Bom dia e boas festas aos animais
que passarem por si, até aos bípedes. Este vai ser o Curto do Expresso, servido
hoje por Ricardo Marques. Fixe. As abordagens são diversas, como sempre.
Do nacional fazemos notar que o governo e o PS estão a entrar
pelo cano, rumo ao esgoto do Rio e da Cristas. A guinada à direita do PS é o
que está a dar.
Costa e certos da brigada do
governo quando falam já causam vómitos. É que estamos muito fartinhos de gentes
manipuladoras e aldrabonas. Vamos ver Costa a arrastar-se para a direita pelo
chão sujo dos escolhos e bodegas que CDS e PSD não varreram nem lavaram após
terem sido apeados do governo que teve de dar lugar ao atual, graças ao acordo
de índole parlamentar do PS com o BE, o PCP e Os Verdes. Que batizaram de “geringonça”.
Deixem lá, a seguir vem aí mais um Bloco Central, que para assim não o
referirem vão optar por “traquitana”. Até vai ser “democrático” prós donos
disto, contra o “mexilhão”. O costume. E depois diz-se o PS ser de esquerda. Nem
da asa esquerda de um penico é capaz de ser. Boa morte.
Segue-se o texto do Curto à la
Marques, com um palheto alentejano e uma sopita de poejos. Até vai. Está na
hora. Bimba. (MM | PG)
Bom dia este é o
seu Expresso Curto
Ó muro que vais tão alto...
Ricardo Marques | Expresso
...só um momento, por
favor...estou a tentar segurar-me... Muito bem.
Escrevo-lhe do estreito muro
onde todos os dias se tenta equilibrar quem faz esta newsletter matinal,
obrigado a olhar para ontem, à procura do que não pode deixar de ser dito,
e para hoje, em busca do que ainda será importante amanhã. A fórmula é a
de sempre: um assunto principal, as outras notícias e, por fim,
uma ou duas sugestões de índole mais cultural.
Vejamos alguns exemplos. Alguém
mais ligado à economia começaria talvez por falar-lhe do acordo conseguido
ontem relativamente à dívida da Grécia. Ou da guerra comercial entre
os Estados Unidos da América e a Europa. Um especialista
em política não perderia a oportunidade de mergulhar bem fundo causas
e possíveis consequências do debate no Parlamento sobre o preço dos
combustíveis.
Se o tema fosse desporto,
não faltariam escolhas, do Sporting ao Mundial de futebol. Política internacional?
Trump, claro, e o problema crescente dos migrantes que está a
desorientar a Europa. Em Portugal? Greve na educação, greve
na saúde... O tempo também é sempre uma escolha segura,
mais segura do que o próprio tempo que
faz, com chuva e trovoada em
vários pontos do país.
Eu vou falar de muros.
A 22 de junho de 1990, uma
pequena multidão juntou-se na Friedrichstrasse para ver uma grua arrancar
do chão, e arrumar numa rua ali perto, o pequeno posto militar que o mundo
inteiro conhecia como Checkpoint Charlie. A pequena estrutura de metal,
testemunha de tantas tragédias e tão graves confrontos, já não servia qualquer
propósito. O curso da história tinha mudado irremediavelmente sete meses
antes, com a queda do Muro de Berlim. Mas havia um lado simbólico, talvez o
mais importante.
"Nesta hora de alegria e
expetativa, não podemos esquecer todos os que desesperaram com este muro e
todos os que perderam as suas vidas por causa dele. Foi aqui, no Checkpoint
Charlie, que aconteceram tantas tragédias humanas. Claro que o tempo cura
muitas feridas, mas as feridas da alma não cicatrizam tão depressa",
disse, nesse dia, Ingrid Stahmer, uma política do SPD.
Há sempre um lado simbólico
quando se fala de muros.
OUTRAS NOTÍCIAS
Arranquemos, então, para
uma cuidada seleção dos assuntos que, de uma forma ou de outra, vão
preencher o seu dia noticioso.
O Eurogrupo chegou a
um acordo já na madrugada de hoje sobre o 'alívio'
da dívida grega ao fim de mais de nove horas de discussões. Os três principais
pilares assentam numa extensão do prazo de um dos empréstimos, no
prolongamento do seu período de carência, e num montante mais elevado do que se
previa inicialmente para a última tranche a desembolsar pelo Mecanismo
Europeu de Estabilidade antes do fim do resgate em agosto.
Já reparou que há sempre gente a construir muros nos exercícios de matemática? E nunca a demoli-los. Atente no seguinte caso: Se dois homens constroem juntos 1 muro em apenas 3 dias, quantos dias serão necessários para que 10 homens, a trabalharem juntos, construam 5 muros?
Já reparou que há sempre gente a construir muros nos exercícios de matemática? E nunca a demoli-los. Atente no seguinte caso: Se dois homens constroem juntos 1 muro em apenas 3 dias, quantos dias serão necessários para que 10 homens, a trabalharem juntos, construam 5 muros?
Enquanto faz as contas, fique a
saber que apesar de parecer ausente dos noticiários, e de se viver uma
espécie de calma antes da tempestade, a greve na Educação vai de vento em popa. Um pouco por
todo o país há conselhos de turma adiados (oito mil diz o DN em
manchete), notas que não saeme alunos que não sabem bem o que lhes
vai acontecer.
Ou melhor, têm uma ideia: os do
ensino básico acabam hoje as aulas, os do 9.º ano têm prova de Português, os do
11.º de História B e os do 12.º de Desenho A e História A. Tudo Às 09h30. O
Público revela hoje que mais de 35 mil alunos já foram a exame sem nota
atribuída.
Às cinco e meia da tarde,
a Fenprof tem marcada uma conferência de imprensa para analisar os protestos.
Já agora, a resposta é 3
dias. Uma vez, na China, vi crescer um muro do tamanho de um quarteirão
num único dia.
Uma geringonça contra a
geringonça que deixou sozinho o criador da geringonça. Eis o resumo da
discussão e votação de ontem sobre o 'imposto' que foi imposto ao imposto
sobre os combustíveis - o tal que seria revisto de vez em quando, mas
nunca foi. O PS ficou sozinho e o resto das bancadas, da direita à
esquerda, levaram a gasolina ao seu moinho num curiosojogo de votos a favor e abstenções.
Quando subimos tão alto no
muro da política, a vista que temos é fascinante.
Um dia depois de José Silva
Peneda, coordenador do PSD para a área da Solidariedade e ex-presidente do
Conselho Económico e Social, ter deixado no ar a possibilidade de o partido
viabilizar o Orçamento de Estado de 2019, eis que Ascenso Simões, deputado
do PSD, ainda com o cheiro a gasóleo no ar, vem acusar o Bloco de Esquerda e o PCP, camaradas de
geringonça, de "traição".
Do debate fica também a certeza
de que o bicharoco fiscal, o-sempre-esfomeado, já percebeu que estão a
pensar tirar-lhe comida da mesa. E gritou lá do fundo da caverna onde guarda o
dinheiro dos impostos que não está com menos apetite - se não houver num
prato, vai buscar a outro.
"A perda de receita fiscal
associada às iniciativas em questão coloca um problema de sustentabilidade das
nossas contas públicas", avisou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
António Mendonça Nunes, que não acredita nem em grandes nem em rápidas
mudanças no preço em bomba. Já Assunção Cristas espera exatamente o contrário. O Público assegura, na primeira página, que só em 2019.
À hora a que tudo
acontecia, perdi uns minutos a ver a quantas anda o litro. O mais barato,
ontem à tarde, era num hipermercado de Vila Real de Santo António:
gasolina a 1.469 euros/litro e gasóleo a 1.249 euros/ litro. Se atravessasse o
rio até Aiamonte era mais barato, mas, neste caso, não era muito mais
barato (conseguia a 1.434 euros e 1.224 euros, respetivamente).
Num dia com diversas
iniciativas relacionadas com o sector da Saúde, um pouco por todo o país, e até
uma greve,
é provável que um dos temas fortes nos noticiários seja a inauguração da remodelação da Consulta Externa de
Pediatria e do novo espaço de tratamento oncológico pediátrico no Hospital São
João. Muito por causa disto.
Acaba hoje o período de discussão pública sobre os terrenos da antiga
Feira Popular. E Lisboa venceu ontem
o prémio Capital Europeia Verde de 2020.
Desfile de ministros, esta manhã, em Lisboa, para a
discussão doPrograma Nacional de Investimentos 2030.
O Jornal de Notícias escreve em
manchete, por cima de uma foto de sardinhas, que o "Líder do Turismo
do Norte investigado por férias sem pagar".
Claro que o verdadeiro
combustível que nos alimenta, aquele em que vale a pena investir, é
o futebol. Não, não torça o nariz. Isto é mesmo verdade. É música
para os nossos ouvidos.
Em plena época de festivais,
- convém lembrar que
o Rock in Rio, versão Marcelo a
cantar Xutos, começa amanhã - aAltice Arena (espaço anteriormente
conhecido como Meo Arena e, ainda mais anteriormente, como Pavilhão Atlântico,
nome com o qual foi rebatizado o Pavilhão da Utopia na Expo'98, que faz este
ano trinta anos...) promete esgotar amanhã à tarde para um dos
espetáculos mais aguardados do ano: a Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal.
As portas abrem às 12h00 e o
festival deve arrancar duas horas depois. A organização ainda não
confirmou a presença do cabeça de cartaz, Bruno de Carvalho, mas o suspense não
parece fazer diminuir o interesse do evento. Antes pelo contrário. O sound
chek foi ontem. Jaime Marta Soares, uma espécie demanager em exercício da
banda, esteve na arena e deixou no ar a possibilidade de nem aparecer. Bruno, o vocalista
que querem afastar mas que não larga o microfone, ensaioumais um tudo ou nada na Sporting TV. Uma
barulheira.
E amanhã, na edição
do Expresso que chega às bancas logo pela fresquinha, será
publicada uma sondagem sobre o que pensam os adeptos do futuro do clube.
Entretanto, os chineses
compraram mais um pouco de Portugal. Como se lê no Expresso, desta vez levaram parte da Lusoponte,
a concessionária das duas pontes que ligam Lisboa à Margem Sul do
Tejo. Com, digamos, uns pilares da 25 de Abril e da Vasco da Gama já
controlados por Pequim, é com alguma preocupação que se aguardam notícias sobre
a velhinha Marechal Carmona, ali para os lados de Vila Franca.
Há qualquer coisa no ar. No mar.
E não é coisa boa. Ontem, o ministro da Administração Interna italiano voltou
a proibir dois navios que transportam migrantes de
aportar no país. Matteo Salvini, que é também o lider da Liga (de
extrema-direita) acusa a ONG alemã Lifeline de apoiar os migrantes e de,
ignorando os avisos das autoridades, ter "embarcado 224 migrantes ilegais,
à força, em águas líbias".
Esta manhã, Roma parece ter
reconsiderado e já admite abrir
os portos e resgatar os 226 migrantes que estão a bordo do Lifeline - ainda que
considere confiscar o navio.
Na véspera tinham sido os
húngaros a aprovar um pacote de medidas legislativas que
criminalizam a ajuda a migrantes sem documentos.
Eis o muro que não existe e que
cada dia está mais alto. Este fim de semana há uma espécie de minicimeira de emergência da União Europeia, em
Bruxelas, para discutir a questão da imigração.
É. Andamos tão preocupados
com o muro que, quando chegou o murro,
direto ao estômago, nem o vimos partir. A propósito do que se está a passar nos
Estados Unidos da América - e enquanto ainda não é claro o
que vai mudar, se é que vai mudar, na política fronteiriça de tolerância
zeroresponsável por mandar crianças para a cadeia – deixo-lhe três artigos, de
órgãos de comunicação de referência, onde pode encontrar uma chave para ler a
realidade.
Comece no Washington Post , passe para a BBC e
termine com um texto de opinião no The New York Times. Pelo caminho, leia sobre uma mãe e o seu filho.
Melania Trump foi ao
Texas visitar uma dessas instalações onde se encontram crianças cujos pais
foram detidos pelas autoridades norte-americanas - são prisões, não vale a pena
dizer que não. Depois do aparente passo atrás de Trump, a visita da
primeira-dama podia ser encarada como um sinal positivo. Mas não. Claro que
não. A primeira-dama decidiu usar um casaco onde se lia "I really
don't care do u?". Ao que conta a BBC, a porta-voz de Melania ficou zangada porque
os media americanos só falaram da roupa.
E nós ficamos a pensar se
isto tudo é a sério ou se as pessoas mais poderosas do mundo andam mesmo a
brincar com o mundo.
A propósito de gente
doida, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou o recurso de Anders Breivik, o neonazi que
matou 77 pessoas na Noruega, em 2011.
Nas coreias, representantes da
Cruz Vermelha do norte e do sul participam hoje numa
reunião com o objetivo de prepararem um encontro de famílias separadas pela
guerra.
Em Espanha, um tribunal decidiu libertar
sob caução os cinco homens condenados por abuso sexual de uma
rapariga de 19 anos.
E a União Europeia respondeu
à guerra comercial declarada pelos EUA com um pacote de medidas avaliado
em 3,2 mil milhões de dólares. O alvo? As
motos, uísque e sumos de laranja made in USA.
É cada vez mais fundo o
fosso que os divide, como um muro enorme que vai crescendo para baixo.
Na categoria "A sério? Não
fazia ideia", fique a saber que o nível de vida dos portugueses está a
regredir há 15 anos.
Operação Fizz. O curioso
caso que fez tremer as relações entre Portugal e Angola, a propósito do alegado
envolvimento de Manuel Vicente, aproxima-se do fim com o Ministério Público a
pedir pena suspensa para o procurador Orlando Figueira.
No domingo há eleições na
Turquia. A revista E aborda o assunto na edição de amanhã, mas até lá pode
ver aqui o
que está em causa.
A gorila Koko morreu ontem,
aos 46 anos. Em 1983, recorrendo a alguns dos mais de mil sinais que
aprendeu ao longo da vida, pediu um gato como prenda de Natal.
E há também uma história triste
que envolve um gato em Ponte de Lima e que, graças a um vídeo, se
tornou notícia nacional.
Na Venezuela, o presidente
Nicolas Maduro, que culpa a oposição e os empresários pela crise em que se
encontra o país, anunciou mais uma subida do salário mínimo, desta vez
de 103,7 %. Na prática, os venezuelanos passam a receber por mês um pouco
mais de 5 milhões de bolívares. Na prática, são 56,7 euros.
Sente o cheiro a dinheiro no
ar? A Chanel revelou pela primeira vez os seus resultados anuais e o
mundo ficou a saber que
a empresa de perfumes e produtos de luxo vale 10 mil milhões de dólares.
Breve noticiário sobre o Irão,
próximo adversário de Portugal no mundial. Ao que parece, a decisão
norte-americana de abandonar o acordo nuclear está a ter consequências
estranhas. Uma das mais recentes, como conta o Financial Times, envolve um programa de TV que
prometeu sortear um carro para os espetadores que conseguissem acertar
mais resultados do Campeonato do Mundo. O problema é que, devido às sanções
americanas, o preço dos carros – como os de quase tudo - estão a subir. E
agora ninguém sabe como resolver o problema.
Sem mudar de tema, as sanções,
nem de país, veja como a proibição de uma app pelas
autoridades iranianas está a afetar a economia.
Resumo do dia na Rússia:
A Argentina perdeu. Mais um treinoda seleção.
A França ganhou. Faltam três dias para o jogo com o Irão. A Dinamarca e
a Austrália empataram.
Também sobre o Mundial, e para
aqueles (poucos) que ainda têm dúvidas de que o futebol é um dos maiores
negócios à escala global, nada como ler acerca da vida difícil no mundial da Rússia
de um jogador mexicano a contas com a justiça norte-americana.
Para o fim fica o muro
mental do PCP, que, através de um artigo de opinião no jornal
"Avante", assinado por Angelo Alves– membro do
Comité Central e identificado pelo partido como "intelectual, 45 anos
de idade" - vem em defesa da União Soviética do tempo do Checkpoint
Charlie, hoje Rússia dos oligarcas milionários, ao mesmo tempo que ataca a
imprensa portuguesa.
Há muros que ficam de pé muito
depois de terem caído.
O QUE ANDO A LER
"Aqui mesmo", de
Jean-Claude Forest. A editora Levoir apresenta-o como um dos mais
conhecidos autores de BD francesa, pioneiro da BD adulta e criador de
Barbarella. Comprei o livro há uma semana e, de propósito, conta a
história de Arthur Même, um homem que vive em cima de muros e numa luta
constante para recuperar as terras que lhe foram usurpadas pelos primos.
Arthur passa os dias a correr de
um lado para o outro, com um molho de chaves numa mão e a outra mão
estendida à espera do pagamento, sem o qual se recusa a abrir os portões que
permitem passar de uma propriedade para a outra. É um homem que vive acima
dos restantes, mas sempre com medo de cair e de ser mordido pelos
cães. Incapaz de se libertar do labirinto a que se condenou, Arthur não
percebe que há um mundo lá fora, e que esse mundo é maior do que o seu.
É maior do que o de qualquer um
de nós.
O fim de semana está mesmo aí e
nada como perder umas horas à mesa a ler a edição do Expresso em papel. A
partir de amanhã estará à venda o novo guia Boa Cama Boa Mesa, que inclui uma listagem de mais de 500 marisqueiras,
cervejarias, esplanadas e terraços. Até lá tem o Expresso Diário às
seis da tarde e informação durante todo o dia no site do Expresso.
Bom dia e bom fim de semana.
Salte o muro.
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