Rui Pinto |
Juíza húngara coloca Rui Pinto,
que assumiu ligação ao Football Leaks, em prisão domiciliária. PJ teme
que, fora da cadeia, suspeito aproveite para apagar rasto dos crimes que lhe
são imputados.
O hacker português Rui
Pinto, que, após ter sido detido na quarta-feira passada, na Hungria, assumiu a
sua ligação ao escândalo Football Leaks, conseguiu, para já, evitar a
cadeia, com a prova de que vivia há ano e meio no mesmo apartamento, em
Budapeste, na capital húngara.
Rui Pinto está desde esta
sexta-feira em prisão
domiciliária com vigilância electrónica, enquanto as autoridades húngaras
decidem se o entregam ao Ministério Público português, que emitiu o mandado
europeu que esteve na origem da sua detenção. A Polícia Judiciária tentava há
muitos meses localizar o pirata informático suspeito de tentativa
de extorsão e acesso ilegítimo, entre outros crimes.
O seu advogado húngaro, David
Deak, explicou ao PÚBLICO que apresentou documentos em tribunal, nomeadamente
um contrato de arrendamento, que convenceram a juíza que analisou quais as
restrições que deviam ser impostas ao jovem de 30 anos, enquanto as autoridades
húngaras decidem a extradição. “Ele explicou que vivia na mesma casa há um ano
e meio e não andava a fugir de ninguém. Insistiu ainda que nunca tinha sido
punido criminalmente e que não é um criminoso”, completou David Deak.
O Ministério Público húngaro
tinha pedido que o hacker ficasse na cadeia à espera da decisão sobre
a sua extradição, o que, segundo David Deak, é aceite na maioria dos casos.
“Por isso, recorreram para a segunda instância, pedindo a prisão do meu cliente
e eu recorri, pedindo que lhe fosse imposta a restrição mínima: ficar em
liberdade, mas impedido de sair da cidade de Budapeste”, adiantou ainda o
advogado húngaro. A decisão do tribunal superior deve ser conhecida nas
próximas duas semanas.
Sobre os motivos que levaram o hacker a
opor-se à sua entrega às autoridades portuguesas, David Deak
declarou apenas que a defesa acredita que não terá um processo justo em
Portugal, sem justificar essa convicção.
Quem não ficou nada contente com
a prisão domiciliária de Rui Pinto foi a Polícia Judiciária, que investiga há
mais de três anos o hacker e teme que a liberdade de contactos e de
movimentos – ainda que confinada à sua casa – lhe permita,
pessoalmente ou através de terceiros, apagar o rasto dos crimes de que é
suspeito.
No mandado de detenção europeu
emitido esta semana, o Ministério Público português alega que há o perigo de
Rui Pinto fugir, de perturbar a investigação e de continuar a actividade
criminosa. Por isso, assume-se a intenção de apresentar o pirata informático a
um juiz de instrução que determine uma medida de coacção mais gravosa que o
simples termo de identidade e residência, quando este chegar a Portugal.
A detenção do hacker,
comunicada aos vários países da União Europeia através da Europol, está a
suscitar o interesse de autoridades estrangeiras que pretendem ter acesso ao
vasto material informático apreendido - discos externos, pen drives,
cartões de memória e num computador - e interrogar o jovem.
Esta sexta-feira, um dos
advogados de Rui Pinto, William Bourdon, afirmou que o hacker estava
a colaborar com o Ministério Público francês, que, desde Dezembro de 2016,
investiga crimes de fraude fiscal qualificada, na sequência das revelações
feitas por um consórcio de jornalistas com base em documentos colocados no site do Football
Leaks. “Existe uma cooperação activa entre Rui Pinto e o Parquet National
Financier [departamento especializado em crimes financeiros]”, revelou Bourdon
em declarações à France Press, citadas pelo Expresso.
O semanário diz que Rui Pinto
também aceitou um pedido de colaboração que lhe tinha sido enviado por um
procurador suíço, que está a liderar uma investigação sobre a relação entre um
colega magistrado e o presidente da FIFA, Gianni Infantino. Isto na sequência
de notícias publicadas em Novembro passado pelo consórcio de jornalistas, com
base em documentos divulgados pelo Football Leaks.
Neste momento, o Ministério
Público imputa a Rui Pinto seis crimes: dois crimes de acesso ilegítimo, dois
de violação de segredo, um de ofensa a pessoa colectiva e ainda uma tentativa
de extorsão.
O único clube de futebol visado
por estes ilícitos é o Sporting, que terá sido vítima de um crime de acesso
ilegítimo. Rui Pinto terá acedido, a 30 de Setembro de 2015, ao email de
vários membros da administração e do departamento jurídico dos “leões”. Antes,
já fizera o mesmo com o sistema informático do fundo de investimento Doyen
Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de
futebol. Esses documentos acabaram publicados num site intitulado Football
Leaks. Este fundo, sediado em Malta, também terá sido visado pela tentativa de
extorsão que o Ministério Público imputa a Rui Pinto.
Mariana Oliveira | Público
Sem comentários:
Enviar um comentário