Hong Kong, China, 04 jun 2019
(Lusa) -- Mais de cem mil pessoas reuniram-se hoje em Hong Kong para uma
vigília com velas, assinalando o 30.º aniversário do massacre de Tiananmen, um
dos poucos locais na China onde o evento pode ser recordado.
Na China continental estão
proibidas todas as cerimónias que assinalem o evento de 04 de junho 1989, em
que o exército chinês matou um número indeterminado de estudantes que defendiam
um movimento pró-democracia.
Hoje, muitos chineses
deslocaram-se até Hong Kong para recordar o massacre de Tiananmen, desfilando
com velas na mão e assistindo a discursos, tirando proveito do estatuto da
região sob a regra de "um país, dois sistemas".
Há 29 anos que Hong Kong assiste
a vigílias que assinalam a intervenção do exército chinês na praça da Paz
Celestial, mas este ano os observadores acreditam que terá sido batido o
recorde de afluência de manifestantes.
A Aliança de Apoio aos Movimentos
Democráticos e Patrióticos de Hong Kong, que organizou a vigila, indicou a
presença de 180 mil pessoas, mas as autoridades policiais da cidade dizem que
esse número não terá excedido as 37 mil, com vários 'media' internacionais a
confirmarem a presença de mais de cem mil manifestantes.
Muitos dos presentes compareceram
em trajes de luto e com velas na mão, entoando cânticos que recordavam os
momentos em que milhares de estudantes enfrentaram as forças do exército
chinês.
Iniciado por estudantes da
Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen acabou
quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de
protestos.
O número exato de pessoas mortas
continua a ser segredo de Estado, mas as "Mães de Tiananmen",
associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos
naquela altura, já identificaram mais de 200.
As autoridades chinesas defendem
que a ação do Governo foi necessária para abrir caminho ao crescimento
económico, e que se o Exército não interviesse, "a China mergulharia no
caos", como aconteceu em outros países socialistas.
Hoje, 30 anos depois, os
manifestantes repetiam que "o povo não esquecerá" e diziam que se
recusavam a acreditar nas mentiras, referindo-se às versões apresentadas pelo
Governo de Pequim, para explicar a contestação estudantil.
"Ao demonstrar o nosso apoio
ao movimento estudantil, estamos também a expressar a nossa insatisfação com o
regime violento da China", disse Amy Cheung, de 20 anos, que deslocou
desde o interior da China até à manifestação de Hong Kong.
"Tenho medo de ficar numa
lista negra e ser perseguido quando regressar", confessou um dos
manifestantes, que viajou desde a região de Chengdu (centro da China) que
preferiu preservar a sua identidade.
Também em Taiwan, um território
reclamado pela China, decorreram hoje manifestações de memória ao "rapaz
do tanque", recordando o estudante que simbolicamente se colocou em frente
de um dos tanques da Praça de Tiananmen e cuja imagem fotográfica simbolizou em
todo o mundo este acontecimento.
RJP (JPI) // EL
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