do primeiro Presidente do país, Agostinho Neto.
Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche
Welle
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