Mesmo nos EUA de Trump há
trabalhadores em luta, e não são poucos. O movimento grevista de professores
que neste momento alastra em vários Estados é uma resposta, combativa, quase
espontânea, e com grande expressão de massas, à extrema degradação da situação
nas escolas públicas.
A greve dos professores da
Virgínia Ocidental que, no mês passado, terminou com uma estrondosa vitória dos
trabalhadores, foi o catalisador das paralisações de docentes decretadas no
Kentucky e no Oklahoma, Estados a que muito em breve se poderá juntar o
Arizona.
Foi no Kentucky que, na
sexta-feira passada, a greve começou. Os professores, que protestam contra
cortes draconianos nos planos de pensões públicas, ultrapassaram os
constrangimentos legais que proíbem a greve declarando-se doentes nesse dia.
Igualmente ultrapassados foram os sindicatos federais e estaduais que, mais ou
menos reiteradamente, procuraram demover da greve os professores. Com efeito, a
greve de duração indeterminada, apelidada de «selvagem» mas que na verdade é
apenas espontânea, foi organizada pela Internet sem o apoio da Associação
Nacional de Educação ou da Associação de Educação do Kentucky. Ainda assim, o
Departamento de Educação deste Estado informou que mais de metade das escolas
continuavam fechadas na segunda-feira, dia em que milhares de professores se
manifestaram em frente ao capitólio estadual, em Frankfurt.
Também segunda-feira, o Oklahoma,
segundo Estado na lista dos piores salários docentes nos EUA, deu continuidade
ao protesto. Rejeitando a aprovação pelo Congresso estadual, na quinta-feira
passada, de um aumento de 6000 dólares anuais por trabalhador por oposição aos
10 000 reivindicados, mais de 30 mil professores deram início a uma greve
ilegal que paralisou por completo várias centenas de escolas. No mesmo dia,
cerca de 15 mil professores concentraram-se junto ao capitólio, na Cidade do
Oklahoma, envergando camisas vermelhas e exigindo mais investimento na
educação, manuais escolares novos, turmas mais pequenas e melhores condições
materiais. Neste Estado, o subfinanciamento da Escola Pública é tão grave que
vinte por cento dos estabelecimentos de ensino já só funcionam quatro dias por
semana.
Também no Arizona cresce a
pressão para uma greve de professores. Neste Estado, onde há turmas de 50
alunos e a maioria dos professores precisa de um segundo emprego para
sobreviver, o subfinanciamento da Escola Pública atingiu um ponto crítico e
nunca o fosso entre professores e governador foi tão profundo: o governador,
Doug Ducey, propôs aumentos salariais de um por cento, abaixo da taxa de
inflação de 2,2 por cento ao passo que os professores exigem aumentos salariais
a partir de 20 por cento.
Todos os quatro Estados onde a
luta dos professores está mais acesa, Virgínia Ocidental, Arizona, Oklahoma e
Kentucky, são Estados onde Trump e o Partido Republicano arrancaram vitórias
fáceis a Hillary Clinton e ao Partido Democrata. Estranhamente, a postura dos
democratas, que têm insistido em menorizar e caricaturar os povos destes
Estados como estúpidos, racistas e machistas sem salvação, contribuiu para
soltar a luta dos trabalhadores dos freios do partido do burro, criando o
espaço para o que é actualmente o maior e mais progressista movimento laboral
dos EUA.
*Este artigo foi publicado no
“Avante!” nº 2314, 5.04.2018
* em O Diário.info
Sem comentários:
Enviar um comentário