Martinho Júnior, Luanda
Para garantir o fortalecimento da
luta contra o subdesenvolvimento numa perspectiva de geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável a questão dos diamantes aluviais está intimamente
associada, pelo que a reorganização do sector dos diamantes em Angola não é uma
questão estrita, pelas suas vastas implicações humanas e
ambientais.
Os diamantes aluviais,
reequacionando a organização do sector, pode ser um passo básico no sentido
dessa geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, para o início do
combate às assimetrias nacionais, para iniciar também capacidades que se
inscrevem numa estrutural cultura de independência nacional e soberania
patriótica, capaz de com inteligência científica e investigação abrir caminho
ao conhecimento e à mobilização da juventude angolana em moldes nunca antes
experimentados.
Ao repetir este tema, extraindo-o
de novo do Página Global Blogspot e do Facebook, é nosso objectivo não só
saudar a Operação Transparência, mas levar esta questão para um novo patamar de
abordagem, quando nunca antes houve essa tão flagrante oportunidade!
Recordo:
25 DE MAIO É DIA DE ÁFRICA
MUITOS SE INTERROGAM COMO UM
CONTINENTE TÃO RICO SE TEM AFUNDADO NA MISÉRIA, EM TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS
QUE PARECEM NÃO TER FIM.
POR ISSO É JUSTO LEMBRAR O CASO
DE ANGOLA E COMO A CONTRA REVOLUÇÃO, AQUELA QUE FOI USADA CONTRA O MOVIMENTO DE
LIBERTAÇÃO, SE FOI EQUACIONANDO AO LONGO DOS TEMPOS.
DEPOIS DA GUERRA DOS DIAMANTES DE
SANGUE, LEVADA A CABO POR SAVIMBI, NEM POR ISSO O VALE DO CUANGO DEIXOU DE
ATRAIR TODO O TIPO DE AVENTUREIROS QUE FAZEM FLUIR MÃO-DE-OBRA BARATA PARA
ASMINAS DE OCASIÃO.
ALÉM DE DELAPIDAR O PATRIMÓNIO
NATURAL DE ANOLA, O AMIENTE ESTÁ-SE A RESSENTIR DA EXPLORAÇÃO DESENFREADA, QUE
ALTERA OS RIOS E PROVOCA CONSEQUÊNCIAS QUE NINGUÉM AINDA IDENTIFICOU!
AINDA O VALE DO CUANGO – II
5 – Tudo seria ainda
relativamente inócuo, não fora o facto da atracção migratória clandestina e
ilegal integrar cada vez mais gente proveniente de “estados falhados” do espaço
CEDEAO, como o Mali, respondendo a estímulos financeiros uma parte dos quais
são movidos a partir das monarquias arábicas, mesmo que surjam via de outros
estados, incluindo os Estados Unidos, o Canadá e os diversos canais da Europa.
Em Angola não se conseguem
identificar os interesses que estão por detrás desse “investimento” que
impulsiona a migração ilegal com os olhos postos nos diamantes aluviais do
Cuango e do Cassai.
Alguns dos que vêm integrar a
exploração desenfreada de diamantes por via do garimpo, no vale do Cuango,
entram normalmente por via legal: os financiadores das operações (escalão
operativo superior) e alguns dos executivos (escalão intermédio) que preenchem
os “comptoirs”.
O grosso dos garimpeiros (entre
eles a “mão de obra maliana”), entra todavia ilegalmente (são eles que
constituem o escalão de base das redes).
O fluxo ilegal de congoleses
provenientes da RDC (grande parte deles também interessados no garimpo
artesanal) facilita a entrada de migrantes ilegais provenientes de países
islâmicos que são utilizados como trabalhadores no garimpo aluvial, o que
indicia que quem promove a “excursão” tem também interesses profundos em
território da RDC, na capital e nas regiões limítrofes a Angola.
Consta que os “libaneses” que
operaram antes com o clã de Mobutu, enquanto ele se constituiu em regime, estão
agora todos dentro de território angolano, envolvidos nas operações de
exploração e negócio de diamantes, o que contribui para indiciar o carácter
sócio-político da manobra.
Tendo antes servido às redes de
suporte a Maurice Tempelsman, agora estão a operar numa região que Tempelsman
tinha como alvo, primeiro com o regime servil de Mobutu, depois através dos
esforços da American Mineral Fields, imediatamente antes da “saga dos diamantes
de sangue” de Savimbi…
6 – O grosso dos migrantes
islamitas que vêm trabalhar como garimpeiros (mão-de-obra das redes), são
provenientes do Mali, da Mauritânia e da Guiné Conacry, entrando em Angola a
partir do território da RDC na sua última fase de aproximação a Angola, em
grande parte acompanhando o traçado do Cuango e chegando facilmente ao Cuanza.
Eles constituem o escalão de base
dessas redes pois em resultado da sua actividade de garimpo vendem ou entregam
os diamantes aluviais a “comptoirs” que são operados maioritariamente por
migrantes islamizados provenientes do Senegal, que se encontram nas
localidades; os senegaleses são o escalão intermédio.
Os senegaleses dos “comptoirs”
são financiados por migrantes “libaneses” que actuam “behind the scenes” como
banqueiros e financiadores das operações (escalão executivo superior das
redes), ao mesmo tempo financiadores das operações comerciais, de logística e
outras, bem como dos “parceiros” angolanos que lhes servem de “cobertura”.
Os “libaneses” vendem uma parte
das “colheitas” em Luanda, a “escritórios” operados normalmente por cidadãos
israelitas, ou mesmo ao próprio estado, mas conseguem reservar-se ao tráfico
fora do controlo das autoridades angolanas sempre que acharem conveniente,
recorrendo ou não aos seus “parceiros” nacionais de “cobertura” que se
comportam como autênticos mercenários.
Com o rótulo de “libaneses” (o
Líbano não possui nem Embaixada, nem Consulado em Luanda), muitos cidadãos
oriundos dos países do Médio Oriente tiram partido de várias identidades e
passaportes, sem qualquer obstáculo de natureza jurídica-institucional…
7 – A exploração, o negócio e o
tráfico ilegais de diamantes fazem o seu entrosamento em muitos casos com o
comércio legal, em grande parte “entregue”, sob o ponto de vista de
mão-de-obra, a cidadãos de origem maliana e de outras origens islamizadas.
No comércio neo liberal em voga
em Angola, os empresários angolanos sedentos de lucros fáceis e com pouco
trabalho, buscaram parceiros externos que, tirando partido dos alvarás investem
por um lado no sistema a grosso e a retalho, por outro recorrem aos migrantes
para que sejam eles a trabalhar nas lojas… a baixo custo e com cargas horárias
de actividade sem possibilidade de concorrência!...
Desse modo os impactos do
islamismo na região dos vales do Cuango, do Cassai e do Cuanza, estão
intimamente associados aos impactos do islamismo na periferia urbana das
grandes cidades do litoral, em especial em Luanda.
As periferias do Cacuaco, de
Viana e de Benfica espelham essa situação, muito embora em toda a cidade de
Luanda hajam negócios e lojas que recorrem ao trabalho dos malianos.
A fronteira entre o que é legal,
o que é ilegal e o que é “informal” tornou-se assim cada vez mais ténue em
Luanda e isso influi no clima dos grandes subúrbios como o Cacuaco, Viana e
Benfica, onde a “oposição”, uma “oposição” que se acoberta também no neo
liberalismo, arregimenta e mobiliza com maior êxito…
Potências com embaixadas em
Luanda como os Estados Unidos, não deixam de prestar atenção também ao
desenvolvimento dos fenómenos humanos resultantes das políticas “globais” que
perseguem a via neo liberal, que implicam a migração islâmica, sobretudo a
ilegal e a que é introduzida para efeitos de comércio e exploração / negócio de
diamantes.
É evidente que este é um fenómeno
esperado pelos Estados Unidos, na sequência aliás do que foi criado desde os
tempos de Ronald Reagan e dos “freedom fighters” da ocasião: os “contras” na
Nicarágua, a UNITA em Angola e os grupos radicais islâmicos, entre eles o de
Bin Laden, no Afeganistão!
Até onde eles “continuam
juntos”?!
8 – As leis islâmicas chocam em
muitos casos com o quadro de leis de Angola, indexadas a uma outra cultura e
motivadas para a recuperação do tecido social do país e para a reconstrução
nacional.
De entre as leis que chocam estão
algumas que se referem ao estatuto da mulher: as leis islâmicas são muito mais
compulsivas e restritivas de direitos, enquanto as leis angolanas imprimem a
tendência para a igualdade de direitos entre homens e mulheres, vontade aliás
expressa na composição dos órgãos do estado a todos os níveis.
É evidente que essa situação
começa a causar perturbações de ordem psicológica, social e política, ao pôr em
causa o quadro das leis que estão a ser implementadas pelo estado angolano,
resultando numa forma de desregramento e de “desobediência civil”, muito ao
gosto de sensibilidades como a UNITA, o CASA-CE, ou ainda algumas instituições
de “direitos humanos” e organizações sociais afins...
Por detrás dessa tendência e das
correntes que a movem, o acompanhamento de vários sectores da Embaixada dos
Estados Unidos está garantido: é só, por exemplo, verificar o papel da Voice of
América ao serviço de campanhas que comportam o módulo psicológico do
desregramento social, ao serviço dos seus interesses, da “oposição” engajada
numa “primavera” de contornos cada vez mais definidos, das multinacionais que
servem e dum cartel de diamantes ansioso por continuar a saga de fazer desgastar
o que resta do movimento de libertação e do nacionalismo angolano!...
Esse clima, ao ser aproveitado
por algumas tendências políticas em especial nos subúrbios de Luanda, dá relevo
à “desobediência civil” e às tensões, visando confrontar o próprio estado
angolano e gerar a atmosfera propícia, análoga à atmosfera das “primaveras
árabes”!
A radiografia das tendências de
voto que fiz sobre as eleições, espelham a conjugação desses factores, que
contribuíram para impulsionar a tendência de voto na UNITA e no CASA-CE!
Fotografia: As quedas Tazua no
Cuango internacional
A consultar:
- Ministro das Relações
Exteriores recebe líder do parlamento maliano – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2006/7/35/Ministro-das-Relacoes-Exteriores-recebe-lider-parlamento-maliano,fdafe882-69cf-45ec-8a32-5e481227643b.html
- Le diamant, le commerçant du
fleuve Sénégal et la ville – http://www.annalesdelarechercheurbaine.fr/IMG/pdf/Bredeloup_ARU_78.pdf
- La fin du Congo et de l'Afrique
coloniale – http://www.congonline.com/Forum1/Forum06/Sikaduma01.htm
- Corrupção nas fronteiras
facilita migração ilegal – http://s362849928.onlinehome.us/home/semanario_angolense_464.pdf
- Seitas religiosas em Angola
– http://br.monografias.com/trabalhos3/as-seitas-religiosas-em-angola/as-seitas-religiosas-em-angola2.shtml
- O perigo do Islão em Angola
– http://www.opais.net/pt/opais/?det=2703
- Angola não é alvo prioritário
do terrorismo islâmico – http://www.opais.net/pt/opais/?det=29888
- DEMOGRAFIA, IDENTIDADE
NACIONAL, ASSIMETRIAS E ELEIÇÕES – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html
- A praça de todas as bandeiras
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/a-praca-de-todas-as-bandeiras.html
- Eleições em Angola 2012 – I
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-i.html
- Eleições em Angola 2012 – II
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-ii.html
- Eleições em Angola 2012 – III
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-iii.html
- Eleições em Angola 2012 – IV
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-iv.html
- Eleições em Angola 2012 – V
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-v.html
- Eleições em Angola 2012 – VI
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-vi.html
- 25 anos depois – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/25-anos-depois-i.html
- 25 anos depois – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/25-anos-depois-ii.html
- 25 anos depois – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/25-anos-depois-iii.html
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