A verdade mais impressionante e
assustadora sobre a era nuclear é a seguinte: as armas nucleares são capazes de
destruir a civilização e a vida mais complexa do planeta, mas quase nada está a
ser feito a este respeito.
David Krieger* | opinião
A Humanidade está a namoriscar com a extinção e está
a sentir a "agonia das rãs". É como se a espécie humana tivesse sido
colocada num caldeirão de água morna - metaforicamente em relação aos perigos
nucleares e literalmente no que diz respeito à mudança climática - e parecesse
estar calma dentro da água, enquanto a temperatura sobe em direcção ao ponto de
ebulição. Neste artigo, concentro a minha atenção no caldeirão metafórico de
aquecimento da água, a caminho da fervura, representando os perigos nucleares
crescentes que são confrontados por toda a Humanidade.
Por mais perturbador que seja,
não há virtualmente nenhuma vontade política da parte das nações que possuem
arsenais nucleares de alterar esta situação perigosa; e, apesar das obrigações
legais de negociar de boa fé, o fim da corrida armamentista nuclear e o
desarmamento nuclear, não há grande esforço entre os países detentores de armas
nucleares e os países sob o guarda-chuva nuclear (países
da NATO) para atingir o zero nuclear. Enquanto os países sem armas
nucleares negociaram o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPNW) e
estão a diligenciar estabelecer a entrada em vigor deste Tratado, os países que
possuem armas e aqueles que se abrigam sob a sua protecção nuclear, não
apoiaram o novo Tratado.
Os nove países com armas
nucleares boicotaram, na totalidade, as negociações internacionais sobre a
proibição e eliminação das armas nucleares. Além do mais, cada um desses países
está a modernizar o seu arsenal nuclear, desperdiçando recursos valiosos em
armas que nunca deverão ser usadas e fazem-no enquanto as necessidades básicas
de biliões de pessoas em todo o mundo, não são tidas em consideração nem
cumpridas. Apesar desta situação injusta e deplorável, a maioria dos 7 biliões
de pessoas no planeta,tem uma atitude tolerante e acomodada, em relação às
armas nucleares, o que só adiciona combustível ao fogo sob o caldeirão das rãs.
Na era nuclear, a Humanidade é desafiada
como nunca jamais aconteceu. A nossa tecnologia e, especialmente, as nossas
armas nucleares, podem destruir-nos, bem como todos que nos são queridos. Mas
antes de podermos responder a estes perigos gigantescos, devemos primeiro
despertar a consciência para os mesmos. A complacência está enraizada na
apatia, na conformidade, na ignorância e na negação - uma receita para o
desastre. Se quisermos prevalecer sobre as nossas tecnologias, devemos passar
da apatia à empatia; da conformidade ao pensamento crítico; da ignorância à
sabedoria; e da negação ao reconhecimento do perigo. Mas como vamos fazê-lo?
A solução é a educação - uma
educação que promova a participação; uma educação que force
os indivíduos e as nações a enfrentar a verdade sobre os perigos da
era nuclear. Precisamos de uma educação que leve à acção que permita à
Humanidade sair do caldeirão metafórico com a água a aquecer, antes que seja
tarde demais.
A educação pode apresentar-se de
muitas formas, mas deve começar por uma análise sólida dos perigos actuais e
pelas críticas à falta de progresso na contenção dos perigos da era nuclear.
- Precisamos de uma
educação que esteja enraizada no bem comum.
- Precisamos de uma
educação que forneça uma plataforma para as vozes dos sobreviventes de Hiroshima
e Nagasaki.
- Precisamos de uma
educação que torne clara a instabilidade e a natureza perigosa da dissuasão
nuclear.
- Precisamos de uma
educação que desafie a arrogância suprema dos dirigentes que acreditam que o 'status
quo' nuclear global pode sobreviver indefinidamente, em face da maldade e da
falibilidade humana.
Temos necessidade de uma educação
que possa romper os laços da insanidade nuclear e levar o mundo à acção. Se
quisermos saltar do caldeirão de água sempre a aquecer, evitar o desastre e alcançar
o porto seguro do zero nuclear,temos de nos esforçar para que as pessoas falem
e exijam muito mais dos seus dirigentes.
*David Krieger | No War no NATO | Tradutora: Maia Luísa de Vasconcellos
*David Krieger é um dos fundadores
da Nuclear Age Peace Foundation, e preside à mesma, desde 1982. É o autor e
editor de muitos livros sobre os perigos nucleares, incluindo "ZERO:
The Case for Nuclear Weapons Abolition = ZERO: O caso da Abolição das
Armas Nucleares".
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