Vítor Santos | Jornal de Notícias
| opinião
O negócio do combate aos
incêndios está sob suspeita, em Portugal e não só.
No ano passado, o próprio
primeiro-ministro, António Costa, escolheu palavras duras para se referir às
empresas que fornecem meios aéreos, acusando-as de cartelização. Apesar de as
investigações em curso ainda não terem produzido acusações, é impossível não
colocar reservas quando somos confrontados com negócios entre o Estado e
entidades que são apontadas como responsáveis por terem lesado em milhões de
euros países como Espanha ou Itália, embora, de um dia para o outro, as mesmas
organizações apresentem preços de saldo. Simplificando: agora, num ato de nobre
desprendimento, atendendo a que Portugal é um país com evidentes dificuldades
económicas, até parecem dispostas a perder dinheiro.
O concurso para a aquisição de
aeronaves teve como vencedora uma empresa portuguesa que, por sua vez, recorre
a outra, espanhola - que está a ser investigada nos dois países -, para
assegurar dezenas de helicópteros. Não havendo acusações, nenhuma ilegalidade,
portanto, siga a Marinha, ou neste caso a Força Aérea, que pela primeira vez
tutela a contratação. Mas o mais extraordinário é que sete de nove lotes do
concurso tinham como valor de referência 66 milhões de euros e acabaram por ser
fechados por uma verba muito inferior, apenas 33,5 milhões.
A questão da presunção de
inocência é um bem importante das sociedades democráticas (com uma pequena
nuance em Portugal, onde, por vezes, assume caráter eterno, dada a morosidade
da Justiça e abundante prescrição dos processos), pelo que temos acreditar na
seriedade de quem vai fornecer os meios. Mas não podemos passar ao lado do que
o Ministério Público investiga há três anos, nem das acusações de António
Costa, porque, pelo que percebemos agora, até podiam fazer o serviço por metade
do preço.
*Editor-executivo
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