sábado, 20 de abril de 2019

O euro, paraíso da especulação imobiliária

No âmbito dos acordos de Bretton Woods, os países impunham restrições aos movimentos de capitais, o que lhes permitia executar uma política monetária eficaz e manter alguma estabilidade da taxa de câmbio.

Com a revolução neoliberal, a ideologia e os interesses comerciais e financeiros acederam ao poder e impuseram a liberalização financeira e a livre circulação de capitais. Os anos oitenta e noventa foram esclarecedores quanto aos efeitos desta política. As crises financeiras na América Latina e na Ásia, com ondas de choque que se estenderam ao resto do mundo, mostraram o poder desestabilizador dos capitais especulativos. Jagdish Bhagwaty, um notável defensor do livre comércio, acabou por escrever um texto notável de crítica demolidora dos argumentos em defesa da livre circulação de capitais.

Joseph Stiglitz defende há muito tempo a necessidade de os países reduzirem a volatilidade do câmbio e o risco de bolhas especulativas através do controlo dos movimentos de capitais de curto prazo. Desde a mais recente crise financeira que a sua posição se tornou mais insistente (ver aqui).


O reverso da entrada de capital num país é o seu endividamento em moeda estrangeira, o que tem consequências devastadoras quando se verifica uma crise de confiança, caso em que a especulação contra a moeda produz uma desvalorização que o stock de divisas não consegue travar e, em consequência, aumenta drasticamente o serviço da dívida em moeda nacional. A Turquia é apenas um caso recente. Face às consequências da crise financeira de 2007-8, até o FMI já aceita o controlo dos movimentos de capitais como instrumento de uma política económica respeitável.

Porém, nada disto se aplica à Zona Euro. Como afirmo no vídeo, as bolhas do imobiliário que estão em crescimento na Europa, e também em Portugal, acabarão por rebentar e produzir os estragos que já conhecemos. É o preço de termos abdicado da soberania para estarmos numa zona onde o capital tem toda a liberdade para circular e especular. Toda a liberdade para sujeitar a sociedade aos seus desvarios e para impor a socialização dos estragos que produz.


Jorge Bateira | Ladrões de Bicicletas, em 15.04.2018

Cartoon por Ellis Nadler

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