quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Irracionalidade humana na subversão de África!



NA MATRIZ CAPITALISTA, POTENCIA-SE EXPONENCIALMENTE A BARBÁRIE SUBVERTENDO-SE A GRAVITAÇÃO DO ESPAÇO CIVILIZACIONAL!...

…Deste modo, a IIIª Guerra Mundial que está em curso, embora não seja assim sentida pela maior parte da humanidade graças aos impactos das alienações e da guerra psicológica no âmbito do “soft power” das potências alinhadas pela hegemonia unipolar, poderá vir a ser incrementada, subindo a fasquia do caos, do terrorismo e da desagregação!...

Essa indução provocará ondas, disseminadas em “conflitos de baixa intensidade e geometria variável”, por isso mesmo desgastantes em relação ao tecido social dos espaços-alvo, tirando partido da volatilidade das fronteiras onde existem menos ocupação político-administrativa, como acontece por exemplo à volta do Lago Chade.

Os instrumentos como Boko Haram, revelam quem atiça as brasas dessa fogueira de tão difícil extinção e os sangrentos impactos que isso propicia sobre as sociedades-alvo.


África é um dos “tabuleiros” preferenciais, também por causa das suas vulnerabilidades herdadas desde suas culturas e subculturas que ainda nem sequer substituíram o músculo humano pela máquina e muito menos têm acesso às novas tecnologias, África tornada exangue desde a escravatura nomundo antigo, do tempo dos faraós, desde o tráfico negreiro, o colonialismo arquitectado a partir da Conferência de Berlim e o "apartheid" enquanto resíduo de fascismo e nazismo, a que se veio juntar o contemporâneo capitalismo neoliberal, que abre espaço ao domínio do capitalismo financeiro transnacional!...

Os Grandes Lagos, a bacia do Congo e a África Austral verão aumentar inexoravelmente as pressões migratórias, parte delas com vínculos a este tipo de alianças em formação, com tentáculos instrumentalizados e sempre em expansão!...

Hoje esta aliança pode estabelecer nexos tácitos com a NATO, pode até ser tacitamente servil ou vulnerável aos agentes e aos falcões de Israel, mas se ela alcançar seus objectivos e crescer, amanhã pode ser que a própria NATO passe a ser seu alvo, um garante para quem domina, para quem pretende sempre dividir para melhor reinar, para quem recorre à barbárie, para fazer prevalecer os seus interesses, suas conveniências e suas exclusivas opções!

Esta aliança acompanha a radicalização da "civilização judaico-cristã ocidental", conforme ocorre na Europa e na América Latina, com os casos exponenciais da Ucrânia produto da Praça Maidan e do Brasil "evangélico" que levou à eleição de Bolsonaro!...


Essa radicalização fundamentalista dum lado e do outro, com barricadas que advêm do passado de séculos, está aberta à manipulação da "guerra entre civilizações", havendo como sintoma os termos e os métodos da guerra psicológica que o poder da hegemonia unipolar leva a cabo, num momento em que é já visível a redução da sua capacidade geoestratégica no enorme continente euro-asiático!

O império da hegemonia unipolar manipula entre contrários por si próprio estimulados, a fim de manter as condições de domínio, não reconhecendo as perdas geoestratégicas provocadas pelas opções emergentes de multilateralismo activo e profícuo!

O petróleo enquanto “excremento do diabo” e não como um factor de equilíbrio que possa permitir bem-estar nos e entre os povos, está a ser utilizado como a arma principal dos desígnios do poder dominante ávido das prerrogativas da hegemonia unipolar.

O fundamentalismo dito “cristão” está a crescer ao mesmo tempo que o fundamentalismo sunita-wahabita, cuja expressão maior é já, à nascença, esta aliança!

A hegemonia unipolar lança mão dessa manipulação entre latentes e potenciais contraditórios radicalizados, a fim de estabelecer os parâmetros duma “guerra entre civilizações”, ou seja, a intensificação da IIIª Guerra Mundial já em curso desde o início da década de 90 do século XX…

Quanto mais rapidamente os povos, as nações e os estados vulneráveis reconhecerem a opressiva “ciência” da manipulação contraditória estimulada pelo império da hegemonia unipolar, mais eles ficarão capacitados e abertos a medidas inteligentes de consequente prevenção e segurança!

Se assim for, esses povos, essas nações, e esses estados começam efectivamente a estabelecer uma plataforma apta a uma cultura de inteligência patriótica, intimamente associada aos seus próprios interesses em prol dum desenvolvimento sustentável em benefício de suas presentes e futuras gerações!

Martinho Júnior | Luanda, 1 de Dezembro de 2018

Ilustrações:
Mapa dos estados membros da aliança sunita filtrada pela influência wahabita;
Proclamação da aliança;
Trump o aliado que prolonga o Tratado Quincy, enquanto houver petróleo.

Angola | Voando sobre um ninho de cucos


“Voando sobre um Ninho de Cucos” ou no original “One Flew Over the Cuckoo’s Nest” é um filme pesado e incómodo. Daqueles que não queremos ver porque a papa não vem feita e onde a sociedade é desnudada expondo toda a sua hipocrisia e autoritarismo, não admitindo espaço para irreverência própria da condição humana ou até o livre-arbítrio dos seus cidadãos.

Brandão de Pinho | Folha 8 | opinião

Pela primeira vez desde que escrevo para o Folha 8, nesta crónica, comecei pelo título e só depois o desenvolvi. A ideia não me ocorreu no banho – cenário de tantas epifanias – mas numa viagem, na solidão do meu carro tendo como única companhia o rádio que aliás me inspirou o título depois de ouvir um programa sobre loucura e a impossibilidade de um louco saber que está louco. Tenho vindo a amadurecê-la desde há alguns dias e cada vez mais vejo paralelos assustadores entre o filme e a realidade, sobretudo a angolana.

Nunca tinha percebido – até hoje – a razão e o significado do título do filme, homónimo do título do livro que sempre me pareceu um pouco enigmático, mas a verdade é que o “ninho de cucos” do livro é o nome da instituição de doentes mentais e “cuckoo” é o calão inglês para “louco”.

Em português também se diz de um louco que não está bem da “cuca” e os guardas e polícias, na gíria, são chamados de cucos. Lembro-me dos mais velhos dizerem do cuco, que este anunciava a Primavera, atacava ninhos alheios e produzia um som particular: “cu-cu”; razão pela qual foi denominado, justamente, de cuco.

Já em Angola a cerveja “Cuca” tem de facto o poder – se consumida em excesso, de não deixar bem da “cuca” os seus consumidores, inebriando-os e endiabrando-os num estado de loucura de facto. É pena é que os cucos angolanos ainda permitam que os condutores embriagados conduzam impunemente.

Curiosamente em Valpaços (Portugal), ouvi hoje de um homem velho, o epíteto “cuco” – reportando-se a um cavalheiro cuja infiel mulher vai cometendo amiúde pequenos adultérios – embora o cuco, esse atraiçoador pássaro, mais do que atraiçoado é uma traiçoeira ave, o que me levou a confrontar esse homem vetusto com tamanha comparação desprovida de lógica que ele, reticente e hesitante, não soube justificar, concordando que o povo nem sempre é assim tão sábio como se poderia pensar à primeira vista.

Um cuco em Angola passará o período de invernação – mas não hiberna – e virá a Portugal reproduzir-se por alturas de Março. Ou seja, é evidente a metáfora com aquela casta privilegiada que rouba em Angola no Inverno da impunidade e deposita os proveitosos ovos de ouro nos bancos portugueses que lhes servem de ninhos.

É uma ave curiosa. Para além de traiçoeira é parasita dos ninhos alheios de outras aves com ovos parecidos e as suas crias nascem já com o “gene” da perfídia, fruto de rigorosos e ancestrais mecanismos darwinistas de selecção natural.

João Lourenço tem 2 objectivos evidentes para o seu tirocínio: Diversificar a economia e livrá-la da maldição do petróleo; e, destruir os ninhos de marimbondos e mesmo marimbondos isolados.

Um exemplo de um ninho é o clã “Dos Santos” e o de um isolado será Isabel dos Santos – que decerto não se deixará acossar e caçar facilmente ao contrário do seu dependente irmão Zenu.

Todavia há questões que se colocam. Estarão o país, as suas forças vivas, os seus cidadãos, em suma, a sociedade civil angolana preparados para um modelo económico baseado – já não em planos quinquenais e numa economia planeada – no investimento privado, no trabalho árduo e no empreendedorismo que permita que todos os sectores de actividade (ainda para mais no mais rico de África) sejam preenchidos gradualmente, gerando riqueza e auto-suficiência?

Relembro que Angola e os Angolanos de etnia não europeia de um modo geral viveram sob 400 anos de exploração e escravatura dos seus próprios pares, mais 100 anos de colonialismo lusitano e 43 de uma cleptocrática ditadura, mais fascista do que comunista, o que os torna à partida menos preparados para basearem a sua vida em princípios de integridade e lealdade intelectuais e laborais como se estivessem presos a um destino determinista e talvez já sem quaisquer vínculos e referências dos seus pais, avós e bisavós no que concerne a uma certa filosofia e modo de vida assente na livre iniciativa, cultura do trabalho e da iniciativa privada, e, da necessidade absoluta de ambição, espírito de sacrifício, preparação, formação e educação como ferramentas para se vencer na vida e singrar nos negócios.

Será que os marimbondos são assim tão poucos como JLo afirmou em Portugal?

E será que os cerca de 30 milhões de angolanos estarão comprometidos e unidos nesse intuito e têm força para os aniquilar – mesmo sabendo-se que o emepelialismo e imperialismo pseudo-comunista eduardista criaram uma sofisticada classe de sanguessugas, que habituada a muito e muito fácil dinheiro e a uma total impunidade não se vai deixar perseguir nem render brandamente?

Em “Voando sobre um Ninho de Cucos”, Milos Forman, realizador da ex-Checoslováquia, fez uma metáfora perfeita entre a sua própria vida e a do seu país, percebendo que o que iria filmar não era apenas literatura, mas a vida real, a vida que viveu desde o seu nascimento até à sua morte na década de sessenta.

O Partido Comunista no seu país (e país dos dentistas do MPLA) era a enfermeira do filme e do livro e era esse mesmo partido que decidia o que se podia e não podia fazer, o que ele era ou não era e o que se podia ou não podia dizer. Era quem determinava onde cada um deveria estar e onde não poderia ir, e no limite, até quem cada cidadão era e o que não era.

Este filme é uma alegoria perfeita sobre o que ocorre com uma sociedade que entrega um poder ilimitado nas mãos de um punhado de pessoas sem exigir, simultaneamente, que prestem contas. O Comandante Supremo neste momento goza desse pesado regime e por melhores que sejam as suas intenções, trata-se de uma conjuntura arriscada e perigosa.

É a alegoria de Angola que se entregou passivamente, primeiro aos portugueses, depois aos traidores do MPLA e mais recentemente aos chineses com as quais toda a pachorra para negociar é pouca.

Angola, por um certo prisma, é uma sociedade fascista, governada por tabus e normas de conduta, e, em que a normalidade é determinada pela elite e toda a irreverência trazida para esta normalidade e quotidiano dos angolanos é severamente castigada, revelando-se este tema como um dos principais quer do país quer do filme.

Angola é um gigantesco Hospital Psiquiátrico como aquele onde se desenrola o filme, em que os seus doentes vivem obedientemente dopados, amansados e sem quaisquer desejos que não viver dia após dia.

O protagonista do filme (que metaforicamente representa o cidadão comum angolano) vai contra esta normalidade e bate de frente com o sistema acabando por ser vítima de uma lobotomia.

Na mesma medida o cidadão angolano vive lobotomizado ao ponto de achar que a gasosa, a grande corrupção, o nepotismos, a bajulação e os roubos descarados dos poderosos ao erário público mais não são que a norma e padrão.

O que parece às vezes é que o povo angolano já desistiu e se acomodou a essa normalidade imposta pelo MPLA, normalidade que João Lourenço não consegue mudar, procrastinando para as novas gerações o objectivo da plena democracia, com todos os direitos e deveres associados.

Não se sabe se João Lourenço voa sobre um ninho de marimbondos ferozes e perigosos ou de cucos parasitas e traiçoeiros ou até de cucos no sentido de loucos como referi num sentido não literal no início da crónica.

Mas é quase certo que se perder a batalha que tem contra os marimbondos e também a batalha da diversificação económica (bem mais difícil do que o que parece pois nessa, os angolanos terão de participar activamente) vai perder a guerra e Angola tornar-se-á numa Guiné-Bissau ou numa Líbia.

Será aconselhável ao Comandante que seja um homem avisado e use muita prudência pois talvez estes traidores da pátria sejam simultaneamente parasitas, traiçoeiros, ferozes, perigosos e… loucos.

E talvez os angolanos, sozinhos, ainda não estejam preparados para pôr o país a laborar ao ritmo louco dos dias de hoje.

Angola | Chefe de Estado estende a mão à sociedade civil


Organizações da sociedade civil concordaram ontem, em Luanda, em criar um canal de comunicação com o Executivo para dar contribuições para a construção de um país inclusivo.

O primeiro de muitos encontros que o Presidente da República, João Lourenço, está disponível para fazer ao longo do seu mandato, reuniu no Palácio da Cidade Alta, durante duas horas, representantes de 12 organizações da sociedade civil.

O Executivo justificou o encontro com o “estilo muito próprio” que o Presidente João Lourenço definiu na sua maneira de se inteirar e se dedicar à resolução dos problemas da sociedade angolana, por via de uma “presidência aberta, dialogante e de proximidade”.

A abertura promovida pelo Presidente João Lourenço tem como objectivo estender o diálogo a organizações da sociedade civil que reclamam, há muito, o direito a serem ouvidas e a contribuírem, com os seus pontos de vista e opiniões, para a melhoria do desempenho da acção governativa em relação a variadíssimos assuntos.

A sala de espera preparada no Palácio Presidencial da Cidade Alta começou a receber os primeiros convidados ao encontro inédito a partir das 11 horas, entre os quais José Patrocínio, da Associação OMUNGA, que veio de Benguela de propósito para o encontro. Luaty Beirão, da Associação HANDECA, entre os primeiros a chegar, capitalizou a atenção da imprensa em função de um passado não muito distante em que chegou a ser preso por integrar o movimento que exigia a saída do poder do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

A antiga vice-ministra da Educação, Alexandra Simeão, da HANDECA, Sérgio Calundungo, do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), Maria Lúcia Silveira, da Associação Justiça Paz e Democracia (AJPD), Salvador Freire, da Associação Mãos Livre (AML), Frei Júlio Candeeiro, do Centro Cultural Mosaiko - Instituto de Cidadania, Berlarmino Jelembe, da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), António Mateus, do Conselho Provincial da Juventude de Luanda, Elias Isaac da Fundação Open Society, e Job Capapinha, da AMANGOLA - União das Associações Locais de An-gola, sentaram-se na sala de reuniões do Palácio da Cidade Alta para apresentar as preocupações das associações que representam sobre os desafios do país. O grande ausente no encontro foi o jornalista de investigação Rafael Marques, anunciado previamente pela Casa Civil do Presidente da República.

Acto simbólico

À imprensa, no final do encontro, os participantes foram convergentes nas opiniões em relação ao mecanismo de troca de informação com o Governo e em relação ao simbolismo da reunião. Sérgio Calundungo, da OPSA, considerou “um acto simbólico que marca um mo-mento muito importante, que é a aproximação da instituição Presidente da República a vozes da sociedade civil que, durante muito tempo, se bateram de forma crítica contra a governação que tivemos”. Sérgio Calundungo considera “simbolismo” o facto de o Presidente da República receber e abordar, de forma bastante aberta, com a sociedade civil, uma série de assuntos, permitindo a todos expressarem aquilo que lhes vai na alma.

“O Presidente da República colheu com bastante atenção aquilo que sentimos, aquilo que foram as nossas principais preocupações”, disse Sérgio Calundungo, acrescentando que “está a nascer uma nova fase na relação entre o Estado e a sociedade civil”. O responsável indicou que “estamos no início de uma longa caminhada que começou com um primeiro passo”.

Elogios à abertura

José Patrocínio, da OMUN-GA, considerou que o en-contro foi mais simbólico. “Criou a ideia de que o Presidente da República está aberto para receber informações e partilhar connosco estratégias”, disse. 

Em relação a governação, José Patrocínio disse ter esperança, mas noutras questões ainda guarda re-ceios. “Por exemplo, em relação ao combate à corrupção há coisas práticas que temos algumas dúvidas se estão a acontecer ou não”, disse.

Antiga vice-ministra da Educação pelo extinto PLD no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, Alexandra Simeão dirige a associação HANDECA, que defende melhor qualidade no ensino primário. Ontem, disse ter deixado esta preocupação ao Presidente da República. 

“O Presidente da República deixou uma porta aberta para nos permitir que, a qualquer altura, possamos fazer chegar contribuições. Aliás, apelou para que nós fizéssemos isso, e não comentarmos só ao nível das nossas organizações”, disse.

Belarmino Jelembe, da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente, defendeu que o Executivo deve virar as linhas de financiamento que andaram à volta dos grandes projectos para o pequeno produtor. “Queremos a introdução de pequenas linhas de financiamento para as cooperativas dos agricultores”, disse. 

Salvador Freire dos Santos, da Associação Mãos Livres, disse ter ficado com a impressão de que o Presidente João Lourenço acompanha as acções da sociedade civil, entre elas aquelas que têm a ver com os direitos humanos. 

“O Presidente da República pediu para que continuássemos a realizar o nosso trabalho. Pediu que, caso houvesse necessidade, fizéssemos chegar ao seu gabinete questões preocupantes”, disse.

“Os canais de comunicação definidos satisfazem a nossa preocupação, e é a maneira correcta de abordar qualquer assunto. Também queremos que outros departamentos ministeriais sigam o mesmo exemplo do Presidente”, disse.

A Fundação Open So-ciety foi vista, durante anos, como um dos adversários do Governo angolano. O representante da organização no encontro de ontem, Elias Isaac, considerou que os mecanismos de comunicação indicados pelo Executivo para a troca de informações são os mais adequados. 

Elias Isaac disse que é possível colaborar com o Governo para assegurar o bem-estar da população. 

Desta forma, segundo o responsável da Fundação Open Society, a governação passa a ser mais inclusiva.

Santos Viola | Jornal de Angola | Foto:  Francisco Bernardo | Edições Novembro

Xi em Lisboa, Marcelo em Pequim e Uma Faixa e Uma Rota por todo o mundo


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Cristina Peres | Expresso

A relação com a China está “no melhor período da história”, afirmou ontem o PR chinês em Belém, depois de ter convidado Marcelo Rebelo de Sousa a visitar Pequim em abril do próximo ano, altura em que o PR português participa no II Fórum Internacional e onde assinará um memorando sobre o plano de investimento na iniciativa chinesa Uma Faixa e Uma Rota.

Xi Jinping está em Lisboa desde ontem e vai hoje ao Parlamento encontrar-se com Ferro Rodrigues, seguindo depois para o Palácio de Queluz, onde se reúne com o primeiro-ministro António Costa. Trânsito condicionado, Hotel Ritz em exclusivo, limusines próprias e residentes da zona revistados à entrada e saída da zona delimitada em torno do hotel abrilhantam a primeira visita a Portugal do Presidente da China que mais poderes chamou a si desde Mao Tsé Tung.

Quando o tema é China, e o tema hoje é certamente China, pode falar-se de um aspeto frequentemente escamoteado: existe um défice de informação de parte a parte. Ainda ontem, numa conferência organizada pelo Clube de Lisboa a propósito da chegada de Xi Jinping a Lisboa, a investigadora do think tankbritânico Chatham House Jie Yu dizia na Lisbon Talk sobre a estratégia da política externa chinesa e a Europa que uma das falhas dos conselheiros chineses é a ignorância do que se passa “na América que votou em Trump”. Segundo defende Jie Yu, aparentemente, quanto aos EUA, eles conhecem melhor Wall Street do que a América profunda. Aparentemente, passa-se o mesmo com o Ocidente em relação à China. “Money, might and Mindset - China’s Self-centred Global Ambition” é um estudo publicado pela Chatham House em novembro passado. Na versão apresentada em Lisboa, a investigadora sublinhou a “Europa e o retorno do Império do Meio”, que usa dinheiro para expandir o poder político, vê-se como parte da comunidade internacional e "está a tentar incluir-se na ordem económica mundial”. “A China é um poder híbrido, uma economia dinâmica de emersão recente com poder totalmente centralizado”. Não espanta que a pergunta a fazer seja: “O que está realmente a acontecer lá?”.

Um (grande) artigo do “New York Times” de 18 de novembro intitulado “A terra que falhou falhar” (The Land that failed to fail) lembra que a China que hoje é líder mundial em termos de número de proprietários de casa própria, em termos de utilizadores de internet, em número de estudantes que terminam o liceu e, segundo as contas de alguns, em número de multimilionários, ainda no início da década de 1980 tinha três quartos da sua população a viver em pobreza extrema. Com esta “classe” reduzida a 1%, a China tornou-se numa potência mundial e no rival mais sério dos Estados Unidos desde a queda da União Soviética.

Em três décadas, “o antigo império vermelho de Mao tornou-se a segunda maior economia do globo. Ultrapassou o Japão em 2010, vai ultrapassar a zona euro em 2019 e quer bater os Estados Unidos em 2030”. Jorge Nascimento Rodrigues explica aqui tudo em dez números.

OUTRAS NOTÍCIAS

Sismo de magnitude 7,5 registou-se esta madrugada no Pacífico, ameaçando a Nova Caledónia e Vanuatu. O alerta de tsunami foi acionado, já foram observadas ondas, mas não há vítimas mortais.

O acordo para o Brexit em perigo. Theresa May sofreu ontem à noite três derrotas nos Comuns assim que se pôs a “vender”aos deputados mais resistentes o acordo que negociou com Bruxelas. A confusão está instalada (já estava…) e May lembrou que “vale a pena pensar no que nos trouxe até aqui”. Como se não bastasse, um conselheiro do Tribunal Judicial europeu defende agora que o Reino Unido pode legalmente cancelar o Brexit. Sim? Como? É sustentável? Leia aqui como.

Os senadores norte-americanos querem que seja mandada uma mensagem clara ao Governo saudita: segundo informações disponibilizadas pela CIA, é impossível que o chefe da casa saudita, o príncipe Mohamed bin Salman, não tenha estado envolvido no assassínio do dissidente Jamal Khashoggi.

Macron recua, coletes amarelos não desistem. O Governo francês suspendeu o aumento do preço dos combustíveis, mas os manifestantes classificaram a medida como “demasiado pouco, demasiado tarde”.

O Banco de Portugal apresenta hoje o Relatório de Estabilidade Financeira.

Seis argumentos para acabar com o IMI são hoje apresentados em versão livro pela pena de Rui Nuno Baleiras, Rui Dias e Miguel Almeida. O livro passa em revista 40 anos de finanças locais.

Passam hoje cinco anos sobre a morte de Nelson Mandela, ex-líder do ANC que foi o primeiro Presidente negro da África do Sul, Prémio Nobel da Paz de 1993. Freedom fighter, opositor do apartheid, o regime racista da África do Sul que deixou de existir no início dos anos 90 com o seu contributo. O site Sowetan Live dá conta das festividades por lá.

Ouviu falar no tremor de terra de literalmente partiu partes do Alasca na sexta-feira? Se não, veja as imagens incríveis que “The Washington Post” aqui reuniu. Desastres destes não podem senão evocar alterações climáticas. Ou como o homem não para de construir em zonas de risco…

politico.eu elegeu Matteo Salvini, o PM italiano, a pessoa (na sua lista das 28) que mais influenciará a Europa no próximo ano. A lista é anual, mas este ano, as pessoas que mais vão “abanar, mexer e agitar” a Europa foram pela primeira vez divididas em três categorias: fazedores, sonhadores e disruptores. A ex-primeira-ministra ucraniana, Yulia Timoshenko, e Joana Vasconcelos constam da lista. Se quer descobrir em que categoria leia aqui?

De indesejados a “ilustres convidados”, é como título o angolano “Novo Jornal” o artigo sobre a receção no Palácio da Cidade Alta, Luanda, de Rafael Marques e Luaty Beirão, entre outros, para um encontro do Presidente João Lourenço com representantes da sociedade civil. A iniciativa do Presidente, inédita em Angola, tinha por objetivo discutir “temas da atualidade”.

Sabia que a luz azul das estações de metro japonesas conseguiram reduzir os suicídios em 84%? Aprenda com o Citylab este e outros truques descobertos e usados pelos grandes especialistas em comboios que são os japoneses.

Charlotte Prodger (realizadora de filmes em iPhone) venceu ontem o Prémio Turner 2018 (25 mil libras). O prémio foi anunciado ontem à noite na Tate Britain, Londres, pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Manchetes do dia: “Sarampo: Taxa de vacinação não garante imunidade em Lisboa”, Público; “Parlamento fora de controlo - Tribunal de Contas critica a AR: é impossível fiscalizar se pagamentos aos deputados são devidos”, jornal i; “Fisco acaba com faturas de papel já em janeiro”, JN; “IVA automático obriga a verificar faturas”, Negócios; “Pinho limpa 2,7 milhões em perdão fiscal”, CM

FRASES

“Sinta-se em casa, senhor Presidente Xi Jinping tal como nós nos sentimos em casa na China há 500 anos”, Marcelo Rebelo de Sousa, PR durante as declarações aos meios de comunicação social ontem no Palácio de Belém

“Já estamos num mundo mais chinês”, Carlos Gaspar, investigador do IPRI ao Público

“Parece existir da parte da China uma predisposição para conferir a Portugal um estatuto e um tratamento pelo menos próximo do que tem sido dado aos principais Estados europeus”, Tiago Moreira de Sá, professor da FCSH da Nova e investigador do IPRI ao Público

“É confrangedora a quebra de qualidade que ultimamente se verificou na escolha dos responsáveis políticos”, Marques Mendes, conselheiro s wEstado e ex-político do PSD citado pelo jornal i a propósito do lançamento do livro que lança hoje com prefácio do PR, posfácios de Cavaco Silva e de Jorge Sampaio, sobre a criação da RTP Internacional

O QUE ANDO A LER

Já aqui não falo de livros há algum tempo, mas os temas que me atraem surgem sob muitas outras formas. É por exemplo o caso deste artigo do Guardian cujo título poderia ser traduzido por “Então? Isso é nosso!” (Hey! That’s our stuff). Como os museus ocidentais estão recheados de artefactos roubados, é de imaginar o que poderiam ensinar os descendentes dos povos saqueados aos curadores desses museus ocidentais. É o que se imagina a partir de uma fotografia que neste artigo mostra visitantes da tribo Maasai (Quénia e Tanzânia) em diálogo com os curadores do Museu Pitt Rivers de Oxford, um dos museus etnográficos mais importantes do mundo. Culturas vivas cujos objetos “ali foram parar”. Uma história encantadora que mostra que há bons encontros quando há disponibilidade para “o outro”.

Um artigo de opinião do site This Is Africa defende que, 134 anos após a conferência de Berlim, que desenhou as fronteiras dividindo os países entre as potências colonizadoras, é tempo de África tomar as rédeas e salvar-se. Mapas incluídos.

Ponto final no Curto por hoje. Fique atento à atualização que vamos fazendo em www.expresso.pt, Expresso Diário lá para as 18h, TribunaBlitz e Vida Extra em grande atividade. Tenha um ótimo dia!

Prisões | Taxa de presos em Portugal aumentou, revela relatório da UE


Apesar de haver muitos reclusos no país, a percentagem de mulheres presas diminuiu, a par da taxa de presos estrangeiros

A população prisional em Portugal aumentou 12% entre 2005 e 2014/2015. A conclusão é do relatório “Prisões na Europa 2005-2015”, publicado ontem pelo Conselho da Europa e que analisa o panorama penitenciário de 47 países europeus.

Mas esse não foi o único indicador a piorar: as penas longas e o número de dias de reclusão aumentaram 13%, a sobrelotação/densidade prisional cresceu 11 %, assim como o ratio de presos por guardas prisionais, que revelou um aumento com os mesmos pontos percentuais.  Mas também há boas notícias:  o orçamento total destinado à administração prisional aumentou 9%, enquanto a média de idades dos reclusos por cá subiu 4%. A percentagem de mulheres presas diminuiu 11% e a taxa de presos estrangeiros baixou 5%. Por outro lado, a taxa de libertação diminuiu 2%.

Segundo o estudo, a par de Portugal, Inglaterra, País de Gales, Escócia e Espanha afirmam-se pela negativa, sendo ainda assim superados pela Albânia, Geórgia, Lituânia, antiga República Jugoslava da Macedónia, Montenegro e Turquia, que registaram as maiores taxas de crescimento de reclusos.

Entre as conclusões do documento é ainda dito que, em 2005, a população prisional estava a decrescer na maioria dos países – excluindo territórios como Inglaterra, País de Gales, Escócia, Espanha e Portugal.

Quanto à distribuição geográfica das taxas de reclusão por 100 mil habitantes na Europa, o estudo revela que se manteve estável ao longo dos dez anos tidos em conta.

Do grupo dos países com melhores números destaca-se a Alemanha, a Holanda, a Estónia e a Letónia – que no período dos dez anos conseguiram baixar a taxa de reclusão, respetivamente, de 95,7 para 77,4, de 94 para 53, de 327,4 para 210,3 e de 313 para 223,4.

Beatriz Dias Coelho | Jornal i | Foto: Dreamstime

A pobreza não é uma fatalidade


Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de risco de pobreza após transferências sociais caiu de 19,5% em 2013 para 17,3% em 2017.

É o valor mais baixo registado em quase 15 anos, mas continua alto demais. Se forem considerados os rendimentos antes de qualquer transferência social, a redução foi de 4,7 pontos percentuais (p.p.), e se a estes rendimentos forem acrescidas apenas as transferências relativas a pensões, então a queda foi de 4p.p.

A primeira nota é que a austeridade, ao contrário do que afirmam PSD e CDS, não foi "socialmente justa". O desemprego, os cortes nos apoios sociais e rendimentos, atiraram para a pobreza milhares de pessoas, agravando todos os indicadores de desigualdades, exclusão e privação.

Mas a reflexão que mais importa é sobre o presente e o futuro.

Segundo o INE, excluindo já as pensões, quase 23% da população está em risco de pobreza. Em 2017, as prestações sociais - o abono de família, o rendimento social de inserção, a prestação social para a inclusão ou o complemento solidário para idosos - reduziram esta percentagem em 5,3 p.p. São por isso instrumentos essenciais no combate à pobreza. A aposta que fizemos, ao longo desta legislatura, no seu reforço depois dos cortes da Direita foi acertada.

Mas a pobreza não é um fenómeno que se combata apenas com prestações sociais. Em 2014, a taxa de risco de pobreza entre a população trabalhadora era 10,9%. Ou seja, mais de um em cada dez trabalhadores não ganhava o suficiente para não ser pobre. Em 2017 esta taxa reduziu-se para 9,7%, e o aumento do salário mínimo nacional em muito deve ter contribuído para isso.

Os resultados são positivos, e devemos aprender com eles. Mas se o aumento das prestações sociais e do salário mínimo foram essenciais para retirar o país da situação de emergência social, a erradicação da pobreza e o combate estrutural às desigualdades não podem ficar pela política de mínimos.

A qualidade e universalidade dos serviços públicos, que são uma forma indireta de rendimento, e a legislação laboral, que protege o salário e o emprego, são dois elementos centrais dessa estratégia. Em ambos, a atuação do Governo, limitado pelas suas próprias escolhas ideológicas e orçamentais, deixa muito a desejar. Não tinha que ser assim, sobretudo porque há no Parlamento uma maioria que permitiria fazer diferente. Mas ainda há tempo para mudar algumas coisas. Esta ainda pode ser a legislatura em que limpamos a troika do código laboral e protegemos o SNS com uma nova lei de bases. Se tal não acontecer, a responsabilidade será exclusivamente do Partido Socialista.

*Deputada do BE

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