domingo, 22 de julho de 2018

Portugal | Política e ética


Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Nesta última semana tivemos, em Portugal e no plano internacional, comportamentos de alguns políticos que causam indignação e deixam, ao cidadão comum, acrescidas desconfianças para o futuro. Trump foi, uma vez mais, a expressão limite da amoralidade, da utilização descarada da mentira, da negação de valores e princípios éticos que se exigem no exercício da política. E não faltam por aí atores políticos com total desprezo pela verdade e dispostos a mobilizar os cidadãos contra a democracia e pela negação da política. Na Assembleia da República (AR) assistimos a um comportamento desses: Manuel Pinho achincalhou os deputados e gozou com os portugueses, talvez por acreditar que os buracos nas leis, o espaço para manobras processuais e o arrastamento dos processos judiciais, e a sobreposição do poder económico ao poder político lhe permitirão passar impune. A sua arrogância e sobranceria foram chocantes.

Entretanto, também esta semana, vimos partir um político exemplar - João Semedo - um Homem de enorme humanismo e compromisso com as gerações futuras, que dedicou a vida à causa pública buscando como contrapartida a construção de vida mais feliz para o conjunto dos seres humanos - sempre a partir da defesa dos que mais precisam - e por consequência para ele. Era esse o alimento da alegria que nos mostrava nas horas boas e más dos combates políticos, sociais ou culturais em que se envolveu, a partir de uma militância empenhada primeiro no PCP e depois no BE.

Este contraste desafia-nos a uma reflexão séria sobre o que se passa com o exercício de responsabilidades públicas, com a política e a ética, identificando e denunciando as suas subversões. Imaginemos, por exemplo, uma associação cuja missão é a ajuda a terceiros em situação de necessidade e que nela, oportunisticamente, alguém se oferece para ocupar um cargo de responsabilidade, não para cumprir a missão da associação, mas para retirar do cargo vantagens pessoais de algum tipo. Quando a tramoia é descoberta, o prestígio da associação sofre um duro golpe, da mesma forma que a honorabilidade de todos os que trabalham para essa associação, mesmo a dos mais honestos e dedicados. E basta a existência de um ou outro caso destes para a reputação de todas as associações serem postas em causa. A partir daí, o desconforto de ser confundido com práticas detestáveis não afastará malandros dispostos a obterem vantagens por qualquer forma, mas levará muitas pessoas generosas e honestas a pensar duas vezes antes de se disponibilizarem para assumir responsabilidades.

Nesta sociedade tão dominada pela economia e pela finança, lembremos o palavrão que os economistas usam - "seleção adversa" - para designar situações em que o mau produto expulsa do mercado o bom produto. É claro que falar de política é mais amplo e exigente do que tratar estas questões, mas na verdade a política é para aqui chamada.

O que designa a expressão "classe política" nestes dias? Um grupo sob suspeita a que se associam normalmente epítetos do tipo "o que tu queres sei eu" e "eles são todos iguais" - uma associação de malfeitores. Quem quer ser da "classe política"?

As coisas estão tão mal que há um certo espanto quando se descobre, geralmente demasiado tarde, que há mulheres e homens honrados que dedicam ou dedicaram uma vida inteira à política por convicção e por generosidade. Aí surge uma espécie de ritual coletivo de penitência pública feito de elogios adiados, alguns genuínos, outros hipócritas.
Se queremos evitar que os partidos e outras instituições sejam desacreditados, que as cadeiras do Governo ou da AR não passem a estar em pleno ocupadas por malandros - mesmo que malandros finos, de gravata e muito "bons modos" - são precisos mais do que elogios requentados. É preciso sermos severos contra a conversa do "é tudo farinha do mesmo saco" que polui as caixas de comentários da Internet. É necessário não transigir com o "ele rouba mas faz" que já produziu, mesmo entre nós, candidatos vencedores. É preciso combater os julgamentos na praça pública feitos pelo jornalismo de cordel. É indispensável construir projetos políticos alternativos de rigor e de compromisso efetivo com as pessoas.

*Investigador e professor universitário

Portugal | Diga Salgado com voz doce e 1249 mil milhões amargamente


Salgado não foi nem é doce, é Salgado. Pronto. No comes e bebes também é assim. A diferença é que aquele Salgado causa-nos um amargo de boca desesperante porque é insuportável. De volta e meia lá voltamos a experimentar o amargo que Salgado sempre nos causa. Ainda nestes dois últimos dias, ou assim por aí, voltámos a esse terror do amargo do Salgado. Reparem neste breve parágrafo sobre os "cozinhados" de Salgado e seus "ajudantes", sobre o banco e as "operações" da vigarice e do gamanço: “No final, o desvio de fundos penalizou o banco em €1249 mil milhões.”

O paragrafo faz parte integrante do artigo do Expresso que devem ir ler - mesmo que se fartem de vomitar - com o título catita e próprio dos maraus tipo Salgado: “Acusação do Banco de Portugal. Investigação revela esquema de desvio de dinheiro de Salgado”. Faz espécie só agora o Banco de Portugal concluir esses tais desvios e tal. Faz espécie Cavaco dar por bom, seguro, confiável o Espírito Santo (Banco) quando já se sabia que estava nas lonas, faz espécie esta cambada de políticos e lambe-botas aprendizes da vigarice que andaram a lamber as botas ao vígaro-mor e aos das suas ilhargas sempre declarando que não sabiam de nada ou até que estava tudo bem e tal... Estamos ainda a ver o peso das ações dos ladrões a aumentar e já lá vão alguns anos desde a declaração da "descoberta da crise na banca". Estamos a ver como estes sarnosos da sociedade nos roubam e passam uma vida a intrujar os que na realidade são a sustentação da produção, do trabalho, do país. Clamorosamente explorados, é evidente.

Muito se pode pôr aqui na escrita. Até com mais rigor. Mas isso daria pano para mangas. Além de corrermos o risco de metermos os pés pelas mãos porque as "operações" são de alto gabarito, complicadas para os vulgares cidadãos vitimas incessante daqueles grandes criminosos de colarinho branco - os que sabemos, os que ainda não sabemos e os que jamais saberemos.

Passamos a transcrever um pouquinho da prosa do Expresso e depois vão lá se assim ditar o aperitivo servido já a seguir. Isto depois de lembrar que os ladrões, os vigaristas e toda essa súcia de malfeitores anda por aí à solta, a viver em grande, com todo o fausto, sem que a tal dita justiça lhes toque num único cabelo que seja. Porque será? Ora, porque não é justiça nenhuma. É uma treta. Uma armadilha que só caça 'perrapados', o povinho, a plebe que sustenta tudo e ainda mais os "reis".

Boa semana que aí vem. Salvé, escravos! (PG)

Do Expresso:

Acusação do Banco de Portugal. Investigação revela esquema de desvio de dinheiro de Salgado

100 milhões para nova sede Novo Banco vende edifício da avenida da Liberdade. KPMG Auditora e cinco quadros de topo acusados pelo supervisor

Entre 2009 e 2014, Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires, então presidente e administrador financeiro do BES, respetivamente, montaram um esquema através da sociedade suíça Eurofin que permitiu tirar quase €3 mil milhões do banco. O objetivo era financiar investimentos da família e de amigos, ocultar ativos tóxicos e participações estratégicas, manipular a cotação das ações do BES e fazer pagamentos ao ‘saco azul’ do Grupo Espírito Santo. Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos e Patrick Monteiro de Barros terão sido alguns dos beneficiários. No final, o desvio de fundos penalizou o banco em €1249 mil milhões.


Brasil | Independência e Soberania Nacional

Zillah Branco* | opinião

O Estado oligarca que serve aos interesses da sua burguesia brasileira evolui com uma lentidão aflitiva. Ha séculos delegou a responsabilidade de fazer avançar uma engrenagem, para afastar a monarquia colonialista, ao patriarca da independência - José Bonifácio de Andrada e Silva - promovendo o grito do Ipiranga por D. Pedro I. Assumiu o papel de preparar o futuro Imperador instruindo-o para desenvolver obras culturais e acolher os emigrantes europeus, e a Princesa Isabel para assinar a Libertação dos Escravos. A oligarquia, à sombra do poder político alimentado pelo sistema financeiro e comercial da Inglaterra, traçou os seus caminhos de enriquecimento e opressão do povo que ficou livre, mas sem emprego.

Uma frase habitual, quando o brasileiro não estava para se apoquentar na busca de solução para um problema trabalhoso, era "ficou por conta do Bonifácio". Era a saida irresponsável para quem tinha um lugarzinho no Estado. Com o tempo, e a preguiça, deixaram de relacionar o Bonifácio que havia de resolver a questão, com o Patriarca da Independência, que fez os seus trabalhos ha duzentos anos. Mas a mesma engrenagem existe hoje, cheia de cracas e pedras coladas ás roldanas que movem o Estado apesar das modernas tecnologias e os títulos científicos dos que comandam as atividades. Comparado com as empresas privadas fica como peça de museu.

Nunca foi posto ao serviço do povo que, entretanto, formado como operário e classe média, frequentou a escola pública onde desenvolveu a sua criatividade e chegou ás universidades com o grande impulso dado por Lula a partir de 2003. A História produziu heróis que foram criando as funções de um Estado para servir ao desenvolvimento nacional com o povo integrado: com a escola pública, o Serviço Universal de Saúde, a Previdência Social, e o desenvolvimento de estradas, transportes públicos. Mas a elite dominante, obrigada a aceitar as instituições sociais, sempre ameaçou de privatizar os serviços mais rentáveis para enriquecer as empresas vinculadas às multinacionais. Para o povo, mantinha a idéia bucólica de subir no coqueiro para tirar côco fresco, como se apenas fizesse parte da paisagem tropical que encanta os turistas.

Lula inverteu este filme. A partir da Bolsa Família, integrou a população nas condições de cidadania, apoiou os estudantes com bolsas para cursarem as universidades, abriu o caminho para acabar com os preconceitos étnicos, apesar de permitir o fortalecimento do poder financeiro que permaneceu enriquecendo a velha elite acobertada pelo setor produtivo do empresariado.

O que impressiona é que o golpe de Temer veio exatamente para destruir a modernização do Estado em benefício da Nação - na produção de minérios e energia - deixando o Brasil empobrecido com seu povo miserabilizado. Na verdade, o que parece é que a oligarquia que apoiou a ditadura de 64, aceitou a aparente democratização gerida por Sarney e depois FHC e voltou, pela mão de Temer, para evitar que as mudanças democráticas de Lula transformasse o Estado emperrado e mínimo (que convém a quem serve os interessas imperialistas), abrindo as portas à verdadeira independência nacional e patriótica.

Só que o povo agora não está em cima do coqueiro nem chama de "virundú" o "grito do ipiranga". Basta ver as suas organizações onde os oligarcas não entram, as escolas de formação e as unidades produtivas de alimentos sem veneno do MST, as associações de combate aos preconceitos racistas ou machistas, que se relacionam com as congêneres de todo o mundo, a participação entusiástica nos comícios de esquerda onde Manuela do PCdoB, Boulos do PSOL, João Paulo ex-"sem terrinha" do MST, debatem os problemas nacionais que deverão fundamentar um futuro Governo a sério para o Brasil e recuperar as suas riquezas que foram enriquecer os patrões dos oligarcas. Deste despertar de consciência sairá uma plataforma popular e brasileira para a defesa de um Estado realmente democrático.

*Zillah Branco - Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

Brasil | Castells critica prisão de Lula e chama Congresso e Temer de corruptos


Em entrevista à revista IstoÉ, o sociólogo espanhol fez duras críticas ao impeachment de Dilma, à judicialização da política pela Lava Jato, à prisão política de Lula e ao governo atual de Temer.

 “A representação é ilegítima porque a designação dos representantes está condicionadas por leis eleitorais condicionadas pelos principais partidos, pelo financiamento ilegal que esses partidos obtêm e pela manipulação de opinião no processo de comunicação”, assim definiu o sociólogo e um dos principais teórios da comunicação, o espanhol Manuel Castells.

Ele não falava do Brasil, especificamente, mas do que ocorreu na construção da União Europeia e foi se propagando por todo o mundo. Lançando o livro “Ruptura — A Crise da Democracia Liberal”, pela editora Zahar, que traz uma análise da política associada aos meios de comunicação, Castells afirma que a crise na democracia do sistema liberal “está se autodestruindo pela sua própria prática corrupta”.

As declarações foram dadas em entrevista por escrito à reportagem da IstoÉ, que divulgou a íntegra nesta sexta-feira (13). Apesar de não ter como destaque na introdução da matéria, Castells também criticou a Operação Lava Jato, na medida em que “a judicialização da política elimina a separação de poderes, que era a base da democracia liberal”.

“Ela é a causa principal da crise institucional. Ela acontece em muitos países, mas, no Brasil, é muito mais brutal e mais direta, com objetivos diretamente políticos da parte do poder judicial”, denunciou o sociólogo espanhol.

Acompanhando o que vem ocorrendo no maior país da América Latina, Castells não deixou de criticar o atual mandatário Michel Temer. “Ele, sim, é corrupto e simplesmente tentar terminar seus últimos meses colaborando com uma eleição que lhe garante a impunidade. O Brasil está completamente desestabilizado. A situação é extremamente perigosa”, contou.

Segundo o teórico, “o pior mal do Brasil é a utilização da corrupção por um congresso majoritariamente corrupto” e tem como base à polarização com a “oligarquia política baseada em redes regionais de clientelismo, e seus aliados nas elites do capitalismo especulativo”.

Á revista IstoÉ o cientista social afirmou que “Lula é claramente um preso político”.

Fonte: GGN | em Pátria Latina | Foto Agência Brasil

CRISE EXISTENCIALISTA MANIPULADA, CONTRA A NICARÁGUA SANDINISTA


 Martinho Júnior | Luanda

SANDINO, AQUEL HOMBRE!

Después Sandino atravesó la selva 
y desempeñó su pólvora sagrada 
contra marinerías bandoleras 
en Nueva York crecidas y pegadas:
ardió la tierra, resonó el follaje, 
el yanqui no esperó lo que pasaba, 
se vestía muy bien para la guerra 
brillaban sus zapatos y sus armas 
pero por experiencia supo pronto 
quiénes eran Sandino y Nicaragua.

Todo era tumba de ladrones rubios, 
el aire, el árbol, el camino, el agua, 
surgían guerrilleros de Sandino 
hasta el whisky que se destapaban 
y enfermaban de muerte repentina 
los gloriosos guerrreros de Luisiana 
acostumbrados a colgar los negros 
mostrando valentía sobrehumana:
dos mil encapuchados ocupados 
en un negro, una soga y una rama; 
aquí eran diferentes los negocios, 

Sandino acometía y esperaba, 
Sandino era la noche que venía 
y era la luz del mar que los mataba.
Sandino era una torre de banderas, 
Sandino era un fusil con esperanzas.
eran muy diferentes las lecciones, 
en West Point era la limpia la enseñanza, 
nunca les enseñaron en la escuela 
que podría morir el que mataba 
los norteamericanos no aprendieron 
que amamos nuestra pobre tierra amada 
y que defenderemos las banderas 
que con dolor y amor creadas, 
si no aprendieron ésto en Filadelfia 
lo supieron con sangre en Nicaragua 
allí esperaba el capitán del pueblo:
Augusto C. Sandino se llamaba 
para que nos dé luz y nos dé fuego 
en la continuación de sus batallas.


A situação na Nicarágua será necessariamente um assunto a discutir por todos os progressistas do mundo (e não só os latino-americanos) e terá sido também motivo de discussão no Foro de São Paulo, que cumpriu com o seu XXIVº Encontro, de 15 a 17 de Julho em Havana.

Neste caso, serão importantes as moções de apoio à Frente Sandinista de Libertação Nacional, substância em vida à heroica resistência de Sandino, mas mais importantes ainda deveriam ter sido os debates que visem o reencontro dum caminho justo para o povo nicaraguense e o de toda a região crítica da América Central, que Sandino amou pagando com o peço de sua própria vida e o império da Doutrina Monroe qualifica, arrogantemente, depreciativamente e “ao soaram as trombetas” (http://www.sinek.es/Lit/PabloNeruda.html) para consumo de seu ego sulfúrico, de sua embriagada autoestima e de sua perversidade sem limites, de “repúblicas bananas”!


1- … E assim chegamos a Havana, ao Foro de São Paulo, o XXIVº, num momento em que o vulcão americano desperta de novo, com toda a intensidade dialética que só seu plasma ardente pode catapultar!

Agora houve a oportunidade de, à lupa, estudar todos os seguidores de Sandino, por que será nesse universo circunscrito mas decisivo que a dialética mais fecunda deve fluir pelos laboratórios progressistas, desde aqueles que estão comprovadamente, como o General dos Povos, dispostos ao sacrifício maior de suas próprias vidas face ao monstro do império que nunca deixou de tentar dilacerar a Nicarágua, até aos que, alimentando-se de suas palavras ou de seus gestos, se afastaram dos conteúdos justos e podem-se estar a mascarar até na ânsia duma paz abstémica para melhor compor um ramalhete da ignomínia (http://www.redvolucion.net/2018/05/16/llamado-a-la-militancia-sandinista-de-nicaragua-y-el-mundo/).

O General Sandino impõe com seu exemplo-maior, à Frente Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua, uma definição de dignidade, de integridade, de coerência e de clarividência, mas será que em tantas “transversalidades” que têm sido injectadas pelos sectores capitalistas neoliberais, alguns sectores da FSLN estão-lhe mesmo a corresponder (http://www.redvolucion.net/2018/05/13/cuba-y-nicaragua-se-gesta-golpe-suave/)?

O que pretendem, por exemplo, as dissidências da FSLN (https://www.rebelion.org/noticia.php?id=244148)?

A militância sandinista deverá cerrar fileiras como nos velhos tempos, lutar pela unidade, pela coesão interna e pela paz, em estreita identidade com o povo nicaraguense que soube vencer em prolongadas lutas, tanta subversão, tanta manipulação, tanta guerra e tanta tentativa de neocolonização!...

O Foro de São Paulo, foi uma oportunidade para um balanço desapaixonado mas vibrante, por que não pode permitir que contra o que é legítimo, o que é justo, o que é coerente, o que se identifica com os mais perenes anseios do povo, ou o que é sábio, haja qualquer tipo de contranatura “transversalidade”, nem fluxo de guerra psicológica própria da ingerência ou manipulação do império da Doutrina Monroe e isso num momento em que a “transversalidade” pode-se não reduzir apenas àquele padrão que é típico dos seguidores dum George Soros, dum Gene Sharp, ou dum Leo Strauss e ir mais além (http://www.redvolucion.net/2018/07/03/ee-uu-financia-violencia-en-nicaragua/)…

Haverá por dentro da Frente Sandinista de Libertação Nacional, a outra face da mesma moeda que pertence a mais uma “revolução colorida” (http://www.cubadebate.cu/noticias/2018/07/11/nicaragua-no-renunciara-a-la-paz-afirma-en-cuba-dirigente-sandinista/#boletin20180711)?

Há um dado chave para a compreensão do que se passa na Nicarágua: o compêndio da informação que sustenta o argumento anti-imperialista nesta hora da verdade!


2- A guerra psicológica está em disparada na Nicarágua e é uma arma utilizada pelos que se propõem ao golpe aproveitando os ânimos exaltados dos fogos cruzados: usam-na para poder dividir, para escamotear, para manipular, para mentir, para subverter, para inibir a busca de consensos e do diálogo, para minar a paz, para abrir espaço aos tentáculos do império da Doutrina Monroe e tiram por vezes partido da falta de mobilização da população quando se começa a avançar em grandes projectos, como o caso do canal nicaraguense.

A violência, a confusão desmobilizadora e o medo são métodos básicos e inerentes a um quadro dessa natureza cujas raízes advêm do passado histórico, correndo-se o risco de em escalada constituírem métodos que conduzam a jogos de reciprocidade… as mensagens dos deliberadamente impacientes grupos de pressão têm esse tipo de marca e esse tipo de correntes não foi feito para respeitar Constituições democráticas: é na provocação e no caos onde gastam seu tempo e capacidades teóricas e práticas, pouco se preocupando com doutrinas, filosofias e ideologias que poderiam nortear outro tipo de intervenções, preenchendo o quadro constitucional vigente, ou propondo-se à sua alteração seguindo uma trilha democrática e sem rupturas.

Fazer a paz nessas condições é difícil, por que esses grupos ao ferirem a Constituição ferem toda a legalidade instituída, pelo que o incentivo à paz por via do diálogo e da busca de novos consensos, nas condições de pressão do império da Doutrina Monroe, é sempre uma incógnita com imprevisíveis avanços, perigosos recuos e com os interesses das oligarquias à espreita de suas oportunidades, se é que elas já não estejam a manipular, “a todo o vapor” na sombra (https://www.el19digital.com/articulos/ver/titulo:77645-carta-del-papa-francisco-al-presidente-daniel-ortega-).

Uma vez que muitos jovens aderiram aos grupos de pressão, corre-se o risco de estes preencherem a confusão emocional sobre um pretenso combate ao neoliberalismo, quando na verdade são, sem consciência formada por não terem tempo suficiente de maturidade, a linha avançada, a “carne para canhão” dos que, na sombra (http://www.redvolucion.net/2018/07/03/ee-uu-financia-violencia-en-nicaragua/), pretendem ir precisamente nessa direcção.

Uma parte da estrutura orgânica conservadora da igreja católica (tinha que ser) parece também conformar e enquadrar-se nesse tipo de propósitos, por vezes a pretexto de estarem a seguir razões de carácter humanitário (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=244060&titular=¿guerra-santa-en-nicaragua?-):

“Como en la Edad Media, los mitrados en Nicaragua creen tener potestad para ungir y destituir gobernantes terrenales, ¿Será que no se dan cuenta que vivimos en el siglo XXI? ¿Por qué declaran abiertamente la guerra santa a un gobierno elegido por el pueblo?

Ahora, los obispos dicen defender a los pobres, pero los pobres de Nicaragua optaron por el proceso de cambio que impulsa Daniel Ortega que les demostró en una década que sí es posible dejar de ser mendigos.

¿Por qué callaron sistemáticamente durante más de 500 años ante el despojo sangriento de los católicos empobrecidos en nombre de Dios? ¿Por qué guardaron silencio cuando los gobiernos neoliberales, sólo en décadas pasadas, asesinaban millones de niños nicaragüenses por hambre y desnutrición?

La jerarquía católica debe entender que el pueblo de Nicaragua ya no está dispuesto a someterse a una oligarquía religiosa que los quiere trasquilar en nombre de Dios. Mucho menos ser deglutido por un Imperio de la muerte que destruye países enteros y asesina niños en nombre de un Dios desconocido, cómplice de tanta atrocidad.”

O que é facto, é que alguns sectores da igreja católica estão directamente envolvidos na cobertura da violência, ou abrigando os que se envolvem em violência e isso tem sido exposto pelas próprias comunidades (https://topeteglz.org/2018/07/10/videonicaragua-jinotepe-el-pueblo-se-rebela-contra-las-bandas-y-toman-una-iglesia-9-julio-2018/)!

No muito atento jornal digital Rebelion, por outro lado, há intervenções contraditórias, que de qualquer modo procuram vulnerabilizar o papel sandinista face ao seu próprio povo, como o que se desenvolve neste link: (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=244013&titular=nicaragua-ante-la-represión-desenfrenada-).

É contudo a análise do modo de operar desses “grupos de pressão” que nos pode fornecer a melhor das pistas neste momento, das“razões de ser” dos actuais acontecimentos na Nicarágua e alguns sandinistas em funções explicam-no com bastante propriedade e detalhado conhecimento de causa (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=244062&titular="todo-es-guerra-mediática-basada-en-propaganda-negra"-):

“¿Qué ha pasado en Nicaragua a partir del 18 de abril?

Se produjeron unas manifestaciones contra las reformas del seguro social, en las que chocaron policías y estudiantes, y eso causó una reacción negativa en un amplio segmento de la población. Sin embargo, se vio desde el primer día la presencia de recursos tendentes al golpismo, a la falsa noticia y a la conspiración. Las mentiras se propagaron sistemáticamente sobre todo por Internet, por ejemplo la falsedad de que había un estudiante universitario muerto. La intención era inflamar los ánimos. Y lo lograron, se inflamaron. Al día siguiente había tres muertos, sí. Dos manifestantes muertos y un policía muerto durante los choques acaecidos al lado de la Universidad Politécnica.

El Presidente suspendió la reforma del Seguro Social pero eso no paró los disturbios. El movimiento de protesta solo había usado el tema del Seguro Social como un pretexto. Los grupos golpistas habían tratado antes de movilizar a la población sobre la base de un movimiento anticanal y muchos de los mismo actores habían ido donde los campesinos, que creían que iban a ser afectados por el canal, para tratar de movilizarlos. Esta estrategia funcionó porque la gente ante un proyecto de grandes infraestructuras siempre se pone nerviosa. Sobre todo por lo que pueda suceder, si se les va a indemnizar bien o si se les va a reubicar, por ejemplo. Hubo muchas manifestaciones en contra del canal, se quemaron camiones y cisternas, se bloquearon carreteras, pero fue un fenómeno localizado y transitorio.

El asunto del Seguro Social fue explosivo. En Nicaragua siempre hemos trabajado por consenso en lo que refiere a la política económica: se ha acordado desde hace varios años el salario mínimo por consenso entre el gobierno, los sindicatos y los empresarios. En la última vez, no acompañó el sector privado que no estaba de acuerdo. Eso fue el primer síntoma de lo que estaba pasando. Después en la reforma del Seguro Social no estaban de acuerdo en aumentar la contribución patronal del 19% al 22%, es decir, en un 3% no están de acuerdo. También se decía que se recortaba un 5% las pensiones. En realidad eso era para que los pensionados jubilados recibieran medicinas y que alguien que cotiza al seguro permitiera que los jubilados dignamente recibieran su medicina a través del seguro, pero nadie quiso entender.

También el asunto de la reforma del Seguro Social, que nunca llegó a entrar en vigor, se olvidó pronto porque el objetivo volvió a ser derrocar al gobierno. Los golpistas empezaron a ser más explícitos con la consigna “¡que se vayan ya, hoy ya es demasiado tarde!” Su objetivo declarado ya era sustituir al gobierno legítimo por un gobierno provisional. Eso se llama golpe de estado. Y esa actitud no va conducir al cese de violencia en Nicaragua. Lo único que va a acabar con la violencia es un acuerdo negociado por consenso y aceptado por casi toda la población que permita construir la paz y lograr así la reconciliación nacional.”


3- A crise existencial que se assiste na Nicarágua à beira dum anarquismo inqualificável que prolonga os contenciosos históricos que se arrastaram desde as primeiras décadas do século XX, é também inerente a dissidências do próprio sandinismo em muitas de suas“transversalidades”!

Para o sandinismo há também que reflectir que o esforço para mobilizar não pode ser feito apenas esporadicamente quando há eleições, pelo contrário, deve ser um esforço permanente e intenso por que os Estados Unidos em relação à América Latina, espreitam todo o tipo de brechas nos contenciosos nacionais e continentais, para melhor poder mexer seus tentáculos encobertos (“redes stay behind” formadas a partir das oligarquias agenciadas, de máfias, de grupos paramilitares e de dissidências) e partir para a subversão, o caos e a desagregação que tanto convêm como antessala para instalar seus fantoches neoliberais.

Por outro lado, o poder por vezes fica tacitamente inebriado, confundindo o aplauso com a mobilização, minando com isso mas sem o perceber, a sua sustentabilidade sócio-política, quando afinal o aplauso parte de acomodações que acabam por tapar a visibilidade em relação os incomodados que ficam aparentemente vegetando na sombra (também na sombra conservadora e fundamentalista dos claustros) e o que incomoda e fica até um dia no alheio, ou no desconhecido, mas sempre latente para fazer a ignição do adormecido vulcão.

As abordagens progressistas num tempo de incremento de guerra psicológica do império da Doutrina Monroe têm de ser muito melhor preparadas em termos de prevenção pelos poderes progressistas, neste caso pelo poder sandinista, alimentando sua capacidade criativa, mobilizadora e sem ilusões face aos aplausos, muito menos face à riqueza acumulada em poucas mãos, pois de outro modo dá-se cada vez mais poder a acomodados, acabando assim por preparar terreno para os incómodos que vêm a surgir e são tão bem explorados pelas condutas do capitalismo neoliberal de que se nutre a hegemonia unipolar, tanto mais numa América Central com fronteiras tão porosas e tão filtradas pelas máfias e pela droga!

Conforme todavia esclarece Stella Calloni, que sempre deu provas de clarividência em relação aos fenómenos de luta anti imperialista na América Latina, numa síntese analítica que não se deve perder pelos elementos informativos anti-imperialistas que comporta (http://www.redvolucion.net/2018/07/13/nicaragua-en-la-mira/):

“Si la oposición más seria al presidente Daniel Ortega en Nicaragua no se diferencia de los mercenarios, que siguen cometiendo crímenes atroces, mediante torturas y flagelación pública contra decenas de sandinistas por apoyar al gobierno, como lo muestran los vídeos filmados por periodistas y si además no se separan de organizaciones que reciben fondos de Estados Unidos y las derechas europeas, quedarán en la historia como verdaderos traidores a la patria”…

Martinho Júnior - Luanda, 18 de Julho de 2018

Ilustrações:
- Bandeira da Nicarágua;
- Rota do canal da Nicarágua;
- O casal presidencial: Daniel Ortega, Presidente e sua esposa, Rosario Murillo, Vice-Presidente;
- A imagem de arca das práticas a que levaram a doutrina do golpe suave;
- O “filósofo” do golpe suave, Gene Sharp.

Nicarágua | Mujica aconselha Ortega a ir embora


Mensagem de Pepe Mujica ao presidente de Nicarágua: "há momentos na vida para dizer 'vou embora'"

Ex-presidente e senador uruguaio manifestou que a situação do país centro-americano e produz tristeza. "Me sinto mal, porque conheço gente tão velha quanto eu, porque recordo nomes e companheiros que perderam a vida na Nicarágua lutando por um sonho", afirmou.

O ex-presidente do Uruguai e atual senador José “Pepe” Mujica manifestou sua forte preocupação pela situação de violência que se vive na Nicarágua e enviou uma mensagem direta ao presidente desse país, Daniel Ortega.

Mujica participou, na última terça-feira (17/7), de uma sessão do Senado uruguaio onde se aprovou uma declaração que condena os atos de violência e repressão aos manifestantes e de violação dos direitos humanos na Nicarágua por parte do governo de Ortega.

“Me sinto mal, porque conheço gente tão velha como eu, porque recordo nomes e companheiros que perderam a vida na Nicarágua lutando por um sonho”, afirmou Mujica durante a jornada.

“Sento que algo que se foi, como em um sonho, se desviou, caiu na autocracia, e entendo que aqueles que antes foram revolucionários perderam o sentido de que há momentos na vida para dizer `vou embora´”, agregou.

A moção aprovada pelo Senado do Uruguai insta o governo de Ortega a estabelecer um diálogo para terminar com a violência, além de pedir eleições livres e transparentes, sem medo e intimidações.

Os protestos contra Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, já produziram mais de 350 vítimas fatais, segundo a Associação Nicaraguense Pró Direitos Humanos (ANDPH).

*Do periódico El Desconcierto, do Chile | em Carta Maior | Foto Reprodução

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