António José Gouveia* | Jornal de
Notícias | opinião
O Novo Banco é, há muito,
liderado pela máxima: "se deves 5 mil euros ao banco é um problema teu,
mas se deves 5 milhões é um problema do banco". O prejuízo do Novo Banco
disparou o ano passado para quase 1,4 mil milhões de euros, as maiores perdas
registadas desde a constituição, em agosto de 2014, depois da queda do BES. Um
resultado negativo alicerçado por imparidades (dinheiro que o banco nunca mais
vai ver) de cerca de 2 mil milhões de euros, dos quais a maior parte foram
empréstimos contratados pelo Banco Espírito Santo e que o Novo Banco sabe que
não será ressarcido.
O presidente do banco, António
Ramalho, explicou que destes 2 mil milhões, 1,2 mil milhões de euros se referem
a perdas de dinheiro emprestado e que nunca foi pago. Ficou por explicar se,
desses empréstimos, fazem parte os maiores devedores da instituição financeira,
quase todos muito próximos de Ricardo Salgado e com o qual beneficiaram quase
de crédito ilimitado, como o Grupo Mello, que detém as autoestradas da Brisa e
vários hospitais privados, que em 2016 tinham uma dívida de 945 milhões de
euros.
Ou da Ongoing, o grupo de Nuno
Vasconcellos que foi arrastado na queda da Portugal Telecom com uma dívida que
ascendia a 606 milhões. Mas há mais: grupo Moniz da Maia (603 milhões),
Martifer (560 milhões) ou a Promovalor, detida pelo presidente do Benfica, Luís
Filipe Vieira, com 466 milhões de euros de dívida, fazem também parte desta
lista. Com dívidas a rondar os 300 milhões de euros encontrava-se o empresário
madeirense Joe Berardo e as construtoras Prebuild, Grupo Lena e Obriverca.
É evidente que o Novo Banco, ao
não divulgar os "donos" das imparidades, pode sempre alegar o sigilo
bancário, embora exista aqui uma questão ética importante. Quem vai assumir
estes milhares de milhões de dívidas é o Fundo de Resolução, que em último caso
serão os portugueses a pagar.
Claro que tudo isto decorre do
acordo entre Governo, Banco de Portugal e Lone Star na venda do Novo Banco ao
fundo norte-americano. A exposição dos contribuintes ao Novo Banco e BES é
atualmente de uns astronómicos 11 mil milhões de euros. Dava para pagar os
gastos de saúde de todos os portugueses durante um ano e ainda sobrava
dinheiro. Para bem da imagem do setor, que seja a Banca, através do Fundo de
Resolução, a pagar os empréstimos do Estado. Ou os contribuintes serão uns
"totós".
* Editor-executivo
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