País fica na 157ª, atrás de Cabo
Verde (51º) e São Tomé e Príncipe (68º). Centro de Integridade Pública vê
desempenho com preocupação e adverte que o combate à corrupção está a falhar.
Moçambique regista nova queda no
Índice de Perceção da Corrupção, segundo a avaliação feita pela organização
não-governamental Transparência Internacional. Para o Centro de Integridade
Pública de Moçambique (CIP), estes resultados demonstram que a ação anticorrupção
no país não está a produzir efeitos.
Apesar de o país ter permanecido
na posição 157ª, alcançada no ano passado, Moçambique piorou sua pontuação, de
27 para 25 (100 pontos país livre de corrupção). Esta é a maior queda do país
em dois anos consecutivos, desde que este índice começou a ser produzido e
publicado em 1995.
Baltazar Fael, pesquisador do
CIP, explicou numa cerimónia realizada nesta quinta-feira (22.02), que a
posição varia em função do número de países avaliados, mas o mais importante para
medir a perceção do nível de corrupção é o "score", ou seja, a
pontuação do país. "O que está a acontecer é que o país de ano para ano
vai registando estas quedas porque não há medidas concretas para combater a
corrupção ao nível do setor público”, explica.
Ao avaliar a queda no índice,
Fael observa que os números transmitem uma imagem negativa de Moçambique
para o mundo. "O país acaba ficando-se exposto no sentido de que é um país
altamente corrupto, é um país onde não há medidas concretas para combater a
corrupção”, ressalta.
Casos de corrupção não resolvidos
O Centro de Integridade Pública
considera que esta acentuada queda não pode estar alheia às matérias
relacionadas com as dívidas ilegais contraídas em 2013 e 2014 pelo Governo,
feitas sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, e cujos
autores ainda não foram responsabilizados.
O impacto destas dívidas acaba
por ofuscar qualquer outro tipo de julgamento e condenação de casos de
corrupção que o sistema judiciário tramitou em 2017. Além disso, outros casos
de corrupção com contornos internacionais ainda não foram julgados.
Baltazar Fael apela a uma
reflexão profunda sobre a eficácia da atual forma pela qual os casos de
corrupção são julgados, principalmente os da chamada "grande corrupção”.
Dentre as possíveis mudanças, ele sugere deixar de lado os trâmites em tribunais.
"Uma das medidas que nós pensamos que podem ser tomadas é não se criarem
necessariamente tribunais para combater a corrupção, mas criarem-se dentro das
secções que já existem unidades específicas (especializadas) para julgar casos
de corrupção”, defende.
Comparando com os restantes
países africanos de língua portuguesa, Moçambique suplanta, pelo segundo ano
consecutivo, apenas Angola (170º) e a Guiné-Bissau (176º). Os países lusófonos
melhor posicionados são Cabo Verde (51º), seguido de São Tomé e Príncipe (68º).
Apesar da queda, Moçambique está acima de países da sub-região da África
Austral como Madagáscar, Zimbabué e República Democrática do Congo.
Como funciona o índice
O índice, que avalia mais de 180
países e territórios segundo os seus níveis de perceção de corrupção no setor
público, usa uma escala de zero a 100 pontos, em que zero qualifica um
país/território como "altamente corrupto" e 100 um "totalmente
livre de corrupção".
Este ano, o índice revela que
mais de dois terços dos países têm uma pontuação abaixo de 50, com uma média
global de 43. A Nova Zelândia (com 89 em 100) e a Dinamarca (88) continuam nos
primeiros lugares.
Ao nível das regiões, a que
conseguiu melhor desempenho foi o conjunto de países da Europa Ocidental, com
uma pontuação média de 66. As regiões com pior desempenho são a África
Subsaariana (pontuação média 32) e a Europa Oriental e Ásia Central (34).
O Índice de Perceção da
Corrupção, publicado anualmente pela Transparência Internacional, é o principal
indicador global sobre os níveis de corrupção no setor público de cada país,
medidos a partir das perceções de especialistas externos e de organizações
internacionais.
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche
Welle
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