Manlio Dinucci*
Criada em 2007, como resultado de
um estudo israelita, o AfriCom (Comando dos Estados Unidos para África) nunca
conseguiu instalar o seu quartel general no continente. A partir da Alemanha,
esta estrutura leva - com a assistência da França na região do Sahel –
operações anti-terroristas. Em troca, as multinacionais americanas e francesas
detêm um acesso privilegiado às matérias primas africanas.
Os soldados italianos, em missão
no Djibuti, doaram algumas máquinas de costura à organização humanitária que
ajuda os refugiados neste pequeno país do Corno de África, situado em posição
estratégica e localizado na rota comercial fundamental da Ásia-Europa, até à
embocadura do Mar Vermelho, em frente ao Iémen. Aqui a Itália tem a sua própria
base militar que, desde 2012, “fornece apoio logístico às operações militares
italianas que se desenvolvem na região do Corno de África, no Golfo de Aden, na
bacia da Somália e no Oceano Índico". Portanto, no Djibuti, os militares
italianos não se ocupam, apenas, de máquinas de costura.
No exercício Barracuda 2018,
realizado aqui, em Novembro passado, os atiradores escolhidos das Forças
Especiais (cujo comando está em Pisa) treinaram em condições ambientais
diversas, mesmo de noite, com armas de precisão altamente sofisticadas, capazes
focar o objectivo a 1 ou 2 km
de distância. Não se sabe em que operações militares as Forças Especiais irão
participar, visto que as suas missões são secretas; no entanto, é certo que
elas ocorrem principalmente num âmbito multinacional, sob comando USA. Em
Djibouti, existe Camp Lemonnier, a maior base USA na qual opera, desde 2001, a Task Force Conjunta
- Corno de África, composta por 4.000 especialistas em missões altamente
secretas, incluindo assassinatos por meio de comandos ou drones assassinos, em
particular, no Iémen e na Somália. Enquanto os aviões e os helicópteros para as
operações especiais partem de Camp Lemonnier, os drones têm estado concentrados
no aeroporto Chabelley, a uma dezena de quilómetros da capital. Aqui estão a
erguer-se outros hangares, cuja construção foi confiada pelo Pentágono a uma
empresa de Catania, já contratada para outros trabalhos em Sigonella, a base
principal dos drones USA/NATO para as operações em África e no Médio Oriente.
No Djibuti há também uma base
japonesa e uma francesa, que abrigam tropas alemãs e espanholas. A estas foi
adicionada, em 2017, uma base militar chinesa, a única fora do seu território
nacional. Apesar de ter um objectivo logístico fundamental, como pousada para
as tripulações dos navios militares que escoltam os navios mercantes e como
depósito de suprimentos, ela representa um sinal significativo da crescente
presença chinesa, em África. Presença essencialmente económica, à qual os
Estados Unidos e outras potências ocidentais se opõem, contrapondo com uma
presença militar crescente. Daí a intensificação das operações conduzidas pelo
Comando África, que tem, em Itália, dois comandos subordinados importantes: o
U.S. Naval Forces Europe-Africa, no quartel de Ederle, em Vicenza; as Forças
Navais Europa-África (Forças Navais USA para a Europa e a África), cujo quartel
general fica na base de Capodichino, em Nápoles, formada pelos navios de guerra
da Sexta Frota, baseados em Gaeta.
No mesmo quadro estratégico,
existe outra base norte-americana de drones armados, que está a ser construída
em Agadez, no Níger, que o Pentágono já usa para drones - a base aérea 101, em Niamey. Presta
assistência às operações militares que os USA têm realizado há anos, juntamente
com a França, na África do Sahel, especialmente no Mali, no Níger e no Chade. A
estes dois últimos, chega amanhã o Presidente do Conselho, G. Conte. Estão
entre os países mais pobres do mundo, mas riquíssimos em matérias-primas -
coltan, urânio, ouro, petróleo e muitas outras - explorados pelas
multinacionais americanas e francesas que, cada vez mais, temem a concorrência
das empresas chinesas, que oferecem condições muito mais favoráveis aos países
africanos.
A tentativa de impedir o avanço
económico chinês, através de intervenções militares em África e noutros
lugares, está a fracassar. Provavelmente, até as máquinas de costura doadas em
Djibuti, pelos militares italianos aos refugiados, são "made in China".
Manlio Dinucci
| Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
* Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016;Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Na foto: Em Junho de 2018, Nancy
Lindborg, Directora do Instituto da Paz dos EUA (USIP), visitou o quartel
general da AfriCom em
Estugarda. O USIP é o equivalente do NED para o Departamento
de Defesa. Desenvolve acções “humanitárias” como a NED promove a “democracia”.
Não se trata, obviamente, de uma fundação filantrópica do Pentágono, mas de um
utensílio dos Serviços Secretos.
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