quinta-feira, 8 de março de 2018

ITÁLIA | Duro recado à “austeridade” europeia


Vasta maioria dos eleitores preferiu candidatos críticos às políticas do bloco, nas eleições gerais de domingo. Mais um país-chave questiona projeto europeu, capturado pelos neoliberais

Stephanie Kirchgaessner | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho

Os resultados apresentados pelo Ministério do Interior, com a apuração praticamente encerrada, apontam para um Parlamento sem maioria absoluta. Parece agora superado o risco de a coalizão de direita e ultradireita, com aproximadamente 32% dos votos, conseguir a maioria parlamentar, quando as cadeiras forem distribuídas.
Qualquer resultado previsível representará agora um repúdio a Bruxelas por parte dos eleitores italianos, menos de dois anos depois de o Reino Unido optar, em plebiscito, por sair da União Europeia.

As eleições marcam também a ascensão política de dois partidos relativamente novos, até pouco tempo atrás considerados fora da primeira linha do poder. O Movimento 5 Estrelas (M5S), que se define como contrário à elite, obteve 32% dos votos; e o partido eurocético e contra a imigração Lega (a Liga) conseguiu 17,4%. um resultado muito superior ao esperado.

Ainda que durante a campanha o ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi tenha liderado a coalizão de direita, os resultados mostram que, com 14%, foi superado por seu jovem rival, Matteo Salvini, da Liga, durante uma campanha em que Salvino deu ênfase ao apoio a políticas radicais contra imigrantes. Entre essas propostas inclui-se a deportação macica de imigrantes que residem na Itália sem documentos.

Salvini, conhecido por sua retórica exagerada e às vezes racista, disse segunda-feira que os eleitores concederam à direita a missão de liderar o país, e minimizou a ideia de que a coalizão necessita ainda de mais um sócio para alcançar a maioria. “Sou alguém que cumpre a palavra e nosso compromisso é com uma coalizão de centrodireita que pode e deve governar”, disse, em referência ao “acordo de cavalheiros” que firmou com Berlusconi de que o partido com mais votos na coalizão nomearia o próximo primeiro ministro. Disse também que não formará uma coalizão com o M5S e declarou que o euro é uma moeda condenada ao fracasso, embora tenha descartado um referendo sobre a permanência na eurozona.

A coalizão de centro esquerda liderada pelo ex-primeiro ministro Matteo Renzi saiu-se pior do que o esperado, ao obter somente 19% dos votos. Tudo isso fez com que seu próprio partido pedisse suarenúncia como líder do Partido Democrata. Ainda que sua colaboradora mais direta, Maria Elena Boschi, tenha ganho uma cadeira por Tirol do Sul, no norte da Itália, outras importantes figuras do partido, como o ministro de Interior Marco Minniti, e o da Cultura, Dario Granceschini, foram derrotados.

O fracasso fulgurante de Renzi

“Renzi foi aniquilado no que é, provavelmente, o ciclo de ascensão e queda mais curto da história da política italiana”, sustenta o analista Francesco Galietti, de Roma. “Os dados confirmam que o PD obteve menos que a metade do percentual que alcançou nas eleições europeias de 2014, e não passará muito tempo antes que as forças de esquerda contrárias a Renzi questionem duramente sua postura”.

Os resultados foram extraordinários, em parte porque refletem a rejeição a um governo que a maioria dos analistas definiu como competente sob a liderança do PD, que foi testemunha de uma importante melhora na economia e adotou política que limitou o número de imigrantes que chegam à Europa.

O minguado êxito do M5S nas prefeituras de Roma e Turim, por ele governadas desde as últimas eleições locais, não dissuadiu os eleitores, apesar da insistência do PD na mensagem de que o voto nesse partido traria o caos.

O partido populista, que até pouco tempo apoiava um referendo sobre o euro, suavizou sua retórica antieuropeia na reta final da campanha. Talvez isso tenha dado alguma segurança aos italianos que não apoiaram, majoritariamente, sair da zona do euro, ainda que sejam críticos de Bruxelas.

Na segunda-feira, os analistas ainda não tinham claro o que farão os partidos para obter maioria no caso de um parlamento sem maioria absoluta. O presidente da Itália, Sergio Mattarella, será o encarregado de dirigir as conversações.

Entre as possibilidades inclui-se um casamento de conveniência do M5S com o PD, ou do M5S com a Liga.

Os resultados também indicam que a Sicília, durante muito tempo bastião do Força Itália de Berlusconi, aderiu ao M5S. Entre os candidatos vencedores está Piera Aiello, que vive sob proteção policial por causa das ameaças da máfia e teve de cobrir o rosto durante a campanha eleitoral.

ANGOLA | Subsídio de desemprego ainda é uma miragem


O OGE de 2018 não prevê subsídio de desemprego para os cidadãos. A Constituição não é clara em relação à matéria, por isso o jurista Albano Pedro receia que tal não venha a acontecer nos próximos cinco anos.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que 20 por cento da população angolana em idade ativa encontra-se desempregada. E os jovens entre os 15 e os 19 anos de idade "são os mais afetados pelo desemprego", com uma taxa de 46%.

Os dados, entretanto, contestados por algumas ONG, que falam num número mais elevado de desempregados no país, foram revelados em outubro de 2017.

Albano Gamboa é um dos milhões de angolanos no desemprego. É carpinteiro de profissão, mas o local onde trabalhava fechou as portas em 2015, na sequência da crise económica. Desde então vai fazendo biscates para sobreviver. Ainda não conseguiu arranjar um emprego fixo.

 Ele diz que "a juventude de hoje em dia não tem emprego, os estrangeiros que vêm aqui para Angola é que ficam com os nossos emprego."

Segundo o Censo Geral da População e Habitação realizado em 2014, Angola conta com mais de 25 milhões de habitantes entre os quais mais de 9 milhões vive na linha da pobreza.

Subsídio minimizaria pobreza

Apesar de o subsídio de desemprego não estar previsto no Orçamento Geral do Estado para 2018, aprovado em fevereiro deste ano, representaria a solução de alguns problemas, segundo o jurista Albano Pedro.

Ele entende que o "subsídio de desemprego seria um dos mecanismos não só para reduzir a pobreza, situação de necessidade extrema que muitos jovens passam, muitos deles, depois de serem desempregados enfrentam situações de sustentabilidade que constituíram e depois resvalam para situações de delinquência e de crime mas também servirá para reduzir substancialmente os índices de criminalidade”.

Albano Pedro diz que as recomendações para os próximos orçamentos angolanos não prevêem o subsídio de desemprego.

Constituição não é clara

O constitucionalista vai mais longe ao afirmar que a própria Constituição também não é clara em relação ao assunto.

"Portanto, não cremos que seja prioridade do Estado angolano lançar esse subsídio de desemprego e, em consequência, estamos aqui a admitir que ele não está no quadro do Orçamento Geral do Estado muito menos no programa executivo do Estado para os próximos anos dentro do seu mandado", conclui Albano Pedro.

E na eventualidade de se implementar o subsídio de desemprego, quem seriam os beneficiários?

"Aquelas pessoas já que têm idade para entrar no mercado de trabalho e aquelas que se mantém dentro do mercado da idade para o trabalho. Quem é reformado não recebe subsídio de desemprego e quem não tem idade laboral também não recebe subsídio de desemprego. Essa ideia é que não está clara na Constituição", responde Albano Pedro.

Estudo 

Antes de mais, Lindo Bernardo Tito, deputado e vice-presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), recomenda a realização de um estudo para se determinar quem se encontra na condição de desempregado.

"Quem é o desempregado? É aquele que não tem nenhuma ocupação profissional tanto na função pública como no setor empresarial privado? Então, é preciso que haja estatísticas claras para que estas questões sejam respondidas, não se pode apenas fixar um subsídio. Por isso, nós recomendamos ao poder Executivo que se fizesse um estudo."

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Angola | ENTREGUES À BICHARADA


O Presidente da República, João Lourenço, apelou hoje, em Luanda, ao presidente do Tribunal Supremo (do MPLA), Rui Ferreira, que se empenhe na estratégia de combate à corrupção no país. Estamos entregues à bicharada.

Orlando Castro* | Folha 8 

Para João Lourenço, que tem na propaganda e no marketing do combate à corrupção uma das “bandeiras” da sua política de governação, Rui Ferreira “está à altura de prestar um contributo valioso” nessa tarefa. Claro que sim. Que se cuidem os pilha-galinhas. Os outros podem estar descansados.

Ao intervir no acto de posse do presidente do Tribunal Supremo, João Lourenço disse que o combate ao fenómeno da corrupção é uma missão árdua, sublinhando que cabe, sobretudo aos órgãos de justiça, com os seus instrumentos, “lutar contra essa prática”.

Em declarações à imprensa, no final da cerimónia, Rui Ferreira definiu a melhoria do sistema de administração da justiça e reforma da organização judiciária no país, como prioridades do seu mandato. Pois!

Dentro dessa estratégia, Rui Ferreira pretende – diz – melhorar a organização e o funcionamento do Tribunal Supremo, bem como estender essa acção aos demais tribunais comuns.

No sistema jurídico angolano, o presidente do Tribunal Supremo é nomeado pelo Presidente da República, de entre três candidatos seleccionados por dois terços dos juízes conselheiros em efectividade de funções. Cumpre a função por um mandato de sete anos, não renovável.

O combate à corrupção é uma das mediadas contidas no Programa de Governo sufragado com carradas de batota mas tendo a cobertura do então presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, pelo MPLA nas eleições de Agosto de 2017.

O exemplo do Tribunal Constitucional do MPLA

Oque a maioria sabia e previa, e os ingénuos ainda tinham a remota esperança de que fosse diferente, aconteceu da forma mais frívola e juridicamente incoerente, com a violação do roteiro da norma jurídica, por parte do Tribunal Constitucional. Estávamos no início de Setembro de 2017.

Este órgão, maioritariamente composto por homens de toga preta e forro vermelho, não disfarçou o favorecimento à veia matriz, ao indeferirem, com argumentos considerados juridicamente (mas não só) barrocos, os recursos interpostos pelos partidos da oposição.

A ossatura reivindicativa assentava na necessidade de a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) ser levada a cumprir a Constituição de 2010 e a Lei 36/11 de 21 de Dezembro, Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, quanto à realização do apuramento provincial (artigos 126.º à 130.º), não realizado em 15 das 18 províncias e, ou, à recontagem dos votos, de acordo com as “Actas das Operações Eleitorais”, como estipula o art.º 123.º.

Ao império da lei, o Tribunal Constitucional (presidido por Rui Ferreira, importa não esquecer) impôs o império da partidocracia. Era expectável, quando previamente à decisão, um alto dirigente do MPLA, dois juízes conselheiros e um alto funcionário do Tribunal Constitucional se pronunciaram verbal e por escrito, nas redes sociais, sobre a vitória eleitoral, assente na “lógica da batata e na lei da batota” do “dono disto tudo”.

O órgão constitucional, na sua maioria, foi fiel à veia à gamelada partidocrata e não poderia, melhor, estava impedida, de deferir em sentido contrário à determinação da obediência ao poder de nomeação.

Ninguém, chegados aos 61%, poderia ousar trair a honestidade de uma mentira, laboratorialmente engendrada, nos areópagos do regime.

Daí o Acórdão 462/2016, de 13 de Setembro, do Tribunal Constitucional entrar para a jurisprudência, como peça processual caricata do regabofe “judicialista”, na linha da pusilanimidade imposta pelo regime.

Por outras palavras, é a tese oficial de que desde que seja a favor do MPLA, mande-se a Constituição às urtigas e interprete-se a lei de acordo com a vontade de quem manda.

Nada aponta ter-se discernido fora da trambiquice golpista, que empunhou as baionetas contra a petição da oposição, para avaliação e recontagem dos números do escrutínio provincial eleitoral, em nome da verdade eleitoral, da defesa da incipiente democracia e da transparência e segurança tecnológica, art.º 116.º da Lei 36/11.

É perigoso passar-se a mensagem de que roubar a vontade cidadã, o civismo do eleitor, o voto e o sonho dos povos de Angola tem respaldo e protecção incondicional dos órgãos judiciais decisórios. Mas foi isso que Rui Ferreira pensou, e executou, enquanto presidente do Tribunal Constitucional, tal como será isso que pensa e executará agora como presidente do Tribunal Supremo.

Demonstrar estar o prevaricador mancomunado com a bandalheira do Direito, que inocenta e estimula o corrupto na rota da delapidação do erário público, é muito grave. Exigia-se um pouco de bom senso e compromisso com a verdade, porquanto as alegações da oposição mereciam uma investigação aprofundada e não a tomada das contra-alegações da “CNE do MPLA”, como verdades absolutas, quando a divisão no seio deste órgão foi a tónica dominante, com comissários nacionais eleitorais a não reconhecerem os resultados provisórios e definitivos, por terem sido anunciados em sentido contrário à lei:

a) Existência de um grupo técnico, estranho ao conhecimento da maioria dos comissários e da CNE, que fornecia dados nas províncias para as CPE (Comissão Provincial Eleitoral) transmitirem à CNE, diferentes das actas de operações em sua posse;

b) A CNE foi denunciada, com elementos probatórios, de favorecimento, a um dos concorrentes: o MPLA, fazendo ouvidos moco e cegueira, a todas arbitrariedades por este partido cometidas, desde usar os boletins da CNE, aos carros eleitorais;

c) Inexistência de apuramento provincial em 15 províncias;

d) Desconhecimento da origem da fonte dos resultados provisórios: se internos (apenas do grupo de comissários do MPLA) ou de órgão externo;

e) A publicação dos resultados definitivos feriu violentamente a lei, por não assentar no apuramento provincial.

A todas violações cometidas, o Acórdão n.º 462/2017 do Tribunal Constitucional, decidiu, talvez no pedestal de cumplicidades espúrias, negar provimento, à oposição e dar razão à CNE e ao partido da situação, pois tal como fez Agostinho Neto em 27 de Maio de 1977: “Não vamos perder tempo com julgamentos”, decretando a pena de morte, também aqui o Tribunal Constitucional não perdeu tempo em investigar e aprofundar as denúncias constantes nos recursos dos partidos da oposição, principalmente, o recurso interposto pela UNITA, rejeitando os factos e elementos de prova destes por – pasme-se – não terem dado entrada nas províncias e não terem vindo anexas às actas que, propositadamente, a CNE teria instruído, segundo uma fonte eleitoral, as CPE a não enviarem, justamente para este desfecho em actas falsas.

Mas atirando para canto, o Tribunal Constitucional (presidido por Rui Ferreira) descredibilizou-se ao falar em actas falsas, documentos indevidos, em posse da oposição, na lógica das contra-alegações da CNE, quando lhe cometia averiguar e apurar as razões de não ter havido apuramento do escrutínio provincial e outros actos importantes.

Mas as heresias do Tribunal Constitucional, segundo os críticos, prendem-se com a legitimação dos resultados provisórios elencados pelos partidos reclamantes, principalmente, por um número considerado de comissários eleitorais, da própria CNE, ter vindo a público denunciar a estranheza da publicação dos resultados provisórios, uma vez os mesmos não resultarem de actas ou dados enviados pelas províncias, ao Centro Nacional de Escrutínio. Este acto seria dado bastante para o Tribunal apurar e notificar os comissários para o fornecimento de mais elementos, visando apurar a verdade material.

Mas como ao “concorrente-mor” tudo se permite, não careceu de apuramento ou investigação a origem do misterioso “grupo técnico”, uma vez terem cumprido, exclusivamente, a missão de fornecer votos ao MPLA e roubar aos partidos da oposição.

Será que o Tribunal Constitucional (de Rui Ferreira) optou por andar de heresia em heresia até à heresia final? Sim, bastando ver o aparente reconhecimento de ilicitude da CNE, mas logo conotada como uma simples falha, sem dolo, logo desculpável, pese a relevância, das decisões e actos do órgão eleitoral decididas tardiamente, terem tido influência nos resultados finais.

Mas numa demonstração de dois pesos e uma medida, em se tratando de actos tardios da oposição, eles são gravosos e o Tribunal Constitucional considera-os desertos, por fora dos prazos. É a lógica de aos nossos se permitir tudo e, aos outros, do outro lado, só a pena de morte por fuzilamento…

E a cereja no topo de bolo aí está agora com toda a pompa e circunstância. Quem ajudou à batota, à vigarice, à corrupção foi premiado.


*Orlando Castro é diretor-adjunto do Folha 8

PORTUGAL | Não é pontapé na bola


Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

Quando se compram informações sobre processos em investigação (Operação e-Toupeira) ou se compram sentenças (Operação Lex) é a justiça que fica sequestrada e, com ela refém, é o Estado de direito que é posto em causa. Não estamos a discutir futebol, mesmo que nos dois casos as figuras centrais estejam ligadas ao futebol, e ao Benfica em particular. A discussão sobre estes dois processos exige a ausência total de paixão clubística.

Para discutir futebol e alegadas ilegalidades que podem ter posto em causa a verdade desportiva há o caso dos e-mails que está a ser investigado e já tem arguidos e o caso do Estoril-Porto que teve uma denúncia anónima e está ainda em fase de inquérito. Acontece que foi por causa dos e-mails que, alegadamente, dirigentes do Benfica foram a correr corromper a justiça. A discussão futebolística não é para este texto, o assunto é demasiado grave para se perder na irracionalidade das clubites de que eu próprio sou vítima consciente quando o assunto é apenas pontapé na bola.

Há um alegado padrão de comportamento nos arguidos das duas operações que revela muita coisa sobre aquelas pessoas que têm interesses comuns, mas revela muito mais sobre a fragilidade da nossa justiça. Inúmeras vezes revelei a minha indignação sobre a violação do segredo de justiça em processos mediáticos que visam apenas condenar pessoas na praça pública. Não posso, por isso, deixar de me indignar com o facto de, na Operação e-Toupeira, haver uma acusação de violação de segredo de justiça, entre outras mais graves como a de corrupção, e ao mesmo tempo haver violação de segredo de justiça nas notícias sobre o caso. É preciso, no entanto, perceber que o grau de gravidade da violação em causa é muito diferente quando o que está em segredo é matéria probatória já recolhida e que é noticiada indevidamente ou informações no decurso da investigação que permitem aos criminosos boicotar a investigação e dessa maneira procurarem furtar-se à justiça.

Nenhum adepto de futebol pode olhar para estes casos e debatê-los como quem debate um penálti que ficou por marcar. Corromper a justiça é o pior que podia acontecer-nos. Se aceitássemos a normalidade destes comportamentos, mesmo aos do nosso clube, já não estaríamos a viver em democracia.

*Paulo Baldaia é diretor do Diário de Notícias

Alunos do ISCSP fazem abaixo-assinado contra Passos Coelho professor


Estudantes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas não querem que ex-primeiro-ministro dê aulas em mestrados e doutoramentos

Está a circular no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) um abaixo-assinado contra a contratação de Passos Coelho para professor da instituição de Lisboa. Os alunos, segundo avançou o Jornal de Negócios, alegam que a contratação do ex-primeiro-ministro configura "a materialização de uma afronta à transparência e à meritocracia" da faculdade.

Pedro Passos Coelho foi contratado para, no próximo ano letivo, dar aulas aos alunos de mestrados e doutoramento no ISCSP. Embora reconhecendo "a vasta experiência prática" do ex-líder do PSD, os promotores do abaixo-assinado consideram que "a sua capacidade para lecionar aulas a discentes com um grau académico superior ao seu é altamente questionável".

Passos Coelho foi contratado como professor convidado catedrático na área de Administração Pública. O DN está a tentar ouvir a associação de estudantes do ISCSP, até porque esta não é a primeira vez que os alunos desta instituição protestam contra o ex-primeiro-ministro. Em 2013, quando visitou o ISCSP, Passos Coelho foi recebido com uma manifestação que pedia a sua demissão.

Nova profissão de Passos agita debate público

A notícia de que Passos Coelho, agora fora da política ativa, vai dar aulas no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) de Lisboa tem provocado um intenso debate nas redes sociais. Surgiram vozes criticando o estatuto docente que foi dado ao ex-líder do PSD (professor catedrático convidado) e outras defendendo-o, bem como o ISCSP (cujo presidente, Manuel Meirinho, foi eleito deputado pelo PSD nas legislativas de 2011).

Uma das vozes mais críticas foi a da historiadora Raquel Varela. No Facebook, escreveu que o ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD "conseguiu, pago pelos nossos impostos, destruir os serviços públicos, que já não existem com qualidade mas que continuamos a pagar". Agora "acaba a dar aulas numa universidade pública, paga por nós, onde vai ensinar a outros como continuar a destruir serviços públicos, que continuaremos a pagar, mesmo quando já não existirem. O Estado é deles. Merece o lugar de catedrático. Quem não o conseguiu parar é que deve lamentar". Portanto, "Passos foi de Massamá ao Restelo a cavalo na vida política pública."

Outro historiador, Rui Bebiano, da Universidade de Coimbra, escreveu que "nada" tem "contra a possibilidade de um ex-governante lecionar numa universidade" e isto "independentemente das suas escolhas políticas". Mas "no caso agora em apreço, sem formação, mérito ou reconhecimento não faz sentido, a não ser por nepotismo, o convite dirigido pelo ISCSP a Passos Coelho". "É uma desonra para uma escola pública, e uma afronta para quem, no sistema universitário, tanto dá ao longo da vida subindo custosamente a pulso, ou nem sequer o consegue fazer devido ao rigoroso limite de vagas".

Na polémica, Passos foi defendida por deputados do seu partido mas também por um do PS. "A experiência de um ex-primeiro-ministro, qualquer que seja, é única e valiosa" e "por isso são disputados pelas melhores universidades dos seus países", escreveu Sérgio Sousa Pinto. No caso concreto, trata-se de "testemunha privilegiada e ator de um período crítico da vida nacional - a avaliação que fazemos dele não é para aqui chamada" que "decidiu dar aulas" quando "podia ter sido cooptado pelos "donos disto tudo", como consultor, lobista ou ornamento. E assim "a pátria, chocada, vomita insultos", com "meia dúzia de pessoal menor da Academia, devidamente encartada de títulos e graus" a " inchar de indignação".

Já Nuno Garoupa, professor de Direito e de Economia, começou por considerar que o ISCSP se tornou "numa espécie do "Estoril académico" dos exilados da política. O local preferido das vítimas da austeridade. Primeiro Seguro, agora Passos. Só falta Portas e até parece um remake de 2013!".

Depois, acrescentou que "um ex-primeiro-ministro a colaborar numa universidade pública nem deveria ser notícia, muito menos objeto de enorme polémica". Explicando ainda que "anda por aí uma enorme confusão entre catedrático (professor doutorado, agregado e concursado) e [o caso de Passos] catedrático convidado (professor convidado com equiparação e salário de catedrático por decisão dos órgãos da escola)".

O DN tentou contactar o reitor do ISCSP. Em vão.

Diário de Notícias

Imagem: Passos Coelho deixou há duas semanas a liderança do PSD | Miguel A. Lopes / Lusa

Portugal | DA PONTAPÉ ÀS MULHERES DE TINTINS



Mário Motta, Lisboa

A ponte a pé e a pontapé

O Laboratório Nacional de Engenharia Civil constatou que a Ponte 25 de Abril tem fissuras e parafusos soltos, outros afirmam que assim pode colapsar, a oposição sedenta, PSD e CDS, bradaram “aqui del rei”. Mais o CDS, parece.

Já foi referido que é provável fecharem o trânsito a viaturas da classe pesados (carga e passageiros). Alarmistas (ou não) referem que os comboios vão ser suspensos de circulação na ponte. Transitarão só os veículos ligeiros, ou talvez não. Simples, depois de tanta pancada que os portugueses levam por parte dos governos e de certos e incertos mamões dos orçamentos e respetivas ilhargas, passaremos a atravessar a ponte a pé e a pontapé – o que significa uma grande sova, antes e depois de um dia de trabalho.

Entretanto o governo reagiu à polémica, segundo nos informa o DN. A seguir disponha dos títulos no centenário jornal diário.



Que a ponte tem falhas de manutenção não é de agora… Mas há uma “coisa” que absorve milhões de euros dos passantes e pagantes nas pontes sobre o Tejo, chamada Lusoponte… E cadê o dinheiro e as obrigações que tem? Ou agora já não tem nada que ver com isso?

Vamos ver se não vai ser o “mexilhão” a tramar-se, como de costume. Pois.

Temer o que ainda possa estar debaixo dos panos


“Está bên dêxa”, é o que apetece exclamar. Eles dizem quase sempre que o que acaba de falhar é seguro mas a realidade mostra exatamente o contrário em imensos exemplos. É de admitir que as violações continuarão apesar de não serem divulgadas publicamente, como a deste caso escabroso do Benfica. Essa probalidade estará em alta enquanto no “enclave” da Justiça forem admitidos funcionários – de alto a baixo – com tendências para a criminalidade, para o pular da cerca das leis. Um setor da Justiça de rastos é o que estamos a ver…  E o que estará ainda por debaixo dos panos nem sabemos. É de temer.

Dia da quê?

Dizem e fala-se na comunicação social das mulheres, porque este é o seu dia. Assim foi destinado. Pois. As mulheres em Portugal continuam a ver passar o dia e também as injustiças e trabalho escravo que lhes cai em cima. Exceptuando umas quantas mulheres as restantes são carne para canhão, nas desigualdades e paridades, na porrada que levam a torto e a direito, nas mortes causadas por energúmenos, na Justiça que tantas vezes não é feita, havendo juízes que citam a bíblia nas partes que lhes convém… porra, senhoras, revoltem-se e parem! Sigam o exemplo das islandesas do século passado ou das mulheres espanholas de hoje. Ora leiam no DN:


É certo que em Portugal já há umas quantas felizardas fugidas do domínio dos homens… Mas são tão poucas. Sem independência financeira não têm hipótese, muito menos se não tiverem vontade e força para lutarem pelos seus direitos. Comecemos pelas senhoras legisladoras que tantas vezes armam verdadeiras ratoeiras aos milhões das outras suas congéneres no género.

Não. Sabem o que isso significa? Só vos resta agirem nesse sentido para se libertarem da canga do machismo e da discriminação. Quanto ao resto… aprendam artes marciais em vez de andarem a gastar os parcos euros nos “fitenesses” da treta e nas “aeróbicas” dos xarás do dá-cá-o-meu, que não será tão útil quanto as defesas (judo, etc.) necessárias para “arrumarem” comprovados agressores. Claro que para isso é preciso dinheiro. E para tal têm de saber bater o pé com os patrões. Os empresários gulosos, feios, porcos, maus e esclavagistas. Para além de machistas.

Sejam mulheres de tintins, é preciso. Dito.

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