segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

BALANÇO DOS JORNALISTAS MORTOS, PRESOS, REFÉNS E DESAPARECIDOS NO MUNDO EM 2017

OBSERVAÇÃO METODOLÓGICA

A contagem total do Balanço 2017 estabelecido pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) inclui jornalistas profissionais, colaboradores de meios de comunicação e jornalistas cidadãos. Estes últimos desempenham um papel crescente na produção de informação, especialmente em regimes autoritários ou países em guerra, onde é mais difícil para jornalistas profissionais exercerem sua atividade. No detalhamento, o balanço distingue, na medida do possível, esses atores da informação dos jornalistas profissionais, para que seja possível estabelecer comparações de um ano a outro.

Elaborado todos os anos desde 1995 pela RSF, o balanço anual dos abusos cometidos contra jornalistas se baseia em dados precisos. A RSF efetua uma minuciosa coleta de informações que permite afirmar, com certeza, ou pelo menos com forte presunção, que a prisão, o sequestro, o desaparecimento ou a morte de um jornalista é consequência direta do exercício de sua profissão. Para esta última categoria, a RSF faz uma distinção, sempre que possível, entre os jornalistas deliberadamente visados e aqueles mortos durante uma reportagem. Os casos para os quais a organização ainda não conseguiu reunir os elementos necessários para determinar com rigor a natureza do vínculo entre a atividade jornalística e o abuso seguem sendo investigados e, portanto, ainda não figuram neste balanço.


Portugal | E AGORA, RIO?


Paulo Tavares | Diário de Notícias | opinião

O homem que anunciou a candidatura à presidência do PSD em outubro, dizendo que "a política precisa de um banho de ética", que "o PSD não é nem será um partido de direita", ou que quer reconciliar os portugueses com o partido, é agora o novo presidente dos sociais-democratas e líder da oposição.

Rui Rio construiu para si - na Câmara do Porto e nos cargos partidários que ocupou - uma imagem de economista austero, bastante mais agarrado à frieza dos números do que às emoções. Disse há anos que não lê romances, que não o atraem e que prefere livros técnicos. Na travessia do deserto entre a saída da vida autárquica e a noite deste sábado, foi falando com grande certeza sobre uma série de temas que dividem o país político. E foi colocando-se numa posição que normalmente dá bons resultados em Portugal, pé fora e pé dentro do sistema e falando dos vícios políticos alheios como quem não faz parte do clube. Cavaco Silva pode bem ter servido de modelo, a fórmula funcionou bem para o antigo primeiro-ministro e Presidente da República.

Mas, agora que está dentro, que esperar de Rio? Teremos de aguardar pelo congresso de fevereiro para uma clarificação interna, para que fiquemos a saber ao que vem o líder e este "novo" PSD. Digo novo porque se há algo que parece certo é uma vontade de corte com a anterior liderança. No habitual jogo de equilíbrios entre a afirmação de uma nova estratégia e a continuidade em relação ao passado, não acredito que Rui Rio gaste demasiado tempo a tratar do segundo prato da balança. Aliás, durante a campanha, Passos Coelho teve apenas direito a referências pontuais e que se resumiam a qualquer coisa como: "Recuperou o país da bancarrota, fez um bom trabalho." Ponto final parágrafo.

Agora que está eleito, e anotado tudo o que tem dito, o que os militantes e o país têm a esperar dele compõe uma agenda pesada e que vai exigir coragem. Afinal, há anos que Rui Rio defende reformas mais ou menos profundas em diversas áreas: sistema político, justiça, finanças públicas, financiamento partidário, jornalismo Construir uma alternativa com base em ideias impopulares nessas áreas - e impopulares desde logo dentro do PSD -, numa altura em que a economia cresce e as finanças do Estado estão a caminho do equilíbrio, não será vida fácil.

FUTEBOL | Cristiano Ronaldo quer voltar ao Manchester United


A notícia é avançada esta segunda-feira pelo diário desportivo espanhol As. Internacional português estará farto do Real Madrid e sentir-se-á enganado pelas promessas de renovação não cumpridas pelo presidente do clube

De acordo com o diário desportivo espanhol As, Cristiano Ronaldo quer sair do Real Madrid e já terá escolhido o próximo clube. Segundo a publicação, o internacional português sente-se enganado pelas promessas de renovação do contrato não cumpridas pelo presidente dos merengues, Florentino Pérez, e assumiu como prioridade o regresso ao Manchester United. A decisão de CR7 é de tal forma vincada que já terá sido comunicada a alguns companheiros do balneário.

O jogador de 32 anos já manifestou por diversas vezes a vontade de terminar a carreira na capital espanhola, mas não tem visto esse desejo ser correspondido pelo líder do emblema bicampeão europeu, focado em contratar Neymar ao PSG.

Outro fator que desagrada a Cristiano Ronaldo é o facto de não estar entre os três futebolistas mais bem pagos do mundo. Nesse aspeto, ocupa a quinta posição, auferindo 21 milhões de euros líquidos por temporada depois de ter renovado em novembro de 2016, longe dos 50M de Messi (Barcelona) e os 36M de Neymar (PSG).

Diário de Notícias | Foto EPA/Rodriogo Jimenez

FUTEBOL | Há um português a dar 'show' na Roménia


Filipe Teixeira foi eleito o melhor jogador estrangeiro e integrou ainda o onze ideal do campeonato.

Émais uma distinção que valoriza o nosso país além fronteiras! Aos 37 anos, Filipe Teixeira foi eleito o melhor jogador estrangeiro a atuar na Roménia. Numa gala organizada pelo Sindicato dos Jogadores (AFAN) daquele país, o médio do Steaua de Bucareste bateu toda a concorrência e assegurou ainda um lugar no onze ideal de 2017.

Na Roménia desde 2010, com uma curta passagem pelos Emirados Árabes Unidos, em 2013, ao serviço do Al-Shaab, Filipe Teixeira é já uma referência no campeonato e esta época soma três golos em 21 jogos. Formado no Felgueiras, o médio rumou a França para representar o Istres e o Paris SG, antes de voltar a solo luso e vestir a camisola da U. Leiria por empréstimo do emblema parisiense. A Académica foi o novo destino, antes de emigrar de novo, desta vez para Inglaterra, para representar o West Bromwich.

A partir daí, Teixeira passou ainda pelo Barnsley (Inglaterra) e Metalurg Donetsk (Ucrânia), iniciando depois a aventura romena. Primeiro no Brasov, depois no FC Petrolul Ploiesti e, por fim, no Astra Giurgiu, antes de assinar pelo Steaua Bucareste no passado defeso.

Fábio Aguiar | em Notícias ao Minuto | Foto Reuters

Açoriano expõe em Nova Iorque a convite de galeria de arte dos EUA


O pintor açoriano Martim Cymbron, natural de Ponta Delgada, está a expor em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a convite da Artifact Gallery, apresentando um conjunto de telas alusivas ao mar do Atlântico Norte.

"Surgiu um convite da Artifact Gallery, há cerca de dois anos, que se materializa nesta altura", declarou à agência Lusa o artista, que estudou pintura na Academia de Artes de Maastrich, na Holanda, trabalhando também, por exemplo, com o pintor Jo van den Brand.

Quem visitar até 25 de janeiro a exposição na 'Big Apple' vai ser confrontado, de acordo com Martim Cymbron, com um conjunto de oito telas que retratam o mar do Atlântico Norte, nos Açores, que classifica como uma "grande paixão", daí o título da mostra ser "Atlantic".

O jovem artista, que possui um atelier em Ponta Delgada, onde dá aulas de pintura, dedicando-se ao realismo e surrealismo, pretende com esta exposição levar uma mensagem dos Açores ao mundo, através do centro artístico que é Nova Iorque, materializada em algo com que os açorianos mantêm uma ligação diária, o mar, e que molda a sua realidade social e cultural.

O artista, que já teve três obras incluídas no "Art Book", distribuído em galerias das principais capitais do globo, deverá ser o primeiro pintor dos Açores a expor em Nova Iorque, deduzindo que tenha sido por via desta publicação que surgiu o convite.

Martim Cymbron, profissional da pintura desde 2005, considera que este é um "marco importante" na sua carreira e espera que seja um passo para a sua internacionalização, estando neste momento a desenvolver esforços para levar esta mostra a cidades de referência, na Europa e Estados Unidos.

O artista já participou em 18 exposições coletivas e promoveu 17 individuais nos Açores, em Lisboa e na Holanda, teve obras representadas em colecções privadas públicas do país e do estrangeiro, como a Presidência da Republica, Parlamento Europeu, Universidade dos Açores, Consulado Americano dos Açores, câmaras municipais, Museu Manuel Arriaga, Museu Militar dos Açores, Tribunal de Contas, Biblioteca Ernesto do Canto, Caixa Geral de Depósitos Açores e CTT - Correios de Portugal.

Cymbron tem vindo a promover em Ponta Delgada, com outro artista local, Pedro Sousa, o evento Arte Viva, que consiste num encontro de vários autores, de diferentes vertentes culturais, visando divulgar a arte, no âmbito do qual os interessados poderão assistir ao vivo à criação artística.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto Stock

Guitarrista português radicado em Xangai lança álbum de originais


Radicado há quase uma década na cidade chinesa de Xangai, onde chegou para estagiar numa multinacional europeia, o guitarrista português Luís Coelho acaba de publicar o seu primeiro disco de originais, Inner Life Burst.

"Este álbum junta o que fiz nos últimos dez anos", diz Coelho à agência Lusa, numa entrevista por telefone.

Composto por onze temas originais, Inner Life Burst foi lançado nas plataformas digitais Itunes e Spotify. A distribuição está a cargo de uma empresa norte-americana.

"A minha música é uma mistura de rock progressivo instrumental e influências mediterrâneas: música portuguesa e espanhola ou latina", descreve Coelho.

O português, de 35 anos, formou-se em Economia pela Universidade de Coimbra, mas quando questionado sobre o seu futuro profissional, responde assim: "Definitivamente, vou seguir a carreira musical; já não há volta a dar".

Uma "Fender" e uma "Schecter" de sete cordas, ou as guitarras acústicas Yamaha, Martin e Cort, são desde há cinco anos os seus instrumentos diários de trabalho.

Além de ter uma banda - Coelho Band - e tocar como 'freelancer' com outros músicos, Luís Coelho dá aulas de guitarra em Xangai.

Situada na foz do Yangtze, Xangai é a maior e mais cosmopolita cidade chinesa, com cerca de 23 milhões de habitantes.

"As bandas aqui são compostas por músicos de todas a partes do mundo", conta Luís Coelho. "Essa diversidade acaba por se refletir na música".

O seu grupo, por exemplo, é composto por um baixista cubano, um baterista russo e um teclista das Ilhas Maldivas.

Em Inner Life Burst, Luís Coelho convidou ainda músicos brasileiros e do Reino Unido para tocarem em algumas faixas.

"É a energia do rock com um toque mais exótico", resume.

Nascido e criado em Coimbra, Luís Coelho toca guitarra desde criança. Entre as suas referências, cita Gary Moore, Joe Satriani, Al Di Meola e as bandas Dream Theatre e Metallica.

Quanto a músicos portugueses que admira, refere o guitarrista Pedro Jóia e Júlio Pereira, conhecido por utilizar instrumentos tradicionais portugueses, como o cavaquinho e a viola braguesa.

Coelho chegou a Xangai no início de 2009 para fazer um estágio numa grande empresa europeia, a Auchan, no âmbito do programa "Inov Contacto", patrocinado pelo AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal).

Concluído o estágio, regressou a Portugal, mas dois meses depois voltou, para "tentar arranjar trabalho".

Em 2011, concorreu à 3ª edição do "Guitar Idol", considerado "o maior concurso de guitarristas a nível mundial para descobrir novos talentos", contra 1.700 candidatos de dezenas de países.

Terminou em 12.º lugar.

Luís Lino diz que não quer ficar em Xangai "para sempre", mas que também não se pode queixar de viver na "capital" económica da China.

"Ainda há aqui bastante trabalho para músicos e uma certa liberdade para tocar originais: posso tocar num bar e ser pago para tocar a minha própria música", explica.

"Na Europa ou Estados Unidos, tinha de ser eu a pagar para tocar", conclui.

Luís Coelho | Notícias ao Minuto | Foto Stock/smirart

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE | Clima de Tensão e Perigo no ar


A oposição, o  partido no poder - ADI, o Governo, o Presidente da Assembleia Nacional, o Presidente da República e os Tribunais, são os protagonistas do clima tenso, perigoso e de consequências imprevisíveis que se instalou em São Tomé e Príncipe.

O Primeiro Ministro Patrice Trovoada, o verdadeiro líder do poder instalado no país, tem anunciado que o país está bem, que tudo funciona bem. Um esforço vão de Patrice Trovoada para tapar o sol com a pineira.

O Primeiro Ministro sabe que em nenhum Estado democrático onde as instituições funcionam conforme as leis, o Presidente da República promulga um diploma, que segundo o Supremo Tribunal de Justiça nas vestes do Tribunal Constitucional, está eivado de inscontitucionalidades.

Não pode haver funcionamento normal das instituições da República, quando o país vive uma crise institucional única na sua história democrática. Mais do que denunciar em acórdão as inconstitucionalidades que enfermam a lei promulgada pelo Presidente da República, o Supremo Tribunal de Justiça, declarou nulos e inexistentes todos os actos subsequentes do Presidente da República, ou seja, tanto a promulgação do diploma inconstitucional como a sua publicação no Diário da República.

O poder não pode dizer que tudo está bem, quando o mundo inteiro sabe que as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal de Justiça do país dito democrático, são censuradas pela imprensa do Estado, que só dá voz ao Governo e ao Primeiro Ministro.

Não pode tudo estar bem, quando a maioria das opiniões jurídicas, aponta que a lei orgânica que cria o novo Tribunal Constitucional, está efectivamente eivado de inconstitucionalidades. Destaque para o posicionamento da ordem dos advogados, que defendeu diálogo sereno entre as instituições promotoras da lei que cria o novo Tribunal Constitucional, para dessipar o imbróglio.

Ao invés do diálogo, para suprimir os erros ou falhas que acontecem na vida, o Primeiro Ministro extrema a sua posição de força, e a oposição que já tinha colocado gente na rua em manifestação contra as decisões do Presidente da República e contra as políticas e acções do Governo, também extrema a sua posição de luta.

Na sessão plenária da Assembleia Nacional, de 10 de Janeiro, o partido líder da oposição, deixou advertências ao Presidente da República. O MLSTP chamou a atenção do Presidente da República para o perigo. «Com o despacho do Tribunal Supremo que dá sem efeito os actos inconstitucionais do Presidente da República está instalada uma crise sem precedentes que pode arrastar o nosso país para um descontrolo institucional generalizado. Pois se não acatar a decisão daquele órgão de justiça, põem em causa toda cadeia de comando, ficando qualquer cidadão livre para uma desobediência civil generalizada», declarou o Presidente do MLSTP na sessão plenária da Assembleia Nacional.

Segundo Aurélio Martins, o Presidente da República pode evitar o descalabro. «Aconselhamos o senhor Presidente da República  a fazer marcha atrás e a comporta-se como verdadeiro Pai da Nação e promover o retorno a legalidade constitucional sob pena de vir a assumir responsabilidade pelo descontrolo total da nação», pontuou.

Já no dia seguinte, 11 de Janeiro, a sessão plenária da Assembleia Nacional foi suspensa. A bancada parlamentar da ADI, partido que sustenta o Governo, pediu a suspensão da sessão. O clima tenso que reinava na Assembleia Nacional, não permitia segundo a ADI a continuidade dos trabalhos.

As bancadas da oposição teceram críticas ao Governo, sobretudo ao Primeiro Ministro Patrice Trovoada. A oposição deixou claro que prefere a morte a permitir que o novo Tribunal Constitucional, seja constituído na casa parlamentar. « Meus senhores vocês acham que nós vamos aceitar uma coisa dessa? Vamos aceitar esse Tribunal Constitucional só com gente do ADI. Que os ruandeses me dêem um tiro na cabeça, esse Tribunal Constitucional não pode ser Constituído aqui», declarou o deputado Gaudêncio Costa da bancada parlamentar do MLSTP.

A bancada do MLSTP continuou a esgrimir argumentos anti- instalação do novo Tribunal Constitucional. «O Tribunal Constitucional em vigor deu a lei como inconstitucional, e hoje aqui vamos constituir esse truibunal? Isso nunca pode acontecer, nem que nos matem, o Tribunal Constitucional com os amigos do ADI, para declarar a vitória antecipada do ADI nas eleições não pode acontecer», reforçou o deputado Gaudêncio Costa.

O MLSTP considerou que está em marcha a preparação « de um genocídio em São Tomé e Príncipe… Muita gente está preocupada em saber se a capacidade de fogo das tropas de Patrice, não serão superiores as das forças armadas de STP», denunciou.

A bancada do MLSTP, concluiu que «Patrice Trovoada não pode ter forças armadas particulares. Há informações segundo as quais há armamento que chega em aviões e vão para destino incerto ».

Clima tenso,  com acusações e informações nunca antes registadas no sistema democrático são-tomense, e que certamente não deixam nenhum cidadão nacional ou estrangeiro indiferente.

Prova de que não é verdade as declarações do Primeiro Ministro, segundo as quais, tudo está bem e tranquilo em São Tomé e Príncipe,  é o facto da maioria parlamentar que sustenta o Governo, não ter comparecido na Assembleia Nacional para a sessão plenária do dia 12 de Janeiro.

Num comunicado emitido no final do dia 12, o Presidente do parlamento, anunciou que haverá uma sessão plenária na segunda – feira 15 de Janeiro, e avançou uma série de medidas de segurança que vão marcar a sessão plenária de segunda – feira. Será uma sessão da Assembleia Nacional em altíssima segurança e com as forças em Estado de alerta máximo, apurou o Téla Nón.

O partido maioritário, a ADI de Patrice Trovoada, já marcou uma manifestação popular, ou concentração dos seus militantes e apoiantes para a manhã do dia 15 ao redor do edifício do parlamento. Uma manifestação segundo a ADI, para apoiar os deputados do partido e o Primeiro Ministro Patrice Trovoada, no “combate” que vão travar na sessão plenária do dia 15 de Janeiro.

Uma reunião onde segundo a ADI serão eleitos os 5 juízes do novo Tribunal Constitucional, escolhidos por si, nomeadamente José Bandeira(ex-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça), Carlos Stock, Kótia Menezes, Fábio Sardinha, e Jonas Gentil.

No dia 12 de Janeiro os partidos da oposição garantiram que vão lutar até ao fim contra a constituição ou eleição de Juízes para um tribunal cuja lei orgânica é insconstitucional, tendo em conta o acordão do Supremo Tribunal de Justiça.

Dados que demonstram que as coisas não estão bem em São Tomé e Príncipe. Um cenário imprevisível, que contradiz a leitura ou pintura que o Primeiro Ministro Patrice Trovoada, faz através das suas declarações, de que «está tudo bem com a nossa democracia».

Polícia expulsa seis deputados da oposição do parlamento de São Tomé e Príncipe

Seis deputados da oposição foram hoje expulsos pela polícia da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, na sequência de uma ordem do presidente deste órgão, durante uma sessão que já teve três interrupções esta manhã.

A sessão parlamentar de hoje pretendia retomar os trabalhos interrompidos na quinta-feira destinados a eleger os juízes do Tribunal Constitucional autónomo, cuja aprovação e promulgação foram considerados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal de Justiça, que acumulava também as funções de Tribunal Constitucional.

No entanto, a reunião ficou marcada desde cedo por clivagens entre o poder e oposição, que terminaram com uma ação da polícia de intervenção rápida, a pedido do presidente da Assembleia Nacional, José da Graça Diogo, para expulsar seis deputados do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrática (MLSTP-PSD, maior partido da oposição), entre os quais o líder da bancada, Jorge Amado.

A polícia acabou por ordenar a saída de todos os deputados da sala do plenário e deu também instruções aos jornalistas para abandonarem a sala e aos funcionários parlamentares para permanecerem nos seus gabinetes.

No edifício encontravam-se, cerca das 12:30 locais (menos uma hora em Lisboa), perto de 50 agentes de segurança, muitos dos quais à paisana, além de cerca de uma dezena de elementos da força de intervenção rápida.

No exterior do recinto da Assembleia Nacional, cerca de duas mil pessoas manifestam-se, umas a apoiar o partido no poder (Ação Democrática Independente, ADI), outras contra, mas os protestos decorrem de forma pacífica.

No sábado, o presidente da Assembleia Nacional fez um despacho impondo várias "medidas de segurança", entre as quais obrigar os deputados a serem revistados, proibir a entrada de viaturas dos deputados nas instalações do Palácio dos Congressos onde funciona a sede do parlamento e impor, pela primeira vez, o uso de crachás a jornalistas que pretendem fazer a cobertura da sessão parlamentar.

O MLSTP-PSD, maior partido da oposição, "repudia com veemência" a decisão do presidente do parlamento.

Deputados da oposição são-tomense boicotaram na quinta-feira passada a nomeação de novos juízes para o Tribunal Constitucional (TC), em protesto contra a presença policial no parlamento, pedida pelo Governo devido aos ânimos exaltados.

No período antes da ordem do dia, os ânimos exaltaram-se devido à troca de acusações entre os deputados da oposição, que acusaram o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, de ser "um ditador" e de querer "transformar São Tomé e Príncipe no seu feudo".

Por seu lado, o chefe do Governo havia acusado a oposição de querer "criar instabilidade e conflito no país" ao ter convocado a manifestação de protesto contra o executivo, na terça-feira.

A oposição, que conseguiu reunir cerca de três mil pessoas na manifestação, contestou o que classifica de "excessos de autoritarismo, abuso de poder e frequentes violações da Constituição da República", numa referência à recente decisão do chefe de Estado de promulgar a lei orgânica que cria o Tribunal Constitucional, quando o diploma se encontra no Supremo Tribunal para fiscalização de constitucionalidade.

Com uma posição mais radical, o líder da bancada do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe -- Partido Social-Democrata (MLSTP -- PSD), Jorge Amado, acusou o Governo de ter "mandado sitiar" o parlamento com a presença da polícia, e referiu: "Estou disposto a morrer hoje, mas esse tribunal não será constituído".

Por seu lado, Delfim Neves, da bancada do Partido da Convergência Democrática (PCD), acusou o primeiro-ministro de "falta de respeito" para com o presidente do Supremo Tribunal e com a Constituição e de "mandar e desmandar" no Presidente da República.

Fora do Palácio dos Congressos, na capital são-tomense, onde decorria a sessão parlamentar, um grupo de cerca de três dezenas de pessoas protestava contra a criação do tribunal.

MYB/JH // VM | Lusa

Governo angolano já soma quase 5.000 MEuro em pagamentos em atraso

O Governo angolano contabilizou um total de pagamentos em atraso a fornecedores ao Estado de quase 5.000 milhões de euros, acumulados entre 2014 e 2016, com o agravamento da crise provocada pela quebra nas receitas petrolíferas.

A informação surge no Programa de Estabilização Macroeconómica (PEM), documento elaborado pelo Governo angolano e que prevê a aplicação, até final deste ano, de 109 medidas de políticas fiscal, cambial e monetária, bem como garantir maior solidez ao setor financeiro.

No documento, o Governo refere que o trabalho atualmente em curso, no âmbito do Programa de Regularização dos Atrasados do período 2014 a 2016, indica já um "stock superior" a um bilião de kwanzas (4.930 milhões de euros).

"A liquidação destes atrasados, após a devida verificação e validação, é uma prioridade para a política económica, não só pelo facto de o respetivo recebimento ser um direito das empresas credoras, mas também por representar um fator positivo e dinamizador da atividade económica", reconhece o PEM.

Ao acelerar as regularizações dos pagamentos em atraso, estendido pelos anos de 2018 e 2019, o Governo admite que essa injeção permitirá redistribuir a liquidez pela economia, reduzindo os níveis de crédito malparado no sistema bancário.

Contudo, o PEM, tornado público este mês, alerta que as empresas que compõem o Setor Empresarial Público (SEP) também têm um saldo significativo de atrasados com fornecedores. Além disso, várias Unidades Orçamentais, por sua vez, também têm "atrasados significativos" com as empresas SEP, com particular destaque para o grupo Sonangol, Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade de TAAG - Linhas Aéreas de Angola, situação "com impacto na sustentabilidade destas empresas".

"Na maior parte dos casos, estes fluxos não se encontram devidamente conciliados e registados, o que eleva significativamente o passivo contingente do Estado e a necessidade de consolidação fiscal", alerta o PEM.

O Governo angolano aprovou em 2017 uma estratégia de emissão direta de títulos do tesouro a taxa fixa e prazos alargados para pagamento de atrasados, priorizando, segundo informação do Ministério das Finanças, setores mais sensíveis e estratégicos, como a saúde, educação e infraestruturas, além de projetos em execução no quadro do Programa e Investimentos Públicos.

A Lusa noticiou a 07 de fevereiro de 2017 que o então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, autorizou a emissão especial de 402.750 milhões de kwanzas (2.200 milhões de euros à taxa de câmbio da altura) de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional para pagamento de despesas públicas atrasadas desde 2013.

A informação consta de um decreto assinado por José Eduardo dos Santos, prevendo que a emissão fosse feita "por conversão, após validação, de atrasados da execução orçamental dos exercícios de 2013, 2014, 2015 e 2016".

PVJ // VM | Lusa

Angola com inflação acima dos 23% em 2017

A taxa de inflação em Angola acelerou 1,20% entre novembro e dezembro, o segundo valor mensal mais baixo do último ano, mas com o acumulado a 12 meses acima dos 23%, furando as previsões do Governo para 2017.

De acordo com o relatório mensal do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano sobre o comportamento da inflação, divulgado hoje, este registo contrasta com o pico de 2017, entre setembro e outubro, período em que os preços em Angola aumentaram 2,39%, logo após as eleições gerais de agosto.

O pico da inflação mensal em Angola nos últimos anos registou-se em julho de 2016, quando, no espaço de um mês, segundo o INE, os preços registaram um aumento médio de 4%.

Entre janeiro e dezembro de 2016 (12 meses) os preços em Angola subiram praticamente 42%, segundo os relatórios anteriores do INE com o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN).

Em todo o ano de 2017 a subida acumulada nos preços foi 23,67%, registo muito superior à previsão de 15,8% para o período entre janeiro e dezembro que o Governo inscreveu no Orçamento Geral do Estado.

A subida de preços em dezembro foi influenciada sobretudo pelos setores Bens e Serviços Diversos, com 2,01%, na Habitação, Água, Eletricidade e Combustíveis, com 1,82%, Vestuário e Calçado, com 1,69%, e Lazer, Recreação e Cultura, com 1,65%.

Os aumentos de preços no último mês do ano foram liderados pelas províncias do Moxico (2,16%), Lunda Norte (1,82%), Zaire (1,72%), Cabinda (1,64%) e Lunda Sul (1,60%), enquanto as com menor variação foram as de Luanda (1,13%), Benguela (1,19%), Malanje (1,20%), Bengo (1,23%) e Huíla (1,25%).

Desde setembro de 2014 que a inflação em Angola não para de aumentar, acompanhando o agravamento da crise económica, financeira e cambial decorrente da quebra na cotação internacional do barril de petróleo bruto, o que fez disparar o custo, nomeadamente dos alimentos.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, alertou em 2017, em Luanda, para a necessidade de medidas que ajudem a diminuir a elevada inflação que o país ainda apresenta.

A preocupação atual do FMI mantém-se à volta da necessidade de relançar o crescimento económico angolano "de uma maneira duradoura para os próximos anos", além de baixar a inflação mensal dos atuais 2% a 2,5% ao mês para "níveis mais aceitáveis", bem como sobre "como continuar a reforçar o sistema bancário e financeiro do país", explicou o economista.

PVJ // VM | Lusa

Novo ataque de grupo armado faz cinco mortos no nordeste de Moçambique - moradores

Um grupo armado matou cinco pessoas e feriu várias outras num ataque no fim de semana à sede do posto de Olumbi, distrito de Palma, Cabo Delegado, nordeste de Moçambique, disseram hoje à Lusa várias fontes.

Uma moradora de Olumbi, Aneia Sumaili, disse que o grupo invadiu a sede do posto administrativo e disparou contra edifícios estatais e várias barracas do mercado local, que foram incendiadas.

"Dispararam e queimaram as barracas do mercado, entraram no governo (secretaria) e vandalizaram, queimaram a mota do chefe do posto e casa dele também foi invadida", contou à Lusa Aneia Sumaili, referindo que se mantém um clima tenso entre a população.

Lusa

Moçambique espera mais 573 milhões de euros de investimento na pesquisa de hidrocarbonetos

Moçambique espera que as multinacionais vencedoras do quinto concurso internacional para pesquisa e prospeção de hidrocarbonetos invistam 700 milhões de dólares (mais de 573 milhões de euros) nos próximos anos, informou o presidente do Instituto Nacional Petróleos (INP).

Carlos Zacarias, citado hoje pelo diário Notícias, disse que, durante as negociações, as companhias selecionadas no concurso solicitaram a incorporação de alguns aspetos na Lei Fiscal e no Regime cambial, pontos que farão parte dos contratos que serão celebrados com o Governo moçambicano.

"Estes instrumentos competem ao Governo a sua aprovação. Ora, a Lei Fiscal já foi revista e aprovada e aguardamos pela data da sua entrada em vigor. Em relação ao Regime Cambial, estamos em contacto com o Banco de Moçambique e sabemos que o processo está avançado", declarou o presidente do conselho de administração do INP.

Lusa

A crise do progressismo e a ofensiva da direita na América Latina

Os governos progressistas avançaram somente até onde puderam, e terminaram chocando com os limites do sistema capitalista, caindo como vítimas das próprias contradições do sistema

Olmedo Beluche* | Carta Maior

No dia 8 de dezembro de 2017, no salão azul da Intendência de Montevidéu, foi celebrado o encerramento do Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS 2017) com o ato de 50º aniversário do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Um evento digno do êxito de um congresso ao qual compareceram mais 5 mil especialistas de todo o continente, com centenas de teses em todos os âmbitos das ciências sociais. O evento foi organizado por Ana Rivoir, da ALAS, e Pablo Gentili, da CLACSO.

A reunião principal teve mais três horas, nas quais se debateram o momento atual do continente, a chamada “crise do progressismo latino-americano” e a ofensiva da direita reacionária. Participaram personalidades destacadas como Juan Carlos Monedero, do partido espanhol Podemos, o vice-presidente boliviano Álvaro García Linera, Estela de Carlotto, presidenta da organização Avós da Praça de Maio, a ex-presidenta do Brasil Dilma Rousseff e o ex-mandatário uruguaio José Mujica.
Tela de fundo do debate: a ofensiva reacionária

A conversa  girou em torno dos dramáticos acontecimentos que se produzem neste momento na região, os quais expressam a falta de escrúpulos morais de uma direita disposta a tomar o poder pisoteando as leis e até a racionalidade democrática mais elementar. Por um lado, a fraude e sangrenta repressão em Honduras para forçar um novo mandato ao títere estadunidense, o ditador Juan Orlando Hernández; e por outro a inacreditável ordem de detenção por contra a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner por “traição à pátria” e um grupo de seus ministros, por uma lei de normalização de relações diplomáticas com o Irã que, em seu momento, foi aprovada pelo Congresso e acabou não sendo aplicada por objeção do órgão judicial.

Outros acontecimentos preocupavam os assistentes, um pouco mais antigos mas com igual urgência no que diz respeito à necessidade de respostas, pois envolvem figuras que foram protagonistas de primeira linha da política de esquerda no mundo atual: o golpe de Estado no Brasil contra Dilma Rousseff e a terrível crise política e econômica sofrida pelo povo da Venezuela; a crise do projeto progressista de Rafael Correa no Equador, com a disputa entre o presidente Lenín Moreno, agora apoiado pela direita, e o vice-presidente Jorge Glas, leal a Correa mas acusado e preso por corrupção, denúncia que considera falsa.

Qual é o centro do problema? É a consciência ou são as políticas?

As intervenções foram dignas da qualidade dos convidados e não decepcionaram o público, que se manteve sentado em seus assentos até altas horas da noite, quando acabou finalmente o evento. O auditório, com alta presencia de delegações brasileiras, manteve a combatividade e as consignas, em especial na denúncia do golpe, em solidariedade com Dilma e com a campanha do “Fora Temer”.

Todas as exposições enfatizaram a qualidade moral dos movimentos e projetos da esquerda ou progressistas diante do inimigo neoliberal e reacionário, até as evidentes conquistas em políticas sociais de seus governos. As intervenções se encontram disponíveis no Youtube, por parte da CLACSO TV.

Entretanto, a debilidade das argumentações esteve na explicação da crise dos governos progressistas, que os expositores defenderam que se trata de uma luta ideológica pela consciência das massas, não vencida ainda, e não em razões concretas das políticas aplicadas pelos governos progressistas durante seus mandatos. Nesse sentido, apesar de que se falou em abstrato de autocríticas, muito pouco se fez em concreto.

O problema estaria no fato de que as esquerdas não foram capazes de ganhar adesões nas classes médias das sociedades em favor dos projetos progressistas, graças ao peso da ideologia neoliberal, que utiliza para isso os meios de comunicação de massas, quase exclusivamente a favor dessas ideias. Os expositores deixaram de lado o debate sobre se de verdade foram tomadas ou não as medidas concretas e adequadas para resolver as grandes necessidades dos povos, iniciando uma real transição ao socialismo, conceito que esteve ausente.

Esta forma de abordar o problema, que foi comum a todos os oradores – não por acaso líderes de projetos reformistas – contém um erro metodológico de fundo: uma concepção intelectualista de formação da consciência de classe. Pode ser que para a maioria dos assistentes ao Congresso da ALAS 2017, profissionais, docentes e estudantes, a via para se chegar à consciência política seja a académica, ou seja, lendo ou estudando.

Mas consideremos as grandes massas populares, que se sublevaram contra os regimes neoliberais no começo deste século, e que levaram o povo aos chamados governos progressistas pela via eleitoral. Para elas, a consciência se forma de maneira prática, pela via da ação política e pela experiência com governos e partidos.

Nenhuma grande transformação ou revolução social e política teve êxito porque as pessoas chegaram a uma compreensão filosófica (ideológica) de como construir a sociedade, e sim pela via do ensaio e erro com líderes e partidos em quem se afincam as esperanças de solução dos problemas, aos quais se apoiam até que demonstram ser inconsequentes com seus compromissos.

Em grande medida, isso é o que está passando: os governos progressistas tiveram vento a favor com respeito à bonança dos preços das matérias primas, o que produziu um superávit fiscal com o qual se financiaram os programas sociais sem tocar os interesses dos capitalistas em cada país. Mas com a queda dos preços dos commodities acabou a margem para o reformismo. O dilema está presente: ou o orçamento serve à acumulação capitalista ou à ajuda aos mais pobres, como ficou claro na explicação de Dilma sobre o golpe no Brasil.

Ali é onde deve estar o centro do debate sobre que medidas reais de superação da lógica económica e social do capitalismo foram tomadas ou não, para resolver realmente as demandas do povo. Os governos que tenham um belo discurso progressista, mas não são capazes de tomar verdadeiras medidas anticapitalistas, para não chocar com a burguesia, recebem o lógico castigo eleitoral das massas populares.

Não é um problema de consciência somente. Para os povos famintos e explorados é uma situação concreta, porque representa sua sobrevivência cotidiana. Há um elemento ideológico, sem dúvida, que é o problema central que resolve tudo: a decisão de adotar, ou não reais medidas anticapitalistas.

Para esses dirigentes, o problema não estaria em manter seus governos dentro das regras do jogo capitalista e da chamada democracia burguesa, e sim criar um real processo de socialização dos meios de produção, de participação da classe trabalhadora no controle da economia, etc.

Pelo contrário, entre os expositores do evento ALAS-CLACSO houve muitas reivindicações do compromisso com a “democracia”, sem definir que tipo e a quem serve – burguesa, como exigia Lenin –, e de renúncia velada ou indireta à ideia de revolução social, quando se insistia em que a luta armada era coisa do passado.

Da utopia neoliberal de Monedero ao dualismo antropológico de Mujica

Façamos um breve resumo das exposições, omitindo a de Estela de Carlotto, porque foi mais centrada à luta específica das Avós da Praça de Maio:

Segundo Juan Carlos Monedero, estamos numa luta ideológica contra a utopia neoliberal, que capta a imaginação das pessoas, que faz acreditar que é possível conseguir qualquer paraíso através do dinheiro e convence a muitos trabalhadores do sonho de ser classe média. Essa ideologia trabalha promovendo o medo e a incerteza sobre o futuro, a delegação política nos políticos e partidos e a construção intencional da indiferença, nos convencendo de que não há alternativas ao modelo.

Para ele, a resposta a essas três ofensivas ideológicas por parte do “pensamento emancipatório” devem ser: uma “digna raiva” – tomando emprestado um conceito do mexicano Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) –, a participação e o compromisso. E propõe quatro ações: 1) a não-individual que ajuda a construir o “mosaico” coletivo da resistência social ao sistema; 2) a exigência de uma “reforma midiática” que controle os meios de massa; 3) separar o partido dos cargos institucionais, quando se ganha uma eleição; 4) a atividade política com dialéticas ou dual (onda/partícula), dado que “as certezas não estão consolidadas”.

Não incluiu em sua reflexão nenhum comentário sobre a crise catalã nem sobre a postura do Podemos a respeito.

Já Álvaro García Linera comentou que a esquerda na América Latina deixou de ser intelectual, testemunhal e sacrificada como era nos Anos 70. Destacou o sucesso das políticas sociais dos governos progressistas: diminuição da pobreza – de 210 milhões em 2000 a 140 milhões em 2015 –, crescimento das classes médias e da renda dos trabalhadores de 10 a 15% e do gasto social em 10%, etc. Também destacou a colaboração soberana entro os estados sem a tutela dos Estados Unidos, através de mecanismos como a CELAC (Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe), Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e ALBA (Alternativa Bolivariana para os Povos da América).

Contudo, alertou para o fato de que “as coisas não são como há 5 anos”, pois “não é um bom momento para a esquerda”, mas negou que o chamado “ciclo progressista” tenha terminado, destacando os resultados eleitorais das frentes amplas do Chile e do Peru.

Foi o expositor mais específico em esboçar uma autocrítica, apontando sete erros das esquerdas e seus governos: 1) quando se governa, a economia ocupa o posto de mando, “se a economia falha, a política falha”; 2) construção de hegemonia, dialética entre o “núcleo duro” de eleitores e ampliação de alianças visando as classes médias”; 3) é preciso derrotar “intelectualmente” o adversário antes de soma-lo (ideia que eu pessoalmente não soube interpretar); 4) devemos transformar as estruturas cognitivas “weberianamente”, transformando a relação com os meios de comunicação para poder vencer moralmente a batalha cultural; 5) Nunca subestimar o adversário; 6) reconhecer que há desequilíbrios entre lideranças carismáticas e coletivas; 7) a corrupção, porque a “integridade moral” é o melhor patrimônio da esquerda, e perde-la é pior que uma derrota eleitoral.

Dilma Rousseff: centrou seu discurso no processo de golpe de Estado em seu país. Reivindicou as políticas sociais dos governos do PT mostrando que os governos do antecessor PSDB somente aplicavam “planos pilotos” sem saber exatamente a que setores da população apontar as políticas, enquanto os governo dela e de Lula da Silva ampliaram enormemente as políticas sociais: 46 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo programa “Bolsa Família” e 63 milhões no Sistema Único de Saúde e no programa Mais Médicos, sem contar o congelamento do gás de cozinha (para os pobres) e a elevação da “classe média” a 40 milhões de pessoas.

A partir de 2013 se iniciou a crise política no Brasil, devido a: 1) a queda do preço das “commodities”; que teve efeitos imediatos na arrecadação; 2) a política monetária dos Estados Unidos, que produziu inflação; 3) a queda notável da produção de bens (entre 10 e 6 %).

A seu juízo, a oposição de direita concluiu que não podia vencer eleitoralmente o PT, por isso decidiu trabalhar pelo golpe, através da “criminalização do orçamento” social e da misoginia, para a qual usaram o controle dos meios de comunicação. O golpe tinha três objetivos: debilitar os BRICS (a aliança entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); a imposição de um modelo económico contra o neodesenvolvimentismo, a indústria nacional e o desmantelamento do Estado nacional, atacando o orçamento social – Temer o congelou por 20 anos.

Dilma, em sua intervenção de uma hora, não realizou nenhuma autocrítica de seu governo e partido, nem aludiu às reformas econômicas de estilo neoliberal iniciadas por ela em 2015, nem a aliança eleitoral com o PMDB. Todavia, reivindicou que é possível estabelecer uma “relação decente” com o mercado (regulado) e o compromisso com a democracia, a qual ela definiu como “lado certo da história”.

José Mujica manteve o essencial de discursos anteriores oferecidos por ele em outros eventos recentes, baseados na seguinte lógica argumentativa: existe uma dualidade na história, que faz da “essência antropológica” dos seres humanos, a luta entre o egoísmo individualista e a solidariedade coletiva.
Para ele, a luta atual entre a esquerda e a direita é a atualização dessa luta eterna que forma parte da “condição humana”. A esquerda desenvolve uma luta ideológica pelo bem comum, mas é uma luta na que nunca se ganha definitivamente, “porque nunca estaremos derrotados, porque nunca triunfaremos definitivamente”.

Com esse comentário, Mujica encerrou o debate, tanto literalmente em Montevidéu quanto para sempre, uma vez que pontifica, como um moderno Santo Agostinho, que o problema remete à “essência do homem” (carne corruptível/espírito perfeito), já não há luta de classes que valha a pena, nem programas, nem partidos. Só nos resta a resignação cristão, ou como postulam os “revolucionários” pós-modernos, a “resistência”, porque a revolução socialista saiu do discurso e do horizonte das esperanças que empurram a ação política.

O mesmo velho debate: reformar o capitalismo ou fazer a revolução socialista

Do que foi dito pelos expositores, em especial por García Linera e Rousseff, se desprendem duas conclusões claras:

A positiva, que mostra como os governos progressistas demonstraram que, repudiando o mercado (capitalismo) como único regulador e com o Estado adotando algumas políticas sociais, é possível melhorar a vida de milhões de pessoas notavelmente.

A negativa é que os governos progressistas não alteraram a essência do sistema capitalista, nem da estrutura produtiva, nem mudaram o papel de seus países como provedores de matérias primas ao mercado mundial. Por isso, seus avanços foram limitados e reversíveis.

A crise dos governos progressistas está no fato de que avançaram somente até onde puderam, e terminaram chocando com os limites do sistema capitalista, caindo como vítimas das próprias contradições do sistema: crise econômica mundial, queda dos preços das exportações de matérias primas, baixa arrecadação – da qual dependem os programas sociais – estancamento produtivo e seu consequente aumento da pobreza, desemprego, delinquência, etc.

O caso mais dramático é o da Venezuela, onde há uma hiperinflação de três dígitos, um desabastecimento notável dos produtos de primeira necessidade, que não é pior graças ao ritmo das ajudas sociais que o Estado entrega às famílias. Apesar da grave situação, se mantém um sistema inoperante de importações a partir da entrega de divisas do Estado a empresas privadas e não se nacionaliza a banca. Com isso, se mantém intacto o poder econômico da burguesia inimiga do Processo Bolivariano, que trabalha para sabotar o governo e propiciar o golpe de Estado.

Passados 15 anos da experiência com governos progressistas simultâneos, os países latino-americanos continuam sendo mono exportadores de matérias primas, com economias capitalistas controladas por elites oligárquicas, com classes trabalhadoras resignadas a empregos precários, baixos salários, altas taxas de desemprego e informalidade, com a pobreza como consequência natural da soma desses fatores, sem contar a falta de investimento do Estado deste novo ciclo de governo de direita recuperando seu status, trazendo consigo baixa qualidade dos serviços públicos de saúde e educação, e aumento dos índices de violência. Enfim, nossos países mudaram bem pouco nesse período.

Sobre outro elemento do debate em Montevidéu, o fator subjetivo ou a consciência de classe, esta relação se constrói permitindo a ação política independente da classe trabalhadora na defesa de seus interesses através dos sindicatos e organismos do tipo – como foram os Cordões Industriais do Chile de Salvador Allende.

Nesse aspecto os governos progressistas também cometeram harakiri, ao não permitir a atuação independente e o debate democrático nos organismos da classe trabalhadora. Pelo contrário, prevalece o manejo clientelista, debilitando a ação popular que dá força ao processo de mudança anticapitalista.

Aqui é onde convém repassar os ensinamentos de Lenin, dirigente da primeira revolução operária triunfante da história, a já centenária Revolução Russa, quando adotou, em duras circunstâncias dos Anos 20, um conjunto de medidas favoráveis aos capitalistas russos (a NEP), mas que traçava onde estavam os limites que seguiam definindo como socialista o processo que liderava:

“Esta revolução é socialista. A abolição da propriedade privada da terra, a introdução do controle operários e a nacionalização dos bancos são outras tantas medidas que levam ao socialismo. Não é ainda o socialismo, mas são passos que nos levam a ele, e passos de gigante. Não prometamos os camponeses e os operários de um país que alcançou a abundância de um dia para outro, mas dizemos: a aliança estreita dos operários e dos camponeses explorados, a luta firme, sem desistência, pelo poder dos sovietes, é o que nos conduz ao socialismo”, citando o historiador belga Eric Toussaint.

*Olmedo Beluche é um sociólogo e analista político panamenho

VENEZUELA BOLIVARIANA RESISTE!

"A arte de vencer se aprende nas derrotas"Referência: https://citacoes.in/autores/simon-bolivar/

Martinho Júnior | Luanda 

1- O ano de 2017 foi um ano de intensa luta na Venezuela Bolivariana, assediada por todo o tipo de ingerências e manipulações“transversais” e de “geometria variável” de que os Estados Unidos e seus agentes “no terreno” e “deep inside” são pródigos.

Nada a que o povo bolivariano e suas forças armadas não estejam já temperados, por que desde a ascensão do comandante Hugo Chavez que se foram apercebendo que duzentos anos depois do ciclo de independências de bandeira na América, a necessidade de luta pela sua efectivação e efectivação da sua soberania e integração latino americana é uma questão vital, como vital é o aprofundamento da revolução a partir das bases humanas de sua própria mobilização e participação, as camadas populares que têm sido mais oprimidas em função do capitalismo de cariz neocolonial que respondia (e continua a responder) à Organização dos Estados Americanos sob os auspícios da hegemonia unipolar.

As linhas progressistas na América Latina têm, ao longo das três últimas décadas, conhecido avanços e recuos, face a face a uma democracia representativa pervertida pelas oligarquias agenciadas pela hegemonia unipolar, onde quantas vazes as ditaduras de ocasião se escondem fluindo das ingerências, manipulações e vassalagens inspiradas pelos poderosos vizinhos do norte.

2- Em 2017 a luta radicalizou-se na Venezuela Bolivariana, com a subversão proveniente do exterior realizando programas sócio-políticos, económicos, financeiros e psicológicos profundamente desestabilizadores, de forma ininterrupta e explorando ainda o desaparecimento físico do comandante Hugo Chavez em 2013.

A condução do presidente Nicolas Maduro não teve um momento de descanso, nem de desatenção perante os artificiosos fenómenos desencadeados que espelham também a corrente crise global e dessa experiência de luta, o Partido Socialista Unificado da Venezuela tem respondido com o reforço de suas fileiras, vencendo resolutamente os golpes, conjuntamente com seus aliados, entre eles o pequeno Partido Comunista da Venezuela.

Tentaram instalar o caos, instalaram a rarefação de géneros alimentícios de base, a inflação, a corrupção e uma contínua pressão internacional, com deliberadas sanções e bloqueios, com o objectivo principal de provocar a desestabilização das bases de apoio do PSUV…

Procuraram e procuram neutralizar os organismos internacionais integradores da América Latina, ou alterando o seu carácter (caso do MERCOSUL), ou tentando isolá-los (casos da UNASUR, da ALBA…), providenciando os estímulos em relação ao ministério das colónias consubstanciado na OEA…

A partir da Constituinte, algumas das iniciativas internas de desestabilização colheram efeitos boomerang, com a plataforma MUD a fragmentar-se com perdas significativas em todos os actos eleitorais, culminando os seus restos com uma derrota estrondosa nas municipais.

A corrupção no seio da petroleira estatal PDVSA está a ser combatida apesar das sabotagens, multiplicam-se os planos para a diversificação económica em todos os estados, ganha conteúdo substantivo e investimentos o “Arco Mineiro do Orinoco”, criou-se a moeda digital “petro” indexada às riquezas naturais venezuelanas em stock no país como o petróleo, o gaz, o ouro e os diamantes (um exemplo a levar em linha de conta em Angola), multiplicam-se os enlaces com os emergentes da globalização multipolar…

Em 2018 espera-se começar a suster todos os fenómenos negativos decorrentes da ingerência e manipulação com origem nos expedientes da hegemonia unipolar, sobretudo com origem nos Estados Unidos e na União Europeia, atavicamente apêndice vassalo do império!

3- O ano de 2018 será um ano mais de luta, mas o início da recuperação económica e financeira, assim como dum desafogo maior nos sectores internos de natureza sócio-política (que se reflectirá nos ambientes da próxima eleição presidencial), consta nas espectativas de luta e nas esperanças nelas depositadas.

A hegemonia unipolar não desistirá do seu perverso carácter, mas o povo bolivariano da Venezuela, temperado na luta e disposto a enfrentar desafios externos e internos com unidade, resistência cultural e cívica e perseverança, dá indicativos de não ceder às pressões, nem aos fenómenos “transversais”, ou de “geometria variável”, nem sequer à ambiguidade por via dos fenómenos“híbridos”.

 Ao culminar o ano o embaixador da administração vassala do presidente Temer do Brasil, assim como o Encarregado-de-Negócios do Canadá foram declaradas “personas non gratas”, levando a um congelamento das relações bilaterais com qualquer desses países, um rescaldo mais do enfrentamento à hegemonia unipolar!

“En la pelea por la verdad, junto al pueblo de Bolívar y Chávez, ¡Pa’ lo que salga!. Nos ponemos los guantes y comenzamos el entrenamiento para las grandes victorias que tendremos este año 2018”, confirma o presidente Maduro no twiter.

A longa luta contra o subdesenvolvimento e pela independencia e soberanía da Venezuela Bolivariana e da construção da Pátria Grande, continua e agora, com a unidade conseguida à custa de tantos sacrifícios e de tantas derrotas táticas impostas pela contínua subversão, com as portas do diálogo nacional abertas, conforme Simon Bolivar, há uma certeza conquistada a pulso: “A arte de vencer se aprende nas derrotas”!

Viva a Venezuela Bolivariana, uma inspiração de dignidade para a emergência global multipolar e, conjuntamente com Cuba, um farol de esperança para toda a humanidade!

Martinho Júnior - Luanda, 26 de Dezembro de 2017

Imagens:
Simon Bolivar; o Comandante Hugo Chavez; o presidente Nicolas Maduro e a Constituinte

A consultar de Martinho Júnior:
Rapidinhas do Martinho – 31 – A luta pela soberania – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-31.html
A CLARIVIDÊNCIA DA VENEZUELA SOBRE A SUA SOBERANIA E ZEE – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/07/clarividencia-da-venezuela-sobre-sua.html
A VITÓRIA DO PSUV É UMA PITADA DE MÉRITO EM BENEFÍCIO DE TODA A HUMANIDADE! – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/10/a-vitoria-do-psuv-e-uma-pitada-de.html 
A VITÓRIA DO PSUV É UMA PITADA DE MÉRITO EM BENEFÍCIO DE TODA A HUMANIDADE! – II – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/10/13/a-vitoria-do-psuv-e-uma-pitada-de-merito-em-beneficio-de-toda-a-humanidade-ii/
A VITÓRIA DO PSUV É UMA PITADA DE MÉRITO EM BENEFÍCIO DE TODA A HUMANIDADE! – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/10/a-vitoria-do-psuv-e-uma-pitada-de_23.html
ALBA! EVOCAÇÃO À PEGADA ARDENTE DE BOLIVAR –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/03/alba-evocacao-pegada-ardente-de-bolivar.html 
CONTRA AS CONSTANTES INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES… –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/contra-as-constantes-ingerencias-e.html 
LONGOS SÃO OS CAMINHOS ÁVIDOS DE VIDA E PAZ!... –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/longos-sao-os-caminhos-avidos-de-vida-e.html 
SANÇÕES, OU UM ISOLAMENTO PROGRESSIVO NO HORIZONTE? –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/sancoes-ou-um-isolamento-progressivo-no.html
A “PRESSTITUTA” INTEGRA A GUERRA PSICOLÓGICA CONTRA A VENEZUELA BOLIVARIANA – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/06/a-presstituta-integra-guerra.html
INDEPENDÊNCIA, SOBERANIA E PAZ PARA A VENEZUELA BOLIVARIANA – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/independencia-soberania-e-paz-para.html
UM ASSALTO ININTERRUPTO À VENEZUELA BOLIVARIANA – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/um-assalto-ininterrupto-venezuela.html

A consultar ainda:
El golpe suave en America Latina (I y II) – http://www.radiolaprimerisima.com/articulos/5448
"Estados Unidos busca una intervención multilateral en Venezuela" – https://actualidad.rt.com/actualidad/238573-estados-unidos-busca-intervencion-multilateral
EUA BUSCAM CRIAR NA AMÉRICA LATINA SITUAÇÃO MILITAR IGUAL À DO MÉDIO ORIENTE – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/05/eua-buscam-criara-na-america-latina.html?spref=fb
Maduro denuncia a EEUU por liderar plan ‘mafioso’ contra PDVSA – http://www.hispantv.com/noticias/venezuela/364088/maduro-estatal-petrolera-pdvsa-eeuu-sabotaje
A bomba de petróleo preparada pelos Estados Unidos para a Venezuela – https://br.sputniknews.com/americas/201706148642304-bomna-petroleo-preparada-eua-venezuela/
A CIA e a contra-revolução na Venezuela – Atílio A. Boron – http://resistir.info/venezuela/boron_26jul17.html
A tentativa de golpe dos EUA na Venezuela – http://resistir.info/venezuela/golpe_dos_eua_mai17.html
A Venezuela Revolta-se contra o Petrodólar – http://www.voltairenet.org/article197971.html
"Agresiones de Trump contra Venezuela han sobrepasado todos los límites" – https://actualidad.rt.com/actualidad/238903-agresiones-presidente-trump-venezuela-limites 
El autosuicidio de la MUD: entre egos, petimetres y el reparto del financiamento – https://www.rebelion.org/noticia.php?id=233403
“Defender a Venezuela es defender América Latina”, destaca presidente Evo Morales – http://www.paginapopular.net/defender-a-venezuela-es-defender-america-latina-destaca-presidente-evo-morales/
Vaivenes económicos mundiales en 2017 – El liberalismo revolotea por Latinoamérica – https://www.rebelion.org/noticia.php?id=235960
La nueva guerra fría de Estados Unidos contra el mundo – https://www.rebelion.org/noticia.php?id=235944
Não há quem possa com o povo de Hugo Chávez – http://resistir.info/venezuela/aznarez_30jul17.html

"Eu, neocon" – a política externa do imperador Trump

Wayne Madsen [*]

Poucos observadores acreditam que o secretário de Estado Rex Tillerson sobreviverá como o mais neutralizado secretário de Estado dos EUA desde os tempos em que o secretário de segurança nacional de Richard Nixon, Henry Kissinger, tomava as decisões sobre política externa do desapontado secretário de Estado William Rogers. Ao invés de liderar como presidente constitucionalmente mandatado, Donald Trump sob muitos aspectos emulou o imperador romano Claudius. 

O título deste artigo a parafraseia o romance Eu, Claudius , de Robert Graves, publicado em 1934. Tal como Trump, Claudius entrou na política numa época tardia da vida – embora, no caso de Claudius, se tornasse o co-consul do seu irmão, o tirânico imperador Calígula, aos 46 anos. Trump entrou na política presidencial dos EUA vindo do mundo do imobiliário, dos casinos e do entretenimento, no fim de 60 anos de vida. Claudius, tal como Trump, passou a maior parte do tempo da sua vida pré-política atolado em jogos de azar e de caça a mulheres. Claudius teve quatro esposas, Trump três. Claudius, como Trump, era fã ávido de desportos violentos. Claudius gostava de duelos até à morte de gladiadores e de corridas de bigas, Trump de lutas livre e de box "profissional".

Trump, tal como Claudius, não possui um intelecto agudo. Contudo, ambos aceitam perigosas aventuras militares. Claudius invadiu e anexou a Grã-Bretanha no século I DC. Embora inicialmente triunfante, a extensão do domínio romano às ilhas britânicas acabou finalmente por estender excessivamente o império, o que acabaria por levar ao seu colapso. Trump, apesar de pretender evitar os conflitos de "mudança de regime" encorajados pelos seus dois antecessores imediatos – George W. Bush e Barack Obama – abraçou-os de todo o coração depois de sucumbir à influência de conselheiros políticos neo-conservadores.

Claudius finalmente caiu vítima dos desígnios políticos da sua quarta esposa, Agripina, a qual se acredita ter engendrado uma trama para envenenar o imperador. Após a morte de Claudius, Agripina teve êxito em colocar no trono o seu filho, Nero. Na morte de Claudius acabam-se as semelhanças com Trump, apesar de as guerras intestinas da Casa Branca de Trump equivalerem a qualquer outra intriga palaciana ao longo da história.

Trump segue o conselho de uma cabala perigosa que estabeleceu em torno de si próprio. Sobre questões do Médio Oriente e das relações com nações muçulmanas, a cabala de Trump possui uma toxicidade nunca vista anteriormente numa administração dos EUA. Esta cabala gira em torno da troika de Jared Kushner, genro de Trump com muitas responsabilidades; Jason Greenblatt, antigo chefe dos conselheiros legais da Trump Organization e agora Assistente do Presidente e Representante Especial para Negociações Internacionais; e David Friedman, antes do escritório de advogados de Trump, Kasowitz, Benson, Torres & Friedman e agora embaixador dos EUA em Israel. Eles, juntamente com Trump, conseguiram reverter 70 anos de política estado-unidense para o Médio Oriente ao assegurar o reconhecimento pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel. A decisão quanto a Jerusalém também implicará a mudança da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para uma propriedade em Jerusalém originalmente tomada pelos israelenses aos seus proprietários palestinos.

A decisão sobre Jerusalém envia uma drástica advertência a muçulmanos de todo o mundo, que encaram a cidade como a terceira mais santa do Islão, depois de Meca e Medina. Ela também lança um desafio às igrejas Católica Romana, Ortodoxas Orientais e Copta, assim como ao protestantismo, todos os quais encaram Jerusalém não só como a mais respeitada cidade da cristandade como também uma zona internacional que deve ficar sob controle conjunto israelense-palestino ou sob um regime como o das passadas cidades-estado internacional, Tanger, Dantizg e Triste por exemplo. Ao premiar Israel com o reconhecimento dos EUA, a acção de Trump deu uma bofetada na cara dos cristãos de Jerusalém que foram forçados a enfrentar centenas de odiosos ataques judeu a cristãos, tais como as palavras garatujadas em hebreu, "Morte aos gentios cristãos, os inimigos de Israel" e "Cristãos para o inferno", pintadas no Mosteiro Beneditino na Cidade Velha de Jerusalém, o sítio reverenciado da Última Ceia de Jesus. O governo israelense não tomou medidas para descobrir e punir os perpetradores destes ataques anti-gentios por judeus traficantes de ódio.

Trump também deixou de lado as promessas de campanha de evitar mergulhar os Estados Unidos nos derrubes de "mudança de regime" no exterior da era George W. Bush e Barack Obama. Tão logo estalaram protestos económicos no Irão, Trump adoptou a barragens da propaganda israelense tuitando o seu apoio ao fim do "regime brutal" daquele país. Isto aconteceu depois de ele ter dito que queria sucatear acordo nuclear P5+1 com o Irão, algo a que era instado pelo primeiro-ministro de Israel Benjamim Netanyahu. É quase certo que o director da CIA de Trump, Mike Pompeo, um cristão sionista do mesmo molde de oráculos evangélicos como John Hagee, Pat Robertson, Paula White, Robert Jeffress e Jerry Falwell Jr, tenha ordenado a activos da CIA no Irão e na sua periferia para entrarem em acção contra o governo iraniano ao primeiro sinal de descontentamento popular quanto ao estado da economia iraniana.

No princípio de 2018 Trump não perdeu tempo em entrar numa tempestade de tweets contra o Irão assim como em criticar o Paquistão, a única nação muçulmana armada com o nuclear. Trump ordenou que os US$255 milhões da assistência estado-unidense ao Paquistão fossem suspensos, acusando do país de proporcionar abrigo seguro a terroristas islâmicos activos no Afeganistão. Não é coincidência que Trump tenha atacado verbalmente os dois maiores países muçulmanos, Irão e Paquistão, depois de ter assegurado a destruição do quadro estabelecido dos dois estados palestino-israelense, com o seu reconhecimento do controle israelense permanente sobre Jerusalém.

A denúncia de Trump do Paquistão ilustra a influência da sua embaixadora nas Nações Unidas, Nikki Halley, uma híbrida cristã-sikh, cujos país procedem da Índia, sobre a política externa de Trump a favor da-Índia e contra Paquistão. O posicionamento neo-conservador de Halley também garantiu que Trump aprovasse o envio de equipamento militar letal para a Ucrânia, em contravenção à actual plataforma de política externa do Partido Republicano, defendida pela campanha de Trump durante a convenção republicana de 2016 em Cleveland, que se opunha a isso.

O ministro dos Estrangeiros do Paquistão, Khawaja Asif, respondeu ao ataque de raiva tuitado por Trump declarando que "Ele [Trump] tuitou contra nós [Paquistão] e Irão para o seu consumo interno". Mas não foi simplesmente para o consumo interno genérico de Trump. A retórica anti-Irão/Paquistão de Trump, vindo longo após a sua decisão sobre Jerusalén, destinava-se a agradar sionistas como o magnata dos casinos Sheldon Adelson, bem como ao seu trio de conselheiros ultra-sionistas – Kushner, Greenblatt e Friedman. Também foi um ataque covarde aos conspiracionistas de extrema-direita, constituídos principalmente por Steve Bannon, Alex Jones e Mike Cernovich, para aplacar a sua xenofobia anti-muçulmana. Não ocorreu a estes conspiradores, acólitos à margem de Trump, que tal como George W. Bush e Barack Obama, Trumpo adoptara as mesmas políticas de mudança de regime preparadas pelo guru dos protestos da CIA, Gene Sharp, e pelo mentor de revoluções George Soros. Jones, por exemplo, outrora opôs-se a Soros e às suas revoluções. Mas agora, Jones e outros da sua laia aplaudem loucamente movimentos de Trump para derrubar governos utilizando as tácticas de Sharp e Soros.

Estas operações não estão a ser executadas só no Irão, mas também nas Honduras, onde a administração Trump apoiou o corrupto contrabandista de drogas e fascista presidente em exercício, Juan Orlando Hernandez, também conhecido como "JOH", contra o candidato da oposição salvadorenha Salvador Nasralla na eleição de 26 de Novembro de 2017. A Organização dos Estados Americanos, normalmente um carimbo para os Estados Unidos, criticou a vitória reclamada por Hernandez como resultando de fraude maciça. O antigo presidente Manuel Zelaya, derrubado em 2009 num golpe da CIA aprovado por Obama e pela secretária de Estado Hillary Clinton, anunciou que 2018 será o ano em que JOH será apeado do poder e a democracia restaurada. Contudo, Zelaya, Nasralla e outros líderes da oposição enfrentarão a bota da "não mudança de regime" da política externa de Trump de interferência aberta nos assuntos de outros países.

Inversamente, a administração Trump declarou guerra económica e política total à Venezuela, sujeitando seus líderes e cidadãos a proibições de vistos dos EUA e sanções económicas desgastantes. Trata-se das mesmas tácticas empregues pelos neocons das administrações Bush e Obama contra o governo socialista chavista na Venezuela.

Ao contrário de Claudius, Trump não tem uma forte Guarda Pretoriana para assegurar a sua sobrevivência final. Trump criou mais inimigos do que amigos dentro do establishment do Partido Republicano, sem mencionar no Federal Bureau of Investigation, na CIA e nos serviços militares. Neste momento, candidatos presidenciais republicanos já estão a planear desafiar Trump na nomeação presidencial em 2020. Estes esforços ganharão pleno vapor após a eleição intercalar de 2018 que poderia ver o Congresso voltar ao controle do Partido Democrata.

No final das contas, tal como Claudius, Trump sofre de desordens neuro-psiquiátricas que o levam a empenhar-se em obsessões e compulsões socialmente inadequadas. Quando as políticas neocon de Trump alcançarem os seus desejados resultados, os neocons descartarão Trump como um velho cavalo estúpido e promoverão alguma nova ferramenta insípida para executarem suas políticas. Entre Nikki Haley, o vice-presidente Mike Pence e o senador republicano de Arkansas Tom Cotton. 

04/Janeiro/2018

[*] Jornalista.

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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