terça-feira, 8 de maio de 2018

Portugal | POBREZA, A QUANTO OBRIGAS!


O abraço à pobreza está hoje aqui em baixo no Expresso Curto que podem ler a seguir, João Silvestre é o carinhoso que procura desmontar a confusão que representam os dados fabricados pelo INE e divulgados pela Lusa – que já publicámos e a que damos surra. 

Os comuns mortais e não doutos são a maioria dos portugueses mas o INE divulga algo tão elaborado e cheio de perlimpimpins que concorre para a baralhação. Já o dissemos aqui no PG. O melhor é os portugueses irem todos para a universidade para entenderem certas manias desses doutos estatísticos que, tudo indica, não chamam os bois pelos nomes. A pobreza é a pobreza e a miséria é muito mais grave que a pobreza – sabe quem a viveu ou vive. Ser da classe média é uma treta muito inconstante, insegura. Porque hoje até pode considerar-se assim e para o mês que vem já não. Ser rico é fácil de diagnosticar e fazer valer nas estatísticas porque existem poucos. Há é os que por via de vigarices até parecem ricos. Muitos vindos dos partidos do famigerado Bloco Central, apesar de só uns quantos estarem a contas com a justiça… Qual justiça?! E a tal corrupção dos tais colarinhos brancos? E os lobies sacadores que todos pagam nessa chulice? E... Avancemos.

As contas feitas por essa tal de estatística são o que são. Ora digam lá o que adianta “aumentar” reformas em mais 10 ou 20 euros mensais, o que é que isso pesa na estatística? Alguma coisa? Pois então perguntem aos que “beneficiaram” desses “aumentos” e logo verão que a pobreza se mantém e em alguns casos até se agravou. Tudo porque existem políticos, a maioria, que se estão nas tintas apesar de não o declararem. Antes pelo contrário. Criam a ilusão de que foi um grande “aumento”. Charlatães.

Ou mesmo aumentarem o salário mínimo nacional em valores iguais de 10 ou 20 euros. Nem dá para pagar o título de transporte!

Para combater a pobreza a sério, com ganas, tem de existir um teto salarial para os que ganham mundos e fundos – uns realmente doutores e honestos, outros compradores de canudos universitários e afins (vigaristas). Nas reformas devem ser reduzidos ganhos estrambólicos, exagerados. Um teto para o máximo de certas reformas é urgente. A tocar a todos. E no privado essas reformas milionárias devem ser “mordidas” a sério pelo fisco, revertendo o resultado da “mordidela” para a Segurança Social. “Morder” mesmo a sério. O que não acontece.

Na prática a pobreza em Portugal é enorme. Muitos escondem-na o mais que podem e “armam-se” em classe média desafogada. Mas é só “ares” disso. Mais cedo que tarde acabam por mostrar que andam com uma mão atrás e outra è frente, como é dito popularmente.

E pronto, assim se vê que “isto” mudou muito pouco e em imensos casos nada mudou ou até se agravou. O INE faz contas, estatísticas. Divulga a “coisa” para o baralhado, avesso ao “pão, pão, queijo, queijo”. O que é uma merda muito grande. Uma douta merda.

Em baixo, no Curto, João Silvestre torna a “coisa” mais simples. Um pouco de mais fácil perceção. Boa vontade. O que não vimos é a tal “coisa” preto no branco a contabilizar a miséria, a pobreza, os remediados ou sustentáveis, a tal classe média (a quem deve sobrar valores no final do mês) os ricos, os muito ricos ou imoralmente ricos. Ora publiquem lá estes números assim (ou ainda mais entendiveis) e vamos ver a chocante realidade do país, a injustiça social que abunda. Evidentemente que não vale vigarizar nos números – algo em que muitos ‘dótores’ são peritos. Pobres de espírito. E temos de aturar isto? Pobreza, a quanto obrigas.

Vá para o Curto. Vale a pena, e a alma não é pequena. Bom dia e boas festas aos animais simpáticos que passarem por vós. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

9,510132

João Silvestre | Expresso

Bom dia,

9,510132. Um número. Seis casas decimais. Corresponde ao rácio entre os rendimentos médios dos 10% de famílias de maior e menor rendimento em Portugal. É um simples quociente, uma operação matemática básica, que tem, no entanto, uma interpretação bastante imediata. As famílias mais ricas ganham em média – e as médias, já se sabem, são o que são – quase dez vez o que ganham as mais pobres.

O número é retirado do Rendimento e Condições de Vidaontem publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O mesmo relatório que revelou existirem em Portugal 24% de pessoas em risco de pobreza. Praticamente um em cada quatro portugueses tem um rendimento inferior abaixo de 60% da mediana do rendimento, ou seja, ganham menos de 5443 euros anuais (ou 445 mês). Os dados revelam, apesar de tudo, uma diminuição de 2,4 pontos percentuais na taxa do risco de pobreza num ano em que a ‘fasquia’ até subiu porque o rendimento aumentou. Ainda que a intensidade da pobreza tenha aumentado ligeiramente.

Há, apesar desta realidade, algumas noticias mais animadoras. É que a desigualdade na repartição do rendimento tem vindo a diminuir. O índice de Gini caiu pelo terceiro ano consecutivo, o rácio entre o percentil 90 de rendimento e o percentil 10 também tem vindo a descer para valores na ordem dos 10 e o próprio rácio dos 10% mais ricos versus 10% mais pobres é o mais baixo desde pelo menos 2004.

Há diferenças? Sim, claro. E são enormes. As famílias do ‘andar’ de 10% de cima ganham €44991 por ano. As do ‘rés-do-chão’ ficam-se por €4836. Mas a diferença já foi maior. Estes números remetem-nos para a discussão sobre a desigualdade que o economista francês Thomas Piketty trouxe para a ribalta em 2013 com o seu famoso Capital no Seculo XXI. A este respeito, é sempre bom recordar a entrevista que deu ao Jorge Nascimento Rodrigues nas páginas do Expresso em 2013 e também, mais recentemente, a entrevista do Nobel Angus Deaton, sobre o mesmo tema.

Embora nada tenha a ver diretamente com estes dados do INE, que olham para a sociedade portuguesa como um todo, surgiram ontem várias outras notícias sobre rendimentos e salários. Nestes casos, sobre valores acima da média. Apenas dois exemplos. O Observador listava os gestores mais bem pagos em Portugal e destaca o facto de haver 14 com valores acima de um milhão de euros no último ano. O Jornal de Negócios dava conta dos vencimentos do conselho de auditoria do banco de Portugal. De valores mais modestos que os gestores de topo, é certo, mas superiores à realidade de milhões de famílias portuguesas.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro 

Não são doze como os Hércules, mas oito os ‘trabalhos’ que a MEO se compromete a fazer, perante a Autoridade da Concorrência (AdC), para poder comprar a TVI, como contaram a Anabela Campos e o João Vieira Pereira no Expresso Diário de ontem: “Os ‘remédios’ são oito e a apresentação formal dos mesmos foi entregue pela equipa de advogados da Altice Portugal na semana passada. Uma resposta ao facto de a AdC ter avançado com a operação para investigação aprofundada no passado dia 15 de fevereiro. Os concorrentes da MEO e da TVI têm até ao dia 21 de maio para comentar as propostas”

O Comandante Nacional da Proteção Civil demitiu-se ontem à noite em divergência com o Governo, segundo notícia avançada pela RTP e confirmada oficialmente pelo gabinete de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna. António Paixão estava no cargo há apenas cinco meses e será substituído por Duarte Costa, um militar do exército.

O Movimento para o Interior já fechou as 24 medidas para dinamizar o interior que serão apresentadas ao Presidente da República e ao Primeiro-ministro dentro de duas semanas. Já agora, aproveite para recordar o texto que o Expresso publicou no último sábado sobre o tema onde vários economistas, como Augusto Mateus ou José Pedro Pontes, davam conta de várias dúvidas sobre a eficácia de algumas destas medidas.

O Presidente da República, na entrevista ao Público que hoje continua, diz que não demitirá o Governo caso haja outra tragédia com os incêndios de 2017 mas não se recandidatará.

O ano 2017 começou bem para o BCP que viu os seus lucros disparar para 85,6 milhões. Mas, feitas as contas, os bancos portugueses levam muitos anos acumulados de problemas. Segundo múmeros avançados por Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), o capital consumido pela banca entre 2008 e 2017, incluindo os instrumentos convertíveis (as CoCo´s), somou 31,5 mil milhões. O mesmo Faria de Oliveira aproveitou o encontro com jornalistas para dizer que taxas negativas no crédito são uma irracionalidade económica.

Em matéria de queixas, revela o Relatório de Supervisão Comportamental do Banco de Portugal, o ‘campeão’ é o banco CTT. O mesmo Banco de Portugal que recuperou 4000 notas dos incêndios, no valor de 115 mil euros, e que em 2017, escreveu ontem o Expresso Diário, cortou para metade o ritmo de compras de dívida pública portuguesa.

Notícias rápidas:

- o défice orçamental piorou no primeiro trimestre, segundo um relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental revelado pelo Negócios

- Carlos Silva foi ontem ouvido em Lisboa no âmbito do processo Fizz e disse que lhe pediram emprego para o ex-procurador Orlando Figueira, um dos arguidos

- a onda de demarcações e ruturas com José Sócrates continuou ontem nas páginas do Diário de Notícias. Fernanda Câncio, jornalista do diário e ex-namorada de Sócrates, deixou-lhe violentas críticas e chamou-lhe mentiroso com todas as letras

- para gáudio dos muitos portugueses que estão já de olhos postos no pontapé de saída do Mundial de Futebol, a lesão de Cristiano Ronaldo não é grave. E o craque vai de certeza estar na lista de convocados que Fernando Santos revela no dia 17 de maio

- três hospitais do Grande Porto com milhares de horas em dívida a enfermeiros

- começa hoje uma greve de três dias dos médicos, numa semana em que 44 personalidades defendem uma nova lei de bases da saúde

Manchetes dos jornais: ”Incêndios: Marcelo não se recandidata se falhar tudo outra vez” (Público); “Prédios devolutos: IMI a triplicar para mais de 8000 proprietários”(DN); “Governo muda regras e prejudica milhares de professores”(JN); “Burlão das rosas saca 270 mil a médica” (Correio da Manhã); “Operação Fizz: Justiça decide hoje se vai haver confrontação direta entre ex-vice do BCP e ex-procurador Orlando Figueira”(i); “Analistas criticam preço da oferta pelo BPI” (Jornal de Negócios); “Marta Soares quebra o silêncio”(Record); “Nápoles oferece o dobro por Patrício”(A Bola); “Diretor-geral do FCP: «Fundamental é segurar o Sérgio»”(Jogo)

Lá fora 

Vladimir Putin tomou posse para um quarto mandato que, escreve o correspondente do New York Times em Moscovo, mais parece uma coroação.

Do outro lado do Atlântico, Oliver North foi anunciado como o próximo presidente da National Rifle Association (NRA), o poderoso lóbi das armas. Para quem não sabe ou não se lembra, North foi um dos envolvidos no escândalo Irão-contra, durante a presidência Reagan nos anos 80, relacionado com a utilização de dinheiro da venda de armas ao Irão para apoiar os rebeldes na Nicarágua.

A propósito de Irão, numa altura em que estamos a horas de Donald Trump anunciar a decisão sobre o acordo nuclear, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, pede que os EUA não abandonem o acordo.

O inventor e milionário dinamarquês Peter Madsen não vai recorrer da condenação a prisão perpétua por homicídio e violação da jornalista Kim Wall. Madsen aceita o veredito de culpado daqueles crimes e apenas pretende questionar a sentençaque é rara naquele país.

O grande negócio do dia de ontem foi firmado entre a Nestlé e a Starbucks. A gigante suíça acordou pagar 7,15 mil milhões de dólares (6000 milhões de euros) pelos direitos de vender produtos da Starbucks fora dos EUA.

O presidente italiano defendeu um governo neutro para liderar o país até final do ano por considerar impossível haver uma solução política dois meses depois das eleições de 4 de março.

FRASES

“A água devia ser mais cara em algumas zonas para recuperar custos”, João Nuno Mendes, Presidente da Águas de Portugal

“Mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos. E mentiu tanto e tão bem que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, como alguém que consideravam perseguido e alvo de campanhas de notícias falsas, boatos e assassinato de caráter (que, de resto, para ajudar a mentira a ser segura e atingir profundidade, existiram mesmo)”, Fernanda Câncio, Jornalista e ex-namorada de Sócrates sobre o ex-primeiro ministro

O QUE ANDO A LER

A História é sempre útil para ajudar a compreender o presente. Mesmo um presente onde Donald Trump é presidente dos EUA. “Peddling Protectionism: Smoot-Hawley and the Great Depression” é um pequeno livro de Douglas Irwing, professor do Dartmouth College nos EUA, sobre o protecionismo comercial e, em particular, sobre um dos seus casos mais conhecidos: a legislação Smoot-Hawley de 1930.

Irwin é considerado um dos grandes especialistas em política comercial norte-americana e o seu olhar sobre os anos 30 do século XX, em plena Grande Depressão, pode ajudar a perceber as consequências da guerra comercial de Trump. Este livro não tem a dimensão do colosso “Clashing over Commerce: A History of U.S. Trade Policy", que percorre toda a história da política comercial dos EUA, mas é uma leitura fundamental nestes tempos em que o protecionismo está na moda na Casa Branca. Irwin conta como o Smoot-Hawley Act, da autoria do senador Reed Smoot e do congressista Willis C. Hawley, foi aprovado e discute qual o seu verdadeiro papel na Depressão. Não terá sido tão grave como muitos acreditam, mas também não foi inócuo. Longe disso. As importações dos EUA caíram cerca de 40% e um quarto foi resultado do Smoot-Hawley.

“Como instituição, o Congresso era enviesado a favor de direitos alfandegários elevados por causa da assimetria da influência política entre aqueles que defendem a redução das importações e os que são a favor de importações sem restrições”, escreve Irwin. Embora não partilhe da ideia, excessivamente simplista, de que o Smoot-Hawley foi a causa da Grande Depressão – até porque o PIB dos EUA já estava a perder gás antes da sua entrada em vigor – não tem dúvidas que teve consequências: “ O consenso entre os economistas é que o Smoot-Hawley não causou a Depressão. O efeito das taxas aduaneiras foi relativamente pequeno em comparação com as forças contraccionistas que funcionaram através do sistema monetário e financeiro. (…) Porque as exportações caíram mais do que as importações, o comércio como um todo tornou a Depressão pior, ainda que apenas num ligeiro grau”.

Já agora, vale a pena reler a entrevista de Douglas Irwin ao Jorge Nascimento Rodrigues nas páginas no Expresso em março (link para assinantes).

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