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R. Madrid x Bétis 2014 | Pontapé acrobatico que deu
assistência para o golo de Morata | Foto: As
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Lindo… Mas há mais daqueles…
Este não é o pontapé de bicicleta
porque parece que Portugal se governa, respira e passa fome. Não. Talvez
mereçam esclarecimento e rebuscar fotos antigas com jogadores no ar a dar
pontapés de bicicleta. Existem muitos. Claro que as fotos podem ser a preto e
branco, mas também haverá a cores. Muitas. O que é que se passa com esta gente carente que diz que viu uma senhora em Fátima e também vê o que tantos não vêem nada de outro planeta. A senhora de Fátima nunca mais apareceu (se é que apareceu) porque ficou aborrecida com o alarido, desapareceu. Qualquer dia é o Ronaldo que se aborrece com tantos exageros. Até um narcisista acaba por se aborrecer com tanta adulação.
Ronaldo e mais Ronaldo. Até o próprio
visado deve estar tonto por tanto alarim devido ao pontapé de bicicleta que
marcou à Juventus. Mas Ronaldo sabe que há imagens com montes de pontapés de
bicicleta daqueles, dele e de muitos outros jogadores. A diferença, talvez, é que muitos desses não entraram na
baliza, além de o Cristiano ter uma certa elegância em campo, com e sem a bola.
Foi lindo, mas há mais daqueles por aí, em fotos e em vídeos, ou filmes. Como
queiram.
Evidentemente que para os
exagerados e aduladores alienados, este memo de que há mais como aquele pontapé
de Ronaldo (mais coisa menos coisa) vai cair mal. Paciência. É uma questão de
irem pesquisar os pontapés de bicicleta desde os primórdios. Ponto e adiante.
Bom dia. Usufra de uma belíssima quinta-feira,
5 de Abril. Ponto final. Pois. (MM | PG)
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
Eu bem sei de que planeta vieste,
Ronaldo
Pedro Candeias | Expresso
Julgo não chegar atrasado à
discussão Cristiano Ronaldo, porque o tempo mediático, que agora tem a
duração de um fósforo em combustão, ainda está congelado nas 21h04 de
terça-feira. Pois que, além de marcar golos que
desafiam
a biomecânica na idade de Cristo, Ronaldo também faz isso: pára o
relógio enquanto levita no ar como um faquir musculado a
enganar
a gravidade, de costas para a baliza e com o pé direito misticamente
apontado ao céu. [A propósito deste pulo o, Diogo Pombo, na Tribuna
Expresso, faz-lhe
uma
descrição melhor do lance épico, num texto que começa numa bicicleta e
acaba no Olimpo].
Hoje, à hora que escrevo, os telejornais da noite referem o 2-0 à Juventus,
tal como os da tarde e os da manhã tinham arrancado com o 2-0 à Juventus; os
jornais impressos, todos os jornais impressos de quase todo o lado, arrisco,
deram destaque de
primeira
página ao 2-0 à Juventus; nas rádios também não se falou de outra
coisa que não o 2-0 à Juventus e, nos lugares da internet, o 2-0 à Juventus fez
manchetes virtuais a granel.
Às tantas, o
2-0
ganhou vida, como um organismo. Primeiro, alimentou-se a si próprio,
através do que se foi
dizendo
dele,de Buffon a Allegri, de
Zidane a
Marcelo,
o único equiparável a Ronaldo ao nível do super-heroísmo, dada a sua
ubiquidade. Depois, o 2-0 adaptou-se aos suportes por onde foi crescendo,
no papel, ondas hertzianas, fibras óticas, algoritmos ou em tokens. E o 2-0,
enfim, reproduziu-se abundantemente na forma
dos-melhores-golos-da-história, de sicrano a beltrano, numa lista onde
constavam
Pelé,
Ronaldinho, Rivaldo, van Basten e
Zlatan
Ibrahimovic. Que disse que o golo era bom, mas Ronaldo que experimentasse
fazer o mesmo a 40 metros da baliza, para ver o que era realmente bom
[relembre-o
aqui].
Zlatan gosta de números e eu também, e por isso ofereço-lhe estes: Ronaldo tem
649 golos na carreira,
tantos golos
(22) nos quartos-de-final da Liga dos Campeões como a Juventus em toda
a sua história na mesma fase da competição. Além disso, Ronaldo marca há dez
jogos consecutivos na Champions. Zlatan está a jogar nos LA Galaxy.
Por outro lado, Zlatan também gosta de cinema e intitula-se Benjamin Button,
mas não é Benjamin Button. Porque é Ronaldo quem não apenas pára o tempo,
como
parece fazê-lo recuar enquanto, usando um verbo futebolístico da moda,
se projeta para a frente.
É que Ronaldo está, basicamente, no futuro. Ele é o rendimento constante que se
traduz em golos [
estão
aqui todos, especificados] e os golos são factos que não permitem
subjetividades e fake news, ainda que este seja um texto subjetivo sobre o
facto de ele ser objetivamente um dos maiores.
Ronaldo é o talento sustentado por uma inquebrável, e inquebrantável, ética de
trabalho incomum num país que se entrega facilmente ao desenrasca.
É o multitasking, na medida em que começou como extremo e acabará
como ponta-de-lança. É o modelo da mobilidade social, pois nasceu pobre e hoje
é rico muito para lá das suas ambições - sim, o futebol paga desmesuradamente à
sua elite, mas ele não tem culpa de andar há 15 anos nessa shortlist.
E ele é as métricas e as visualizações das redes sociais que governam as nossas
vidas: aparece normalmente no topo das celebridades com maior número de
seguidores; se não está momentaneamente em número um, estará em número dois,
atrás de alguém de quem ninguém se lembrará. Ao contrário de Ronaldo, a estrela
verdadeiramente planetária, justificada pelas marcas e títulos que o
consagrarão como um dos melhores de sempre. E a lenda continuará a engordar até
quando? Até quando ele quiser porque este não será, seguramente, o último
artigo sobre um golo improvável de Ronaldo. Há quem o chame extra-terrestre,
mas ele é daqui, anda entre nós, embora não seja um como nós.
P.S. O título deste curto aproveita-se descaradamente da mítica frase de
Victor Hugo Morales no relato do segundo golo de Maradona à Inglaterra, no
Mundial do México86: "De que planeta veniste?"
OUTRAS NOTÍCIAS
Adequavam-se em número, mas não podiam estar na mesma equipa de futebol porque
dificilmente atacariam para o mesmo lado. Os 11 juízes do Supremo Tribunal
que votaram nesta madrugada sobre o habeas corpus pedido por Lula da
Silva já tinham - porque isto é o Brasil - apresentado previamente as suas
afinidades políticas. Toda a gente sabia no que aquilo ia dar, exceto num
determinado caso. Passo a explicar: Gilmar Mendes, Celso de Mello, Ricardo
Lewandowski, Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli estavam no team Lula; Carmen
Lúcia, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux e Alexandre Moraes
encontravam-se do outro lado. Ora, como cinco mais cinco são dez, faltava
perceber a posição de Rosa Weber, a votante ambígua que se dizia pró-Lula,
embora tivesse falado sempre contra o habeas corpus em contextos
anteriores.
Como cada um dos juízes tinha direito a justificar a sua posição antes de a
tornar pública, era natural que a sessão se prolongasse. E então, quando
apanhei a transmissão televisiva no Youtube, por volta das 23h30 (sim, o habeas
corpus foi
transmitido
em streaming), já a “Veja” relatava intensas
discussões
ideológicasentre os pares, foi a vez de Rosa Weber votar. O marcador
registava 3-1 contra Lula, ficou 4-1 e acabou 6-5. “Há um momento em que a
decisão individual cede espaço à razão institucional”, justificou Weber. A
partir desse “momento”, percebeu-se que o habeas corpus seria
rejeitado e que Lula
perdera.
Não tudo, nem já, porque ex-presidente tem, ainda, direito a um derradeiro
recurso no Tribunal Regional Federar da 4.ª Região, uma espécie de embargo
de um embargo (
perceba
o que isto é) que pode adiar a sua ida para a prisão (a pena fora
agravada de nove para 12 anos, em segunda instância, por corrupção e
branqueamento de capitais) e, eventualmente, abrir espaço à campanha
presidencial. Enquanto não se sabe para onde vai Lula, é preciso perceber
para onde vai o Brasil.
Quem
não
vai a lado nenhum é Mark Zuckerberg: o patrão do Facebook lamenta
que a Cambridge Analytica tenha usado ilegalmente dados de
87
milhões de utilizadores, mais ou menos a população da Alemanha,
através da sua empresa, e promete que tudo
irá
fazer para melhorar a segurança da rede social. Mas confessa que isso
demorará “anos”, durante os quais continuará à frente do FB para monitorizar o
processo e pede, claro, a nossa ajuda. Um chefe-modelo.
O modelo de apoio à Cultura do Governo
não
agradou e a gradação da contestação “agressiva” a António Costa e seus
pares
subiu
até ao ponto necessário para que as coisas acontençam. A Alexandra
Carita
escreveu,
na quarta-feira, que o Executivo se prepara para aumentar a “dotação
orçamental para os Concursos Sustentados de Apoio às Artes”. O PCP estava
à
escuta e,
hoje, numa carta aberta aos agentes da Cultura a que a
Lusa
teve acesso, António Costa “anunciou um reforço de 2,2 milhões de euros
para as artes”. Pode encontrar a carta em que o PM garante a centralidade do
tema
aqui,
no portal do Governo.
No desporto,
O Barcelona
despachou naturalmente
a Roma por 4-1, em Camp Nou, e tem a porta das meias-finais
escancarada. Já o Liverpool
surpreendeu o
todo-poderoso, e quase campeão inglês, Manchester City com um triunfo
robusto por 3-0, em Anfield. O futebol-turbo de Klopp desalinhou as ideias
de Guardiola, impotente para dar a volta ao resultado construído na
primeira-parte. Chegar às meias-finais não é impossível, mas pouco provável.
O Sporting quer desafiar as probabilidades e procura, hoje, um
resultado positivo em Madrid, diante do Atlético (20h05, com direto
na Tribuna Expresso). A equipa de Jorge Jesus parte como o underdog desta
eliminatória, mas as exibições diante da Juventus e do Barcelona desta época
podem justificar uns pozinhos extra nas casas de aposta. Leia
esta
análise se quiser perceber como e porquê.
As manchetes,
No “Jornal de Notícias”: “Ambulâncias do INEM paradas por causa da cor”. Diz o
jornal que o “Instituto de Transportes recusa licença a veículos com traseira
vermelha”. Uma originalidade burocrática.
No “Público”: “Partidos preparam corte no tempo de fidelização”. “Bloco e PAN
levam a votos redução do tempo de fidelização. Propostas são muito contestadas
pelos operadores”. O Partido Socialista pede mais tempo.
No “DN”: “Atos sexuais relevantes com criança de 10 anos dão pena suspensa”.
Porquê? “Tribunal de Braga considerou crime probado mas atenuou castigo por o
réu não ter antecedentes criminais.
No “i”: “Venda dos Prédios da Fidelidade em Lisboa [são] uma bomba-relógio”,
diz Helena Roseta.
FRASES
“Dar-me bem com a Rússia é uma coisa boa. Penso que poderia ter uma muito boa
relação com a Rússia e com o Presidente Putin e, se tivesse, seria ótimo. Mas
também há uma grande possibilidade de isso não vir a acontecer. Quem sabe?”
Dão-se alvíssaras a quem não acertar no
autor
da frase. É grande, tem um penteado icónico e a solidez política de
uma gelatina.
“Acredito nos nossos aliados, sobretudo os que são democracias” Augusto
Santos Silva. Leia
aqui as
seis razões do ministro dos negócios estrangeiros para não expulsar os
diplomatas russos
“As melhoras! É um percalço, mas tenho a certeza de que vais voltar ainda mais
forte” Sérgio Conceição, no Twitter, sobre a
lesão
do jogador Danilo Pereira
“Nós não podemos deixar que para Mário Centeno possa brilhar os serviços
públicos fiquem às escuras” Catarina Martins, de lanterna na mão, em
entrevista ao Público
e à Renascença
O QUE ANDO A LER
Católico, pecador, casado, adúltero inveterado, pai extremoso, homem de letras,
fanático do Fluminense e bom de bola, cronista, dramaturgo, jornalista,
perseguido pela esquerda e pela direita e pela Igreja e pelos progressistas,
irmão de Mário Filho, tuberculoso, truculento, generoso. Acima de tudo, genial. Nelson
Rodrigues está condensado num livro de Ruy Castro, que o descreve tão bem
e com tanta graça como se “O Anjo Pornográfico” fosse um romance e não uma
biografia. É Ruy Castro quem nos alerta para isso, logo no início,
justificando o tom da sua obra com a vida rica e complexa de Nelson Rodrigues.
Se Rodrigues fosse um personagem de ficção, é provável que carregasse sobre ele
o peso do mundo e ainda uma nuvem negra por cima. Porque tudo lhe aconteceu,
tendo ele sobrevivido a quase tudo durante muito tempo, sempre com ironia,
humor, amor, dor, sarcasmo e marasmo. “O Anjo Pornográfico” recupera a infância
e o contexto familiar dos talentosos Rodrigues, e prossegue com histórias
absolutamente extraordinárias, metade delas inverossímeis, outras tantas
anedóticas, sobre um dos escritores brasileiros mais célebres da história.
Por hoje é tudo. Acompanhe o dia no site do Expresso e se gosta de desporto vá
espreitando a
Tribuna Expresso.