domingo, 4 de março de 2018

Objetivo anglo sionista – A divisão da Síria e a materialização do Plano Yinon


O principal objetivo da agressão Imperial dos Estados Unidos, Europa e sionismo israelense contra a Síria é consolidar e realizar o plano Yinon. Isto consiste na balcanização do Oriente Médio, na criação de micro-Estados, enfraquecendo os atuais países árabes e garantindo a sobrevivência do estado de Israel.

O último apoiado pelos textos sagrados do judaísmo e na terra prometida que Deus daria aos judeus, é justificado e diz que metade do Oriente Médio, por direito divino, pertence a Israel, assim invade e coloniza seus países vizinhos, uma amostra clara do fanatismo  religioso misturado com a política.

No início, eles pensaram em criar a grande Israel que ocuparia o território do Nilo até o Eufrates (do Egito ao Iraque). Todos os países que ocupam este território geográfico seriam parte da nação hebraica, mas devido à força e grandeza da resistência, Israel perdeu influência e poder, no momento eles querem apreender pontos estratégicos de seus países vizinhos, tais Como a Península do Sinai no Egito, as colinas de Golã, na Síria, sul do Líbano e parte da Jordânia, todo esse fenômeno está dentro do plano Yinon. Este plano é alcançado tendo em conta a diversidade étnica e religiosa dos diferentes países.

O Mossad e a CIA fomentam o conflito entre sunitas e xiitas na região, a fim de buscar a guerra civil e a divisão dos territórios. A Síria antes da guerra foi um dos países mais seculares e seguros no Oriente Médio com uma grande diversidade de cultura e credos.

No território existem alauítas, sunitas, drusos e cristãos (para o lado étnico são os curdos que tinham reconhecimento e segurança no governo de Bashar al-Assad), e antes da guerra foi um dos países com maior tolerância religiosa. Com a ascensão do estado islâmico e a intrusão das forças extrangeiras, os conflitos raciais e religiosos aumentaram. Após 7 anos de guerra (2011-2018), o país teve a sua  infraestrutura destruída, grande parte de sua população no exílio, meio milhão de mortos e seu patrimônio cultural obliterado, devido ao fundamentalismo jihadista.

Apesar de destruir e reduzir o pó à Síria era um dos principais objetivos de Israel, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. A sua principal tarefa é fazê-la “desaparecer” através da criação de novos Estados. Assim, devido à crise e à desestabilidade do país, isso levaria ao seu colapso e destruição, tendo que recorrer à partição, por um lado, o governo de Bashar al-Assad e a minoria alauitas criariam seu próprio estado, assumindo o controle de Damasco. Os sunitas também teriam seu próprio estado tendo mais território porque eles eram a maioria, e os curdos teriam sua própria região autônoma e continuariam seu sonho de criar o Curdistão e até a minoria drusa teria seu próprio estado.

Por seu lado, Israel iria definitivamente ficar com as colinas de Golã e suas reservas de água. Como não havia um governo central unificado, Israel expandiria seu território mais, e isso ajudaria a tornar-se um poder regional que é um dos pontos-chave dentro do plano Yinon. Com a criação destes novos Estados (alauitas, sunita, curdo e druso) e o desaparecimento da República Árabe da Síria, o próximo objetivo seria estimular os conflitos étnico-religiosos e fronteiriços entre os novos Estados. O novo estado sunita e o seu governo nascente seriam aliados da Arábia Saudita e das monarquias do Golfo Pérsico (Qatar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Bahrain), transformando-o diretamente num inimigo do estado alauítas do Irã, e o Hezbollah enfraquece consideravelmente a Resistência. Os curdos reforçariam ainda mais os seus laços com Israel e os Estados Unidos e a região autónoma do Curdistão iraquiano. Os vizinhos drusos de Israel fortaleceriam seus laços comerciais e diplomáticos com o sionismo, e os Alauítas permanecerão aliados do Irã, do Hezbollah e da causa palestina. O governo de Bashar al-Assad sempre teve entre suas prioridades a defesa e a recuperação dos territórios ocupados palestinos. Mas as fronteiras do estado alauitas permaneceria constante ameaça, devido aos grupos terroristas da Al-Qaeda e do estado islâmico e do posto de Israel. Tudo isso levaria a mais desestabilização e desunião no Oriente Médio, e esquecendo a causa palestina definitivamente beneficiando Israel completamente.

A Síria não vive uma guerra civil. A situação atual no país árabe é o produto de uma experiência militar e geopolítica do Ocidente e Israel, que buscam a fragmentação do Oriente Médio, a fim de garantir a sobrevivência do estado sionista e transformá-lo em um potencial na região. Felizmente, como as coisas estão, e com a ajuda do Irã, Rússia, Hezbollah e milícias xiitas iraquianas, pouco a pouco, o governo de Bashar al-Assad retoma as rédeas do país e consegue unificar o território novamente. Mas não se pode esquecer que o plano Yinon ainda está na agenda de Israel e do Ocidente, e eles não têm a intenção de renunciar. Após o fracasso do estado islâmico, os curdos serão o pretexto seguinte para balcanizar a região. Olhando para o mapa atual da luta contra o estado islâmico. Os maiores beneficiários são os curdos que poderiam reivindicar uma área autónoma no norte da Síria, é claro, com o apoio dos Estados Unidos e do regime israelita.

Por outro lado, não vamos esquecer que a criação do Sudão do Sul é uma das primeiras conquistas do plano Yinon. Este pequeno país existe desde o ano de 2011. Deve-se manter em mente que a Balcanização também se expande para o norte da África. Após o “sucesso” do Sudão, eles querem aplicar a mesma estratégia para a Síria, para o Iraque (criando três Estados um curdo, um sunita e outro xiita) também para a República Islâmica do Irã (criando um estado persa, outro curdo, Baluchistão e o grande Azerbaijão). Enfraquecendo e desaparecendo os aliados da causa Palestina, o verdadeiro objetivo de Israel. Finalmente, a chamada “primavera árabe” escondeu o propósito de acelerar a implementação do plano Yinon. Para a opinião pública foi dito que os povos do Oriente Médio levantaram-se para procurar reformas democráticas e sociais, e para derrubar em uma maneira pacífica diversas ditaduras que tinham estado no poder por diversas décadas. Mas, na realidade, foi pensado para redesenhar todo o mapa do Oriente Médio. Criando um novo Sykes-Picot, mas igual na ineficiencia.

Publicado por HispanTV | Escrito por Felix Antonio Cossío Romero

Em Oriente Mídia | Traduzido por Oriente Mídia

ALEMANHA | O "sim" a contragosto do SPD para Merkel


Dois terços dos filiados do Partido Social-Democrata concordaram com a participação no quarto governo Merkel, mas boa parte deles apenas por rejeitar a ideia de uma nova eleição.

Alívio, aplausos, sorrisos? Nada disso se viu na manhã deste domingo (04/03) na sede do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) em Berlim, depois de finalmente estar claro que uma ampla maioria (66%) dos filiados aprovou a participação num novo governo da chanceler federal Angela Merkel. O clima era de contenção, o que certamente tem a ver com a noite passada sem dormir: 120 voluntários estiveram desde a noite de sábado contando os 378.437 votos recebidos pelo correio.

Esgotados, muitos deles acompanharam o momento em que o tesoureiro do partido, Dietmar Nietan, ao lado do presidente interino, Olaf Scholz, anunciou o resultado da consulta, no início da manhã. O que Nietan tinha para dizer aos jornalistas não era mais novidade: meia hora antes, sites de notícias já haviam vazado o resultado: "sim" para uma coalizão com os partidos conservadores, liderados por Merkel.

Isso explica o clima de desânimo na sede do SPD? Ou só agora, depois de meses de uma desgastante luta interna, o partido se deu conta do que o espera? Um jornalista quis saber se teria havido uma orientação da direção ao filiados presentes para que este se abstivessem de aplausos para não provocar aqueles membros que eram contra a entrada do partido no governo. Scholz não respondeu.

Em vez disso, e com seu tradicional jeito apático, ele afirmou que a coesão interna cresceu com os debates das últimas semanas e que ela "dá ao partido a força de que ele precisa para entrar no governo e para continuar o processo de renovação agora iniciado".

Decepção entre parte dos filiados

Esse processo deverá ser acompanhado de perto pela Juventude Socialista (Juso), a ala jovem do SPD. Seu presidente, Kevin Kühnert, um ferrenho adversário da chamada grande coalizão, mostrou-se decepcionado com o resultado da consulta aos filiados. "Mas é claro que nós reconhecemos o resultado", afirmou.

Os jusos, como são conhecidos, querem lutar por um SPD mais preocupado com questões sociais e defendem uma reorientação programática do partido. Kühnert afirmou que a ala jovem quer ser a garantia de que esse processo vai mesmo ocorrer, além de fiscalizar se o governo – e o partido – estão cumprindo o que prometeram.

Mas como o SPD pretende superar sua divisão interna? Entre os filiados, a grande coalizão é "tão amada quanto frieira no pé", afirmou o vice-presidente Ralf Stegner, um representante da esquerda do SPD que integra o comando do partido. Isso não vai mudar tão cedo. Dentro da legenda, muitas pessoas afirmam que o resultado de 66% só foi alcançado porque muitos filiados temiam que, caso houvesse nova eleição, o partido obteria ainda menos votos nas urnas. Na eleição de setembro, o SPD conseguiu apenas 20,5%, o pior resultado do pós-Guerra.

Alívio na CDU e na CSU

Antes do anúncio oficial do SPD, Scholz ligou para a chanceler federal e para o presidente para informá-los do resultado. Na União Democrata Cristã (CDU) e na União Social Cristã (CSU), o clima era de alívio. "Fico satisfeita com o resultado positivo da decisão do SPD e a resultante concordância com o acordo de coalizão", afirmou a secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer. Também o presidente da CSU, Horst Seehofer, mostrou-se satisfeito e congratulou o SPD.

Críticas foram ouvidas em setores da oposição, principalmente no partido A Esquerda. "Lamento a decisão do filiados do SPD", afirmou a chefe da bancada esquerdista, Sahra Wagenknecht. Ela disse que pretende convencer os adversários da grande coalizão dentro do SPD a unir forças em favor de uma agenda de esquerda e que foi encorajador ver que setores do SPD combateram com valentia a "política da mesmice" de suas lideranças.

Eleição indireta em 14 de março

Ao longo dos próximos dias, CDU/CSU e SPD querem definir detalhes da formação de governo. Os social-democratas pretendem anunciar seus ministros até o dia 12, entre eles os das Finanças, do Exterior e do Trabalho e Social. É tido como certo que Scholz será o novo ocupante da pasta das Finanças e provavelmente também vice-chanceler federal. A situação no Ministério do Exterior está indefinida. O atual ocupante, Sigmar Gabriel, gostaria de permanecer no cargo, mas a relação dele com Scholz e com a chefe da bancada, Andrea Nahles, não é das melhores.

A CDU já está bem mais adiantada. Merkel apresentou seus ministros há uma semana. Na próxima sessão do Bundestag, no dia 14 de março, ela vai se apresentar pela quarta vez para uma eleição a chanceler federal.

Sabine Kinkartz (as) | Deutsche Welle

Foto: Clima na sede do partido era de contenção quando Nietan e Scholz anunciaram o resultado

ITÁLIA - ELEIÇÕES | “Quem tem fome não se importa com a neve” nem com o voto - reportagem


Há pelo menos 4,7 milhões de italianos a viver na pobreza – muitos deverão abster-se no domingo. Num dos maiores mercados da Europa, há requerentes de asilo a distribuir fruta e verdura a dezenas de pessoas por dia.

O frio é de rachar e nevou durante parte da manhã. Os voluntários temem que os vendedores do Porta Palazzo se preparem para arrumar as bancas mais cedo. Pior: interrogam-se se vão aparecer pessoas para recolher a fruta e as verduras que eles distribuem depois de encerrado o mercado. Afinal, correu tudo bem. Recolheram 91 kg de verduras e 82 de fruta que umas 25 pessoas levaram para casa – a média são 200 kg e 30 a 40 pessoas por dia.

É difícil, mas em 42 dias de campanha os líderes políticos italianos conseguiram não falar de alguns dos problemas mais graves no país. O desemprego, por exemplo, mas também a pobreza, usada pela coligação de direita para acusar o centro-esquerda, no poder, de ter “criado mais três milhões de pobres”, sem propostas sérias para inverter a situação. Em 2016, havia 4,7 milhões de italianos a viver na pobreza absoluta (sem dinheiro para produtos essenciais). É provável que já sejam mais.

Foi em 2016 que Paolo Hutter, jornalista e fundador da associação Eco dalle Cittá, um portal que se dedica a notícias sobre ambiente, começou a pensar no projecto que hoje se chama Eco-mori. Inicialmente, uma iniciativa para promover a recolha diferenciada de lixo.

“Começámos a distribuir estes sacos biodegradáveis pelos vendedores para não misturarem o lixo orgânico com o resto. Mas vimos que no fim do mercado se formava uma montanha gigante e que vinha gente tentar encontrar comida boa entre caixas e papéis”, descreve Luca, o jovem que Paolo contratou como jornalista e que acabou a coordenar o Eco-mori. Na sala por onde se entra na associação, outros jovens dividem os sacos.

O nome – que junta ecologia e mori (negro em dialecto do Piemonte) – já era este. A ideia incluiu sempre reunir voluntários entre os milhares de africanos requerentes de asilo a viver em Turim. Assim, para além de distribuírem os sacos pelos vendedores, estes voluntários, de coletes cor-de-laranja fosforescente que os identificam como “sentinelas dos resíduos”, recolhem junto destes as frutas e verduras que eles sabem que já não vão vender (não estarão em condições no dia seguinte).

Têm a sua própria banca, que identificam com a faixa onde se lê Eco-mori, e é lá que fazem uma última escolha, decidindo o que está em bom estado, pesam os produtos e os redistribuem por caixas, “para que cada pessoa leve um pouco de tudo”.

“Peço desculpa, ainda não podemos. Só depois das 14h”, explica Omar Sillah com toda a simpatia a uma senhora que se preparava para começar a mexer nas caixas já expostas onde há alcachofras, courgettes, bananas, laranjas, alfaces, couves e tomate.

Parceiros e sorte

Primeiro, foi preciso contactar a assessoria de Ambiente da câmara e a Amiat, a empresa que gere a recolhe de resíduos em Turim. Depois, faltava um patrocinador e surgiu a Novamont, empresa de transformação de recursos, que fornece os sacos e se concentra actualmente no bioplástico. “Tivemos sorte em estar tão perto”, diz Paolo. A redacção e sede da Eco dalle Cittá fica a centenas de metros do Porta Palazzo, no centro histórico da cidade.

A maioria dos voluntários vem do mesmo centro de acolhimento, um lugar que oferece cama e algumas aulas de italiano mas mais nenhuma actividade. Alguns estão desde o início, outros vieram algumas vezes e não voltaram. Ao todo, passaram pelo Eco-mori 45 requentes de asilo, homens e mulheres. “Hoje, temos de os gerir. Há o núcleo duro e tentamos fazer rodar os restantes. Às vezes aparece gente a mais, mas não temos coragem de os mandar embora. O centro fica quase a 25 km”, diz Paolo.

O núcleo duro, para alegria de Paolo e Luca, já recebe algum dinheiro. “Aconteceu agora mesmo, a 1 de Março”. Um deles assinou um contrato em part-time com a associação e dois começaram estágios remunerados disponíveis para requerentes de asilo – um está prestes a perder a autorização de permanência por já ter visto o seu pedido de asilo recusado três vezes e o estágio pode ajudar.

Foi fácil adivinhar quem teve a sorte de ser o primeiro contratado, bastou ver sua desenvoltura e sensibilidade a lidar com as pessoas. “Olá a todos. Sou o Omar e venho da Gâmbia. Somos requerentes de asilo e voluntários neste projecto. Por favor, levem uma caixa por pessoa.”

Tomate, alecrim e alho

Anna, empregada de limpeza de 51 anos, desempregada há cinco meses, diz que vem “às vezes”. Outra Anna, esta de olhos verdes e lenço verde na cabeça a protegê-la do frio, tem 65 anos e quatro filhos a viver longe. “Não tenho trabalho há muito tempo. Venho duas ou três vezes por mês, mais não. Quando se acaba volto”.

Meli (a quem Omar chama Maria) tem 88 anos e vive com um filho doente que “já fez 60”. “Não recebo ajudas, só a pensão de viuvez do meu marido”, diz, enquanto enche o saco de rodas que empurra com as mãos mais finas que se pode imaginar, dedos compridos, toda ela magra e alta, gorro azul muito largo a sublinhar a magreza. “Este tomate não é muito bom. Mas já não há tomate bom. Junto alecrim e alho e fica um molho saboroso”, conta.

São mais mulheres do que homens e há mais gente a partir dos 50 anos, mas também aparecem estudantes e pais de família.

“Tem de ser”, diz Pino (diminutivo de Giuseppe). Envergonhado, não evita que os olhos se encham de lágrimas antes de começar a falar. “Às vezes vimos. Eu ou o meu filho”. Divorciado, vive com o filho de 30 anos que nunca trabalhou; tem uma filha de 37 a viver com a mãe. Ele ficou desempregado há quatro meses: "Era encarregado num armazém”. A um mês de completar 62 anos, teme nunca mais conseguir trabalho.

Pino ouve dizer que os voluntários temiam que ninguém aparecesse por causa do mau tempo. “Quem tem fome não se importa com a neve”, diz.

Organizar recursos

Nenhuma destas pessoas se lembrava que há legislativas este domingo. Meli já não vota há anos, a Anna mais nova pensa que não pode votar por não ter recebido os boletins em casa, como antes; Pino está demasiado triste com a vida. Na associação, os únicos preocupados são Paolo e Luca. Afinal, se a direita chegar ao poder e avançar com as propostas deportações de pessoas em situação irregular podem perder alguns voluntários.

Aconteça o que acontecer, o projecto já é um sucesso e deu origem a duas experiências, em Roma e Milão. O Porta Pallazo é bastante único, em dimensão (por aqui diz-se que é o maior mercado ao ar livre da Europa) e regularidade, só encerrando ao domingo. Isso ajuda a manter voluntários e a espalhar a palavra.

“Estou muito contente. Estamos a experimentar formas de colaboração, a perceber como eles nos podem ser úteis e nós a eles”, diz Paolo sobre os voluntários. Evitar desperdício – num país onde cada família desperdiça 85 kg de comida por ano (outros números falam em 145 kg) – é outra vitória. “Pensa-se sempre que temos de lutar pelos recursos. Mas não é verdade, basta organizarmo-nos para que os recursos cheguem a quem precisa”.

“Gosto tanto de fazer isto”, diz B., um dos rapazes que pode ficar sem autorização em breve. “No primeiro dia vi um senhor velhinho a procurar no lixo. Agora, é diferente. Eu também sou pobre. Quando sobra, levo comida”, conta o jovem de 26 anos que veio do Mali.

Mustafa, outro maliano de 33 anos, conta orgulhoso que participa desde o início. “Estava lá no primeiro dia! Gosto disto. Ocupa-me e sabe bem ajudar as pessoas”, diz. “Podem ter vergonha quando começam a vir, às vezes enervam-se com a espera”, explica Omar, 24 anos e um contrato de trabalho. “Mas depois, quando levam a comida para casa vê-se que vão com um sorriso. Isso é o melhor”.

Sofia Lorena em Turim | Público

Foto: Temperaturas muito baixas e queda de neve marcaram o dia de sábado em Turim LESSANDRO DI MARCO/EPA

PORTUGAL | Dar a volta ao fado

Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

O tema central e absolutamente prioritário na agenda política nacional é, no meu entender, a definição de medidas concretas que permitam travar a emigração, que mobilizem para o retorno milhares de jovens que saíram do país nos últimos anos, que integrem o melhor possível os migrantes que estão a chegar a Portugal, inclusive de ascendência portuguesa. Sem estas respostas não é possível definir e assegurar um rumo estratégico de desenvolvimento da sociedade portuguesa e de modernização do país.

De acordo com a previsão do Relatório sobre Envelhecimento 2018, publicado pela Comissão Europeia (CE), em 2070 a população portuguesa será de 8 milhões de pessoas, isto é, menos 2,3 milhões do que em 2016. Em 2008, o mesmo relatório previa que a população iria aumentar para chegar aos 11,4 milhões em 2050. Entretanto, há entidades nacionais que trabalham propostas em várias áreas de políticas com cenários demográficos que preveem quebras da população ativa entre 20% a 30% para o mesmo período.

O que aconteceu entre um e outro relatório da CE que justifique uma tão radical alteração das previsões? Aconteceu, fundamentalmente, um "ajustamento" da troika e a imposição, pelo Governo PSD/CDS, de políticas desastrosas que aumentaram o desemprego para níveis sem precedentes. Foi interrompida e revertida a imigração que se registava em períodos anteriores e foram empurrados para o estrangeiro, à procura de trabalho, centenas de milhares de portugueses, a maioria jovens. Num espaço de tempo muito curto, o país viu-se privado de uma parte substancial da população em idade ativa e fértil.

O que as previsões refletem é, pois, a consequência projetada a longo prazo dessa sangria demográfica. Esperemos que aquelas projeções estejam erradas, como muitas vezes tem acontecido com previsões demográficas e que sejamos capazes de trabalhar soluções novas. Não podemos dar por inevitáveis estes cenários catastróficos. O país sem pessoas e ao abandono arde, seca, não tem trabalhadores para as atividades que o podem desenvolver. Temos mesmo de dar a volta ao fado daquelas projeções demográficas.

Para isso, é preciso, em primeiro lugar, criar emprego. Há hoje mais 350 mil postos de trabalho do que em 2013, quando se atingiu o nível mais baixo, mas ainda estamos com cerca de 350 mil a menos do que tínhamos em 2002. E o desemprego jovem é ainda elevadíssimo (22%). Contudo, não basta criar emprego: é indispensável que ele tenha qualidade. O salário e as condições de trabalho contam muito para esse objetivo. Para a maior parte dos jovens, sobretudo para os mais qualificados, as fronteiras do mercado de trabalho têm cada vez mais uma escala europeia e até mundial e falta fazer-lhes um apelo forte para que não desistam do seu país. Não é com salário mínimo, ou valores perto dele, não é com contratos precários que se evita a emigração de jovens qualificados e se incentiva o retorno dos que saíram. As empresas que se queixam de falta de mão de obra qualificada sabem que é assim, mas têm sido lentas a melhorar a oferta.

Há outras políticas que também contam e muito. Habitação a custo compatível com os rendimentos e onde seja possível viver bem e ter os filhos desejados. Acesso dos filhos ao Pré-Escolar. Bons transportes. Cuidados de saúde acessíveis a todos. Pensões dignas.

A atração da população jovem com medidas de apoio ao retorno deve envolver também uma política de imigração que combata a ilegalidade, a clandestinidade e a exploração dos sem-papéis. Há que garantir os direitos laborais dos imigrantes em pé de igualdade com os de todos os trabalhadores e combater a discriminação.

No atual contexto de globalização e concorrência que tanto se invoca, um país como o nosso, que tem capacidade de formação e qualificação da sua juventude, jamais será competitivo comprimindo mais e mais os chamados custos salariais e os direitos laborais e sociais. Por essa via corre o risco de se despovoar, de definhar. O sol e o mar continuarão cá, mas para serem rentabilizados precisam de pessoas para trabalhar. E o desenvolvimento implica mais inovação, mais industrialização, mais diversificação da economia.

*Investigador e professor universitário

PORTUGAL | As fotografias de Amélia, a grande senhora do teatro português


Não é apenas um nome numa lápide da base de um busto - é nome de mulher, de atriz, de empresária, mulher de coragem, diretora do Teatro Nacional. Amélia Rey Colaço nasceu a 2 de março de 1898, precisamente há 120 anos.

Há mais de um século, ser mulher podia ser dramático e Amélia Rey Colaço fez dessa condição uma arma e, por isso, agora o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II anuncia uma bolsa para jovens companhias com o nome desta mulher, Rey Colaço, em dia de aniversário. É o futuro escorado no passado.

"É uma bolsa para jovens criadores e companhia emergentes que tenham até um máximo de cinco encenações e que poderão concorrer e receber meios de produção, uma coprodução, espaços de apresentação ou ensaios", explica Tiago Rodrigues.

A bolsa do D. Maria tem dois parceiros - o Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo e o Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães.

"Dar-lhe o nome de Amélia Rey Colaço no dia em que se celebram os 120 anos do seu nascimento, é de alguma forma, mais uma vez, contrariar a perceção de que Amélia Rey Colaço é só esse nome lapidar, de estátua. É muito mais do que é isso. É um nome de risco, de aposta corajosa nos mais novos e na experimentação".

No foyer do Teatro Nacional D. Maria II, inaugura esta sexta-feira às 17h uma exposição de fotografias. "Amélia" tem curadoria de Cláudia Madeira, Filipe Figueiredo e Teresa Flores, todos especialistas em fotografia de cena.

José Carlos Barreto | TSF

Foto: Teatro Nacional D. Maria II/DR

PORTUGAL | FESTIVAL... Da síndrome Salvador Sobral aos erros de "casting"


Com erros de circunstância e polémicas, aí estão as 14 candidatas à Eurovisão. Globalmente, ficou-se aquém das expectativas. Mas, por favor, não se culpe a fórmula

João Gobern | Diário de Notícias

A grande resposta que se procura dispensa rodeios: que canção vai ganhar? Depois, estará a Eurovisão disponível para tolerar e votar um "sucedâneo" de Salvador Sobral, responsável por um ato de coragem (a interpretação) e de bom gosto (a canção Amar pelos Dois, de Luísa Sobral) mas nem por isso imune aos imitadores que, mais declarada ou mais disfarçadamente, lhe "piscam o olho" e acreditam ver ali as regras da alquimia festivaleira? Por fim, reconhecido o esforço da RTP, acabará por colocar-se uma questão de médio prazo: quantas - e quais - das canções hoje finalistas terão engenho e arte para poderem integrar o "património" popular?

Talvez valha a pena começar por aqui: esta final de 2018 aparece - porventura pressionada pela missão de escolher a sucessora de uma canção vencedora - globalmente mais fraca do que a de 2017. Desde logo por um outro resultado que lhe baixa a média, caso de Patati Patata (de Paulo Flores, interpretada por Minnie e Rhayra), em que o arremedo de sambinha é um fracasso, com uma roupagem final que tenta em vão disfarçar a fraca inspiração e, ainda por cima, desaproveita a oportunidade de "colar" as duas vozes. O esforço multilingue é, no mínimo, caricato, exagerando nas concessões globalizantes.

E com Lili em O Voo das Cegonhas (de Armando Teixeira), em que a cantora não consegue criar impacto num tema linear e envolvente, que dispõe - como seria de esperar, conhecendo o estilo do autor - de um arranjo moderno e eficaz, com uma tónica electropop que sabe bem ouvir num festival, mas que fica a meio caminho de marcar a diferença.

Ou ainda com David Pessoa em Amor Veloz (de Francisco Rebelo e Márcio Silva), em que a palavra que acorre é mesmo banalidade.


Foto acima: A segurança de Anabela em "Pra Te Dar Abrigo" | Foto cedida pela RTP ao DN

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