quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

CEDEAO quer implementar moeda única até 2020


Os líderes da CEDEAO reuniram-se em Accra para um debate de urgência sobre a adopção de uma moeda única na sub-região. A Comunidade dos Estados da África Ocidental parece empenhada em implementar o Eco até 2020.

O processo de adopção da moeda única não pode voltar a ser adiado, tendo em conta as vantagens que representa para os países membros da CEDEAO, disse o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, que esta quarta-feira (21.02) presidiu à quinta reunião do Grupo de Trabalho Presidencial, na capital do país, Accra.

"É um objectivo que temos de alcançar", salientou o chefe de Estado. "Temos desafios pela frente no que diz respeito aos critérios de convergência para que a moeda única entre em vigor. Mas continuamos determinados em ter uma moeda única, o que ajudaria a eliminar barreiras comerciais e monetárias, reduzir os custos das transações, impulsionar as atividades económicas e elevar os padrões de vida das nossas populações."

Há vários anos que os líderes da CEDEAO são acusados de falta de empenho quanto à implementação de uma moeda única, tal como aconteceu na União Europeia (UE), com a adopção do euro. O Presidente do Gana quer que o cenário seja invertido.

Nana Akufo-Addo lembriu, porém, que o comércio não pode ter sucesso num ambiente de insegurança. "Os nossos esforços têm de visar também a manutenção da paz, segurança, democracia e boa governação na região, bem como o reforço da cooperação", disse.

Divergências ultrapassadas

Os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais da sub-região estiveram também reunidos para desenvolver a melhor estratégia para evitar problemas quando a moeda for adoptada.

Falando em nome do grupo, o ministro das Finanças do Gana, Ken Ofori Atta, afirmou que os Estados-membros ultrapassaram todas as divergências para garantir que o Eco se torna uma realidade. "O Gana fica numa boa posição, será um grande beneficiário [da moeda única], por isso, há todas as razões para o fazer. Vamos trabalhar muito para implementar a moeda, porque é bom para nós", prometeu.

As economias dos membros da CEDEAO têm passado por dificuldades nos últimos tempos, especialmente depois da epidemia do ébola ter devastado três dos seus países-chave. Na próxima cimeira offcial, os chefes de Estado da CEDEAO vão votar um relatório que pode ser o último passo do plano para a implementação da moeda única.

O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, Allassane Ouattara, da Costa do Marfim, Faure Gnassinbé, do Togo e Issoufou Mahamadou, do Níger, foram alguns dos líderes presentes no encontro em Accra.

Isaac Kaledzi, mjp | Deutsche Welle

CPLP: Porquê o silêncio sobre alguns Estados-membros?


Organização lusófona é uma das poucas que não se pronunciou sobre o impasse político guineense e as violações de direitos humanos pelo regime de Malabo. Especialistas ouvidos pela DW África analisam a situação.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) precisa adotar um mecanismo de concertação de posições mais célere face a situações de crise em alguns dos seus Estados membros. A proposta, em fase de reflexão a nível interno, é da secretária-executiva da organização, Maria do Carmo Silveira, que no último fim de semana disse, em entrevista à agência Lusa, "sentir-se incomodada" com o "silêncio assustador" da CPLP quanto à crise política na Guiné-Bissau e outras questões importantes da instituição.

As opiniões ouvidas pela DW África corroboram com as recentes críticas feitas, em Lisboa, pelo primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, segundo as quais a CPLP podia "ser mais interventiva”, nomeadamente em relação às questões ou conflitos internos dos Estados-membros.

"Muito pouco se faz no plano da concertação política no seio da CPLP", afirma Hélder Gomes, mestre em Estudos Internacionais pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL), a propósito da posição pouco acutilante da organização lusófona em relação ao longo período de crise política por que passa a Guiné-Bissau, considerado um Estado falhado.

Reforma institucional

"Ao contrário de congéneres como a Commonwealth ou a Francofonia, a CPLP não tem a figura de suspensão ou de até expulsão dos Estados-membros. Tem isso aplicado apenas a observadores. Eu acho que a CPLP deveria ter uma posição mais contundente e deveria focar-se eventualmente numa alteração profunda e efetiva dos [seus] estatutos", propõe o especialista.

Hélder Gomes acrescenta que "há um primado dos direitos humanos" que deveria ser respeitado pela organização. "Não se poderia aceitar que as atrocidades que estão a ser cometidas na Guiné-Bissau e que foram motivo para as sanções da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e também a questão da abolição da pena de morte na Guiné Equatorial, não faz sentido que a CPLP, ela própria, não intervenha nesses casos".

"CPLP está a acompanhar a crise guineense"

Embora tardiamente, Hélder Gomes saúda a posição mais contundente agora assumida pela secretária-executiva da CPLP, Maria do Carmo Silveira, "que se tem pautado por uma certa inoperância, lentidão e timidez", por se sentir "esvaziada de poderes efetivos", afetada também, acrescenta, por "ausência de uma autoridade central".

A executiva são-tomense disse à DW África que a instituição, apesar da sua pouca visibilidade, está preocupada com o prolongamento do conflito por muito tempo "e cada vez [com] novos episódios que vêm complicar a situação".

Segundo Maria do Carmo Silveira, "é verdade que no terreno estão outras organizações, nomeadamente a CEDEAO, que tem tido uma intervenção muito mais ativa nesse processo, mas a CPLP também está a acompanhar e, enfim, nós acreditamos que a saída para a crise deve passar pelo respeito do acordo assinado em Conacri".

Assuntos internos de cada Estado

Então, o que explica este silêncio sobre questões tão importantes para a comunidade, nomeadamente a crise política na Guiné-Bissau ou a situação de violação dos direitos humanos na Guiné Equatorial? Nas declarações que faz aos jornalistas, Maria do Carmo tem mantido uma certa prudência quando solicitada a pronunciar-se sobre tal posicionamento, baseando-se no princípio de não ingerência nos assuntos internos de cada Estado-membro, conforme rezam os estatutos.

"Por isso, a CPLP tem estado a adotar um posicionamento muito prudente relativamente a estas questões, mas naturalmente acompanhando de perto e estando disponível para poder apoiar na busca de consensos internos que possam levar à resolução da situação, particularmente a situação na Guiné-Bissau".

Dias antes, em Lisboa, o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, advertiu que os países lusófonos não estão a fazer um "bom uso" da CPLP, devido às suas agendas internas, e avisou que a organização pode deixar de ter interesse nos próximos anos.

Para o escritor e jornalista guineense, Tony Tcheka, no caso guineense, a CPLP "esteve mal e continua a posicionar-se pessimamente". Ele acrescenta que, mesmo havendo falta de mecanismos legais para participar nos esforços com vista a uma solução da crise guineense, a CPLP não deve nem pode andar a reboque.

Para o analista, "depois de tantos anos de existência [da organização], justificar a sua ausência sistemática nos palcos onde os conflitos são tratados é de bradar aos céus". Tcheka lamenta que "ninguém compreende certos posicionamentos pautados por um silêncio ensurdecedor".

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

Moçambique voltou a regredir no Índice de Perceção da Corrupção


País fica na 157ª, atrás de Cabo Verde (51º) e São Tomé e Príncipe (68º). Centro de Integridade Pública vê desempenho com preocupação e adverte que o combate à corrupção está a falhar.

Moçambique regista nova queda no Índice de Perceção da Corrupção, segundo a avaliação feita pela organização não-governamental Transparência Internacional. Para o Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP), estes resultados demonstram que a ação anticorrupção no país não está a produzir efeitos.

Apesar de o país ter permanecido na posição 157ª, alcançada no ano passado, Moçambique piorou sua pontuação, de 27 para 25 (100 pontos país livre de corrupção). Esta é a maior queda do país em dois anos consecutivos, desde que este índice começou a ser produzido e publicado em 1995.

Baltazar Fael, pesquisador do CIP, explicou numa cerimónia realizada nesta quinta-feira (22.02), que a posição varia em função do número de países avaliados, mas o mais importante para medir a perceção do nível de corrupção é o "score", ou seja, a pontuação do país. "O que está a acontecer é que o país de ano para ano vai registando estas quedas porque não há medidas concretas para combater a corrupção ao nível do setor público”, explica.

Ao avaliar a queda no índice, Fael observa que os números transmitem uma imagem negativa de Moçambique para o mundo. "O país acaba ficando-se exposto no sentido de que é um país altamente corrupto, é um país onde não há medidas concretas para combater a corrupção”, ressalta. 

Casos de corrupção não resolvidos

O Centro de Integridade Pública considera que esta acentuada queda não pode estar alheia às matérias relacionadas com as dívidas ilegais contraídas em 2013 e 2014 pelo Governo, feitas sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, e cujos autores ainda não foram responsabilizados.

O impacto destas dívidas acaba por ofuscar qualquer outro tipo de julgamento e condenação de casos de corrupção que o sistema judiciário tramitou em 2017. Além disso, outros casos de corrupção com contornos internacionais ainda não foram julgados.

Baltazar Fael apela a uma reflexão profunda sobre a eficácia da atual forma pela qual os casos de corrupção são julgados, principalmente os da chamada "grande corrupção”. Dentre as possíveis mudanças, ele sugere deixar de lado os trâmites em tribunais. "Uma das medidas que nós pensamos que podem ser tomadas é não se criarem necessariamente tribunais para combater a corrupção, mas criarem-se dentro das secções que já existem unidades específicas (especializadas) para julgar casos de corrupção”, defende.

Comparando com os restantes países africanos de língua portuguesa, Moçambique suplanta, pelo segundo ano consecutivo, apenas Angola (170º) e a Guiné-Bissau (176º). Os países lusófonos melhor posicionados são Cabo Verde (51º), seguido de São Tomé e Príncipe (68º). Apesar da queda, Moçambique está acima de países da sub-região da África Austral como Madagáscar, Zimbabué e República Democrática do Congo.

Como funciona o índice

O índice, que avalia mais de 180 países e territórios segundo os seus níveis de perceção de corrupção no setor público, usa uma escala de zero a 100 pontos, em que zero qualifica um país/território como "altamente corrupto" e 100 um "totalmente livre de corrupção".

Este ano, o índice revela que mais de dois terços dos países têm uma pontuação abaixo de 50, com uma média global de 43. A Nova Zelândia (com 89 em 100) e a Dinamarca (88) continuam nos primeiros lugares.

Ao nível das regiões, a que conseguiu melhor desempenho foi o conjunto de países da Europa Ocidental, com uma pontuação média de 66. As regiões com pior desempenho são a África Subsaariana (pontuação média 32) e a Europa Oriental e Ásia Central (34).

O Índice de Perceção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparência Internacional, é o principal indicador global sobre os níveis de corrupção no setor público de cada país, medidos a partir das perceções de especialistas externos e de organizações internacionais.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Direitos humanos nos PALOP: "Alguns problemas continuam os mesmos"


O relatório anual da Amnistia Internacional aponta violações que continuam a acontecer nos países africanos, apesar de haver alguns sinais de mudança. Angola e Moçambique são destaques no caso dos PALOP.

O último ano em África foi marcado por violentas medidas contra manifestações pacíficas, opositores políticos, defensores dos direitos humanos e organizações da sociedade civil. Isto é o que destaca o relatório "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2017/2018", divulgado pela Amnistia Internacional (AI) esta quinta-feira (22.02).

No âmbito dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), situações de repressão contra os cidadãos também foram registadas, como, por exemplo, durante o período eleitoral em Angola.

Em entrevista à DW África, o diretor da organização em Portugal, Pedro Neto, diz que, no caso angolano, é possível notar mudanças favoráveis aos direitos humanos, principalmente no cenário político, com a mudança do chefe de Estado. Entretanto, a liberdade de expressão ainda é limitada.

Pedro Neto sublinhou também que é preciso, em Moçambique, uma legislação eficaz, que consiga "punir e desincentivar" a cultura da violência contras as mulheres e os albinos.

DW África: Qual é a situação atual dos direitos humanos nos PALOP? Há melhorias em relação ao ano passado?

Pedro Neto (PN): Alguns problemas continuam os mesmos, noutros verificamos algumas melhorias. Por exemplo, no caso de Angola, tivemos o processo eleitoral que levou à substituição do Presidente da República e isso é uma melhoria.

Mas dou-lhe um exemplo da questão da liberdade de expressão: houve um evento que foi uma novidade em Angola, que foi uma conferência de imprensa aberta por parte do Presidente angolano, João Lourenço. Essa conferência não tinha perguntas pré-acordadas. Portanto, os jornalistas puderam colocar as questões que entenderam. No entanto, alguns jornalistas – e alguns até que trabalham para os órgãos de comunicação social com ligação ao Estado – foram intimados devido às questões que fizeram.

DW África: Em Angola, houve várias violações dos direitos humanos durante as eleições gerais do ano passado. Para além de acompanhar estes casos, a AI questionou as autoridades angolanas?

PN: Nós verificamos os acontecimentos. Mas também não era o Governo que tinha que esclarecer, quando muito a Comissão Nacional Eleitoral. No entanto, foram episódios que fomos verificando e testemunhando, portanto, eles são factuais e não necessitam de outra verificação. Não há aqui perguntas a se fazer. De facto, em relação aos últimos anos, aquilo que temos estado a verificar é que existe uma cultura de impunidade.

DW África: Em Moçambique, a violência contra as mulheres e os albinos está em destaque no relatório. O que é preciso para garantir proteção a essas pessoas?

PN: A primeira parte para a mudança é legislar contra a discriminação de género e contra a violência para as pessoas albinas. Esta é a primeira questão: punir e desincentivar através da lei. Em segundo lugar, acompanhar esta mudança de mentalidade que é todos nós temos de olhar para o outro como tão humano quanto eu, e não considerá-lo menos ou mais.

DW África: Por que motivo um país como a Guiné-Bissau, por exemplo, que está numa profunda crise político-institucional, não aparece no relatório?

PN: A AI, infelizmente, é limitada na capacidade dos seus recursos e por isso não fazemos entrada para todos os países do mundo. Não quer dizer que não estamos a acompanhar o caso da Guiné-Bissau e que não façamos investigação também em relação ao que acontece naquele país.

DW África: São Tomé e Príncipe e Cabo Verde também estão ausentes. Porquê?

PN: É a mesma situação. Contudo, parece-me que, comparativamente, a situação na Guiné-Bissau é bastante pior que em Cabo Verde, por exemplo, ou em São Tomé e Príncipe. No entanto, ainda que existem muitos desafios nesses dois países também.

DW África: Também em outros países, como o Quénia e o Ruanda, por exemplo, ocorreram violações dos direitos humanos durante o período eleitoral. Há por parte das autoridades africanas algum esforço para pôr fim a estes episódios?

PN: Oxalá que o trabalho que a AI faz, e também a denúncia e o alarme que demonstra sobre a forma como estas coisas se procedem, que isso venha a influenciar a mudança de comportamento das autoridades. Tivemos uma mudança na liderança política na Gâmbia, tivemos agora também na África do Sul, já em 2018, e que ocorreu de forma pacífica. As pessoas estão a mobilizar-se e a exigir que haja transparência política, que haja eleições justas. E já tivemos alguns casos em alguns países onde, se calhar, há 20 anos isto era impensável poder acontecer.

Thiago Melo | Deutsche Welle

Amnistia Internacional aponta ofensiva legislativa contra direitos humanos no Brasil


Organização destaca que mais de 200 projetos no Congresso ameaçam direitos humanos no país. Para diretora, intervenção no Rio deve ampliar violações e ajudar a promover pauta conservadora.

O Brasil continuou a retroceder em políticas de direitos humanos em 2017, afirmou o relatório anual da Anistia Internacional divulgado nesta quarta-feira (21/02). A entidade destacou que um dos responsáveis foi o Congresso Nacional, que permitiu o avanço da tramitação de "diversas propostas que ameaçavam os direitos humanos e retrocediam adversamente as leis e políticas existentes".

Segundo a ONG, membros do Congresso tentaram avançar com quase "200 propostas de novas leis e modificações da legislação existente" que ferem os direitos humanos. A Anistia destacou propostas para reduzir a maioridade penal de 18 anos, iniciativas para revogar o estatuto do desarmamento e restringir ainda mais o aborto e mudar o processo de demarcação de terras.

Apontou ainda como parte do retrocesso a aprovação da reforma trabalhista e as iniciativas – até agora mal-sucedidas – de modificar as regras da Previdência, promovidas pelo governo do presidente Michel Temer.

A única iniciativa legislativa que mereceu algum elogio foi a nova lei de migração, que passou a vigorar em maio e substituiu o antigo Estatuto do Estrangeiro, criado no regime militar. Segundo a Anistia, a nova lei contém melhoras para os direitos dos migrantes.

"O Congresso se aproveitou de uma situação de crise que funcionou como uma cortina de fumaça para esconder esses ataques aos direitos humanos", disse à DW Brasil Jurema Werneck, diretora-executiva da AI. Ela lembrou que algumas dessas propostas, como a PEC que poderia criminalizar o aborto em qualquer circunstância, acabaram sendo derrotadas após protestos, mas o Congresso ainda deve promover uma agenda conservadora em 2018.

"A intervenção federal de certa forma vai paralisar propostas de emenda constitucional  - que não podem ser votadas enquanto perdurar a intervenção na segurança do Rio -, mas ainda há espaço para projetos de lei que atacam os direitos humanos", disse.

Werneck aponta ainda que o discurso de confronto e endurecimento que vem acompanhando da intervenção no Rio de Janeiro pode ser capturado por vários membros do Congresso para promover projetos na segurança pública. "Essa visão da militarização fortalece a pauta conservadora", disse.

Militares

A entidade também criticou a sanção por Temer, em outubro, da lei que transfere à Justiça Militar a prerrogativa de julgar militares que cometerem crimes contra civis durante operações internas das Forças Armadas. "Esta lei viola o direito a um julgamento justo, uma vez que os tribunais militares no Brasil não oferecem garantia de independência judicial", afirma o relatório.

Com a recente intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, que colocou um general no comando das forças policiais do Estado, o papel dos militares na execução de políticas de proteção pública deve ser um tema dominante em 2018 – assim como os novos limites para investigá-los.

O documento afirma que a lei sancionada por Temer já provoca efeitos nocivos, ilustrando com o exemplo de uma operação conjunta do Exército com a Polícia Civil em São Gonçalo (RJ), em novembro. Na ocasião, sete homens morreram. "Autoridades civis afirmaram não ter competência para investigar as mortes depois que uma nova lei ampliou a competência dos tribunais militares", diz o documento.

Segundo a imprensa brasileira, o Exército abriu uma investigação interna e vem barrando iniciativas do Ministério Público, que convocou os soldados para depor.

Para Werneck, o caso de São Gonçalo é um aviso do que está por vir com a ampliação do papel dos militares na segurança. "Não há transparência. Não há mais investigação efetiva. A experiência da presença dos militares na segurança pública, com a consequente ocupação das periferias não melhorou a situação, mas ampliou a violação dos direitos humanos", disse.

Violência crônica

Segundo a Anistia, as autoridades brasileiras "não adotaram medidas para reduzir a taxa de homicídios, que permaneceu alta para jovens negros." A ONG destacou que o número de homicídios aumentou nas grandes cidades, sobretudo no Nordeste, e que 61.619 pessoas foram mortas em 2016, das quais 4.657 eram mulheres.

"As políticas de segurança pública continuaram a se basear em intervenções policiais altamente militarizadas, motivadas principalmente pela chamada política de 'guerra às drogas'", apontou a Anistia.

Também mereceu destaque no relatório o agora esquecido Plano Nacional de Segurança apresentado pelo ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes em janeiro do ano passado. À época, a proposta recebeu críticas por parecer ter sido elaborada e divulgada às pressas como uma tentativa de abafar o escândalo provocado pelos massacres em presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, que deixaram 125 mortos. 

"O plano deveria se concentrar na redução dos homicídios, no enfrentamento do tráfico de drogas e numa revisão do sistema prisional. Entretanto, um plano detalhado e abrangente jamais foi apresentado ou implementado, e a situação da segurança pública se deteriorou durante o ano", avaliou a Anistia.

Werneck disse considerar escandaloso que o mesmo governo que divulgou um plano incompleto agora anuncie a intervenção no Rio. "Estamos aguardando até hoje os detalhes desse plano apresentando no ano passado. Agora, o mesmo governo finge que ele nunca existiu e vem com essa mágica da intervenção. Nunca apresentaram soluções adequadas e agora recorrem à militarização", concluiu. 

Sistema prisional

"O sistema prisional continuou superlotado e os presos eram mantidos em condições degradantes e desumanas", apontou a organização, que destacou que 40% dos 727 mil presos do Brasil ainda aguardam julgamento.

A ONG ainda destacou a situação das prisões do Rio de Janeiro, estado que vive uma grave crise financeira, e as consequências para os presos. "As condições prisionais desumanas foram ainda mais degradadas pela crise financeira, pondo em risco o abastecimento de comida, água e medicamentos para mais de 50.800 presos. A tuberculose e as doenças de pele atingiram proporções epidêmicas nas prisões do estado."

O relatório ainda cita o caso de um homem que morreu após passar um dia e uma noite numa cela improvisada semelhante a uma gaiola numa delegacia em Barra do Corda, no Maranhão. O caso ocorreu em outubro. A vítima era um comerciante de 40 anos que havia sido detido por dirigir embriagado e se envolver num acidente.

"A cela não tinha qualquer proteção contra o sol ou temperaturas excessivamente altas, deixando os detidos vulneráveis à desidratação e outras consequências perigosas da exposição ao calor."

LGBTI

Entre outras violações de direitos humanos no Brasil, a Anistia ainda apontou a violência cometida contra pessoas LGBTI. Segundo dados compilados pelo Grupo Gay da Bahia, 277 pessoas LGBTI foram assassinadas no Brasil entre 1º de janeiro e 20 de setembro. De acordo com a Anistia, é o maior número registrado desde que o grupo começou a compilar esses dados, em 1980.

Ainda no tema sobre sexualidade, a Anistia citou a autorização concedida em setembro por um juiz federal do Distrito Federal que permitiu a psicólogos aplicar "terapias de conversão" com o objetivo de modificar a orientação sexual de pacientes.

Segundo a Anistia, "a decisão ignorou uma resolução do Conselho Federal de Psicologia confirmando que psicólogos não podem exercer qualquer atividade de patologização da homossexualidade" e "contribuiu para aumentar o estigma e a violência sofridos pela população LGBTI". Em dezembro, o mesmo juiz alterou a decisão. Ela continua a autorizar os tratamentos, mas proibiu a propaganda de terapias. O Conselho Federal de Psicologia ainda tenta derrubar a decisão.

Jean-Philip Struck | Deutsche Welle

Não há crise humanitária na Venezuela, diz especialista em direitos humanos da ONU


Segundo Alfred de Zayas, comunidade internacional deve trabalhar em solidariedade à Venezuela para suspender as sanções, "pois são essas que pioram a escassez de alimentos e remédios"

"Comparei as estatísticas da Venezuela com a de outros países e não há crise humanitária. É claro que há escassez, mas quem trabalhou por décadas para as Nações Unidas e conhece a situação de países da Ásia, África e alguns da América, sabe que a situação na Venezuela não é uma crise humanitária ", disse Zayas, em uma entrevista nesta terça-feira (20/02) a um programa da emissora multiestatal teleSUR.

O especialista esteve na Venezuela no final do ano passado e participou de reuniões com funcionários do governo, vítimas de violações de direitos humanos e da violência das chamadas "guarimbas" (protestos violentos da oposição) a fim de conhecer a situação política, econômica e social do país. Em março, deve apresentar seu relatório às Nações Unidas.

Ele explicou que, embora muitos pensem que o país está à beira de um desastre, como mostram os meios de comunicação do exterior, "a Venezuela sofre uma guerra econômica, um bloqueio financeiro, sofre um alto nível de contrabando e, claro, necessita de solidariedade internacional para resolver esses problemas".

Zayas ainda acredita que a comunidade internacional deve trabalhar em solidariedade à Venezuela para suspender as sanções, "pois são essas que pioram a escassez de alimentos e remédios". "É insuportável pensar que, tendo uma crise de malária na Amazônia venezuelana, a Colômbia bloqueou a venda de medicamentos e a Venezuela teve que importá-los da Índia", disse.

O especialista afirma que o discurso atual de crise humanitária por parte de porta-vozes dos EUA, além de não ser válido, somente visa à troca de governo na Venezuela, e que "desde 1999, uma série de Estados querem a troca de regime na Venezuela, esse desejo de destruir a Revolução Bolivariana e revogar todas as leis sociais adotadas nos mandatos de [Hugo] Chávez e [Nicolás] Maduro".

"É como se eu não tivesse visitado a Venezuela"

Zayas denunciou a ausência de notícias sobre sua visita à Venezuela nos meios de comunicação dominantes que, segundo ele, não estão interessados em disseminar uma imagem completa da situação do país.

O especialista contou à TeleSur que o comum, sendo ele um antigo funcionário das Nações Unidas, secretário do comitê de Direitos Humanos e chefe do departamento de reclamações do Alto Comissionado da ONU, seria que meios como BBC e The New York Timespublicassem suas declarações quando ele se pronunciasse sobre algum tema.

"No caso da Venezuela, tanto a CNN como a BBC me ignoraram, é como se eu não tivesse visitado a Venezuela", o que ele qualifica como manipulação pública, acrescentando que apenas teleSUR e Sputinik o entrevistaram.

O historiador norte-americano também apontou que certas organizações ditas não governamentais, "mas cujas lealdades são duvidosas", não querem especialistas independentes, "desejam especialistas que venham ao país para condenar, por isso quando me nomearam, disseram que eu não era o relator pertinente para falar da Venezuela".

"Recebi cartas com insultos ao anunciar visita à Venezuela"

O escritório das Nações Unidas recebeu cartas do exterior com reclamações sobre a visita de Zayas à Venezuela, nas quais se exigia quais pontos deveriam ser investigados. "Considerei isso uma ingerência à minha independência, eu sou o relator, eu determino meu programa, eu sei qual informação é pertinente para meu relatório, no entanto, não quero que o relatório seja ditado para mim e algumas organizações não governamentais me sugeriram de forma pouco cortês, com cartas com insultos, dizendo o que eu tinha que fazer quando estivesse na Venezuela"

Para elaborar o relatório sobre a situação da Venzuela, Zayas viajou para visitar setores da oposição, Fedecamaras, a sociedade civil e Igreja. Falou com 16 ministros do governo, visitou as Missões Sociais e supermercados, "não para ter uma impressão completa em oito dias, mas de boa fé sobre a situação". 

Ele constatou que existem problemas de abastecimento, de distribuição de alimentos e medicamentos, porém o mais grave são as sanções e a guerra econômica pois prejudicam o comércio de remédios e comida subsidiados na fronteira com a Colômbia.

teleSUR | Caracas - 21/02/2018 | em Opera Mundi

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A EUROPA DANÇA AO RITMO DOS EUA


NATO cria Schengen militar e lança missão no Iraque

Alex Gorka [*]

reunião dos chefes de defesa da NATO em 14-15 de Fevereiro foi dedicada sobretudo a partilhar o fardo da defesa e outras questões discutidas rotineiramente nesses eventos. Como de hábito, houve discursos pomposos com significado opaco a fim de deixar os ouvintes meditativos acerca do que realmente está por trás daquelas lindas palavras. Na realidade, a aliança tomou duas decisões de extremo alcance que dão uma pista acerca dos seus planos para o futuro próximo.

Os ministros disseram sim à criação do Schengen militar a fim de facilitar movimentos de forças através do Velho Continente. A NATO vai abolir os enfadonhos e morosos procedimentos burocráticos que atrasam o transporte de tropas e equipamento através dos territórios dos estados membros. Uma das soluções é um formulário padronizado utilizado pelos aliados europeus e estados parceiros a fim de permitir tais movimentos. A Alemanha ofereceu-se para abrigar o centro de comando destinado a implementar o conceito de zona de trânsito livre tendo em vista a sua vasta experiência em apoio logístico.

Não se trata apenas de rotina burocrática. Uma coisa leva à outra. O Schengen militar inevitavelmente resultará em despesa adicional para adaptar as infraestruturas civis às necessidades militares, com a ampliação de estradas, túneis e pontes a fim de permitir movimentos de equipamentos e aterragens de aviões pesados.

A decisão foi tomada em meio a preparativos intensos para reforçar infraestruturas militares próximas às fronteiras da Rússia. O facto de com a assinatura do NATO-Russia Funding Act, em 1997, o bloco se ter comprometido a não instalar forças terrestres "substanciais" em bases permanentes próximas da Rússia agora parece ser ignorado ou esquecido. Com a invalidação daquele documento, o relacionamento militar bilateral ficará destituído de qualquer base legal.

Para aumentar as forças na Europa do Leste, no Mar Negro, no Báltico e na Península Escandinava o bloco precisa de novos centros logísticos . Movimentos de transporte em grande escala e sem obstrução tornaram-se a prioridade de topo para a implementação dos planos de guerra, tais como a concentração de stocks para uma brigada completa dos EUA pronta para combate na Polónia. Assim, a aliança está a limpar os obstáculos que prejudicam a sua capacidade de promover rapidamente a presença e a concentração de forças para um ataque.

Os ministros anunciaram outra importante decisão utilizando eufemismos a fim de ocultar a sua essência. A NATO concordou em lançar uma missão de assistência e treino no Iraque, "estabelecendo academias militares e escolas especializadas". Segundo o seu secretário-geral , Jens Stoltenberg, as prioridades da aliança "no Sul" incluem melhorar a capacidade para reagir a futuras crises na região, incluindo o reforço do planeamento e de exercícios". Assim, não se trata de uma pura missão de treino mas ao invés de um compromisso para juntar-se à campanha dos EUA destinada a reverter a influência do Irão. Os EUA cortam as suas forças no Iraque movendo-as para o Afeganistão, onde a situação está a piorar e a NATO vai exactamente para ali a fim de preencher a lacuna, sob o pretexto de treino e reforço de ajuda militar. Com presença militar, a qual vai a par com missões de treino, a aliança procura impedir o Iraque de cair dentro da órbita do Irão e também reduz a influência russa naquele país. O Iraque é demasiado importante para deixar de ser pró Ocidente.

A NATO também está a prestar aos EUA uma ajuda amistosa na Síria, o país que Washington considera como um campo de batalha na campanha para repelir o Irão. O presidente francês, Macron, acaba de ameaçaratacar a Síria se a informação acerca da utilização de armas químicas pelo seu governo for confirmada. Os EUA tornaram claro que não têm planos para abandonar ou mesmo reduzir a sua presença na Síria após a derrota do Estado Islâmico. Permanecerão indefinidamente. O objectivo é conter a ameaça do Irão . A América silenciosamente lançou o processo de construção de uma nação nos territórios sírios sob o seu controle.

A reunião dos ministros daquela organização multinacional exprimiu a sua prontidão para dançar ao ritmo dos EUA, confirmando o seu compromisso de aumentar as despesas com defesa para 2% do PIB, acelerar o fortalecimento militar na Europa, incluindo a criação de mais dois comandos, e juntar-se aos EUA na campanha anti-Irão numa tentativa de refazer o mundo à sua própria imagem. Assim, temos a mesma velha canção e a mesma dança, pois a aliança militar permanece em pleno modo de preparação para o combate. 

19/Fevereiro/2018

[*] Analista de defesa e diplomático, russo.

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Portugal | POLUIÇÃO SEM PREÇO


Vítor Santos | Jornal de Notícias | opinião

Ainda estamos à espera que nos digam quem e com que dimensão poluiu, mas já sabemos que o Estado vai desembolsar 1,2 milhões de euros para remover efluentes do rio Tejo. A verba será liquidada pelo Fundo Ambiental, anunciou ontem o ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes. É pagar primeiro e responsabilizar depois.

Importa dizer que faz sentido alocar rapidamente meios financeiros para resolver este grave problema ambiental, conhecido a 24 de janeiro, dia em que o rio acordou coberto por um manto de espuma. Mas é difícil entender por que razão, um mês depois, conhecemos várias análises, mas continuamos num vazio de notícias sobre as que, com dificuldade, foram efetuadas à empresa de celulose Celtejo. A explicação encontra-se no facto de o Ministério Público ter colocado o processo em segredo de justiça, a 9 de fevereiro.

Independentemente de, como afirmei, ser imperioso iniciar rapidamente a reparação dos danos no Tejo, o desconhecimento total no que concerne ao poluidor indica bem a forma como são geridos os dinheiros públicos. Sem um pingo de transparência, muitas vezes. Sabemos que alguém vai pagar. Nesta primeira fase, pagamos todos, nós, os contribuintes. Esperemos que, depois de serem conhecidos todos os resultados, a fatura não se perca no meio de processos que se arrastam anos a fio nos tribunais. Isto quando, ainda por cima, a gravidade do caso não se limita aos milhões que o Estado vai gastar. Estamos, também, perante um problema de saúde pública.

Mais coragem, de resto, teve, por exemplo, o Movimento Pescadores pelo Tejo, que, sem se preocupar com segredos, tirou as próprias conclusões e avançou rapidamente com uma queixa no Tribunal Europeu, contra a Celtejo e o Estado Português, exigindo uma indemnização no valor de 100 milhões de euros, por perdas resultantes da poluição.

Sem sinais de criminalização dos responsáveis, resta-nos ter paciência e, sobretudo, esperança. Muita. Porque no nosso país, em matéria de poluição, o mais comum é vermos os prevaricadores escaparem por entre os pingos da chuva. Ficamos quase sempre sem perceber quem são, pairando um sentimento de impunidade mais próprio de um país do Terceiro Mundo.

*Editor-executivo-adjunto

PORTUGAL | Repressão patronal nos CTT em véspera de greve nacional

A um dia da manifestação e da greve nacional dos trabalhadores dos CTT, a administração da empresa está a pressioná-los para que não participem no protesto e diz que os 800 despedimentos previstos não tem nada a ver com as relações laborais.

De acordo com o ECO, o próprio presidente executivo Francisco Lacerda terá enviado uma carta aos trabalhadores da empresa, a que se juntou uma comunicação interna de um dos administradores dirigida aos trabalhadores do atendimento – cuja adesão à greve poderá ser mais visível.

No documento, António Pedro Silva acusa as estruturas representativas dos trabalhadores de terem convocado o protesto animadas por motivações «políticas» e «ideológicas», que «nada têm a ver com as relações de trabalho na empresa». Ou seja, a administração dos Correios, a poucas horas do início da greve, está a tentar convencer os trabalhadores que os 800 despedimentos previstos no plano de reestruturação não têm nada a ver com relações laborais.

Apesar de a administração dos CTT falar de sustentabilidade e do futuro da empresa, pelo que o ECO publicou, não há uma palavra sobre as intenções de despedimento ou para os muitos trabalhadores com vínculos precários na empresa. O plano de reestruturação, divulgado no início do ano, implica o encerramento de 22 lojas e a saída de 800 trabalhadores.

A greve nacional foi convocada pelos sindicatos e pela comissão de trabalhadores dos Correios, numa frente sindical muito ampla. Para o início da tarde está convocada uma manifestação, com início no Marquês de Pombal, em Lisboa.


Foto: O presidente executivo dos CTT, Francisco Lacerda, na audição do conselho de administração dos CTT sobre a situação da empresa na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, realizada na Assembleia da República, em Lisboa. 31 de Janeiro de 2018 | Créditos João Relvas / Agência LUSA

RUI RIO | Um líder de transição


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

O futuro não augura nada de bom para Rui Rio e, para tornar tudo pior, Rio fez as piores escolhas possíveis, como é o caso de Elina Fraga - figura contestada por muitos, odiada pelos órfãos de Passos Coelho e até alvo de investigação por parte da justiça.

Por outro lado, Luís Montenegro não foi a eleições, mas estará na linha da frente de sucessão. Até lá dedicar-se-á à família e à profissão. Montenegro não quis ser líder do partido num contexto particularmente difícil, designadamente com o sucesso da esquerda e com o consequente esvaziamento do discurso neoliberal do seu partido. Era necessário um líder de transição e Montenegro não estava disposto a desempenhar esse papel. Depois, se esta solução governativa se esgotar, voltará a estar disponível a candidatar-se, pelo país e pelo partido. claro está.

O congresso do fim-de-semana passado foi paradigmático da desunião que se vive no partido, fruto do facto de estarem longe do poder e sem perspectivas de o recuperar. Paralelamente, Rui Rio não agrada a uma parte substancial do partido, os mesmos que choram o desaparecimento do pai Passos Coelho e que depositaram as suas esperanças em Pedro Santana Lopes. Rio nunca terá a vida facilitada no partido, muito menos com figuras polémicas do seu lado.

O partido necessitava de um líder de transição. Rio Rui, de forma deliberada ou nem tanto, presta-se a tal figura.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Mais recente em Triunfo da Razão

DONALD TRUMP | O SUJEITO É LOUCO, SÓ PODE SER


Quinta-feira e parece primavera. As alterações climáticas, as quatro estações do ano perfeitamente definidas acabou. Estamos em Fevereiro e em Portugal o frio era característica permanente. E chovia a potes. O sol encolhia-se por entre as nuvens. Em Fevereiro era inverno e já muitos ansiavam pela primavera porque as frieiras lhes roíam a pele. Tudo isso já lá vai. Temperaturas mínimas de 2 e 3 graus, em Lisboa, eram frequentes e comuns em Janeiro e Fevereiro, às vezes até meados de Março. Agora nem pensar, a não ser num ou noutro dia. Isto anda tudo diferente, para pior. Para diferente no anúncio de que a natureza e as condições climatéricas reagem aos abusos da sociedade dos humanos e que vamos pagar uma fatura elevadíssima no futuro. Aliás, fatura que já estamos a pagar. Cá se fazem, cá se pagam. Urge reverter os nossos comportamentos nas agressões massivas ao ambiente, à natureza.

Bom dia, esta é a entrada do PG a antecipar o Expresso Curto. Pedro Santos Guerreiro, diretor do burgo Balsemão naquele nicho, é quem o serve.

Na abertura vai direto a Donald Trump. Ele sugere armar os professores e funcionários escolares para evitar massacres. Ou seja: Trump quer que o consumo de armas aumente para as instalar nas escolas. Quantos milhões lhe prometeram de “luvas” da indústria do armamento por esta ideia expansiva dos previsto lucros é que não se sabe. Por aqui se vê quanto não vale como presidente e ser humano aquele trambolho da humanidade. Era uma obra piedosa, para os EUA e para o mundo, legalmente declararem Donald Trump inapto para o cargo que exerce. O sujeito é louco, só pode ser.

Entretanto, na abordagem deste Curto de hoje queremos destacar o Curto de ontem, que não transcrevemos por acaso. Ontem o Curto foi servido por Cristina Peres. Título: “Síria: o massacre do século XXI está a acontecer”.

Vá ler, se tiver curiosidade ou interesse pelo assunto e pelo que escreve a jornalista.
Nesta primavera anormal, neste clima absolutamente alterado e que nos faz entender muito bem porque até em Portugal a seca severa se instalou, tenha mesmo assim um bom resto de dia. Se não conseguir que seja realmente bom… Olhe, que o passe o melhor possível.

Até amanhã. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Pedro Santos Guerreiro | Expresso | opinião

Ele disse mesmo isto?! Sim, disse

Pois disse, não é erro, não há um erre a mais na palavra, Donald Trump não admite amar professores, “admite armar professores”. E não, não foi uma frase no meio de nada, foi mais de um minuto a falar sobre o assunto, em que o Presidente dos Estados Unidos precisou de levar uma cábula (apanhada pelo fotógrafos) para dizer a pais que perderam os filhos coisas como “eu ouço-vos”.

Mas o Presidente norte-americano não só ouviu, também falou. E falou numa sala com sobreviventes e familiares do tiroteio de há uma semana na escola secundária de Stoneman Douglas, em Parkland (Florida), onde Nikolas Cruz, um ex-aluno de 19 anos, entrou e disparou a eito. Morreram 17 pessoas.

“Se tivessem um professor armado, ele poderia acabar com o ataque muito depressa”, disse Trump, afirmando que as escolas poderiam armar 20% dos professores para travar “maníacos” que tentem atacá-los.

“Se o treinador tivesse uma arma no cacifo, não teriam de ter fugido, ele teria disparado sobre o atirador e seria o fim de tudo aquilo”, afirmou o presidente. “Para um maníaco - e porque todos eles são um cobardes - uma zona livre de armas é o mesmo que dizer ‘vamos lá atacá-los porque não vão disparar de volta’… [Dar armas a professores] é certamente algo que vai ser discutido”, garantiu. Trump pediu que quem concordava com a solução erguesse as mãos. Alguns levantaram. Outros não.

“Quantas crianças têm de ser baleadas?”, perguntou ao Presidente um pai de uma rapariga de 18 anos que foi assassinada. Um grupo de alunos juntara-se em frente à Casa Branca para protestar, exigindo que sejam tomadas medidas para controlar o uso de armas.

New York Times mostra como a NRA, organização que faz lóbi pelo uso de armas, tem canais nas redes sociais altamente virais. E o Vox analisa dados que mostram a dimensão do problema americano, num trabalho assinado por um jornalista que escolhe o seguinte título para o seu artigo: “Eu faço a cobertura violência com armas há anos. As soluções não são um grande mistério”.

A Amnistia Internacional culpa Trump por um retrocesso mundial nos recursos humanos (no El Pais).

OUTRAS NOTÍCIAS

O novo secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, já tomou a palavra no Parlamento para apresentar as prioridades do partido agora liderado por Rui Rio, como as "políticas amigas da família", o cuidado dos idosos ou a aposta no SNS. É o começo da era Rio na Assembleia da República, em que o PS saúda o diálogo e o PCP teme “convergências” com socialistas.

Fernando Negrão vai hoje a votos como candidato único à liderança parlamentar do PSD, recusando colocar qualquer fasquia para assumir o cargo.

Consensos entre Costa e Rio? Os analistas consideram que há espaço para tal na descentralização e nos fundos europeus, não nas áreas da Justiça, Segurança Social, Educação e Saúde. Mas (ainda) só há consenso na urgência do debate.

“Conheço-os bem. Nada me surpreende”, afirmou ontem o Presidente da República, referindo-se aos líderes partidários, durante a visita oficial a São Tomé e Príncipe.

Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu a responsabilidade portuguesa numa ferida aberta do colonialismo, o massacre de Batepá: a 3 de fevereiro de 1953, o então governador de Lobata mandou esmagar um protesto de trabalhadores negros que reclamavam melhor salário. Centenas de pessoas morreram.

Com Rui Rio no PSD, retoma-se a “normalidade democrática”, mas isso “não quer dizer que vamos morar para a casa uns dos outros”, diz o ministro-adjunto Pedro Siza Vieira, em entrevista à Renascença e ao Público. O governante afirma que “não há razão para por em causa” os acordos de esquerda e, prosseguindo a sua metáfora imobiliária, compara as relações do governo com os demais partidos com reuniões de condomínio.

(Há três dias, Rui Sá, que esteve dez anos como vereador da Câmara do Porto pela CDU tendo Rui Rio como presidente, escrevia sobre “O Rui Rio que eu conheço”, descrevendo-o como “um fanático da organização e do método”, “mas não pensem que Rio é um estudioso de dossiês. Não. Conhece-os pela rama.”; “é um interlocutor de confiança” que se move “por convicções” e “por ódios de estimação”, que não muda de direção e “adora a sua imagem”).

O Parlamento aprovou por unanimidade audições sobre o negócio TVI/Altice, que está ainda sob aprovação dos reguladores. Administrações e direções de informação das televisões serão ouvidas, assim como ministro da Cultura. Entretanto, o projeto do Bloco de Esquerda para nacionalizar as redes geridas pela PT/Altice será discutido a 16 de março.

O descongelamento ainda não chegou ao bolso da função pública, noticia o DN. A maioria dos que vão progredir na carreira não recebe ainda mais dinheiro este mês. Os sindicatos receiam atrasos.

2017 foi ano recorde de turistas estrangeiros em Portugal – e esse recorde representou um ganho de 15,2 mil milhões de euros para as contas do país, escreve o Público, a partir de dados do Banco de Portugal.

Este crescimento acontece também por causa da forte promoção do Turismo de Portugal, que é o maior anunciante nacional em plataformas, aplicações e sites internacionais. Esta semana, o Turismo de Portugal assinou com a OMG Portugal um novo contrato para planeamento e compra da campanha de publicidade digital: mais 10 milhões de euros, valor idêntico ao investido no ano passado.

CEO da Ryanair arrasa tudo: ANA e TAP “conspiram”, constrangimento aéreo é “treta” e não ameacem com “greves tontas”. Michael O’Leary fala em “constrangimentos artificiais” para o “atraso” na abertura do aeroporto complementar ao Humberto Delgado e, em declarações ao Expresso, diz que tal “atraso” “só serve para duas coisas – para benefício da ANA, para que possa aumentar as taxas aeroportuárias na Portela, e para o benefício da TAP, para que não tenha muita concorrência em Lisboa”. E aos tripulantes da TAP, deixa um recado: “Não nos ameacem com greves tontas”.

O Novo Banco está a estudar uma mudança de imagem, escreve o Público.

Nuno Mota Pinto pagou dívida nas vésperas de saber-se que ia liderar o Montepio. O gestor, cuja nomeação ainda aguarda aprovação do Banco de Portugal, estava da lista de devedores do supervisor, por causa de uma dívida de 80 mil euros em atraso ao Novo Banco.

A administração dos CTT está a enviar cartas aos trabalhadores tentando desmobilizá-los da greve marcada para sexta-feira. O Eco revela o conteúdo das missivas, onde se lê que a “greve tem motivos exclusivamente políticos e ideológicos”.

Na Autoeuropa, a integração de 250 operários desbloqueia acordo salarial. Os salários sobem 3,2%, com retroativos a outubro, escreve o DN.

“Joaquim Coimbra perde tudo e vive com pensão de 3.816 euros”, escreve o Negócios. O empresário farmacêutico que construiu um império com a Labesfal e a Jaba, foi acionista dos falidos BPN e BPP e integrou os órgãos do PSD, quer entregar todo o seu património aos credores: tem dívidas de 137,4 milhões de euros.

Incêndios. Como o Expresso noticiou no sábado, as autarquias dizem não ter meios para garantir que a limpeza de todos os terrenos esteja concluída na data prevista. O governo garante que punirá as autarquias que não cumprirem o prazo. (Recorde-se que a limpeza dos terrenos nas freguesias de primeira prioridade tem de estar concluída até 15 de março. E todas, incluindo as de segunda prioridade, tem como prazo final 31 de maio - o JN mostra quais). Entretanto, o executivo lançou uma campanha junto dos particulares, que está a levantar dúvidas, em panfletos e num vídeo que diz que os proprietários têm de cortar árvores 50 metros à volta das casas e 100 metros à volta das aldeias, mas a lei não obriga ao corte do arvoredo.

O Público escreve em manchete que os helicópteros Kamov só podem voar se tiverem peças novas. Na entrevista à Renascença e ao Público, Pedro Siza Vieira garante que haverá mais meios aéreos para combater incêndios.

O Governo decidiu investir 2,5 milhões na plantação de folhosas em redor de aldeias do Pinhal Interior, explica o Negócios.

A Critical Software vai abrir quatro centros de engenharia no Interior para contrariar abandono, em Évora, Tomar, Vila Real e Viseu, noticia o DN. Serão contratados pelo menos 60 engenheiros de 'software'.

Já estão definidos os critérios para indemnizar os feridos graves dos incêndios de outubro de 2017.

O governo lançou um programa de €10 milhões para aplicar a inteligência artificial nos serviços públicos. Pormenores aqui.

O FC Porto foi proibido de revelar emails do Benfica. É uma vitória jurídica do clube da Luz, depois de uma primeira decisão em seu desfavor. Agora, numa decisão revelada pelo Jornal de Notícias, que hoje faz manchete com a notícia, o Tribunal da Relação do Porto deu razão ao recurso do procedimento cautelar do Benfica. Há cerca de um ano que Francisco J. Marques vem revelando no Porto Canal vários emails.

Ontem o FC Porto ganhou 3-1 ao Estoril, na conclusão de um jogo que havia sido interrompido há mais de um mês por razões de segurança. A crónica da Tribuna Expresso sobre um jogo em que “os dragões foram avassaladores” pode ser lida aqui. A contra-crónica “com ligação emocional a Marega”, do Lá Em Casa Mando Eu, está aqui.

A Polícia Judiciária está a investigar a vida financeira de Bruno de Carvalho. O levantamento do sigilo bancário acontece por suspeitas de recebimento de luvas em transferências de jogadores. Quem quer estar informado pode ler a notícia na edição impressa do Correio da Manhã.

O que leva um jovem com dinheiro, talento e carreira internacional a envolver-se em complicações com armas, acusações de sequestro e atribulações afins? Na Tribuna Expresso contamos-lhe a complicada história de Rúben Semedo, detido esta semana pela polícia espanhola.

Voltando aos Estados Unidos: Jerome Powell deverá estrear-secomo novo presidente da Reserva Federal (Fed), o mais importante banco central do mundo, com uma subida das taxas de juro já em março.

Paga contas usando débito direto? Então tenha atenção a estes conselhos da SIC Notícias.

FRASES

“Podem enganar-se os que vaticinam o fracasso de Rui Rio nos próximos confrontos eleitorais”. Daniel Proença de Carvalho, no DN.

“O programa de Rui Rio não é diferente do que tinha Passos Coelho. O PSD está refém da política da austeridade e a definhar.” Pedro Filipe Soares, no DN.

“Elina Fraga? Todos os líderes do PSD têm o Miguel Relvas que merecem”. Pedro Sousa Carvalho, no Eco.

“80 a 90 dias [no alojamento local] chegam para superar os ganhos com um ano inteiro de arrendamento permanente”, João Queirós, investigador e professor universitário, ouvido ontem no Parlamento no Grupo de Trabalho para revisão da lei do alojamento local e citado no Negócios.

“Sempre que o PSD desafiou o PS a sentar-se à mesa, a resposta de Costa foi um rotundo não”. Luís Campos Ferreira, no Correio da Manhã.

O QUE EU ANDO A LER

Vários artigos sobre o que as pessoas fazem nas redes sociais, das redes sociais - e também do que as redes sociais fazem das pessoas.

Por exemplo: há uma semana um hotel de luxo em Dublin recusou publicamente uma “borla” cravada por uma “influenciadora”, num caso aqui relatado pelo The Independent que “incendiou as redes sociais” (tudo “incendeia” as redes sociais, normalmente por um par de horas depois do “incêndio” anterior e antes do “incêndio” seguinte).

“Influenciadores” são pessoas que fazem negócio a partir das suas redes alargadas de seguidores, promovendo roupa, perfumes, hotéis, restaurantes que lhes pagam ou oferecem produtos ou serviços para tal.

No Medium, Elinor Cohen (num artigo que talvez tenha “incendiado” as redes sociais) escreve que “é altura de enfrentar o elefante na sala: os influenciadores não influenciam realmente ninguém!”, são só pessoas com… muitos seguidores, enquanto os verdadeiros líderes de opinião são pessoas de conhecimento.

Mas é um bom negócio para os influenciadores. Um estudo publicado no "Influencer Marketing Hub", e citado pelo JN, revela valores recebidos por vários “influenciadores”. Sara Carbonero, que vive com Iker Casilhas no Porto, chega a receber cerca de 3.200 euros por cada publicação. Cristiano Ronaldo pode receber… 324 mil euros!

E pronto, tenha um excelente dia. Agora que acabou de ler o Expresso Curto, pode passar para o Expresso Longo, que o Henrique Monteiro serve todas as semanas em forma de textos imperdíveis. Como este. Seja como for, continue por aqui connosco.

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