Empresário italiano com negócios
em São Vicente é citado numa investigação sobre paraísos fiscais na África
Ocidental. Primeiro-ministro cabo-verdiano diz que, "se for o caso",
Gilberto Pacchiotti será investigado.
Cabo Verde está entre os países
no centro das investigações do "West Africa Leaks", um trabalho de
pesquisa jornalística sobre empresários, políticos e poderosas corporações que
atuam na África Ocidental. O objetivo é identificar paraísos fiscais através da
análise de dezenas de dados de outras investigações jornalísticas, como
os Panama
Papers, Paradise
Papers e SwissLeaks,
e acontece em parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas de
Investigação (CIJI).
De acordo com o portal Cenozo, do
grupo de jornalistas investigativos, o empresário italiano Gilberto Pacchiotti
será o responsável pela entrada do país africano no maior escândalo de contas
em offshores da Suíça.
Segundo a investigação do West
Africa Leaks, que verifica documentos do SwissLeaks, o dono da "Cabo Verde
Importe, Lda", uma empresa importadora de alimentos situada em
Madeiralzinho, na ilha de São Vicente, tem uma conta secreta na Suíça com mais
de dois milhões de dólares. No entanto, questiona-se a atividade do empresário
em Cabo Verde que justifique o montante numa conta offshore.
Ainda de acordo com o Cenozo, o
empresário italiano não paga impostos, não declara rendimentos e troca de
nacionalidade e de passaporte sem que isso seja notado pelas autoridades
cabo-verdianas. Segundo a imprensa cabo-verdiana, o primeiro-ministro, Ulisses
Correia e Silva, garantiu esta quinta-feira (24.05) que, "se for o
caso", Gilberto Pacchiotti será investigado.
"Se for caso de polícia,
será para as entidades policiais, se for caso de violação de regras financeira,
também será devidamente investigado. Mas eu não quero associar Cabo Verde a
este tipo de operações. São casos que as vezes acontecem, mas os protagonistas
são devidamente responsabilizados", afirmou Ulisses Correia e Silva,
citado pelo jornal "A Semana".
Níger e Costa do Marfim na lista
Além de Cabo Verde, o West Africa
Leaks também denuncia empresas e pessoas ligadas a outros países da África
Ocidental. No Níger, investiga-se a construção de um matadouro, que terá
custado milhares de dólares aos cofres do Estado, mas a obra nunca saiu do papel.
O jornalista Moussa Aksar aponta
o período pós-golpe, em 2010, quando os militares assumiram o Governo de
transição no país. "Verificamos que o dinheiro previsto para esta
construção foi gasto durante a transição. O regime atual não pretende auditar
este período, o que explica este caso e prova a má governação a todos os
níveis", diz.
Na Costa do Marfim, o empresário
e político Noel Akossi Bendjo, secretário-executivo do Partido Democrata, na
coligação do partido no poder, é acusado de ter capitais nas Bahamas. Ele
ameaça processar o jornalista Diebri Anderson, editor do site de notícias
"eburnietoday.com".
"Descobrimos que o senhor
Akossi Bendjo detém uma sociedade em paraísos fiscais, incluindo as Bahamas. E
vemos que a empresa foi criada em 1997, o mesmo ano em que foi nomeado
diretor-geral da Sociedade de Refinaria da Costa do Marfim", observa o
repórter.
Políticos envolvidos
Os jornalistas africanos
trabalham ainda em investigações na Libéria, Senegal, Nigéria e Gana, entre
outros países. Em muitos casos, há políticos envolvidos nas denúncias. No Mali,
por exemplo, o candidato presidencial Hamadoun Touré também é apontado como
dono de uma empresa offshore.
"Há uma grande diferença
entre as informações disponíveis publicamente e o que os jornalistas são
capazes de descobrir quando investigam a fundo quase 30 milhões de
documentos", salienta em entrevista à DW Will Fitzgibbon, coordenador da
parceria entre os jornalistas africanos e o Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação. "Revelam não apenas que os políticos possuem
empresas offshore, mas também como essas figuras têm usado as empresas".
Frejus Quenum, Philipp Sandner,
tms | Deutsche Welle
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