Martinho Júnior, Luanda
Desde os primeiros dias de sua
afirmação na condução dos destinos do povo cubano e plenamente identificada com
ele, que a Revolução Cubana respeita, como muito poucos, o berço de toda a
humanidade, não como uma figura de estilo conforme a emoção dum momento, mas
por que humildemente reconheceu pela voz do Comandante Fidel, a dívida
contraída em nome da civilização e contra a barbárie!...
A saga da luta de libertação
contra o colonialismo e o “apartheid”, ali onde foi necessário pegar em
armas, mobilizou Cuba de Argel ao Cabo da Boa Esperança, na forja duma
entranhável e imprescindível irmandade que agora, geração após geração, os
povos dos dois lados do Atlântico cultivam na essência da vida humana, que tanto
carece de amor, de educação, de saúde e dum irrevogável respeito para com a Mãe
Terra!...
Desse balanço há desde logo um
tácito diapasão comum: há que diversificar os campos de relacionamento e há que
melhorar no protagonismo recíproco nesse vivificante abraço transatlântico!
Angola tem em Cuba um irmão não
só descomplexado e puro, mas um irmão capaz de interpretar como poucos as dores
do mundo, capaz de luta contra a barbárie e por isso um irmão apto a
solidariamente ajudar África a redescobrir-se e a respeitar-se…
Ter Cuba Revolucionária na gesta
do embrião do renascimento africano, é o maior dos sinais que poderão haver de
respeito para com o berço da humanidade, por que é um respeito substantivamente
fundamentado, carregado de experiências comuns e uma autêntica sublimação nos
relacionamentos internacionais ao nível das maiores exigências do século XXI!
Para Cuba Revolucionária há uma
outra leitura da história, com os olhos dos oprimidos de séculos que também
foram uma parte dos oprimidos em Cuba, os afrodescendentes dos escravos que à
força foram transportados para as plantações da América enquanto a América foi
colonizada!
O berço da humanidade merece que
todos os povos se animem com essa sensibilidade sem equívocos, sem hipocrisias,
sem ambiguidades e pronta a agir solidariamente com consciência civilizacional
responsável perante África e toda a humanidade.
02- As relações de irmandade
Angola-Cuba ultrapassam a fasquia da reciprocidade de interesses, situando-se
ao nível dum respeito intemporal que advém dessa outra consciência
civilizacional responsável animada de laços de sangue e de luta, algo que tem a
ver com a essência dum patamar de relações imprescindíveis entre si, mas também
imprescindíveis para toda a humanidade!
Nos campos de batalha em Angola e
na África Austral, Cuba Revolucionária deu a sua contribuição inequívoca, quer
para se vencer colonialismo e projecto neocolonial, em cima da hora da
independência de Angola, quer para se vencer o “apartheid”, em cima da
hora do seu estertor.
Cuba foi duma coerência e duma
motivação exemplar, arrostando contra as tentações que o próprio império lhe
estendeu quando alvitrou que Angola fosse uma mera “moeda de troca” para
alterar suas posições de princípio, ou quando o espectro das bombas nucleares
de posse do“apartheid” pendesse sobre o enorme campo de batalha do Cuito
Cuanavale que se estendeu por toda a Frente Sul…
Em cima da hora da independência
as Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, irmanadas às Forças Armadas
Populares de Libertação de Angola, saíram vitoriosas simultaneamente em
Cabinda, em Quifangondo e no Ebo…
Em cima da hora do estertor
do “apartheid”, Cuba esteve decididamente entre os vitoriosos do Cuito
Cuanavale, esteve com todos os países da Linha da Frente, com a Namíbia
independente e soberana, com o Zimbabwe independente e soberano e com a própria
África do Sul finalmente livre do “apartheid”!
O fim da escravatura e do
colonialismo tem a ver com tudo isso, nas duas margens do Atlântico, pelo que
essa vitória do Não Alinhamento Activo, se tornou uma vitória para toda a
humanidade e um manancial para que o Não Alinhamento, mesmo em condições desfavoráveis
de capitalismo financeiro transnacional motivado em neoliberalismo, se afirme
em emergente resistência civilizacional, em sentido respeito e benefício de
todos os povos da Terra!
03- Para que essas vitórias não
se tornassem efémeras, perdidos nas calendas da história, ou sujeitas ao
esquecimento por obra e graça dos que afirmam com o neoliberalismo o “fim
da história”, a Revolução Cubana está a ir mais longe na afirmação da irmandade
para com África e de respeito pelo berço!...
Apesar da implosão socialista na
URSS e no leste da Europa, apesar do penoso período especial que foi obrigada a
digerir e enfrentar, apesar da afronta neoliberal que subverte a globalização
propiciada pelas novas tecnologias, Cuba Revolucionária nem mesmo assim deixou
de estar pronta para com o berço da humanidade e para com Angola e seu povo,
integrando a luta daqueles que procuram um mundo melhor para seus povos e para
todos os povos do Mundo!
Cuba Revolucionária, se na
educação e na saúde tem sido exemplar para com África, para com Angola e para
com os povos da América Latina, é também exemplar noutros ramos de actividade,
sobretudo naqueles que são essenciais para a afirmação de identidade e respeito
para com a Mãe Terra!
Dada a minha insistência para que
Angola dê efectiva sequência ao movimento de libertação em África por via duma
lógica com sentido de vida capaz de gerar uma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável e com vista à formação duma cultura de inteligência
patriótica, considero que quer Cuba, quer a Venezuela, quer ainda a Bolívia,
estão à altura de ajudar os irmãos do berço a superar as insuficiências
crónicas em relação aos inadiáveis desafios face às mudanças climáticas e
ambientais que a humanidade está a enfrentar!
Esse esforço que é necessário
cientificar, pode galgar capacidades recorrendo às experiências de cada um
desses estados e desses povos do outro lado do Atlântico!
Esse campo de experiências comuns
em vias de processos científicos que são inadiáveis, podem vir a contribuir para
uma maior amplitude ainda, em termos de relações internacionais, entre África e
a América Latina, tendo em conta as implicações em termos de antropologia
cultural e na premente necessidade de alimentação das políticas de paz e
segurança num continente em que até as fronteiras foram desenhadas e impostas
por outros há pouco mais de um século!...
Para Cuba e Angola, com toda a
sensibilidade virada para o futuro, há muito mais a fazer e cultivar em termos
de relacionamentos entre irmãos, do que o que foi feito nas horas mais
decisivas da luta de libertação!
Martinho Júnior - Luanda, 2 de
Julho de 2019
Imagens da recepção oficial do
Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, Miguel Dìaz-Canel Bermúdez
ao Presidente de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço.
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