Opositores queimaram pneus e
atiraram pedras contra soldados; exércitos de Brasil e Venezuela fizeram
encontros públicos
Um dia depois da frustrada
tentativa de fazer atravessar uma suposta
ajuda humanitária para o povo venezuelano pelo lado brasileiro, as
duas camionetes que transportariam as doações dos Estados Unidos e do Brasil
amanheceram e permaneceram, durante todo o domingo (24), dentro do Batalhão do
Exército Brasileiro na cidade de Pacaraima, em Roraima, na fronteira com a
Venezuela. Alguns metros à frente, no limite entre os dois países, opositores
ao governo do presidente Nicolás Maduro, em menor quantidade, se
reuniram para um dia de novas provocações aos militares da Venezuela.
A pouca presença das forças de
segurança do Brasil deixou o grupo oposicionista à vontade para buscar um
novo enfrentamento com os agentes encarregados da vigilância do país
vizinho na divisa. Ainda pela manhã, começaram queimando pneus e atirando-os em
direção ao posto de gasolina da Petroleira Venezuelana (PDVSA), o que poderia
provocar uma explosão. Em seguida, depredaram um alojamento do exército
venezuelanoe lançaram pedras contra os soldados daquele país. Depois de
assistir por horas a provocação, os militares responderam com
bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo que protestava.
Se as intenções do grupo opositor
eram chamar a atenção do mundo e buscar apoio contra Nicolás
Maduro, a estratégia violenta gerou repúdio de outros venezuelanos que
acompanhavam a situação na fronteira. “Vão chegar nesse país assim? Isso já é
vandalismo. Não tem porquê fazer isso. É minha opinião. Eles [Brasil] estão nos
dando um apoio e, se quiserem, tiram todos os venezuelanos daqui, porque
estarão no seu direito”, sentencia a venezuelana Claudia, que vive em
Pacaraima.
Crítico ao governo Maduro, o
venezuelano Alejandro também condenou as manifestações violentas do grupo no
último domingo. “Eu penso que isso não pode ser feito assim. Isso é um ato de
vandalismo. O que vão pensar da gente? Dessa forma não solucionamos nada. Isso
que estamos fazendo não resolve nada”, afirma. Ele, assim como outros
opositores, chegou pelo segundo
dia consecutivo à fronteira e se frustrou ao ver a violência provocada
por seus compatriotas.
Controle da situação
Somente horas depois do início
das provocações, o Exército Brasileiro, a Força Nacional e a Polícia Rodoviária
Federal chegaram com um efetivo maior. Antes disso, apenas alguns soldados eram
vistos assistindo às ações do grupo opositor do lado venezuelano. Quando
passaram de volta ao lado brasileiro, os manifestantes receberam ordens para se
retirarem do limite entre os dois países e foram impedidos por uma barreira
policial de retornarem ao ponto a partir de onde estavam atacando os militares venezuelanos.
Encontro de exércitos
Em dois momentos, representantes
dos exércitos brasileiro e venezuelano promoveram um encontro público no limite
entre os dois países. No primeiro, conversaram sobre questões de segurança e
também debateram a possibilidade de trazer para o pátio da alfândega
venezuelana os caminhões brasileiros que ficaram parados na Venezuela em pontos
mais distantes depois do fechamento da fronteira. No segundo encontro,
discutiram ações para reforçar a segurança na zona de fronteira, que, nos
últimos três dias, tem recebido provocações de grupos opositores ao governo do
presidente Nicolás Maduro.
André Vieira | Brasil de Fato, Pacaraima
(RR) | Edição: Aline Scátola
Imagem: Bombas de gás foram
lançadas pelo exército venezuelano após horas de protesto de opositores /
Sebastián Soto
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