Martinho Júnior,
Luanda
5 – Tudo seria
ainda relativamente inócuo, não fora o facto da atracção migratória clandestina
e ilegal integrar cada vez mais gente proveniente de “estados falhados” do
espaço CEDEAO, como o Mali, respondendo a estímulos financeiros uma parte dos
quais são movidos a partir das monarquias arábicas, mesmo que surjam via de
outros estados, incluindo os Estados Unidos, o Canadá e os diversos canais da
Europa.
Em Angola não se
conseguem identificar os interesses que estão por detrás desse “investimento”
que impulsiona a migração ilegal com os olhos postos nos diamantes aluviais do
Cuango e do Cassai.
Alguns dos que vêm
integrar a exploração desenfreada de diamantes por via do garimpo, no vale do
Cuango, entram normalmente por via legal: os financiadores das operações
(escalão operativo superior) e alguns dos executivos (escalão intermédio) que
preenchem os “comptoirs”.
O grosso dos
garimpeiros (entre eles a “mão de obra maliana”), entra todavia ilegalmente
(são eles que constituem o escalão de base das redes).
O fluxo ilegal de
congoleses provenientes da RDC (grande parte deles também interessados no
garimpo artesanal) facilita a entrada de migrantes ilegais provenientes de
países islâmicos que são utilizados como trabalhadores no garimpo aluvial, o
que indicia que quem promove a “excursão” tem também interesses profundos em
território da RDC, na capital e nas regiões limítrofes a Angola.
Consta que os “libaneses”
que operaram antes com o clã de Mobutu, enquanto ele se constituiu em regime,
estão agora todos dentro de território angolano, envolvidos nas operações de
exploração e negócio de diamantes, o que contribui para indiciar o carácter
sócio-político da manobra.
Tendo antes servido
às redes de suporte a Maurice Tempelsman, agora estão a operar numa região que
Tempelsman tinha como alvo, primeiro com o regime servil de Mobutu, depois
através dos esforços da American Mineral Fields, imediatamente antes da “saga
dos diamantes de sangue” de Savimbi…
6 – O grosso dos
migrantes islamitas que vêm trabalhar como garimpeiros (mão-de-obra das redes),
são provenientes do Mali, da Mauritânia e da Guiné Conacry, entrando em Angola
a partir do território da RDC na sua última fase de aproximação a Angola, em
grande parte acompanhando o traçado do Cuango e chegando facilmente ao Cuanza.
Eles constituem o
escalão de base dessas redes pois em resultado da sua actividade de garimpo
vendem ou entregam os diamantes aluviais a “comptoirs” que são operados
maioritariamente por migrantes islamizados provenientes do Senegal, que se
encontram nas localidades; os senegaleses são o escalão intermédio.
Os senegaleses dos “comptoirs”
são financiados por migrantes “libaneses” que actuam “behind the scenes” como
banqueiros e financiadores das operações (escalão executivo superior das
redes), ao mesmo tempo financiadores das operações comerciais, de logística e
outras, bem como dos “parceiros” angolanos que lhes servem de “cobertura”.
Os “libaneses” vendem
uma parte das “colheitas” em Luanda, a “escritórios” operados normalmente por
cidadãos israelitas, ou mesmo ao próprio estado, mas conseguem reservar-se ao
tráfico fora do controlo das autoridades angolanas sempre que acharem
conveniente, recorrendo ou não aos seus “parceiros” nacionais de “cobertura”
que se comportam como autênticos mercenários.
Com o rótulo de “libaneses”
(o Líbano não possui nem Embaixada, nem Consulado em Luanda), muitos cidadãos
oriundos dos países do Médio Oriente tiram partido de várias identidades e
passaportes, sem qualquer obstáculo de natureza jurídica-institucional…
7 – A exploração, o
negócio e o tráfico ilegais de diamantes fazem o seu entrosamento em muitos
casos com o comércio legal, em grande parte “entregue”, sob o ponto de vista de
mão-de-obra, a cidadãos de origem maliana e de outras origens islamizadas.
No comércio neo
liberal em voga em Angola, os empresários angolanos sedentos de lucros fáceis e
com pouco trabalho, buscaram parceiros externos que, tirando partido dos alvarás
investem por um lado no sistema a grosso e a retalho, por outro recorrem aos
migrantes para que sejam eles a trabalhar nas lojas… a baixo custo e com cargas
horárias de actividade sem possibilidade de concorrência!...
Desse modo os
impactos do islamismo na região dos vales do Cuango, do Cassai e do Cuanza,
estão intimamente associados aos impactos do islamismo na periferia urbana das
grandes cidades do litoral, em especial em Luanda.
As periferias do
Cacuaco, de Viana e de Benfica espelham essa situação, muito embora em toda a
cidade de Luanda hajam negócios e lojas que recorrem ao trabalho dos malianos.
A fronteira entre o
que é legal, o que é ilegal e o que é “informal” tornou-se assim cada vez mais
ténue em Luanda e isso influi no clima dos grandes subúrbios como o Cacuaco,
Viana e Benfica, onde a “oposição”, uma “oposição” que se acoberta também no
neo liberalismo, arregimenta e mobiliza com maior êxito…
Potências com
embaixadas em Luanda como os Estados Unidos, não deixam de prestar atenção
também ao desenvolvimento dos fenómenos humanos resultantes das políticas “globais”
que perseguem a via neo liberal, que implicam a migração islâmica, sobretudo a
ilegal e a que é introduzida para efeitos de comércio e exploração / negócio de
diamantes.
É evidente que este
é um fenómeno esperado pelos Estados Unidos, na sequência aliás do que foi
criado desde os tempos de Ronald Reagan e dos “freedom fighters” da ocasião: os
“contras” na Nicarágua, a UNITA em Angola e os grupos radicais islâmicos, entre
eles o de Bin Laden, no Afeganistão!
Até onde eles “continuam
juntos”?!
8 – As leis
islâmicas chocam em muitos casos com o quadro de leis de Angola, indexadas a
uma outra cultura e motivadas para a recuperação do tecido social do país e
para a reconstrução nacional.
De entre as leis
que chocam estão algumas que se referem ao estatuto da mulher: as leis
islâmicas são muito mais compulsivas e restritivas de direitos, enquanto as
leis angolanas imprimem a tendência para a igualdade de direitos entre homens e
mulheres, vontade aliás expressa na composição dos órgãos do estado a todos os
níveis.
É evidente que essa
situação começa a causar perturbações de ordem psicológica, social e política,
ao pôr em causa o quadro das leis que estão a ser implementadas pelo estado angolano,
resultando numa forma de desregramento e de “desobediência civil”, muito ao
gosto de sensibilidades como a UNITA, o CASA-CE, ou ainda algumas instituições
de “direitos humanos” e organizações sociais afins...
Por detrás dessa
tendência e das correntes que a movem, o acompanhamento de vários sectores da
Embaixada dos Estados Unidos está garantido: é só, por exemplo, verificar o
papel da Voice of América ao serviço de campanhas que comportam o módulo
psicológico do desregramento social, ao serviço dos seus interesses, da “oposição”
engajada numa “primavera” de contornos cada vez mais definidos, das
multinacionais que servem e dum cartel de diamantes ansioso por continuar a
saga de fazer desgastar o que resta do movimento de libertação e do nacionalismo
angolano!...
Esse clima, ao ser
aproveitado por algumas tendências políticas em especial nos subúrbios de
Luanda, dá relevo à “desobediência civil” e às tensões, visando confrontar o
próprio estado angolano e gerar a atmosfera propícia, análoga à atmosfera das “primaveras
árabes”!
A radiografia das
tendências de voto que fiz sobre as eleições, espelham a conjugação desses
factores, que contribuíram para impulsionar a tendência de voto na UNITA e no
CASA-CE!
A recordar:
- O Vale do Cuango
– http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html
Fotografia: As quedas Tazua no
Cuango internacional.
A consultar:
- Ministro das
Relações Exteriores recebe líder do parlamento maliano – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2006/7/35/Ministro-das-Relacoes-Exteriores-recebe-lider-parlamento-maliano,fdafe882-69cf-45ec-8a32-5e481227643b.html
- Le diamant, le
commerçant du fleuve Sénégal et la ville – http://www.annalesdelarechercheurbaine.fr/IMG/pdf/Bredeloup_ARU_78.pdf
- La fin du Congo
et de l'Afrique coloniale – http://www.congonline.com/Forum1/Forum06/Sikaduma01.htm
- Corrupção nas
fronteiras facilita migração ilegal – http://s362849928.onlinehome.us/home/semanario_angolense_464.pdf
- Seitas religiosas
em Angola – http://br.monografias.com/trabalhos3/as-seitas-religiosas-em-angola/as-seitas-religiosas-em-angola2.shtml
- O perigo do Islão
em Angola – http://www.opais.net/pt/opais/?det=2703
- Angola não é alvo
prioritário do terrorismo islâmico – http://www.opais.net/pt/opais/?det=29888
- DEMOGRAFIA,
IDENTIDADE NACIONAL, ASSIMETRIAS E ELEIÇÕES – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html
- A praça de todas
as bandeiras – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/a-praca-de-todas-as-bandeiras.html
- Eleições em
Angola 2012 – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-i.html
- Eleições em
Angola 2012 – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-ii.html
- Eleições em
Angola 2012 – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-iii.html
- Eleições em
Angola 2012 – IV – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-iv.html
- Eleições em
Angola 2012 – V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-v.html
- Eleições em
Angola 2012 – VI – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/eleicoes-em-angola-2012-vi.html
- 25 anos depois –
I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/25-anos-depois-i.html
- 25 anos depois –
II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/25-anos-depois-ii.html
- 25 anos depois –
III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/09/25-anos-depois-iii.html
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