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6 de agosto de 1945, 20 horas. Azar da humanidade... em Hiroxima |
“Há dias de manhã em que à tarde
não se pode sair à noite”, costumava-se dizer nos dias de más perspetivas e em
que tudo nos corre mal desde as vésperas. Era isso e quando azares acontecia
saía o Benfica à baila com cães à mistura: “Quando o Benfica perde até os cães
nos mijam para os pés”. Atualmente existem outras expressões idiomáticas para
protestarmos e comentarmos os azares, as expressões antigas já saíram de
circulação, é uma questão de gerações idas e de acompanhar a modernidade. Adiante.
Hoje acordámos com mais Trump e o
espectro da guerra, que pode escalar para o nuclear. Há os que consideram um
exagero admitir tal eventualidade. Pois. Mas até Nicholas Burn, o
vice-secretario de Estado de George W. Bush, o admite, como pode ler mais em
baixo no espaço do Curto: "O problema, avisou Burns, “foi a forma como o
presidente usou o Twitter. “Irresponsável”, disse, porque está em
causa um choque que pode evoluir rapidamente para um confronto nuclear.” A
humanidade tem nestes dias um grande azar, não porque nos dias de manhã não se
possa sair à noite, nem por o Benfica perder e os cães alçarem a perna a
considerar que somos uns postes ou candeeiros públicos. É que o que pode vir
por aí é mesmo o nuclear com “choque e espanto”, como disse W. Bush ao invadir
o Iraque – que ainda hoje está em guerra mais ou menos surda quando não há
rebentamentos e pessoas pelos ares.
A seguir vai desembocar no
Expresso Curto, laudas de Ricardo Marques, jornalista lá daquele burgo balsemanista
e outras ilhargas. Abre com trampas do Trump e o berbicacho na Síria, Rússia, Irão e arredores, até ver. E
vai por aí em vários parágrafos. Longo. Tal é a apreensão do autor deste Curto.
Termina a encontrar a felicidade porque se considera vivo, assim como os que
hoje o conseguem ler… Como cantava o Fanhais: “Vemos, ouvimos e lê-mos, não
podemos ignorar”. Também as “bombas de Hiroxima” são lembradas nesta canção.
Que raio, mau prenúncio. É mesmo factual, não podemos ignorar que os senhores
da guerra 'made in' Tio Sam e aliados estão a arregaçar as mangas para tramarem a
humanidade.
Com tais perpetivas é impróprio desejar
que tenham um bom dia, mas sim o melhor que conseguirem. Vão para o Curto e
acompanhem a atualidade, porque humano avisado vale por dois. Pois. (MM | PG)
Bom dia este é o
seu Expresso Curto
Pássaro de guerra
Ricardo Marques | Expresso
É como chover no molhado num
dia de tempestade, mas é acima de tudo um sinal dos tempos.
Ontem, quase à mesma hora em
que um dos homens mais poderosos do mundo admitia não ter controlo
absoluto sobre a rede social que criara, um outro homem, presidente dos
Estados Unidos da América, usava uma rede social para empurrar o mundo
rumo ao que parece ser o descontrolo absoluto.
Eis o que Donald
Trump escreveu no Twitter:
“Russia vows to shoot down any
and all missiles fired at Syria. Get ready Russia, because they will be coming,
nice and new and “smart!” You shouldn’t be partners with a Gas Killing Animal
who kills his people and enjoys it!”
O passarinho azul foi o
mensageiro da desgraça.
À hora a que lê estas linhas, os
jornais e televisões norte-americanas já não discutem se haverá um ataque norte-americano
na Síria, mas o que poderá acontecer após esse ataque e que papel
poderão os Estados Unidos da América
desempenhar .
Madeleine Albrigth, a antiga
secretária de Estado,
afirmou que não
existe qualquer estratégia da administração e António Guterres,
dirigindo-se ao Conselho de Segurança da ONU,
pede
aos seus membros que façam tudo para evitar que a situação fique
"fora de controlo".
A Casa Branca, já depois da
mensagem de Trump,
insiste que todas
as hipóteses estão em aberto, e o The New York Times
põe as
coisas em termos nada animadores: um ataque cirúrgico pode não ser
suficiente, um ataque mais amplo pode fazer o conflito subir um nível no
espectro da guerra e envolver russos e iranianos.
Os sinais de que algo pode
estar prestes a acontecer são mais do que muitos. Após o aviso do
Eurocontrol, que alertou para o perigo de ataques de mísseis, várias
companhias aéreas já estão a
reajustar as rotas
que atravessam a região do Médio Oriente.
Ao mesmo tempo há navios
militares norte-americanos a caminho do Médio Oriente. A Marinha dos EUA
alega que
a partida do grupo de batalha do porta-aviões “USS Harry S. Truman”, que
deve chegar à região no início de maio, já estava agendada. Na segunda-feira
tinha partido de Chipre o destroyer "USS Donald Cook", que leva
a bordo os mesmos mísseis Tomahawk que os americanos usaram, há um ano,
para bombardear a Síria pelos mesmo motivos.
Entrevistado ontem à noite na
CNN, Nicholas Burn, o vice-secretario de Estado de George W. Bush,
reconheceu queDonald Trump tem razão em tudo, menos no mais importante. “Espero
que seja bem sucedido e que consiga debilitar as capacidades de Assad, que no
último ano usou armas químicas nove vezes contra o seu povo.”. O problema,
avisou Burns, foi a forma como o presidente usou o
Twitter. “Irresponsável”, disse, porque está em causa um choque que
pode evoluir rapidamente para um confronto nuclear.
É assim o mundo de Trump: se
está em casa é
investigado por
ligações perigosas com os russos antes das eleições, se vai à
rua fica a quase nada de lhes declarar guerra.
A Rússia não perde tempo e,
de acordo com a Reuters, está a
seguir com
toda a atenção as movimentações militares americanas. Além
disso, Moscovo refuta todas as acusações de envolvimento do regime
sírio no uso de armas químicas, sugerindo que os ataques dos EUA têm um
propósitomais
obscuro. E esta manhã, o regime de Damasco assumiu o controlo de Ghouta
e há soldados russos no
terreno.
Em Londres, Theresa May, que
abriu uma guerra diplomática com Moscovo nas últimas semanas (agora
parece que
uma equipa de televisão russa invadiu o hospital onde está o espião
envenenado),
convocou para
hoje uma reunião de emergência do Governo para discutir os passos
seguintes na questão Síria, dando conta de que “todos indícios” parecem
confirmar que o regime de Assad usou armas químicas contra as populações.
A Bloomberg
elege o
presidente francês como o grande aliado de Trump no que quer que seja
que vá acontecer. Macron é esperado nos Estados Unidos ainda este mês
e uma coligação do eixo Paris-Londres-Washington é cada vez mais
real.
Lembra-se dos post
do Twitter com que começámos? A frase que se segue tem quase o mesmo
número de caracteres:
“Enquanto não tiver batido o
adversário mantenho-me receoso de que ele me abata. Eu não sou senhor dos meus
actos, visto que o adversário me dita a sua lei, como eu lhe dito a minha”,
Carl von Clausewitz.
Lembra-se do Expresso
Curto de ontem? Aquele em que a Luísa Meireles perguntava “E se não
acordarmos amanhã?”. Se chegou aqui é bom sinal. Para si, para mim e para
todos. Acordámos.
Mas a pergunta não só se
mantém - e se não acordamos amanhã? - como se tornou muito mais
difícil arriscar uma resposta.
OUTRAS NOTÍCIAS
Claro que a mera
possibilidade do fim do mundo não deve ser suficiente para nos distrair dos
restantes assuntos de que é feita a atualidade. Eis a lista de temas de
que provavelmente vai ouvir falar. Outras guerras.
O Conselho de Ministros
aprova hoje o PE(C) - Plano de Estabilidade (anteriormente conhecido como Plano
de Estabilidade e Crescimento), com a meta do défice a ser revista em baixa. O
documento deve chegar ao Parlamento amanhã. O assunto anda a ser discutido
há dias. O Bloco de Esquerda (
aqui e
aqui)
e o
PCP voltaram
a manifestar-se contra as opções do Governo e já avisaram que não
estão de acordo com as opções.
O CDS anunciou que vai
insistir para que o PE (C) seja votado na Assembleia da República e
o primeiro-ministro, de visita a Londres,
mantém o
otimismo, afirmando-o com um "não". Vale também a pena ler e
ouvir o que
disse Carlos
Césarao almoço. E o que respondeu Luis Montenegro.
Marcelo Rebelo de Sousa, um
admirador moderado do otimismo do chefe do Governo, mostrou-se
preocupado com
a tensão política nacional decorrente do PE(C). ”Uma crise política é
indesejável e uma crise política envolvendo o OE é duplamente indesejável”,
afirmou. O Público avança na manchete de hoje que a crise pode já estar mais
avançada: “Centeno não cede e Marcelo avisa que sem OE marca eleições”
O Presidente da República, que
chegou ontem ao
Egipto para
uma visita de dois dias, abordou também outros dos temas quentes da
atualidade: as condições de tratamento de crianças com cancro no Hospital
de São João, e para colocar pressão no Governo, garantindo que o
problema "vai
ser resolvido".
No Parlamento, o tema foi o
assunto principal
da intervenção da dupla Mário Centeno e Adalberto Campos Fernandes, numa
audição conjunta das comissões de Saúde e Finanças. Conclusão: somos todos
qualquer coisa.
Uma outra guerra em curso é
que está instalada no Sporting Clube de Portugal. Nas últimas horas
foi
declarada uma espécie
de trégua. A Tribuna
publicou uma
espécie de guia para os próximos dias. Claro que, à velocidade a que tudo vem
acontecendo, o mais prudente será esperar pelo
jogo de
logo à noite com o Atlético de Madrid para ver o que sucede. É às 20h05. A
revista
Sábado traz o assunto na
capa. O título: “O incrível Bruno de Carvalho”.
Por falar em futebol,
daquele de que vale a pena falar e ver e rever, o Real Madrid bateu a
Juventus naquele que terá sido um dos mais emocionantes jogos da presente
edição da Liga dos Campeões. Os espanhóis, a jogar em casa, partiam com
uma vantagem de três golos; os italianos responderam com outros
tantos golos e, no fim, com um penálti no último minuto do jogo, ganhou
a equipa que tem o alemão. Ou melhor, Toni Kroos nem jogou mal, mas a
grande
estrela do
Real Madrid foi o sujeito do costume: Cristiano Ronaldo.
Amanhã, no sorteio das
meias-finais estarão as seguintes equipas: Real Madrid, o Bayern de
Munique, o Liverpool e a Roma.
Manchetes
Correio da Manhã: “Lúcia já
tem 1600 sinais de milagre”
Diário de Notícias: “PS recusa
eutanásia para doentes que fiquem inconscientes”
I: “PS é um partido
estalinista”
JN: “Casas em leilão pagas a
pronto”
Visão: “Guerras de heranças”
Na Argélia, começa agora
o
trabalho para
perceber o que aconteceu com o avião militar que se despenhou, provocando
a morte de 257 pessoas - o acidente aéreo mais grave da história do
país.
O Papa Francisco
pediu desculpa
por ter defendido um bispo suspeito de abusos sexuais no Chile e
convidou as vítimas a viajarem até Roma para lhes pedir perdão.
Seguem-se quatro noticias
vindas da América, apresentadas em versão minimalista, e que têm potencial
como bons assuntos de conversa
Facebook: Retomando o início
deste Expresso Curto, Mark Zuckerberg cumpriu ontem o segundo dia de
esclarecimentos sobre o uso indevido de dados de utilizadores do Facebook.
Depois de afirmar no Congresso que há uma ciberguerra em curso com a
Rússia, esteve na Câmara dos Representantes e
admitiu que
a sua própria conta tinha sido ‘apanhada’;
Stephen Bannon, o estratega-mor
da Casa Branca que deixou a Casa Branca, entrou em
contacto com
a Casa Branca para apresentar um plano capaz de destruir a investigação em
curso à intervenção russa nas eleições de 2016, em que se decidiu o inquilino
da Casa Branca. Uma investigação do "Washington Post";
Paul Ryan, o republicano que
preside à Câmara dos Representantes onde Zuckerberg esteve, anunciou que não
vai voltar a candidatar-se. Aos jornalistas explicou que, ao fim de 20
anos, tinha alcançado quase tudo aquilo a que se propusera e que
estava
pronto para
voltar a ser pai a tempo inteiro;
Michael Cohen, o advogado de
Donald Trump, foi alvo de
buscas pelo FBI.
A lula continua. Ou melhor, a
luta por Lula não abranda, como conta a Christiana Martins, a enviada do
Expresso a Curitiba, no Brasil. E esta noite a defesa do
ex-presidente
chega,
outra
vez,
a Lisboa .
Há novidades na
administração do Montepio e
termina o prazo para os lesados do papel comercial
do BES/GES aderirem ao fundo que pagará as indemnizações.
Em jeito de rima, saltamos para
as promoções -
anunciadas ontem
para a PSP pelo Ministério da Administração Interna, horas depois de o
principal sindicato da polícia ter
admitido novas
ações de luta, em conjunto com os militares.
Entretanto, se andar para os lados
de Santa Margarida, não se assuste se ouvir tiros e explosões.
É fogo real, sim, mas é só uma demonstração para assinalar a
primeira visita oficial do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas ao
Exército. É às 10h00
O QUE ANDO A LER
Com os playoff da NBA mesmo
aí à porta, e sem grandes leituras para recomendar, atrevo-me a sugerir dois
artigos sobre basquetebol. Ambos valem pelas histórias improváveis que
contam.
Começo pelo mais breve: a
aventura de um jogador que chegou à NBA aos 32 anos e que teve uma estreia
de sonho. A noite de Andre Ingram em Los Angeles foi tão especial
que, como
conta o
"Washington Post", ninguém parece ter ligado muito ao facto
de os Lakers terem perdido o jogo (o adversário não era o mais
fácil).
Por fim, quero falar-lhe
de Becky Hammon, a primeira mulher treinadora na NBA. O artigo da
"The New Yorker" é longo, mas a história que conta
faz com
que valha a pena. E tem o aliciante de revelar o que as pessoas estão
dispostas a fazer por um sonho. Hammon, que diz ser não poder ser
mais americana, jogou pela seleção da Rússia.
Saiba que hoje, com
muita chuva
prevista para
Portugal e muitos nervos espalhados pelo mundo, é dia do cosmonauta,
para assinalar o primeiro voo espacial tripulado.
A 12 abril de 1961 - seis
meses antes de ter sido publicada a primeira notícia conhecida sobre
Donald Trump (o atual presidente tinha 15 anos e,
contava o
“Democrat and Chronicle’s”, fora eliminado de um torneio de golfe) - o
russo Yuri Gagarin olhou para baixo e tornou-se o primeiro ser humano a
contemplar esta gigante bola de basquete azul em que vivemos.
Agasalhe-se e tenha um bom
dia de mau tempo.