segunda-feira, 11 de junho de 2018

OS LOBOS FAMINTOS DO BILDERBERG E O MALUQUINHO DE WASHINGTON


Bom dia, esta é a primavera comprida mascarada de inverno. O verão começa dentro de dois dias, dizem. Habituados a serem sistematicamente enganados é claro que os portugueses já nem acreditam nessa tal coisa do verão. Mas que sim, dizem, quarta-feira começa o verão. Prevêem 24 graus de temperatura, e sol num céu sem nuvens. 24 graus é pouca coisa para esta altura do ano. Há os que fazem pfff ao ouvir a previsão. Têm razão. Provavelmente vamos entrar noutra de engano. Enganados, quilhados e mal pagos é o que experenciamos todos os dias. Todas as semanas. Todos os meses. Todos os anos. Pois.

Já sabe, vem aí o Expresso Curto. Está convidado a ler o que mora em textos no Curto do tio Balsemão, chegado há poucas horas do encontro no tal clube secreto de batismo Bilderberg. Aquela coisa que para nos fornicar nem precisa de preservativo, nem teme a SIDA, nem doenças venéreas ou simples micoses porque… o clube secreto é capado e nem isso faz diferença comprovado que está que só nos fornica a vida. O quê? Pois.

Credo, olhem para o me havia de dar hoje. Bom dia tio Balsemão, fez boa viagem de regresso cá ao burgo luso? Já agora uma solicitação de indiscrição sobre coisas secretas bildeberguianas: Segundo os vossos secretos planos quantos milhares de milhões é que vão tramar após as conclusões do vosso encontro secreto? Tantos? Pois. É sempre a mesma coisa. Apre!

A seguir terão oportunidade de ler sobre o Maluquinho de Washington, da família da lusa Maluquinha de Arroios, mas mau, mesmo muito mau. Um Trump que é uma trampa.

Adeus, até amanhã, se não chover nem cair neve. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O homem que tinha ataques de tweet

Filipe Santos Costa | Expresso

Bom dia.

Primeiro, houve a rutura nos acordos climáticos de Paris. Depois, a rutura no acordo nuclear com o Irão. A seguir, veio a rutura dos acordos comerciais. E, agora, uma guerra de palavras sem precendentes, desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos contra países aliados. A cimeira do G7, no Canadá, que podia ter sido um momento de apaziguamento no meio do clima de tensão entre Donald Trump e os líderes das maiories economias do mundo, foi, afinal, o momento em que se passou mais uma linha vermelha. Outra vez com Trump a carregar no botão da arma de destruição diplomática maciça em que transformou a sua conta do Twitter.

No último momento, já com o comunicado final acordado - em negociações tensas que ficam guardadas para a história em fotos que se tornaram imediatamente virais -, Trump deu ordens para que os EUA saltassem do acordo alcançado, furioso por Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, ter criticado as pesadas taxas determinadas por Washington sobre produtos canadianos. E ainda o mimoseou com os adjetivos "desonesto" e "fraco". Como se não bastasse, o principal conselheiro económico de Trump acusaTrudeau de ter "traído" e "esfaqueado [os EUA] pelas costas". E o conselheiro de Trump para o comércio internacional também entrou na dança, para jurar que "há um lugar especial no inferno" para o primeiro-ministro do Canadá.

"A cooperação internacional não pode depender de raiva ou de palavras", reagiu o presidente francês, Emmanuel Macron. "Pode-se rapidamente destruir uma incrível dose de confiança num 'tweet'", disse o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros. Angela Merkel acrescentou numa entrevista ontem à noite que, depois de mais este episódio "deprimente" de Trump, "a Europa deve tomar o destino nas suas mãos".

O El País escreve que é preciso recuar à última Guerra do Iraque para se ver um afastamento comparável entre Washington e os seus tradicionais aliados. Mas, mesmo então, "o conflito foi enformado pelos códigos políticos tradicionais, enquanto o atual inquilino da Casa Branca delapidou toda a convenção". O New York Times nota que o confronto com o Canadá deixa Trump ainda mais isolado, quando está à beira de um momento diplomático decisivo.

É o mesmo Donald Trump, tweetador-in-chief, quem se apresenta em Singapura para uma cimeira que, antes de acontecer - e o que quer que aconteça - já é histórica. É apenas a quarta vez que o líder norte-coreano, Kim Jon-un, se desloca para fora da Coreia do Norte, e logo para um aperto de mão com o presidente norte-americano, que será seguramente uma das imagens do ano. Pode ler aqui sobre o essencial do que está em causa. O Público também faz uma boa antevisão do encontro.

Não será coincidência que Trump tenha deixado o circo a arder no G7 enquanto voava para Singapura. A chave para perceber este comportamento (para além de outras, eventualmente de natureza psiquiátrica) está, mais uma vez, na entrevista que Larry Kudlow deu ontem à CNN. Segundo o principal conselheiro económico de Trump, este dediciu engrossar a voz para Trudeau numa tentativa de marcar posição para a cimeira com Kim Jong-un. "Ele não vai permitir qualquer sinal de fraqueza quando vai negociar com a Coreia do Norte." Nada como perceber a cabeça do homem.

A cimeira de Singapura já é um mega acontecimento diplomático, mediático e de segurança. A China está nervosa, assegura o New York Times. E há dissidentes norte-coreanos de olhos postos na reunião, para perceber se algum dia poderão voltar a viver no seu país. Em todo o caso, este será mais uma vez um palco para as intuições de Trump, que já admitiu não se ter preparado especialmente para o encontro. Será com o seu "toque" e as suas "sensações" que perceberá como tudo irá correr. "É assim que eu faço."

Manifestamente inspirado pela retórica trumpista, Marcelo Rebelo de Sousa, que ontem voou para os EUA, para assinalar em Boston o Dia de Portugal, garantiu aos luso-descendentes que "os Estados Unidos são um grande país mas Portugal ainda é maior”. Ok. Antes de embarcar para os EUA, o Presidente da República frisou a sua preferência pela "paciência dos acordos à volúpia das ruturas, mesmo que tentadoras". Parecia mesmo um recado sobre a vertigem da diplomacia norte-americana.

Nestes tempos em que tudo o que está ligado aos EUA tem de ser "enorme", "incrível" e superlativo, Portugal promete uma ofensiva diplomática "sem precendentes" naquele país. Marcelo e António Costa lá estão, com o primeiro-ministro a chefiar uma grande comitiva. "Vou ficar esta semana nos Estados Unidos para promover o investimento em Portugal, mas sei que o meu trabalho está muito facilitado, porque sempre que falamos com um americano ele conhece bem Portugal através de cada um de vós", disse o primeiro-ministro ao celebrar o Dez de Junho com a comunidade portuguesa em Boston.

Uma das joias da coroa de Portugal nos EUA pode estar pereclitante. Segundo o Jornal de Negócios, o eventual sucesso da OPA chinesa sobre a EDP pode por em causa o futuro da EDP Renováveis nos Estados Unidos. A "segurança nacional" pode ser razão para limitar a presença de uma EDP chinesa em solo norte-americano.

OUTRAS NOTÍCIAS

O novo Governo de Itália recusa que um navio com 629 refugiados que navega no Mediterrâneo possa atracar num porto italiano. A decisão é do novo ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, o partido de extrema-direita xenófoba. Itália remete o problema para Malta, que também recusa autorizar o desembarque dos imigrantes. Curiosamente, a lei italiana não dá a Salvini qualquer autoridade sobre os portos do país, o que não o impediu de criar o hashtag "estamos a fechar os portos".

António Costa, que é conhecido como o otimista irritante, diz que não vale a pena antecipar problemas com o OE de 2019. Catarina Martins, que não é conhecida por ser otimista, avisa que o acordo firmado com o PS, em 2015, é para cumprir, e cá estará o BE "determinado" para o garantir.

Portugal conquistou quatro medalhas - duas de ouro - no campeonato europeu de canoagem. A história fez-se com os nomes de Fernando Pimenta, Joana Vasconcelos e Teresa Portela.

Rafael Nadal voltou a vencer em Roland Garros. Levantou a taça do torneio francês pela 11ª vez.

Esta será a semana decisiva para o futuro do Sporting. Bruno de Carvalho não só não desiste como insiste: tem uma proposta que reforça ainda mais os seus poderes, ficando com a possibilidade de substituir membros da direção que se demitam, não podendo, assim, cair por falta de quórum na sua equipa. O Observador explica.

A Seleção Nacional de futebol já está na Rússia a preparar o primeiro jogo do mundial, e abriu as portas no primeiro treino. O selecionador nacional já tem uma equipa na cabeça. Ronaldo, como sempre, é o centro das atenções(por falar em Ronaldo, eu que me comovo por tudo e por nada...)

O Estado vai vender todos os terrenos da antiga Lisnave em Almada, conta o Público. Será no primeiro trimestre do próximo ano.

Lembra-se da Catalunha? Saiu das manchetes mas continua a ser um problema. Josep Borrel, catalão, histórico socialista e novo ministro espanhol das Relações Exteriores, avisa que "a Catalunha está à beira de um confronto civil".

AS MANCHETES DE HOJE

Público: "Estado vende todos os terrenos da antiga Lisnave em Almada"
i: "Bolha imobiliária em Lisoa. A loucura dos preços das casas bairro a bairro"
Diário de Notícias: "Alunos de tecnologias de informação com emprego garantido e mil euros de salário à saída da faculdade"
Correio da Manhã: "Dispara número de óbitos em Portugal"
Jornal de Notícias: "Menor aliciada no Facebook foi obrigada a prostituir-se"
Negócios: "OPA põe em causa futuro da EDP Renováveis nos EUA"
A Bola: "Bruno quer poder total"
Record: "Adán a caminho"
O Jogo: "Santos quer fazê-los correr"

O QUE ANDO A LER

O Pedro Rolo Duarte era um jornalista. Ia adjetivar na frase anterior, mas optei pelo ponto. Era um jornalista, ponto. Agora que já escrevi o importante, adjetivo: era um jornalista honesto, leal, inteiro.
Contava o que tinha a contar, sem merdas. Percebia o que interessava. Escrevia lindamente, mas não precisava de pirotecnia. Era inquieto, como deve ser um bom jornalista, e essa inquietude pô-lo no centro daquilo que de mais interessante aconteceu no jornalismo português durante bastante tempo: Sete, O Independente, revista d'O Independente, Kapa, DNA. Houve mais - e rádio e televisão e blogues - mas ele marcou-me nestes. Podiam ter sido ainda mais - o Pedro (de quem tive a sorte de ser suficientemente amigo para saber alguma coisa sobre o que ele gostava de ter feito e não fez) tinha planos para fazer tanta coisa boa.

O Pedro foi jornalista até ao fim, mesmo quando as redações dos jornais - as redações de que ele tanto gostava, onde ele se sentia tão em casa - se fecharam para ele. E continuou a ser jornalista na última coisa que escreveu. "Não Respire", o último livro do Pedro Rolo Duarte, só podia ter sido escrito pelo grande jornalista que ele foi. Ia acrescentar "pelo Homem que ele foi", mas pareceu-me redundante; os jornalistas mesmo grandes têm de sê-lo também na sua humanidade, pois só isso lhes dá a compreensão do que realmente interessa.

Comovi-me a ler "Não Respire", mas isso não significa que seja um livro piegas. Longe disso. O problema sou eu, não é o livro (“Tornei-me lamechas na regra e duro na excepção”, escreve o PRD, e estranhamente achei que era sobre mim). São quase 300 páginas escritas por um homem a lutar contra uma doença que sabe ser potencialmente fatal (e foi), e que usa cada uma dessas páginas para dizer “Eu não sou a minha doença. Eu não sou a minha morte”. (Na verdade, estas palavras não são dele, nem minhas - são as que o Miguel Esteves Cardoso usou na belíssima sessão de apresentação do livro, há três semanas - tantas?...)

"Não Respire" não é sobre a doença, nem é sobre a morte - é sobre a vida, e ela inclui tudo, até o seu contrário. Tem páginas de diário dessa luta corpo a corpo com o cancro, e memórias e autobiografia, e short-stories de ficção que estavam escritas ou por escrever. Há isto tudo, mas “não é um diário nem uma autobiografia”, mas talvez a tentativa de responder a perguntas simples: “Quanto vale o que vivo? E para quem?”. É por ser sobre a vida que isto comove.

“A vida em si é tão mais rica do que a ficção, que acredito que haja ‘dramas pessoais’ a merecerem edição”, escreve o Pedro, como se fosse o 'drama pessoal' o foco deste livro. Até pode ter sido para ele, enquanto escrevia (e ele é o primeiro a admitir o efeito terapêutico - prefiro chamar-lhe a injeção anímica - da escrita), mas não deixou que esse drama contaminasse o resto.

Como jornalista honesto que foi sempre, sem nada na manga, o Pedro explica o seu método, ou a falta dele: “escrevi à solta, quando me apeteceu, memórias caídas aos trambolhões”, com “desprendimento total” e uma “suprema liberdade - a de, por uma vez, aceitar que um livro pode ser como uma vida: sabemos quando é como começa, não sabemos quando é como acaba”.

O Pedro acabou de escrever o livro mesmo antes de se lhe acabar a vida. Mas o seu epitáfio, escreveu-o logo na pág. 28. “Passei por cá e diverti-me”.

Tenha um bom dia.

Divirta-se.

O calor chega depois de amanhã.

Ondjaki: Governo de João Lourenço trouxe “expetativa” e uma “viragem” a Angola


Na apresentação da sua nova obra, o escritor diz que o executivo angolano tem dado “bons sinais”. Ondjaki lamenta a recente execução sumária de um jovem em Angola e aborda o aumento da delinquência juvenil no país.

As mudanças em curso em Angola, suportadas pelo MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), partido no poder, parecem estar a corresponder às expetativas criadas junto da população. Quem o diz é o escritor angolano Ondjaki, que falou à DW África, em Lisboa, por ocasião do lançamento da sua mais recente obra na Feira do Livro.

Aos olhos do escritor, "estamos a viver um momento completamente diferente do que se vivia antes de agosto de 2017. Penso que ninguém poderá dizer que não, é evidente que há aqui uma viragem”.

Ondjaki não duvida que "há uma tentativa de mudança, pelo menos do tecido político do próprio partido e da governação". "O Presidente João Lourenço deixou isso muito claro, que está a tentar fazer uma outra abordagem. Claro que, a sociedade civil, os jornalistas, os escritores, etc., continuam atentos e exigentes. Isso é interessante, é um bom sinal de começo", acrescenta.

"Esforço” no combate à corrupção

Um dos desafios do executivo liderado por João Lourenço visa o combate à corrupção. E, aos olhos de Ondjaki, esse combate não se limita apenas a uma mera troca de pessoas no comando das estruturas administrativas, governativas e partidárias.

Ainda que constate que "há apontamentos que fazem crer que há um esforço" do governo, o escritor angolano diz que este é um trabalho que tem de ser continuado e no qual " têm de ser aprofundados os mecanismos de controlo".

Para já, há algumas mudanças a assinalar: "o que mudou foi certo tipo de práticas e certo tipo de pressão sobre instituições coletivas ou particulares. A questão não é só a iniciativa, é mudar o paradigma, é mudar os hábitos e costumes. Isso leva tempo", explica o escritor, acrescentando que espera "que este Governo e este Presidente, tenham a capacidade, a coragem e a perseverança de continuar a trabalhar" com vista à mudança.

Ondjaki, que foi uma das vozes críticas aos desmandos do anterior regime do ex-presidente José Eduardo dos Santos, considera, no entanto, que ainda é cedo para avaliar a governação do seu sucessor João Lourenço. O escritor não duvida que estamos perante um "governo com caraterísticas diferentes, mas diz também que ainda é cedo para tirar conclusões. "É um governo que está mandatado, penso, para cinco anos e, portanto, está no início, a metade do primeiro ano. Digamos, teríamos que fazer uma avaliação muito breve. Mas, tem dado bons sinais. É um governo que deriva de um mesmo partido, de uma certa mesma ideologia, mas que mudou muito. Houve ali uma viragem", afirma.

Deliquência juvenil

Ondjaki admite que as políticas preconizadas pelo Governo de João Lourenço terão reflexo positivo, a médio e longo prazo, face aos problemas que afetam os jovens angolanos confrontados, por exemplo, com a falta de emprego – o que os acaba por empurrar muitas vezes para o mundo da delinquência e da criminalidade.

Para o escritor angolano, a delinquência é, sem surpresa, uma questão "gritante" no país, "dadas as condições de desigualdade extrema" que se vivem em Angola. "E agora as pessoas começam também a manifestar-se de uma maneira um bocado extremada – mandar matar. Não se pode dizer que é culpa de A, B ou C. Não se pode polarizar essa situação. Toda a criminalidade é consequência de um conjunto vasto de fatores. Agora, é óbvio que o Presidente e o Governo têm que estar preocupados com a conjuntura do país, seja ao nível da criminalidade, seja ao nível da saúde, seja ao nível da educação", afirma.

Ondjaki lamenta a recente execução sumária por parte da polícia angolana de um jovem, supostamente delinquente. "Acho que a Polícia sabe e nós também sabemos qual é o seu papel. Há um manual de procedimentos, seja do ponto de vista jurídico, seja do ponto da instituição que é a Polícia”, disse Ondjaki lembrando que a polícia "é interessante" o facto de a "polícia ter vindo a público reconhecer o modo de atuar daquele polícia em especial".

Novo livro 

Na Feira do Livro de Lisboa, o escritor apresentou o seu novo título "Há Gente em Casa", uma incursão pela poesia, também com uma componente de apelo à reflexão crítica sobre África.

À DW, o autor explica que esta nova obra, publicada pela Caminho, e apadrinhada pelo mais antigo editor lusófono, Zeferino Coelho, "é uma nova poesia (…), numa outra direção". "Este livro tanto tem poemas que abordam questões sociais recentes como também aborda a questão da escravatura", explica Ondjaki, acrescentando que na contemporaneidade há outros tipos de escravatura, por exemplo na tecnologia. "Há pessoas na Palestina, na Síria, que neste momento estão a viver estados muito próximos do que seriam as condições esclavagistas". Na opinião de Ondjaki, "há ainda muitas consequências da escravatura para trabalharmos".

 Apesar de ser mais difícil traduzir poesia, o escritor admite que possa apresentar o seu novo livro também na Alemanha.

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

Commonwealth e Francofonia uma "questão de prioridade e oportunidade" para Angola


Para o economista angolano Josué Chilundulo, vontade angolana de integrar Organização Internacional da Francofonia e Commonwealth é passo estratégico e diplomático. Mas Angola deve definir prioridades.

No fim de maio, o Presidente de Angola, João Lourenço, durante a visita a França, manifestou a vontade de ver o seu país integrado na Organização Internacional da Francofonia. Poucos dias depois, Angola também mostrou o mesmo interesse em relação à Commonwealth, tendo já oficializado o pedido de adesão.

Até agora, o país faz parte de organizações de países onde se fala o português: PALOP e CPLP. A DW África conversou com o Josué Chilundulo, economista angolano, sobre as novas pretensões de Luanda.

DW África: É normal o interesse de Angola, considerando as relações de afinidade que possui com membros da organização francófona e da Commonwealth?

Josué Chilundulo (JC): Em princípio sim. Aquilo que é a nossa observação decorre de uma reconquista. Ou seja, Angola tem uma frente forte, a nível da diplomacia económica, social e um pouco no âmbito cultural, por causa de uma espécie de desperdício de tempo no passado. Angola, um pouco influenciada pelo elevar de preço do petróleo e, de certa forma, com alguma disponibilidade fiscal por causa disso, deixou de se relacionar com o mundo e honrar com alguns compromissos, até contratuais. E hoje, é claro, para que tenha acesso à linha de investimentos no mercado internacional e para que consiga reposicionar-se a nível da estratégia mundial, quer no mundo económico, quer no mundo social, precisa de fomentar relações. A nível da diplomacia, parece-nos bem.

DW África: Algum motivo específico estará a ditar esta estratégia de João Lourenço?

JC: Quero crer que sim. Tendo em conta mais a perspetiva económica. Vamos buscar dois exemplos significativos. O primeiro tem a ver com o desejo estratégico do Presidente em dar passos significativos a nível da zona do comércio livre. Nesse sentido, uma relação de proximidade com os países a nível da região faz todo o sentido. Por outro lado, há a necessidade de se maximizar a capacidade produtiva do país por via da conquista do investimento direto estrangeiro. Nesses termos, o caminho do investimento concentra-se essencialmente nas grande comunidades, que são a comunidade inglesa e a comunidade francesa. Ou seja, o mercado internacional, quer a nível de capital financeiro, quer a nível de know how, etc., concentra-se muito mais nos países de expressão de língua inglesa e francesa do que nos países de expressão portuguesa.

DW África: Este interesse de Angola em fazer parte dessas organizações não põe em causa a sua integração e as suas relações com outros membros da CPLP?

JC: Tecnicamente falando, quando um país decide integrar-se em diferentes regiões acaba por ter dificuldade de honrar compromissos, uma vez que cada região tem normas e princípios específicos. Muitas vezes, tais normas podem entrar em contradição. Neste caso, penso que Angola deverá, a médio e longo prazo, definir prioridades: em qual das comunidades deverá encontrar conforto e noutras ter apenas uma participação parcial e de observador. Quanto à CPLP, ali os processos estão consolidados, os poderes de influência estão completamente conquistados e penso que as relações entre os países também estão muito bem consolidadas, quer de forma bilateral quer do ponto de vista do contexto da própria comunidade. Ou seja, estou aqui a buscar exemplos de relacionamentos, quer políticos quer económicos, e até a nível militar, muito bem consolidados e penso que o direcionamento das baterias para outras comunidades não poderá ferir em nada os relacionamentos já existentes. É uma questão de diplomacia, é uma questão de prioridade e oportunidade. 

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Moçambique | O perigo da exclusão social


@Verdade | Editorial

A onda de terror na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, cresce de forma assustadora. Nas últimas semanas, sete pessoas foram assassinadas na aldeia de Naunde, no distrito de Macomia, outros dez cidadãos foram decapitados no passado dia 27. Os crimes são perpetrados com armas brancas, do tipo catana.

O grupo supostamente constituído por jovens, para além de destruir residências, assaltou estabelecimentos comerciais, uma mesquita e uma unidade sanitária, onde se apoderaram de diversos medicamentos. Apelidado pelos locais de Al Shabaab, este movimento de jovens aparentemente sem rosto tem vindo a intensificar as suas incursões colocando à prova a Polícia moçambicana e as Forças de Defesa e Segurança, que parecem desnorteados. Devido a essa situação, centenas de pessoas já começam a abandonar as suas habitações.

As investidas de movimento de jovens em Cabo Delgado são entendidas no norte de Moçambique como uma retaliação às desigualdades económicas e as gritantes assimetrias regionais em Moçambique. Os jovens assistem, todos os dias, a grandes investimentos ou empreendimentos tomando forma naquela parcela do país e, na mesma velocidade, veem a sua condição de vida definhar.

Sem emprego e oportunidades de formação, os jovens vivem sem nenhuma perspectiva e, muitas vezes, na incerteza do que há-de comer no dia seguinte. Grande parte dos moradores das zonas onde estejam a ser exploradores algum tipo de recurso acredita que lhe está a ser roubado os seus recursos e a oportunidade de trabalho. Há um pensamento segundo a qual há um grupo de pessoas que estão a viver à custa do seu sofrimento.

O sentimento de exclusão, sobretudo nas questões ligadas ao desenvolvimento económico, e abandono pelo Estado moçambicano tem estado a ganhar corpo de forma assustadora na província de Cabo Delgado. Aliás, nas regiões onde se tem registado os ataques à cidadãos inocentes falta quase tudo, desde escolas condignas, hospitais até ao acesso à água potável.

Obviamente, nada justifica a violência e o terror, mas cada vez que a Polícia moçambicana vem a público afirmar que está a controlar a situação, o grupo procurar provar o contrário, ou seja, parece mais forte e sem nada a perder.

Grupo armado faz mais 6 mortos e incendeia aldeia no norte de Moçambique


Pelo menos seis pessoas foram assassinadas e duas ficaram gravemente feridas num novo ataque perpetrado no norte de Moçambique por homens ainda não identificados.

Os fatos aconteceram na noite de quarta-feira (06.06), no distrito de Quissanga, e com estas vítimas o número de assassinatos cometidos em doze dias chega aos 30.

O administrador do distrito, Bartolomeu Miubo, explicou que o ataque aconteceu por volta das 21h (horário local) na aldeia de Namaluco.

As vítimas foram decapitadas com espadas ou então baleadas; os terroristas também queimaram cerca de cem casas.

Em Namaluco, o palco é semelhante ao de ataques anteriores: a aldeia com cerca de 1.500 a 2.000 habitantes, não tem eletricidade nem infraestruturas, é acessível através de uma estrada em terra e as casas são de construção artesanal.

As vilas sede de distrito mais próximas, Quissanga e Macomia, onde há energia e serviços, estão a algumas dezenas de quilómetros. Os residentes dizem ter ouvido vozes dos atacantes em suali, língua falada na Tanzânia, e noutras que desconheciam.

Outras fontes locais relatam que o fogo da última noite (07.06) era visível da ilha do Ibo (Quissanga é um distrito costeiro), para a qual se estarão a deslocar inúmeros habitantes da região, que tentam encontrar um local seguro.

Nova vaga de ataques

Esta nova vaga de violência começou com incursões nas aldeias de 25 de junho e Monjane, no distrito de Palma, a 27 de maio, provocando dez mortes por decapitação. Um outro habitante terá sido assassinado em Muti, na quinta-feira, dia 31.

Entretanto, durante operações das autoridades com apoio da população no distrito de Palma, 11 suspeitos de pertencer aos grupos armados foram mortos: nove na sexta-feira, dia 01 de junho, e outros dois no domingo, dia 03, disseram fontes locais à Lusa. O porta-voz da Polícia da República de Moçambique(PRM), Inácio Dina, confirmou a operação de dia 01 e referiu que essas mortes aconteceram depois de os suspeitos resistirem a uma ordem de rendição.

Entre a noite de dia 04 e a madrugada de dia 05, os agressores fizeram sete mortos ao atacar a aldeia de Naunde, distrito de Macomia, que ficou quase reduzida a cinzas com cerca de 160 casas destruídas.

A PRM referiu na terça-feira (05.06), em conferência de imprensa, que Naunde terá sido alvo dos elementos restantes do grupo que fez dez decapitações a 27 de maio.

Desde outubro de 2017, o norte de Moçambique vem sofrendo ataques de grupos armados não devidamente identificados. Na região estão localizadas grandes jazidas de gás natural e petróleo com concessões a multinacionais como a italiana ENI e a americana Anadarko.

Detenções em Nampula

A Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, já deteve cerca de 40 cidadãos, nacionais e estrangeiros, que supostamente seguiam viagem para o distrito de Palma onde alegadamente iam juntar-se a outros elementos que têm semeado terror e luto em Cabo Delgado.O comandante Provincial da PRM em Nampula, Manuel Zandamela,disse que as pessoas estavam a ser recrutadas com destino a Cabo Delgado com falsas promessas de emprego. 

"Alguns dos nossos irmãos, filhos e maridos foram enganados e saíram daqui para comercializar produtos que também aqui temos e não estamos a conseguir vender. Eles iam apara Cabo Delgado. Então, viemos aqui para ver o que na verdade acontece", explicou. Manuel Zandamela esclareceu as populações de Chalaua, em Moma, que ‘‘quero aqui clarificar que eles não cometeram nenhum crime, mas apenas estavam a ser enganados e aliciados para negócios em Cabo Delgado", disse.

Os cidadãos em causa recusam completamente as declarações do Comandante da Polícia e alegam que são comerciantes que queriam somente comprar artigos que em seguida seriam revendidos.

Namarinho Amaral é um dos jovens integrantes do grupo dos 40 e disse à DW África que "não íamos para Mocímboa da Praia, mas sim para Namapa [distrito da província de Nampula] comprar gergelim. Saímos daqui de Chalaua e fomos detidos em Nametil e o agente da Policia de Transito mandou-nos voltar para irmos obter guia de marcha que nos identificava a caminho de Namapa para fazer compras", disse.

Jovens sem emprego

O analista e advogado, Arindo Murririua, entende que os ataques na província de Cabo Delgado surgiram depois das autoridades moçambicanas terem proibido a exploração ilegal nas minas em Namanhumbiri facto que deixou sem emprego vários jovens. O analista teme que esses ataques se alarguem para outras regiões e diz que chegou altura para o Governo identificar a cabecilha desses grupos de atacantes e colocar um fim à situação.

‘"Há dúvidas sobre esses jovens que foram apanhados em Moma... se a Polícia diz isso, ela é uma instituição credível, mas deve-se fazer uma investigação séria para apurar que realmente eles iam engrossar algum grupo ou não. Uma guerrilha não acaba no mato, mas sim na mesa com champanhe e é preciso envidar esforços para se conhecer realmente quais são os cabecilhas daquele grupo e haver negociação para se acabar com o mesmo’’, disse.

Sitoi Lutxeque (Nampula), Agência Lusa | em Deutsche Welle

Macau vai ter papel ativo na iniciativa "Uma Faixa, uma Rota" - Governo


Macau, China, 10 jun (Lusa) - O chefe do Governo de Macau, Chui Sai On, declarou hoje que o território terá uma participação ativa na iniciativa chinesa "Uma Faixa, uma Rota", com base na sua característica de ponte entre a China e o Ocidente.

"Baseada nas suas vantagens singulares enquanto ponte de ligação no intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente, designadamente plataforma de cooperação comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, Macau terá uma participação ativa na estratégia nacional 'Uma Faixa, Uma Rota'", disse o chefe do Governo.

Fernando Chui Sai On falava por ocasião das comemorações do 10 de Junho, na residência consular, perante centenas de pessoas. O líder reiterou o desenvolvimento contínuo das "relações de amizade" e cooperação entre a RAEM e Portugal.

Na última intervenção como cônsul-geral de Portugal na região, Vítor Sereno destacou "o momento alto" das relações entre Portugal e a China, numa altura em que se aproximam os 40 anos das relações diplomáticas entre os dois países e os 20 anos do estabelecimento da região administrativa especial.

"Queremos estar na primeira linha da iniciativa 'Uma Faixa, uma Rota'. A China e Portugal são parceiros nesta visão, podendo o meu país servir de ponto de encontro entre as rotas marítima e terrestre", disse.

Neste sentido, Vítor Sereno destacou o porto de Sines, que se situa "na confluência de três rotas internacionais de comércio (Mediterrâneo, África e Canal do Panamá)".

"É momento para dar um passo qualitativo no investimento chinês em Portugal, direcionando-o também para a criação de empreendimentos de raiz em novos setores, nomeadamente automóvel, onde dispomos de capacidade instalada em unidades industriais de grandes macas europeias e japonesas. A cooperação na mobilidade elétrica seria particularmente promissora", proferiu o diplomata no sexto e último discurso reservado ao dia de Camões.

Na mesma ocasião, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, agradeceu ao Governo de Macau a preservação e promoção da cultura e tradições portuguesas, sobretudo o destaque à língua portuguesa, "um ativo que liga Portugal a Macau, mas que também liga toda a comunidade lusófona - desde o Brasil, a África, sem esquecer Timor-Leste".

"A singularidade de Macau enquanto ponto de encontro histórico entre Portugal e a China confere-lhe o estatuto de plataforma de cooperação, de que é exemplo o Fórum Macau", frisou o secretário de Estado, presente na cerimónia em representação do Governo português.

Na opinião do governante, as relações comerciais entre os dois países têm vindo a conhecer "uma vitalidade crescente" nos mais diversos domínios: económico, cultural e comercial.

António Mendonça Mendes lembrou "o país que ultrapassou a crise financeira e orçamental e que é hoje um exemplo em toda a Europa, um país que cresce, um país que cria emprego" e, por isso, "que recuperou o orgulho em si mesmo".

No entanto, considerou que o país apenas está completo com as "comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo".

FST // VM

China "apoia" cimeira mas com "reservas" -- académico chinês


Pequim, 10 jun (Lusa) - O professor chinês de Relações Internacionais Wang Li afirma que, "no geral", a China apoia a cimeira entre Coreia do Norte e Estados Unidos, admitindo existirem algumas "reservas" face à aproximação de Pyongyang a Washington.

"Apesar de existirem diferentes visões sobre o envolvimento da China na península coreana (...) o papel da China na desnuclearização e estabilidade da região é tido como incontornável", disse à agência Lusa, dias antes da cimeira, Wang, formado em Ciência Política pela universidade inglesa de Aberdeen, e professor na Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu homologo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, reúnem-se na terça-feira, em Singapura, num encontro histórico que ocorre depois de, em 2017, as tensões terem atingido níveis inéditos desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53), face aos sucessivos testes nucleares de Pyongyang e à retórica beligerante de Washington.

Wang sustenta que, apesar de "alguns céticos" temerem que a cimeira enfraqueça o papel da China e que uma possível reunificação da península coreana venha a constituir uma ameaça para o país a longo prazo, Pyongyang vai continuar a depender de Pequim.

"A RPDC [República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte] precisa da China como tremenda retaguarda estratégica, que funciona desde aliado ideológico, parceiro político, fornecedor de apoio económico e tecnologia, modelo institucional até janela para o mundo exterior", defende.

O académico recorda ainda que Kim Jong-un precisa de uma retaguarda forte na aproximação a Donald Trump, por "motivos simbólicos e reais".

Pequim e Pyongyang combateram lado a lado contra os EUA na Guerra da Coreia e a relação entre os dois países costumava ser descrita como sendo "unha com carne".

Nos mapas chineses impressos até há cerca de 20 anos, a península coreana correspondia a apenas um país, a RPDC, com a capital em Pyongyang. Seul tinha então o estatuto de cidade de província.

No entanto, a insistência do regime norte-coreano em desenvolver um controverso programa nuclear levou Pequim a afastar-se do país, consciente que este representava um embaraço para a sua diplomacia e uma fonte de instabilidade regional.

No entanto, os dois lados reaproximaram-se, à medida que Kim embarca numa ofensiva diplomática e põe a hipótese da desnuclearização, em troca de garantias de segurança.

Em março passado, Kim Jong-un visitou Pequim e encontrou-se com o Presidente chinês, Xi Jinping, na sua primeira visita ao estrangeiro desde que assumiu a liderança da Coreia do Norte, há mais de seis anos. Menos de dois meses depois, Kim voltou a reunir-se com Xi, na cidade chinesa portuária de Dalian, no nordeste do país, numa cimeira surpresa.

Wang explica que a China "precisa de estabilidade e paz nas suas fronteiras".

Caso a península seja pacificada, Pequim "pode então concentrar as suas energias" no Mar do Sul da China, que reclama quase na totalidade - apesar dos protestos dos países vizinhos -, e em Taiwan, cujos laços com o continente se deterioraram desde a eleição da Presidente Tsai Ing-wen, pró-independência, afirma Wang.

Outra vantagem no regresso ao diálogo na península é "a promoção da imagem da China como mediadora da paz e grande potência responsável", diz o académico, numa altura em que Pequim abdica do tradicional perfil discreto na cena internacional e reclama a liderança na governação de questões globais.

"A China é o principal país a defender o diálogo a seis na península", que envolve ainda Rússia, EUA, Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte, "se essa proposta avançar, será verdadeiramente um grande sucesso para a imagem internacional da China", conclui Wang.

JPI // ANP

O que pode sair do encontro entre Trump e Kim?


A DW perguntou a analistas quais são os possíveis resultados da planejada reunião histórica entre o presidente americano e o líder norte-coreano, em meio a expectativas de desnuclearização da península coreana.

Após meses de tensões, a comunidade internacional aguarda com ansiedade por uma cúpula entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, agendada para a próxima terça-feira (12/06), em Cingapura.

A DW Brasil conversou com analistas sobre as perspectivas de aproximação entre EUA e Coreia do Norte. A seguir, a resposta dos especialistas a quatro perguntas: 

1- Qual o melhor cenário que se pode esperar para o encontro entre Trump e Kim?

- Robert King, enviado especial dos EUA para questões de direitos humanos da Coreia do Norte de 2009 a 2017: 

"O melhor cenário para uma reunião entre Trump e Kim seria que as negociações dessem início a um esforço contínuo para que ambos os lados caminhem em direção à desnuclearização e melhorem as relações. As questões são complexas, a desconfiança de ambos os lados é profunda e de longo prazo, e as diferenças não vão ser resolvidas em uma única reunião.

O cenário do Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, para a desnuclearização imediata da Coreia do Norte é irrealista. Não há uma indicação clara do que os EUA podem oferecer para satisfazer a Coreia do Norte ou do que estariam dispostos a fornecer como incentivo para que o Norte concorde em avançar rumo à desnuclearização."

- Alexandra Bell, diretora de políticas do Centro para o Controle de Armas e Não Proliferação, think thank sediado em Washington:

"Se saíssemos da cúpula com algo como o acordo com o Irã, seria positivo e altamente irônico. Seria algo muito frustrante de ver, mas ainda preferível a um conflito na península. Mas deve ser entendido que isso está a meses – se não a anos – de distância. Será o mais complicado acordo de não proliferação já negociado na história. Isso fará com que o acordo com o Irã fique parecendo moleza."

- Joshua Pollack, editor do The Nonproliferation Review, jornal acadêmico do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação:

"O melhor cenário que posso imaginar seria uma reunião de cúpula em grande parte meramente formal que tenha iniciado – e não que tenha encerrado – um processo de negociação."

- Evans Revere, ex-vice-chefe de missão da Embaixada dos EUA em Seul, diretor de assuntos coreanos no Departamento de Estado e antigo representante do governo dos EUA na Coreia do Norte:

"O melhor cenário é provavelmente o resultado menos provável da cúpula: uma reunião na qual o líder norte-coreano concorde com a desnuclearização, conforme definida pelos Estados Unidos; faz um "pagamento antecipado" significativo em direção à desnuclearização, eliminando imediatamente algumas de suas capacidades, instalações, armas e material físsil; concorde com um cronograma para o fim completo de seu programa de armas nucleares; e também concorde em um processo de negociação com os Estados Unidos destinado a implementar o acordo de desnuclearização e lidar com detalhes técnicos."

2- E qual é o pior cenário para a cúpula Trump-Kim?

- King: "O pior cenário para a reunião entre Trump e Kim seria Trump encarar tudo como uma reunião única em que os EUA apresentam todas as suas exigências e abandonam tudo quando o Norte se recusa a atender. Essa pode ser, embora ainda não tenhamos certeza de que seja, uma oportunidade única de mudar o cenário de hostilidade de ambos os lados e tentar construir um relacionamento que leve à desnuclearização."

- Bell: "O pior resultado possível é que as partes se afastem decepcionadas e com raiva e que voltemos para onde estávamos antes dos Jogos Olímpicos de Inverno."

- Pollack: "O pior caso seria um encontro que destaque apenas as diferenças entre os dois lados e leve ao fim abrupto desse processo."

- Revere: "O pior cenário para a cúpula seria o líder norte-coreano rejeitar a desnuclearização, a menos que os EUA tomem medidas que nunca vão poder ser tomadas (como o fim da aliança EUA-Coreia do Sul ou a retirada das tropas americanas da península). Nesse caso, o encontro vai acabar em uma atmosfera de recriminação, e o presidente dos EUA pode começar a considerar opções militares para lidar com a ameaça nuclear do Norte."

3- Você acha que Trump e Kim estarão adequadamente preparados para a cúpula?

- King: "Eu tenho sérias dúvidas de que Trump esteja se preparado adequadamente para a cúpula. A prática normal nas discussões de relações internacionais é que os funcionários de nível inferior se encontrem e explorem as possibilidades e opções de cooperação, investiguem cuidadosamente e explorem o lado do outro e interesses e preocupações de cada um. Chegar a essa cúpula sem discussões de nível inferior para examinar áreas de concordância pode levar a sérios equívocos. Negociar com o jovem líder autoconfiante de uma nação soberana não é de forma alguma uma reunião entre um empreendedor imobiliário com um parceiro em potencial ou um possível financiador."

- Bell: "Você não costuma ter muitas chances desse tipo. Seria uma pena se o governo Trump não cedesse e fizesse o trabalho necessário para pelo menos criar algum tipo de resultado positivo. As expectativas são muito altas."

- Pollack: "Se um encontro acontecer, Kim estará altamente preparado e escolherá suas palavras cuidadosamente. Trump vai improvisar. É assim que eles operam. Trump não aceita muito bem orientações de sua equipe."

- Revere: "Eu não posso falar pelo presidente dos EUA, que tem uma conhecida aversão por detalhes de se informar por relatórios. No entanto, para o líder norte-coreano, uma vez que o destino de sua nação está em jogo, não há dúvida de que ele estará bem preparado. Ele também pode chegar à mesa pronto para preparar armadilhas ao presidente dos EUA."

4- Existe um modelo histórico para um país como a Coreia do Norte abrir mão de suas armas nucleares totalmente funcionais?

- King: "Não há um modelo histórico para a Coreia do Norte desistir de sua capacidade nuclear. Não há um modelo para a desnuclearização que os EUA buscam na Coreia do Norte. Também não existe um modelo que os Estados Unidos possam fornecer como incentivo ou garantia aos norte-coreanos para assegurar a segurança deles ou deixar claro quais benefícios os EUA podem fornecer à Coreia do Norte com o objetivo de garantir um acordo de Kim Jong-un para a desnuclearização."

- Bell: "Nenhum país jamais desistiu de um programa de armas nucleares em pleno funcionamento além da África do Sul – e eles meio que fizeram isso por conta própria e voluntariamente."

- Pollack: "Não há precedente real para um país que renuncie a suas próprias armas nucleares. Alguns podem apontar para a Líbia, mas a verdade é que a Líbia não tinha um programa de armas nucleares digno desse nome.

Outros podem se referir às antigas repúblicas soviéticas, mas isso também não se aplica. Após o colapso da URSS, a Ucrânia, o Cazaquistão e a Bielorrússia permitiram que a Rússia removesse todas as ogivas nucleares soviéticas de seus respectivos territórios. Outros podem mencionar a África do Sul, mas esse também é um modelo muito diferente. O país silenciosamente desmantelou seu pequeno arsenal e só depois admitiu que ele havia existido. E até hoje os sul-africanos ainda mantêm um estoque de urânio altamente enriquecido."

- Revere: "Alguns tentaram usar o exemplo da África do Sul ou da Ucrânia ou de outras antigas repúblicas soviéticas como precedentes para o que a Coreia do Norte poderia fazer, mas nenhum desses exemplos realmente se assemelha à situação norte-coreana."

Michael Knigge (jps) | Deutsche Welle

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