domingo, 20 de janeiro de 2019

O “grande jogo” das bases em África


Manlio Dinucci*

Criada em 2007, como resultado de um estudo israelita, o AfriCom (Comando dos Estados Unidos para África) nunca conseguiu instalar o seu quartel general no continente. A partir da Alemanha, esta estrutura leva - com a assistência da França na região do Sahel – operações anti-terroristas. Em troca, as multinacionais americanas e francesas detêm um acesso privilegiado às matérias primas africanas.

Os soldados italianos, em missão no Djibuti, doaram algumas máquinas de costura à organização humanitária que ajuda os refugiados neste pequeno país do Corno de África, situado em posição estratégica e localizado na rota comercial fundamental da Ásia-Europa, até à embocadura do Mar Vermelho, em frente ao Iémen. Aqui a Itália tem a sua própria base militar que, desde 2012, “fornece apoio logístico às operações militares italianas que se desenvolvem na região do Corno de África, no Golfo de Aden, na bacia da Somália e no Oceano Índico". Portanto, no Djibuti, os militares italianos não se ocupam, apenas, de máquinas de costura.

No exercício Barracuda 2018, realizado aqui, em Novembro passado, os atiradores escolhidos das Forças Especiais (cujo comando está em Pisa) treinaram em condições ambientais diversas, mesmo de noite, com armas de precisão altamente sofisticadas, capazes focar o objectivo a 1 ou 2 km de distância. Não se sabe em que operações militares as Forças Especiais irão participar, visto que as suas missões são secretas; no entanto, é certo que elas ocorrem principalmente num âmbito multinacional, sob comando USA. Em Djibouti, existe Camp Lemonnier, a maior base USA na qual opera, desde 2001, a Task Force Conjunta - Corno de África, composta por 4.000 especialistas em missões altamente secretas, incluindo assassinatos por meio de comandos ou drones assassinos, em particular, no Iémen e na Somália. Enquanto os aviões e os helicópteros para as operações especiais partem de Camp Lemonnier, os drones têm estado concentrados no aeroporto Chabelley, a uma dezena de quilómetros da capital. Aqui estão a erguer-se outros hangares, cuja construção foi confiada pelo Pentágono a uma empresa de Catania, já contratada para outros trabalhos em Sigonella, a base principal dos drones USA/NATO para as operações em África e no Médio Oriente.

No Djibuti há também uma base japonesa e uma francesa, que abrigam tropas alemãs e espanholas. A estas foi adicionada, em 2017, uma base militar chinesa, a única fora do seu território nacional. Apesar de ter um objectivo logístico fundamental, como pousada para as tripulações dos navios militares que escoltam os navios mercantes e como depósito de suprimentos, ela representa um sinal significativo da crescente presença chinesa, em África. Presença essencialmente económica, à qual os Estados Unidos e outras potências ocidentais se opõem, contrapondo com uma presença militar crescente. Daí a intensificação das operações conduzidas pelo Comando África, que tem, em Itália, dois comandos subordinados importantes: o U.S. Naval Forces Europe-Africa, no quartel de Ederle, em Vicenza; as Forças Navais Europa-África (Forças Navais USA para a Europa e a África), cujo quartel general fica na base de Capodichino, em Nápoles, formada pelos navios de guerra da Sexta Frota, baseados em Gaeta.

No mesmo quadro estratégico, existe outra base norte-americana de drones armados, que está a ser construída em Agadez, no Níger, que o Pentágono já usa para drones - a base aérea 101, em Niamey. Presta assistência às operações militares que os USA têm realizado há anos, juntamente com a França, na África do Sahel, especialmente no Mali, no Níger e no Chade. A estes dois últimos, chega amanhã o Presidente do Conselho, G. Conte. Estão entre os países mais pobres do mundo, mas riquíssimos em matérias-primas - coltan, urânio, ouro, petróleo e muitas outras - explorados pelas multinacionais americanas e francesas que, cada vez mais, temem a concorrência das empresas chinesas, que oferecem condições muito mais favoráveis aos países africanos.

A tentativa de impedir o avanço económico chinês, através de intervenções militares em África e noutros lugares, está a fracassar. Provavelmente, até as máquinas de costura doadas em Djibuti, pelos militares italianos aos refugiados, são "made in China".

Manlio Dinucci | Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos |  Fonte Il Manifesto (Itália)


Na foto: Em Junho de 2018, Nancy Lindborg, Directora do Instituto da Paz dos EUA (USIP), visitou o quartel general da AfriCom em Estugarda. O USIP é o equivalente do NED para o Departamento de Defesa. Desenvolve acções “humanitárias” como a NED promove a “democracia”. Não se trata, obviamente, de uma fundação filantrópica do Pentágono, mas de um utensílio dos Serviços Secretos.

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