Na Guiné-Bissau, as raparigas são
quem menos frequenta o sistema de ensino. E as raparigas da região de Biombo
precisam urgentemente de uma escola digna. Por isso, vários músicos juntaram-se
em solidariedade.
A cantora guineense Karina Gomes
deu a cara a uma nova iniciativa de solidariedade para angariar fundos para a
construção de uma escola para as raparigas de Biombo, uma das regiões mais
pequenas da Guiné-Bissau. E vários músicos juntaram-se a ela, incluindo Eneida
Marta.
É preciso combater o abandono
escolar de raparigas nas escolas guineenses, diz a artista.
"Infelizmente, ainda vivemos
na Guiné-Bissau esse flagelo das meninas que não vão para a
escola, porque, por uma questão cultural, acham que elas não precisam da
escola e que só precisam de saber os deveres de casa para o casamento e
essas coisas", afirma Eneida Marta em entrevista à DW África.
Estima-se que 23% das crianças
guineenses não vão à escola. As meninas são as que menos frequentam o sistema
de ensino na Guiné-Bissau. A taxa de abandono escolar ronda os 18%.
E é "claro, como uma mulher,
uma menina tem tanto direito como um rapaz, um homem. Então, estamos a batalhar
todos os dias", acrescenta a cantora.
Por um futuro melhor
A jovem artista Charline Vaz, de
20 anos, também se associou à causa "Música por Npili". Conta que
nasceu numa família que teve condições para zelar pela sua educação e formação.
"Tive o privilégio ou a
sorte de nascer numa família que me pode sustentar e que não me fez ter que
trabalhar, deixar de estudar, para ajudar a família. E saber que posso estar a
ajudar jovens que estão nessa situação para mim já é muito bom", diz.
Depois de concluir a escola em
Bissau, Charline Vaz está agora em Lisboa para estudar Ciências da Comunicação.
Como rapariga, reconhece que poderia estar na situação das meninas de Biombo ou
das que via nas ruas de Bissau.
"Vivendo na Guiné, deparei
com muitas situações [mas] sentia-me atada, porque não posso ajudar toda a
gente", confessa. "Eu passava na rua e via raparigas com tigelas,
baldes na cabeça a vender frutas, amendoim, e eu parava às vezes para pensar:
'estas meninas não vão para a escola, estas meninas só ajudam os pais. Estas
meninas não vão ter a mesma educação que eu tive ou a mesma oportunidade que eu
tive'."
Por isso, decidiu contribuir para
que as raparigas do seu país possam ter um futuro melhor.
Contra os casamentos precoces
Eneida Marta, quando era
embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), trabalhava na
temática da proteção e valorização educacional das raparigas. Hoje, como
refere, começa a haver mudanças positivas. Mas a Guiné-Bissau ainda enfrenta
muitas outras carências e problemas que afetam a vida das raparigas, entre os
quais a mutilação genital feminina e o casamento precoce.
"Eram tantas causas, tantas
necessidades, que era um bocadinho difícil uma embaixadora optar por uma causa.
Acabei por optar pelo casamento precoce, porque acaba por englobar as outras
causas. Se uma menina vai ao casamento muito cedo, claro que não vai à escola.
E se tem uma criança numa idade tão tenra também corre risco de vida",
explica Eneida Marta.
Para Kemna, filho de José Carlos
Schwarz, um dos mais notáveis músicos da Guiné-Bissau, cada ajuda de um
guineense é uma gota de água que pode multiplicar-se e crescer, para fazer face
às dificuldades que o país atravessa: "O mais importante é fazer. Não é
ficar de braços cruzados, mesmo se [for] uma gota de água", refere.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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