Neste momento Lula e a maioria do Brasil já estão confinados à sua cela de 15 metros quadrados, que lhe foi destinada pelo carrasco golpista juiz Moro. Com Lula também a democracia, as liberdades dos brasileiros, o combate à pobreza no país, as perspetivas de uma vida condigna do povo mais carenciado foram encarceradas. Os golpistas seguem o seu rumo no caminho regressivo do fascismo maquilhado de democracia. Prevalecerá o poder dos mais fortes, dos das fortunas roubadas às mais-valias produzidas pelos trabalhadores. O banditismo de colarinho branco vai ser ainda mais contemplado com a impunidade, com golpes sobre golpes incessantes de autênticos e permanentes assassinos e ladrões do povo brasileiro. Até das suas liberdade, da justiça e democracia. (PG)
A íntegra do último discurso de
Lula
No último discurso antes de se
apresentar à Polícia Federal, Lula deixa mensagem emocionada de esperança e
motivação para os que acreditam em seu projeto político. Confira a íntegra
Na tarde deste sábado (7), em São
Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou seu
último discurso antes de entregar-se à Policia Federal para cumprir o mandado
de prisão emitido pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro nesta semana.
A milhares de pessoas que o
acompanhavam desde sexta-feira em vigília, Lula, emocionado, relembrou o início
de sua vida política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e enviou uma mensagem
de motivação para os que acreditam em seu projeto político.
Confira abaixo a transcrição do
discurso histórico:
“Em 1979, esse sindicato fez uma
das greves mais extraordinárias. E nós conseguimos fazer um acordo com a
indústria automobilística que foi talvez o melhor possível. E eu tinha uma
comissão de Fábrica com 300 trabalhadores. O acordo era bom. E eu resolvi levar
o acordo para Assembleia. E resolvi pedir pra comissão de fábrica ir mais cedo
para conversar com a peãozada. E eu fazia assembleia de manhã pra evitar que o
pessoal bebesse um pouquinho a tarde, porque quando a gente bebe um pouquinho,
a gente fica mais ousado.
Mesmo assim não evitava porque o
cara levava litro de conhaque dentro da mala e quando eu passava tomava uma
‘dosinha’ para a garganta ficar melhor – coisa que não aconteceu hoje.
Pois bem, nós começamos a colocar
o acordo em votação e 100 mil pessoas no Estádio da Vila Euclides não aceitavam
o acordo. Era o melhor possível. A gente não perdia dia de férias, não perdia
décimo terceiro e tinha 15% de aumento. Mas a peãozada ‘tava’ tão radicalizada
que queria 83% ou nada. E não conseguimos. E passamos um ano sendo chamado de
pelego pelos trabalhadores. A gente, Guilherme, ia na porta de fábrica… [Lula
começa a fazer saudações diversas]. Então companheiros e companheiras, nós
conseguimos… os trabalhadores não aprovaram o acordo… [interrupção para
atendimento médico à pessoa na multidão].
Eu ia dizendo pra vocês que nós
não conseguimos aprovar a proposta que eu considerava boa e o pessoal então
passou a desrespeitar a diretoria do Sindicato. Eu ia na porta da fábrica
ninguém parava.
E a imprensa escrevia: “Lula fala
para os ouvidos moucos dos trabalhadores”.
Nós levamos um ano para recuperar
o nosso prestígio na categoria. E eu fiquei ṕensando com ar de vingança: “Os
trabalhadores pensam que eles podem fazer 100 dias de greve, 400 dias de greve,
que eles vão até o fim. Pois eu vou testá-los em 1980”.
E fizemos a maior greve da nossa
história. A maior greve. 41 dias de greve. Com 17 dias de greve fui preso e os
trabalhadores começaram depois de alguns dias a furar greve e nós então – eu
sei que Tuma, eu sei que o doutor Almir eu sei que Teotônio Vilela ia dentro da
cadeia e falava assim pra mim: “Ô Lula cê precisa acabar com a greve, cê
precisa dar um conselho para acabar com a greve”. E eu dizia: “Eu não vou
acabar com a greve. Os trabalhadores vão decidir por conta própria”.
O dado concreto é que ninguém
aguentou 41 dias porque na prática o companheiro tinha que pagar leite, tinha
que pagar a conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher começou a cobrar o
dinheiro do pão, ele então começou a sofrer pressão e não aguentou. Mas é engraçado
porque na derrota a gente ganhou muito mais sem ganhar economicamente do que
quando a gente ganhou economicamente. Significa que não é dinheiro que resolve
o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de teoria
política de conhecimento político e de tese política numa greve.
“Significa que não é dinheiro que
resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de
teoria política de conhecimento político e de tese política numa greve”.
Agora, nós estamos quase que na
mesma situação. Quase que na mesma situação. Eu tô sendo processado e eu tenho
dito claramente: “O processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que
sou processado por um apartamento que não é meu”. E ele sabe que o Globo mentiu
quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato quando fez o inquérito
mentiu que era meu, o Ministério Público quando fez a acusação mentiu dizendo
que era meu e eu pensei que o Moro ia resolver e ele mentiu dizendo que era meu
e me condenou a nove anos de cadeia.
É por isso que eu sou um cidadão
indignado, porque eu já fiz muita coisa com meus 72 anos. Mas eu não os perdoo
por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão. Deram a
primazia dos bandidos fazerem um pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a primazia
dos bandidos chamarem a gente de petralha. Deram a primazia de criar quase um
clima de guerra negando a política nesse país. E eu digo todo dia: nenhum
deles, nenhum deles, tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da
honestidade, da inocência que eu durmo. Nenhum deles [aplausos].
Eu não estou acima da Justiça. Se
eu não acreditasse na Justiça, eu não tinha feito partido político. Eu tinha
proposto uma revolução nesse país. Mas eu acredito na Justiça, numa Justiça
justa, numa Justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado
nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do
crime.
O que eu não posso admitir é um
procurador que fez um Powerpoint e foi pra televisão dizer que o PT é uma
organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a
figura mais importante desse partido, o Lula é o chefe, e portanto, se o Lula é
o chefe, diz o procurador, “eu não preciso de provas, eu tenho convicção”. Eu
quero que ele guarde a convicção deles para os comparsas deles, para os
asseclas deles e não para mim. Certamente um ladrão não estaria exigindo prova.
Estaria de rabo preso com a boca fechada torcendo para a imprensa não falar o
nome dele.
Eu tenho mais de 70 horas de Jornal
Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revista me atacando. Eu
tenho mais de milhares de páginas de jornais e materias me atacando. Eu tenho
mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando, eu tenho a
rádio do interior me atacando. E o que eles não se dão conta é que quanto mais
eles me atacam mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
“E o que eles não se dão conta é
que quanto mais eles me atacam mais cresce a minha relação com o povo
brasileiro”
Eu não tenho medo deles. Eu até
já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele
fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já
desafiei os juízes do TRF4 que eles fossem prum debate na universidade que ele
quiser, no curso que ele quiser, provar qual é o crime que eu cometi nesse
país. E eu as vezes tenho a impressão e tenho a impressão porque eu sou um
construtor de sonhos. Eu há muito tempo atrás sonhei que era possível governar
esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia,
envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de
empregos nesse país, eu sonhei, eu sonhei que era possível um metalúrgico, sem
diploma universitário, cuidar mais da educação que os diplomados e concursados
que governaram esse país e cuidaram da educação. Eu sonhei que era possível a
gente diminuir a mortalidade infantil levando leite feijão e arroz para que as
crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes
da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país para que a
gente não tenha juíz e procuradores só da elite, daqui a pouco vamos ter juízes
e procuradores nascidos na favela de Heliopólis, nascidos em Itaquera, nascidos
na periferia. Nós vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST, da CUT
formados.
Esse crime eu cometi.
Eu cometi esse crime e eles não
querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos
contra mim. E se for por esses crimes, de colocar pobre na universidade, negro
na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião,
pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa
própria. Se esse é o crime que eu cometi eu quero dizer que vou continuar sendo
criminoso nesse país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito
mais. [Povo começa a gritar “Lula, guerreiro do povo brasileiro]
“Eu sonhei que era possível pegar
os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país
para que a gente não tenha juíz e procuradores só da elite”
Companheiros e companheiras, eu
em 1986 eu fui o deputado constituinte mais votado na história do país. E, na
época, havia uma desconfiança que só tinha poder no PT quem tinha mandato..
Quem não tivesse mandato era tido… [começa a fazer saudações]. Então
companheiros, quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT
quem era deputado, Manoela e Guilherme sabe o que eu fiz? Deixei de ser
deputado. Porque eu queria provar ao PT que ia continuar sendo a figura mais
importante do PT sem ter mandato porque se alguém quiser ganhar de mim no PT só
tem um jeito: é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu,
porque se não gostar não vai ganhar.
Pois bem: nós agora estamos num
trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser
humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem
meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa e eu quero dizer que a
antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o
Ministério Público fizeram contra ela. Eu tenho certeza. Essa gente eu acho que
não tem filho, não tem alma e não tem noção do que sente uma mãe ou um pai
quando vê um filho massacrado, quando vê um filho sendo atacado.
Eu então, companheiros, resolvi
levantar a cabeça. Não pense que eu sou contra a Lava Jato não. A Lava Jato, se
pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender. Todos nós
queremos isso. Todos nós a vida inteira dizíamos: “A Justiça só prende pobre,
não prende rico”. Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico.
Eu quero. Agora qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento,
subordinado à imprensa. Porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na
sociedade, na imagem da pessoas e depois os juízes vão julgar e vão dizer “eu
não posso ir contra a opinião pública tá pedindo pra caçar”. Quem quiser votar
com base na opinião pública largue a toga e vá ser candidato a deputado,
escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga ela é o emprego
vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo, aliás
eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai
votar. Nos EUA termina a votação e você não sabe em quem o cidadão votou exatamente
para que ele não seja vítima de pressão.
“Quero dizer que a antecipação da
morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério
Público fizeram contra ela”
Imagina um cara sendo acusado de
homícidio e não tenha sido ele o assassino. O que a família do morto quer? Que
ele seja morto, que ele seja condenado. Então o juíz tem que ter,
diferentemente de nós, a cabeça mais fria, mais responsabilidade de fazer a
acusação ou de condenar. O Ministério Público é uma instituição muito forte.
Por isso esses meninos que entram muito novo fazem um curso direito e depois
faz três anos de concurso porque o pai pode pagar, esses meninos precisavam
conhecer um pouco da vida, um pouco de política para fazer o que eles fazem na
sociedade brasileira.
Tem uma coisa chamada
responsabilidade. E não pense que quando eu falo assim [quer dizer que] eu sou
contra. Eu fui presidente e indiquei quatro procuradores e fiz discurso em
todas as posses e eu dizia: “Quanto mais forte for a instituição mais responsável
os seus membros tem que ser”. Você não pode condenar a pessoa pela imprensa
para depois julgá-la. Vocês estão lembrados de que quando eu fui prestar
depoimento lá em Curitiba, eu disse para o Moro: “Você não tem condições de me
absolver porque a globo tá exigindo que você me condene e você vai me condenar.
Pois bem, eu acho que tanto o
TRF4, quanto o Moro, a Lava Jato e a Globo, eles têm um sonho de consumo. O
sonho de consumo é que primeiro: o golpe não terminou com a Dilma. O golpe só
vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula não possa ser
candidato a presidência da república em 2018. Não é que eu não vou ser, eles
não querem que eu participe porque existe a possibilidade de cada um se eleger,
eles não querem o Lula de volta porque pobre na cabeça deles não pode ter
direito. Não pode comer carne de primeira. Pobre não pode andar de avião. Pobre
não pode fazer universidade. Pobre nasceu, segundo a lógica deles, para comer e
ter coisas de segunda categoria.
“Eles não querem o Lula de volta
porque pobre na cabeça deles não pode ter direito”
Então, companheiros e
companheiras, o outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Ah,
eu fico imaginando o tesão da Veja colocando a capa comigo preso. Eu fico
imaginando o tesão da Globo colocando a minha fotografia preso. Eles vão ter
orgasmos múltiplos.
Eles decretaram a minha prisão. E
deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu vou atender o mandado deles. E vou
atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham
que tudo que acontece neste país acontece por minha causa. Eu já fui condenado
a 3 anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de
arma, eu tenho uma língua ferina, então precisa me calar, porque se não me
calar, ele vai continuar falando frases como eu falei, tá chegando a hora da
onça beber água, e os camponeses mataram um fazendeiro e eles achavam que era a
senha.
Eles já tentaram me prender por
obstrução de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão
preventiva, que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari
já tá preso há três anos. O Marcelo Odebrecht gastou R$ 400 milhões e não teve
habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão. Mas vou lá com a seguinte crença:
eles vão descobrir pela primeira vez o que eu tenho dito todo dia. Eles não
sabem que o problema deste país não chama-se Lula, o problema deste país
chama-se vocês, a consciência do povo, o partido dos trabalhadores, o PCdoB, o
MST, o MTST, eles sabem que tem muita gente.
E aquilo que a nossa pastora
disse, e eu tenho dito em todo discurso, não adianta tentar de me impedir de
andar por este país, porque tem milhões e milhões de Boulos, de Manuelas, de
Dilmas Rousseffs neste país para andar por mim.
Não adianta tentar acabar com as
minhas idéias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las.
Não adianta parar o meu sonho,
porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos
sonhos de vocês.
Não adianta achar que tudo vai
parar o dia que o Lula tiver um infarto, é bobagem, porque o meu coração baterá
pelos corações de vocês, e são milhões de corações.
Não adianta eles acharem que vão
fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não sou um ser humano, sou uma
idéia, uma idéia misturada com a idéia de vocês, e eu tenho certeza que
companheiros como os sem-terra, o MTST, os companheiros da CUT e do movimento
sindical sabem, e esta é uma prova, esta é uma prova, eu vou cumprir o mandado
e vocês vão ter de se transformar, cada um de vocês, vocês não vão se chamar
chiquinho, zezinho, joãozinho, albertinho… Todos vocês, daqui pra frente, vão
virar Lula e vão andar por este país fazendo o que você tem que fazer, e é todo
dia! Todo dia!
Eles tem de saber que a morte de
um combatente não para a revolução.
Eles tem de saber. Eles tem de
saber que nós vamos fazer definitivamente uma regulação dos meios de
comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia.
Eles têm de saber que vocês, quem
sabe, são até mais inteligentes que eu, e queimar os pneus que vocês tanto
queimam, fazer as passeatas, as ocupações no campo e na cidade; parecia difícil
a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia que vocês
ganharam o terreno que vocês invadiram.
“Não adianta parar o meu sonho,
porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos
sonhos de vocês.”
Companheiros, eu tive chance,
agora, eu estava no Uruguai, entre Livramento e Vera, e as pessoas diziam
assim, ô, Lula, você finge que vai comprar um “uisquizinho”, e você vai para o
Uruguai com o Pepe Mujica e vai embora e não volta mais, pede asilo político.
Você pode ir na embaixada da Bolívia, do Uruguai, da Rússia, e de lá você fica
falando… Eu não tenho mais idade. Minha idade é de enfrentá-los com olho no
olho e eu vou enfrentá-los aceitando cumprir o mandado.
Eu quero saber quantos dias eles
vão pensar que tão me prendendo e quantos mais dias eles me deixarem lá mais
lulas vão nascer neste país e mais gente vai querer brigar neste país, porque
numa democracia, não tem limite, não tem hora para a gente brigar. Eu falei
para os meus companheiros: se dependesse da minha vontade eu não ia, mas eu vou
porque eles vão dizer a partir de amanhã que o lula tá foragido, que o lula tá
escondido, e não! Eu não to escondido, eu vou lá na barba deles pra eles
saberem que eu não tenho medo, que eu não vou correr, e para eles saberem que
eu vou provar minha inocência.
Eles têm de saber isso.
E façam o que quiserem. Façam o
que quiserem. Eu vou pegar uma frase que eu peguei em 1982 de uma menina de 10
anos em Catanduva, e essa frase não tem autor. Os poderosos podem matar uma,
duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera.
E a nossa luta é em busca da
primavera.
Eles tem de saber que nós
queremos mais casa, mais escola, nós queremos menos mortalidade, nós não
queremos repetir a barbaridade que fizeram com a Marielle no Rio de Janeiro.
Não queremos repetir a
barbaridade que se faz com meninos negros neste país.
Não queremos mais a mortalidade
por desnutrição neste país. Não queremos mais que um jovem não tenha esperança
de entrar numa universidade, porque este país é tão cretino, que foi o ultimo
país do mundo a ter uma universidade. O último! Todos os países mais pobres
tiveram, porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse.
E falavam que custava muito. É de
se perguntar: quanto custou não fazer há 50 anos atrás?
Eu quero que vocês saibam que eu
tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o único presidente da República
sem ter um diploma universitário, mas sou o presidente da república que mais
fiz universidade na história deste país para mostrar para essa gente que não
confunda inteligência com a quantidade de anos na escolaridade, isso não e
inteligência, é conhecimento.
Inteligência é quando você tem
lado, inteligência é quando você não tem medo de discutir com os companheiros
aquilo que é prioridade, e a prioridade é garantir que este país volte a ter
cidadania. Não vão vender a Petrobras! Vamos fazer uma nova constituinte! Vamo
revogar a lei do petróleo que eles tão fazendo! Não vamos deixar vender o
BNDES, não vamos deixar vender a Caixa, não vamos deixar destruir o Banco do
Brasil! E vamos fortalecer a agricultura familiar, que é responsável por 70% do
alimento que nós comemos neste país.
E com essa crença, companheiros,
de cabeça erguida, como eu tô falando com vocês, que eu quero chegar lá e dizer
ao delegado: estou à disposição.
E a história, daqui a alguns
dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o
juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo.
Por isso companheiros, eu não
tenho lugar no meu coração pra todo mundo, mas eu quero que vocês saibam que se
tem uma coisa que eu aprendi a gostar neste mundo é da minha relação com o
povo.
Quando eu pego na mão de um de
vocês, quando eu abraço um de vocês… porque agora eu beijo homem e mulher
igualzinho, não mistura mais… Quando eu beijo um de vocês, eu não to beijando
com segundas intenções, eu to beijando porque quando eu era presidente, eu
dizia:
“Eu vou voltar pra onde eu vim”.
E eu sei quem são meus amigos
eternos e quem são os eventuais. Os de gravatinha, que iam atrás de mim, agora
desapareceram. E quem está comigo são aqueles companheiros que eram meus amigos
antes de eu ser presidente da república. É aquele que comia rabada no Zelão,
que comia frango com polenta no Demarchi, é aquele que tomava caldo de mocotó
no Zelão, esses continuam sendo nossos amigos. São que tem coragem de invadir
terreno pra fazer casa, são aqueles que têm coragem de fazer uma greve contra a
previdência, são aqueles que ocupam no campo pra fazer uma fazenda produtiva,
são aqueles que na verdade precisam do estado.
Companheiros, eu vou dizer uma
coisa pra vocês: Vocês vão perceber que eu vou sair desta maior, mais forte,
mais verdadeiro, e inocente, porque eu quero provar que eles é que cometeram um
crime, um crime político de perseguir um homem que tem 50 anos de história
política, e por isso eu sou muito grato.
Eu não tenho como pagar a
gratidão, o carinho e o respeito que vocês tem dedicado a mim nesses anos
todos. E quero dizer a vocês Guilherme, e à Manuela, a vocês dois, que para mim
é motivo de orgulho pertencer a uma geração, que está no final dela, ver nascer
dois jovens disputando o direito de ser presidente da república neste país. Por
isso, grande abraço, e podem ficar certos: esse pescoço aqui não baixa, minha
mãe já fez o pescoço curto pra ele não baixar, e não vai baixar, porque eu vou
sair de lá de cabeça erguida e de peito estufado porque eu vou provar a minha inocência.
Um abraço companheiros, obrigado,
mas muito obrigado, pelo que vocês me ajudaram, um beijo, querido, muito
obrigado!”
- Brasil de Fato em Pragmatismo Político
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