sábado, 1 de dezembro de 2018

Angola | Em saudação à “Operação Transparência” - III



Para garantir o fortalecimento da luta contra o subdesenvolvimento numa perspectiva de geoestratégia para um desenvolvimento sustentável a questão dos diamantes aluviais está intimamente associada, pelo que a reorganização do sector dos diamantes em Angola não é uma questão estrita, pelas suas vastas implicações humanas e ambientais.  

Os diamantes aluviais, reequacionando a organização do sector, pode ser um passo básico no sentido dessa geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, para o início do combate às assimetrias nacionais, para iniciar também capacidades que se inscrevem numa estrutural cultura de independência nacional e soberania patriótica, capaz de com inteligência científica e investigação abrir caminho ao conhecimento e à mobilização da juventude angolana em moldes nunca antes experimentados.

Ao repetir este tema, extraindo-o de novo do Página Global Blogspot e do Facebook, é nosso objectivo não só saudar a Operação Transparência, mas levar esta questão para um novo patamar de abordagem, quando nunca antes houve essa tão flagrante oportunidade!

Recordo:
25 DE MAIO É DIA DE ÁFRICA

MUITOS SE INTERROGAM COMO UM CONTINENTE TÃO RICO SE TEM AFUNDADO NA MISÉRIA, EM TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS QUE PARECEM NÃO TER FIM.

POR ISSO É JUSTO LEMBRAR O CASO DE ANGOLA E COMO A CONTRA REVOLUÇÃO, AQUELA QUE FOI USADA CONTRA O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO, SE FOI EQUACIONANDO AO LONGO DOS TEMPOS.

DEPOIS DA GUERRA DOS DIAMANTES DE SANGUE, LEVADA A CABO POR SAVIMBI, NEM POR ISSO O VALE DO CUANGO DEIXOU DE ATRAIR TODO O TIPO DE AVENTUREIROS QUE FAZEM FLUIR MÃO-DE-OBRA BARATA PARA ASMINAS DE OCASIÃO.

ALÉM DE DELAPIDAR O PATRIMÓNIO NATURAL DE ANOLA, O AMIENTE ESTÁ-SE A RESSENTIR DA EXPLORAÇÃO DESENFREADA, QUE ALTERA OS RIOS E PROVOCA CONSEQUÊNCIAS QUE NINGUÉM AINDA IDENTIFICOU!

AINDA O VALE DO CUANGO – II

5 – Tudo seria ainda relativamente inócuo, não fora o facto da atracção migratória clandestina e ilegal integrar cada vez mais gente proveniente de “estados falhados” do espaço CEDEAO, como o Mali, respondendo a estímulos financeiros uma parte dos quais são movidos a partir das monarquias arábicas, mesmo que surjam via de outros estados, incluindo os Estados Unidos, o Canadá e os diversos canais da Europa.

Em Angola não se conseguem identificar os interesses que estão por detrás desse “investimento” que impulsiona a migração ilegal com os olhos postos nos diamantes aluviais do Cuango e do Cassai.

Alguns dos que vêm integrar a exploração desenfreada de diamantes por via do garimpo, no vale do Cuango, entram normalmente por via legal: os financiadores das operações (escalão operativo superior) e alguns dos executivos (escalão intermédio) que preenchem os “comptoirs”.

O grosso dos garimpeiros (entre eles a “mão de obra maliana”), entra todavia ilegalmente (são eles que constituem o escalão de base das redes).

O fluxo ilegal de congoleses provenientes da RDC (grande parte deles também interessados no garimpo artesanal) facilita a entrada de migrantes ilegais provenientes de países islâmicos que são utilizados como trabalhadores no garimpo aluvial, o que indicia que quem promove a “excursão” tem também interesses profundos em território da RDC, na capital e nas regiões limítrofes a Angola.

Consta que os “libaneses” que operaram antes com o clã de Mobutu, enquanto ele se constituiu em regime, estão agora todos dentro de território angolano, envolvidos nas operações de exploração e negócio de diamantes, o que contribui para indiciar o carácter sócio-político da manobra.

Tendo antes servido às redes de suporte a Maurice Tempelsman, agora estão a operar numa região que Tempelsman tinha como alvo, primeiro com o regime servil de Mobutu, depois através dos esforços da American Mineral Fields, imediatamente antes da “saga dos diamantes de sangue” de Savimbi…

6 – O grosso dos migrantes islamitas que vêm trabalhar como garimpeiros (mão-de-obra das redes), são provenientes do Mali, da Mauritânia e da Guiné Conacry, entrando em Angola a partir do território da RDC na sua última fase de aproximação a Angola, em grande parte acompanhando o traçado do Cuango e chegando facilmente ao Cuanza.

Eles constituem o escalão de base dessas redes pois em resultado da sua actividade de garimpo vendem ou entregam os diamantes aluviais a “comptoirs” que são operados maioritariamente por migrantes islamizados provenientes do Senegal, que se encontram nas localidades; os senegaleses são o escalão intermédio.

Os senegaleses dos “comptoirs” são financiados por migrantes “libaneses” que actuam “behind the scenes” como banqueiros e financiadores das operações (escalão executivo superior das redes), ao mesmo tempo financiadores das operações comerciais, de logística e outras, bem como dos “parceiros” angolanos que lhes servem de “cobertura”.

Os “libaneses” vendem uma parte das “colheitas” em Luanda, a “escritórios” operados normalmente por cidadãos israelitas, ou mesmo ao próprio estado, mas conseguem reservar-se ao tráfico fora do controlo das autoridades angolanas sempre que acharem conveniente, recorrendo ou não aos seus “parceiros” nacionais de “cobertura” que se comportam como autênticos mercenários.

Com o rótulo de “libaneses” (o Líbano não possui nem Embaixada, nem Consulado em Luanda), muitos cidadãos oriundos dos países do Médio Oriente tiram partido de várias identidades e passaportes, sem qualquer obstáculo de natureza jurídica-institucional…

7 – A exploração, o negócio e o tráfico ilegais de diamantes fazem o seu entrosamento em muitos casos com o comércio legal, em grande parte “entregue”, sob o ponto de vista de mão-de-obra, a cidadãos de origem maliana e de outras origens islamizadas.

No comércio neo liberal em voga em Angola, os empresários angolanos sedentos de lucros fáceis e com pouco trabalho, buscaram parceiros externos que, tirando partido dos alvarás investem por um lado no sistema a grosso e a retalho, por outro recorrem aos migrantes para que sejam eles a trabalhar nas lojas… a baixo custo e com cargas horárias de actividade sem possibilidade de concorrência!...

Desse modo os impactos do islamismo na região dos vales do Cuango, do Cassai e do Cuanza, estão intimamente associados aos impactos do islamismo na periferia urbana das grandes cidades do litoral, em especial em Luanda.

As periferias do Cacuaco, de Viana e de Benfica espelham essa situação, muito embora em toda a cidade de Luanda hajam negócios e lojas que recorrem ao trabalho dos malianos.

A fronteira entre o que é legal, o que é ilegal e o que é “informal” tornou-se assim cada vez mais ténue em Luanda e isso influi no clima dos grandes subúrbios como o Cacuaco, Viana e Benfica, onde a “oposição”, uma “oposição” que se acoberta também no neo liberalismo, arregimenta e mobiliza com maior êxito…

Potências com embaixadas em Luanda como os Estados Unidos, não deixam de prestar atenção também ao desenvolvimento dos fenómenos humanos resultantes das políticas “globais” que perseguem a via neo liberal, que implicam a migração islâmica, sobretudo a ilegal e a que é introduzida para efeitos de comércio e exploração / negócio de diamantes.

É evidente que este é um fenómeno esperado pelos Estados Unidos, na sequência aliás do que foi criado desde os tempos de Ronald Reagan e dos “freedom fighters” da ocasião: os “contras” na Nicarágua, a UNITA em Angola e os grupos radicais islâmicos, entre eles o de Bin Laden, no Afeganistão!

Até onde eles “continuam juntos”?!

8 – As leis islâmicas chocam em muitos casos com o quadro de leis de Angola, indexadas a uma outra cultura e motivadas para a recuperação do tecido social do país e para a reconstrução nacional.

De entre as leis que chocam estão algumas que se referem ao estatuto da mulher: as leis islâmicas são muito mais compulsivas e restritivas de direitos, enquanto as leis angolanas imprimem a tendência para a igualdade de direitos entre homens e mulheres, vontade aliás expressa na composição dos órgãos do estado a todos os níveis.

É evidente que essa situação começa a causar perturbações de ordem psicológica, social e política, ao pôr em causa o quadro das leis que estão a ser implementadas pelo estado angolano, resultando numa forma de desregramento e de “desobediência civil”, muito ao gosto de sensibilidades como a UNITA, o CASA-CE, ou ainda algumas instituições de “direitos humanos” e organizações sociais afins...

Por detrás dessa tendência e das correntes que a movem, o acompanhamento de vários sectores da Embaixada dos Estados Unidos está garantido: é só, por exemplo, verificar o papel da Voice of América ao serviço de campanhas que comportam o módulo psicológico do desregramento social, ao serviço dos seus interesses, da “oposição” engajada numa “primavera” de contornos cada vez mais definidos, das multinacionais que servem e dum cartel de diamantes ansioso por continuar a saga de fazer desgastar o que resta do movimento de libertação e do nacionalismo angolano!...

Esse clima, ao ser aproveitado por algumas tendências políticas em especial nos subúrbios de Luanda, dá relevo à “desobediência civil” e às tensões, visando confrontar o próprio estado angolano e gerar a atmosfera propícia, análoga à atmosfera das “primaveras árabes”!

A radiografia das tendências de voto que fiz sobre as eleições, espelham a conjugação desses factores, que contribuíram para impulsionar a tendência de voto na UNITA e no CASA-CE!

Fotografia: As quedas Tazua no Cuango internacional

A consultar:
- Le diamant, le commerçant du fleuve Sénégal et la ville – http://www.annalesdelarechercheurbaine.fr/IMG/pdf/Bredeloup_ARU_78.pdf
- La fin du Congo et de l'Afrique coloniale – http://www.congonline.com/Forum1/Forum06/Sikaduma01.htm
- Corrupção nas fronteiras facilita migração ilegal – http://s362849928.onlinehome.us/home/semanario_angolense_464.pdf
- O perigo do Islão em Angola – http://www.opais.net/pt/opais/?det=2703
- Angola não é alvo prioritário do terrorismo islâmico – http://www.opais.net/pt/opais/?det=29888
- DEMOGRAFIA, IDENTIDADE NACIONAL, ASSIMETRIAS E ELEIÇÕES – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html

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