quinta-feira, 4 de abril de 2019

Portugal | Voar está mais barato


Vítor Santos | Jornal de Notícias | opinião

O negócio do combate aos incêndios está sob suspeita, em Portugal e não só.

No ano passado, o próprio primeiro-ministro, António Costa, escolheu palavras duras para se referir às empresas que fornecem meios aéreos, acusando-as de cartelização. Apesar de as investigações em curso ainda não terem produzido acusações, é impossível não colocar reservas quando somos confrontados com negócios entre o Estado e entidades que são apontadas como responsáveis por terem lesado em milhões de euros países como Espanha ou Itália, embora, de um dia para o outro, as mesmas organizações apresentem preços de saldo. Simplificando: agora, num ato de nobre desprendimento, atendendo a que Portugal é um país com evidentes dificuldades económicas, até parecem dispostas a perder dinheiro.

O concurso para a aquisição de aeronaves teve como vencedora uma empresa portuguesa que, por sua vez, recorre a outra, espanhola - que está a ser investigada nos dois países -, para assegurar dezenas de helicópteros. Não havendo acusações, nenhuma ilegalidade, portanto, siga a Marinha, ou neste caso a Força Aérea, que pela primeira vez tutela a contratação. Mas o mais extraordinário é que sete de nove lotes do concurso tinham como valor de referência 66 milhões de euros e acabaram por ser fechados por uma verba muito inferior, apenas 33,5 milhões.

A questão da presunção de inocência é um bem importante das sociedades democráticas (com uma pequena nuance em Portugal, onde, por vezes, assume caráter eterno, dada a morosidade da Justiça e abundante prescrição dos processos), pelo que temos acreditar na seriedade de quem vai fornecer os meios. Mas não podemos passar ao lado do que o Ministério Público investiga há três anos, nem das acusações de António Costa, porque, pelo que percebemos agora, até podiam fazer o serviço por metade do preço.

*Editor-executivo

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