A China já garantiu 51 mil
milhões de euros para os seus parceiros africanos e quer ver o dinheiro bem
aplicado, bem como a dívida paga. E o que os parceiros africanos fazem para
darem contrapartidas sustentáveis?
Começou nesta segunda-feira
(03.09.) em Pequim o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC). A China é
atualmente o parceiro mais atrativo para o continente africano por não se
intrometer em questões políticas e principalmente emprestar dinheiro a taxas "aceitáveis"
e sem muitos condicionalismos. Os países africanos, por seu turno, são
criticados por darem contrapartidas que a longo prazo são insustentáveis
ecologicamente. Mas o economista angolano Francisco Paulo acredita que este
tema controverso estará em cima da mesa no encontro. Entrevistámos
Francisco Paulo sobre as relações entre as partes:
DW África: A FOCAC continua a ser
a "tábua de salvação" para muitas economias africanas. Que mudanças
são esperadas desta plataforma cerca de 18 anos depois?
Francisco Paulo (FP): Acho
que uma mudança de paradigma, porque a própria China reconhece que tem feito
muito investimento em África em geral e tem conseguido muitos empréstimos. Mas
também está preocupada, quer que os empréstimos conseguidos sejam aplicados
realmente nas infraestruturas e que esses
países tenham a capacidade de fazer o pagamento do serviço da dívida. Apesar da
China conceder empréstimos a taxas de juros baixas em relação à instituições
convencionais e não exigir pré-requisitos políticos ou demográficos requer que
os países tenham a capacidade de pagar os empréstimos obtidos da China e que
haja uma melhor cooperação. Acho que esse Fórum vai trazer uma mudança de
paradigma porque o empréstimo chinês em África é elevado e acho que a China não
quer que África tenha o empréstimo como se fosse um peso, como aconteceu
durante muitos anos com os países do ocidente.
DW África: Os governos africanos
são criticados por não oferecerem contrapartidas sustentáveis no que se refere
aos recursos naturais, principalmente sob o ponto de vista ambiental. Acha que
é desta vez que serão revistos os modelos de contrapartidas?
FP: Há toda uma necessidade,
quer por parte da China quer por parte de África de fazer com que os produtos
que a África exporta para a China não se limitem apenas à matéria prima,
porque se não haverá um comércio desigual. África vai ganhar menos porque a
matéria prima vai para a China e depois de transformada volta para
África como produto acabado. E isso não é bom em termos de relações comerciais
e os ganhos devem ser sentidos e mesmo em termos ambientais. Acho que nesse
Fórum esse tema será discutida a necessidade de se debater a reindustrialização
de África, fazer com que os produtos exportados tenham um maior valor agregado,
que não sejam apenas matéria prima se não a relação não será sustentável e
haverá esse sentimento de que alguém ganha mais do que o outro.
DW África: Antes do FOCAC Angola
já estava em negociações com a China para a obtenção de mais um financiamento
para a sua economia que está em profunda crise. Que mudanças espera que venham
a ser feitas? O petróleo continuará a ser a principal moeda de troca para
Angola?
FP: Penso que a maior
mudança terá de ser feita pelo Governo angolano. Temos um novo Presidente,
espera-se que os novos empréstimos que serão obtidos sejam aplicados realmente
para projetos reestruturantes que serão capazes de dinamizar a economia
nacional. Durante o Governo anterior o país obteve vários empréstimos da China
para construir infraestruturas, mas hoje quase todas elas estão degradadas e
precisam de ser reconstruídas menos de quinze ou vinte anos depois. E isso
não pode acontecer porque estes empréstimos comprometem a futura geração. Acho
que o Governo de João Lourenço tem em mente que esses novos empréstimos devem
ser aplicados para que sejam rentabilizados não só económica, mas também
socialmente.
DW Africa: Angola tenta obter um
novo financiamento da China quando até 2017 devia cerca de 18 mil milhões de
dólares a Pequim. Tomando em conta a elevada soma seria fácil Luanda obter um
novo e grande financiamento que tanto precisa?
FP: Sim, repare que a China
é o principal parceiro de Angola, quer ao nível das exportações e mesmo a nível
de importações a China tem superado Portugal. Então, a China confia na
capacidade de Angola reembolsar esses empréstimos e conhece o potencial dos
recursos e não haverá dificuldades.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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