terça-feira, 3 de abril de 2018

PORTUGAL | Uns “totós”


António José Gouveia* | Jornal de Notícias | opinião

O Novo Banco é, há muito, liderado pela máxima: "se deves 5 mil euros ao banco é um problema teu, mas se deves 5 milhões é um problema do banco". O prejuízo do Novo Banco disparou o ano passado para quase 1,4 mil milhões de euros, as maiores perdas registadas desde a constituição, em agosto de 2014, depois da queda do BES. Um resultado negativo alicerçado por imparidades (dinheiro que o banco nunca mais vai ver) de cerca de 2 mil milhões de euros, dos quais a maior parte foram empréstimos contratados pelo Banco Espírito Santo e que o Novo Banco sabe que não será ressarcido.

O presidente do banco, António Ramalho, explicou que destes 2 mil milhões, 1,2 mil milhões de euros se referem a perdas de dinheiro emprestado e que nunca foi pago. Ficou por explicar se, desses empréstimos, fazem parte os maiores devedores da instituição financeira, quase todos muito próximos de Ricardo Salgado e com o qual beneficiaram quase de crédito ilimitado, como o Grupo Mello, que detém as autoestradas da Brisa e vários hospitais privados, que em 2016 tinham uma dívida de 945 milhões de euros.

Ou da Ongoing, o grupo de Nuno Vasconcellos que foi arrastado na queda da Portugal Telecom com uma dívida que ascendia a 606 milhões. Mas há mais: grupo Moniz da Maia (603 milhões), Martifer (560 milhões) ou a Promovalor, detida pelo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, com 466 milhões de euros de dívida, fazem também parte desta lista. Com dívidas a rondar os 300 milhões de euros encontrava-se o empresário madeirense Joe Berardo e as construtoras Prebuild, Grupo Lena e Obriverca.

É evidente que o Novo Banco, ao não divulgar os "donos" das imparidades, pode sempre alegar o sigilo bancário, embora exista aqui uma questão ética importante. Quem vai assumir estes milhares de milhões de dívidas é o Fundo de Resolução, que em último caso serão os portugueses a pagar.

Claro que tudo isto decorre do acordo entre Governo, Banco de Portugal e Lone Star na venda do Novo Banco ao fundo norte-americano. A exposição dos contribuintes ao Novo Banco e BES é atualmente de uns astronómicos 11 mil milhões de euros. Dava para pagar os gastos de saúde de todos os portugueses durante um ano e ainda sobrava dinheiro. Para bem da imagem do setor, que seja a Banca, através do Fundo de Resolução, a pagar os empréstimos do Estado. Ou os contribuintes serão uns "totós".

* Editor-executivo

Sem comentários:

Mais lidas da semana