segunda-feira, 30 de abril de 2018

Potências europeias unem forças para defender interesses


Em telefonema, líderes da Alemanha, França e Reino Unido avaliam encontros recentes com Trump e reafirmam apoio ao acordo nuclear iraniano. Sobre tarifas comerciais de Washington à UE, dizem estar "prontos para reagir".

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira–ministra britânica, Theresa May, conversaram por telefone neste fim de semana para avaliar os recentes encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Segundo comunicaram os três governos neste domingo (29/04), as conversas entre os líderes europeus se centraram no acordo nuclear com o Irã e nas relações comerciais entre Bruxelas e Washington, em meio a tarifas comerciais impostas por Trump à União Europeia (UE).

Em comunicado, o gabinete da premiê britânica afirmou que, durante o telefonema, Merkel, Macron e May reafirmaram o apoio europeu ao acordo nuclear iraniano, descrevendo-o como a "melhor maneira de neutralizar a ameaça de um Irã munido de armas nucleares".

Segundo o texto, os três líderes concordaram que existem "elementos importantes" fora do acordo, os quais precisam ser abordados entre as potências. Entre os temas estão mísseis balísticos; o que acontece quando o pacto expirar; e a atividade desestabilizadora do Irã na região.

"Eles se comprometeram a continuar trabalhando juntos entre si e com os EUA para descobrir como enfrentar a série de desafios que Teerã representa, incluindo essas questões que um novo acordo pode incluir", diz o comunicado do governo britânico.

Os três governantes ainda reiteraram que sua prioridade, "como comunidade internacional, continua sendo impedir o Irã de desenvolver armas nucleares".

Em outro comunicado, o governo francês disse que Macron está tentando criar um eixo com Berlim e Londres que considera "decisivo" para convencer os EUA a não abandonarem o acordo com o Irã. O pacto, por sua vez, seria "decisivo para preservar os interesses" dos três países e sua segurança.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, ainda acrescentou que Alemanha, França e Reino Unido estão dispostos a elaborar, "em um texto mais amplo e com a presença de todos as partes envolvidas", medidas adicionais ao acordo.

Em telefonema com Macron neste domingo, o presidente iraniano, Hassan Rohani, afirmou que o pacto nuclear "não é negociável de maneira nenhuma", reiterando a posição firme de Teerã em relação à questão. "O Irã não aceitará qualquer restrição além de seus compromissos", disse ele ao presidente francês, segundo a página da presidência do Irã na internet.

A ameaça de Trump ao acordo

O pacto foi assinado em 2015 pelo ex-presidente americano Barack Obama, envolvendo, além de Irã e EUA, a Alemanha, a França, a China, o Reino Unido e a Rússia. Ele visava restringir o programa nuclear iraniano em troca do alívio das sanções internacionais ao país.

Trump tem até 12 de maio para decidir o futuro do acordo – isso porque as sanções americanas são revistas periodicamente. Na vez passada, em 12 de janeiro, o presidente disse que aquela seria a "última vez" que manteria as sanções suspensas.

Mais recentemente, Trump reiterou sua ameaça de descumprir o acordo, a menos que seus aliados europeus consertem, até o dia 12, as "terríveis falhas" presentes no pacto.

Em encontro com Macron em Washington no início da semana, o presidente americano afirmou que o trato com Teerã possui "bases decadentes". "É um acordo ruim, com uma estrutura ruim, e está desmoronando", criticou o republicano.

Na ocasião, Trump ainda usou linguagem forte para acusar Teerã de causar problemas em toda a região. "Não importa aonde você vá no Oriente Médio, o Irã parece estar por trás de todos os lugares onde há problemas", disse ele na última terça-feira.

A viagem do presidente francês aos Estados Unidos foi seguida de uma visita de Merkel a Trump, na sexta-feira, e faz parte do esforço europeu para convencer o presidente americano a permanecer no acordo com o Irã.

Em seu encontro na Casa Branca, Macron propôs buscar um "novo acordo" além do existente. Merkel acrescentou depois que a Alemanha também acha que é preciso "adicionar mais", uma vez que as cláusulas atuais "não são suficientes para conferir ao Irã um papel baseado na confiança".

Deutsche Welle


Os pontos de divergência entre Merkel e Trump

Chanceler alemã faz ofensiva para tentar fazer presidente americano mudar de ideia em várias frentes. Divergências vão desde tarifas e balança comercial até acordo nuclear com o Irã e despesas com defesa.

Em missão delicada e num momento tenso das relações entre Estados Unidos e Alemanha, a chanceler federal Angela Merkel viajou para Washington nesta quinta-feira (26/04) para um encontro com o presidente americano, Donald Trump.

O encontro, nesta sexta-feira, acontece poucos dias antes do fim do período de isenção das tarifasamericanas de importação de aço e alumínio, válido para países europeus até 1° de maio. Merkel quer convencer Trump a pelo menos adiar o fim do prazo para a Alemanha.

O encontro de Merkel com Trump também ocorrerá poucos dias depois da passagem do presidente da França, Emmanuel Macron, por Washington.

Além da ameaça de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a Europa, outros temas do encontro desta sexta deverão ser a guerra civil na Síria e o acordo nuclear com o Irã, assim como as críticas do governo Trump ao projeto do gasoduto Nordstream 2, no Mar Báltico, de que a Alemanha se tornará muito dependente do gás russo.

Esta é a segunda visita que Merkel faz a Trump desde que este assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017. Apesar de Berlim declarar que a chanceler quer aprofundar as "excelentes" relações econômicas entre os dois países, vários assuntos da agenda internacional opõem os dois líderes políticos. Entenda quais são:

O acordo nuclear com o Irã

A Alemanha apoia firmemente o JCPOA, sigla em inglês para Plano Integral de Ação Conjunta, nome oficial do acordo nuclear firmado em 2015 entre o Irã, a Alemanha e as cinco potências do Conselho de Segurança (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China). No pacto, Teerã prometeu restringir seu programa nuclear e não desenvolver armas nucleares. Em troca, haveria um relaxamento das sanções das Nações Unidas, da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.

Já Trump chamou o JCPOA de "pior acordo de todos os tempos" e acusou o governo iraniano de não cumpri-lo. Em outubro, o presidente americano se recusou a certificar que o Irã está respeitando o acordo – um atestado requerido a cada 120 dias –, mas não chegou a rompê-lo.

Porém, ele ameaçou voltar a impor sanções secundárias a países que fazem negócios com o Irã – o que, basicamente, afundaria o acordo. A Alemanha e seus parceiros europeus gostariam de evitar esse cenário.

Desequilíbrios comerciais e tarifas

Trump acusa a UE – e a Alemanha, em particular – de uma relação econômica injusta com os EUA. Como prova dessa suposta desigualdade, ele cita o déficit comercial de 50 bilhões de dólares com a Alemanha. A indústria automobilística alemã é um dos alvos favoritos dos ataques do presidente americano.

Trump também ameaçou impor tarifas a importações europeias de aço e alumínio, que podem entrar em vigor em 1° de maio, quando se encerra um período temporário de exceção aos europeus. A Comissão Europeia avalia que a exceção será mantida por mais algum tempo, mas o governo da Alemanha não conta com isso.

O protecionismo econômico de Trump também acarretou o fim das negociações para um tratado de livre comércio entre os EUA e a UE, conhecido pela sigla em inglês TTIP.

A Alemanha apoia o livre comércio global e gostaria de ver o retorno do TTIP, que a Comissão Europeia diz que impulsionaria a economia do bloco em 120 bilhões de euros e a dos Estados Unidos em 90 bilhões de euros.

A Alemanha argumenta que as tarifas europeias sobre a totalidade dos produtos americanos que entram no bloco são, em média, ligeiramente mais baixas que as tarifas americanas sobre os produtos europeus. A Alemanha também indicou disposição para renegociar acordos tarifários – o último deles foi fechado em 1994. Mas, se Trump iniciar uma guerra comercial, Berlim ameaçou responder na mesma moeda, defendendo a proposta de a UE taxar produtos americanos como motocicletas, calças jeans e uísque.

Gastos com defesa

Trump acusa a Alemanha de gastar muito pouco com defesa – ou seja, de tirar proveito dos investimentos feitos por outros países da Otan, como os EUA. O presidente americano quer que Berlim se comprometa a gastar 2% do PIB no setor, alinhando-se a um objetivo estabelecido pela Otan em 2014.

Atualmente, a Alemanha gasta cerca de 1,2% do seu PIB (mais ou menos 37 bilhões de euros) com defesa. O atual acordo de coalizão estabelece um leve aumento desses gastos, mas nada perto dos 2% exigidos por Trump. Berlim argumenta que os montantes relativamente altos que investe em ajuda ao desenvolvimento (23,3 bilhões de euros em 2016) ajudam a evitar conflitos ao redor do mundo e deveriam ser levados em conta como contribuição à segurança internacional.

Meio ambiente

A Alemanha é um dos maiores defensores do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases poluentes e combater o aquecimento global – apesar de Berlim ja admitir que não conseguirá cumprir suas próprias metas climáticas até 2020.

Trump anunciou que os Estados Unidos vão deixar o acordo em novembro de 2020, a primeira data possível para essa retirada. Apesar de o presidente americano sinalizar, mais tarde, que pode reconsiderar essa decisão, a Alemanha parece trabalhar com a possibilidade de que isso nunca acontecerá.

Imigrantes e refugiados

Em nenhum outro tema, o contraste entre Merkel e Trump é tão grande quanto no tema imigrantes e refugiados. Enquanto o presidente prometeu construir um muro entre os Estados Unidos e o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais, a chanceler adotou uma política de boas-vindas na crise de refugiados de 2015.

Pouco depois de sua vitória nas urnas, Trump disse ao diário alemão Bild que Merkel tinha cometido "um erro catastrófico ao deixar todos aqueles ilegais entrarem no país". Já Merkel afirmou que um muro na fronteira sul dos Estados Unidos não resolverá o problema da imigração ilegal.

O gasoduto no Mar Báltico

Trump fez críticas pesadas aos planos de Berlim para um segundo gasoduto no Mar Báltico, ligando a Rússia à Alemanha. Segundo o presidente americano, isso aumentaria a dependência alemã do Kremlin. Ele disse que a Alemanha acabaria pagando "bilhões de dólares" para a Rússia. E acrescentou: "Isso não está certo".

Países-membros da UE no Leste Europeu partilham das críticas americanas em relação ao gasoduto, enquanto a Alemanha desconfia que os EUA querem exportar mais gás natural liquefeito para a Europa.

Jefferson Chase (rk) | Deutsche Welle

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