Martinho Júnior, Luanda
… “Os lóbis do armamento e
da energia, que tradicionalmente e no quadro da aristocracia financeira mundial
suportam o lado republicano dos mecanismos do poder dominante no quadro do
império da hegemonia unipolar, como já não podiam exercer a plasticidade dum
Obama, ou duma Hillary Clinton (que mesmo assim tiveram múltiplos reveses), só
podiam, ao fazer cair as máscaras, adoptar um exercício fascizante nos
relacionamentos internacionais, que se casasse com o capitalismo proteccionista
protagonizado pela campanha e início da actividade presidencial de Donald Trump
e a “tradicional excepcionalidade” estado-unidense, qualquer que
fosse o grau dos crimes em evidência.”… - https://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/grotesco.html
01- A 10 de Agosto de 2019, na
Embaixada da Venezuela Bolivariana em Luanda, assinei a petição dirigida ao
Secretário-Geral da ONU, António Guterres, contra as sanções e o bloqueio dos
Estados Unidos à Venezuela Bolivariana, segundo o “diktat” de Trump,
o republicano de turno cuja administração exerce hoje na Casa Branca!
Juntei-me assim a milhões de
patriotas venezuelanos, a largos milhares de cidadãos do mundo e aos angolanos
que têm consciência de quanto essas sanções e esse bloqueio põem em causa os
relacionamentos internacionais, contra a essência da própria Organização das
Nações Unidas! (https://lux24.lu/2019/08/11/venezuela-13-milhoes-assinam-manifesto-para-levar-a-antonio-guterres/).
Fi-lo com meu nome próprio, na
qualidade de antigo combatente e veterano da pátria de Agostinho Neto, o
Presidente-fundador do Estado Angolano, ele mesmo coerente anti-imperialista
enquanto dirigente de um dos mais decisivos movimentos de libertação em África
e enquanto esteve, até ao fim de sua vida, à frente da República Popular de
Angola! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/07/o-pensamento-de-agostinho-neto-e-um.html).
Sem essas convicções
anti-imperialistas, recordo, seria impossível em África vencer-se colonialismo
e “apartheid”!...
02- Na altura da assinatura,
troquei com os presentes impressões sobre o momento que o povo da Venezuela e
os povos de todo o mundo vivem, sobre o que levou a esta petição que vai
decerto ser assinada por milhões de cidadãos em todo o mundo, juntando
legitimamente seu protesto aos milhões e milhões de patriotas bolivarianos.
São as relações internacionais,
conforme o estipulado pela ONU, que estão a ser barbaramente postas em causa e
se hoje são Cuba e a Venezuela Bolivariana a sofrerem asfixiantes sanções e
bloqueios criminosos, amanhã poderão ser outros mais, por que os que controlam
o imperialismo da hegemonia unipolar têm demonstrado ser de há muito
insaciáveis nos seus propósitos, insaciáveis nos termos de seu comportamento
obstinado e nas imensas provas de prática de conspiração que espalharam enxofre
um pouco por todo o globo e em especial desde o final da IIª Guerra Mundial, em
1945! (https://www.dnoticias.pt/mundo/venezuela-acusa-eua-de-violarem-carta-da-onu-IA4938381).
Quando o multilateralismo é já
irreversível, a hegemonia unipolar ultrapassa a sua própria fasquia de
insanidade e torna-se numa vocação terrorista em nome dum retrógrado
proteccionismo, destruindo de facto a segurança global… (http://noticias.ciudadccs.info/rusia-denuncia-destruccion-eeuu-seguridad-mundial/).
O caos, o terrorismo e a
desagregação pende sobre aqueles que procuram as dignas vias da cultura de paz
e civilização multilateral, quando a paz e a civilização são indispensáveis
para a sobrevivência de toda a humanidade e para o imenso respeito que mais que
nunca merece a Mãe Terra!
Lembro a esse propósito uma
eminente entidade estado-unidense, que passou grande parte de sua vida a
denunciar o imperialismo levado a cabo pelas sucessivas administrações do seu
país até praticamente ao dia em que morreu, a 9 de Dezembro de 2018: William
Henry Blum! (https://www.globalresearch.ca/author/william-blum).
Ele detalhou como poucos as
guerras, os golpes de estado, as constantes práticas de conspiração um pouco
por todo o mundo e foi esclarecido investigador, tenaz e incontornável nos seus
escritos, autênticos conteúdos de denúncia que levaram décadas a ser
produzidos! (https://williamblum.org/).
Em “Killing hope”, um dos
seus livros, ele referiu-se à agressão a Angola segundo decisão do então
Presidente Gerald Ford e seu Secretário de Estado, Henry Kissinger… (https://williamblum.org/chapters/killing-hope/angola).
Confirmou-o John Stokwell, o
dissidente da CIA que antes de o ser havia comandado a Operação Iafeature
contra Angola, no seu depoimento“In search of ennemies” … (http://www.thirdworldtraveler.com/Stockwell/In_Search_Enemies.html).
Recordo também nessa senda, a
justa campanha que me une à Frente Anti Imperialista Internacionalista,
condenando os crimes estado-unidenses contra a humanidade…
… “Por qué el mundo no
condena e impugna de manera explícita a un Estado agresor, militarista hasta
extremos paroxísticos y claramente genocida en todos los escenarios en que ha
actuado en el último siglo?
De qué manera nuestra
civilización logra articular un discurso bienintencionado de valores
humanistas, mientras legitima y obedece a una nación moralmente retrógrada y
abiertamente imperialista?”... (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/08/08/9-de-agosto-una-herramienta-de-reflexion-global/).
03- Na qualidade de antigo
combatente e veterano da pátria angolana, integrado nas FAPLA combati em Luanda
e no norte de Angola essa agressão de então, nos idos anos de 1974 e 1975,
quando a independência da República Popular de Angola foi proclamada com as
armas do império e dos seus vassalos troaram nos horizontes próximos de capital
angolana. (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/o-primeiro-comandante-em-chefe-de.html).
Ainda hoje avalio essa saga que
foi também um momento alto da solidariedade e do internacionalismo da Revolução
Cubana para com Angola e para com África, de Argel ao Cabo da Boa Esperança! (http://paginaglobal.blogspot.com/2016/12/de-argel.html).
Se Angola não se tivesse tornado
independente com a proclamação da República Popular, teria sido também
impossível dar continuidade à luta contra o colonialismo, passando a combater
o “apartheid” até ele ser decisivamente vencido!
As batalhas de então tornaram
possível vencer o reduto do “apartheid” e com isso garantir a
independência da Namíbia e do Zimbabwe, assim como a instalação na África do
Sul e também em Angola dos parâmetros de democracia segundo 1 homem = 1 voto!
Por isso a solidariedade e o
internacionalismo hoje, para com aqueles povos e estados que sofrem a agressão
imperialista nos piores termos da hegemonia unipolar, têm até ao fim da minha
própria vida, o meu incondicional e firme apoio: estamos inequivocamente na
mesma trincheira, onde quer que geograficamente nos encontremos! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/08/11/las-nuevas-sanciones-impuestas-por-estados-unidos-a-la-republica-bolivariana-de-venezuela-y-a-su-gobierno-la-ampliacion-de-las-politicas-golpistas/).
O respeito que a Venezuela me
merece, é um respeito legítimo e justo, pois tenho avaliado o quanto Marti e
Bolivar significam para Cuba Revolucionária e para os Bolivarianos, para toda a
América e para África, continentes unidos nas longas lutas contra o
colonialismo, resgatando seus povos desde a aberração desumana da escravatura a
que tinham sido barbaramente condenados!... (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/03/venezuela-na-praca-de-la-guaira.html).
O imperialismo da hegemonia
unipolar manifesta-se com todo o seu cortejo de vassalos, como uma continuidade
em pleno século XXI dessa longa barbárie!... (http://www.correodelorinoco.gob.ve/delegacion-opositora-pediria-el-cese-de-sanciones-pero-no-fue-recibida-en-washington/).
Defender o Presidente Nicolas
Maduro e as instituições bolivarianas face à barbárie, defender a paz, o
diálogo em busca de consensos e os relacionamentos internacionais conformes à
Carta da ONU, (http://www.correodelorinoco.gob.ve/presidente-maduro-venezuela-vencera-el-bloqueo-de-estados-unidos/)
é impedir que o caos, o terrorismo e a desagregação se expandam ainda mais, em
proveito dos interesses da aristocracia financeira mundial, às custas de todas
as nações, estados e povos do planeta! (http://noticias.ciudadccs.info/presidente-maduro-se-sumo-con-su-firma-protesta-contra-bloqueo-de-eeuu/).
NO MORE TRUMP é um acto de
civilização face à barbárie e um sinal inequívoco de respeito para com todas as
nações, estados e povos da Terra! (https://br.sputniknews.com/fotos/2019081114372570-no-more-trump-venezuelanos-protestam-em-caracas-contra-sancoes-dos-eua/).
Martinho Júnior - Luanda, 11 de Agosto de 2019
Imagens do encontro de 10 de
Agosto na Embaixada da Venezuela Bolivariana em Angola e do Comunicado da
Associação de Amizade e Solidariedade com o Povo Venezuelano em Angola.
RECORDO UMA AINDA PERTINENTE
INTERVENÇÃO QUE FOI PUBLICADA POR MIM HÁ DEZ ANOS NO PÁGINA UM BLOGSPOT, QUANDO
TESTEMUNHAVA UM DOS ASPECTOS PRÁTICOS DO CARÁCTER DA REVOLUÇÃO BOLIVARIANA…
Sexta-feira, Outubro 09, 2009
MARTINHO JÚNIOR
Foi feito, na Venezuela, o primeiro inventário estatístico da cada vez mais alargada “Misión Barrio Adentro” e alguns ousam afirmar que, apesar da relevância dos números, pode-se fazer muito mais do que até agora foi feito, no cumprimento aliás de metas que animam o esforço. (1)
A “Misión” procura na generalidade “contribuir para o desenvolvimento da saúde com a construção dum novo Sistema Público Nacional de Saúde, através do fortalecimento da Rede de Atenção Primária, garantindo o acesso aos serviços a toda a população, a fim de melhorar o seu estado de saúde e qualidade de vida”.
Tem como “objectivos específicos”:
- “Garantir o acesso aos serviços de saúde à população excluída.
- Fortalecer a capacidade resolutiva do Consultório Popular, através de equipamento.
- Promover um modelo de gestão participativa que responda às necessidades sociais, mediante a organização e participação das comunidades, através dos comités de saúde e o controlo social como expressão do poder popular.
- Desenvolver estratégias promocionais de qualidade de vida.
- Transformar a Rede Ambulatória tradicional em consultório popular, aumentando a sua capacidade resolutiva, mediante a implementação, consolidação e extensão da prevenção e promoção da Saúde”.
As suas reiteradas “metas” visando “contribuir para o desenvolvimento, crescimento e envelhecimento com qualidade de vida”, são bastante ambiciosas:
- “Dar acesso aos técnicos de saúde a 60% da população excluída mediante a construção de 5.941 Consultórios Populares.
- Chegar à densidade de um médico por 1.250 habitantes.
- Elevar a média de vida da população”.
Para aqueles visionários das utopias alternativas, quando um outro mundo se torna possível, possível passa a ser um mundo ainda melhor e isso é sinal de vitalidade ética, filosófica e moral, de consciência crítica, dum amplo sentido de solidariedade, quanto de responsabilidade prática perante o povo e em particular em relação aos substratos sociais que têm sido historicamente mais penalizados. (2)
Houve recentemente um período dedicado ao processo de auto crítica, através do qual se detectou, entre outras coisas, a falta de médicos num número de consultórios; no relançamento do programa as lacunas foram previamente superadas e um novo fôlego está em curso.
O Barrio Adentro possui três níveis:
- O 1º é integrado por consultórios populares; neste caso existem já 700 módulos de atenção primária, um número ainda em expansão.
- O 2º é constituído por centros de diagnóstico integral, que hoje são 499, reforçados por 555 salas de reabilitação.
- O 3º é constituído por hospitais gerais e especializados, com 27 centros de alta tecnologia.
Responsabilidade prática perante o povo, quer queiram quer não, dá-a o Presidente Hugo Chavez, ao ser dos primeiros a almejar mais do que tem sido feito e marcar com sua presença, a cadência dos progressos que se vão paulatinamente alcançando com resultados sensíveis na diminuição da mortalidade infantil, que se situava nos 16,7 por mil segundo censo de 2007.
Responsabilidade prática porque, ao assumir a revolução, não há passo mais inteligente senão conhecer o seu próprio povo e inter relacionar o sistema político com o exercício de cidadania participativa, aprofundando a democracia que não se pode, nem deve, resumir-se aos “lobbies” dos ricos e dos poderosos.
Responsabilidade prática porque o objectivo não é, nem será nunca, “nivelar por baixo” a sociedade, mas elevar a patamares nunca antes atingidos a partir dos termos de educação e saúde, os substratos sociais que, na hora da arrancada, saem do abismo da marginalidade e até da hostilização a que se encontram há longas décadas. (3)
Apesar da riqueza petrolífera e de ser o maior membro da OPEP da América, a Venezuela durante décadas e décadas de governos controlados pela oligarquia conservadora e alinhada com as políticas imperialistas de Washington, não garantiu saúde para todos e largas manchas de comunidades “periféricas”, atiradas à sua sorte, proliferaram nos ambientes suburbanos das grandes cidades (a começar na capital Caracas), bem como nas áreas rurais, em particular aquelas de mais difíceis acessos e mais despovoadas, situadas a sul do rio Orinoco. (4)
O Presidente Hugo Chavez teve o mérito de, conhecendo o vácuo em relação às maiorias desprovidas de recursos, inaugurar a lógica alternativa em matéria de saúde para todos, a “medicina social” e “preventiva”, de acordo com conceitos que têm vindo a ser apurados e recorrendo à imensa capacidade e experiência acumulada de Cuba.
As práticas mercenárias arreigadas aos serviços de saúde na Venezuela da oligarquia conservadora, aquelas que actuavam única e simplesmente seguindo a lógica do mercado neoliberal, começaram finalmente a ter os dias contados, secando-se pouco a pouco o “pântano”.
O despeito dos sectores retrógrados da sociedade venezuelana tem sido visível e coloca-se como uma tentativa de travar o aprofundamento da democracia no país e ao mesmo tempo inibir a construção do socialismo em moldes criativos, onde o homem e o ambiente constituem prioridades absolutas e motivo para toda a genialidade e vontade política do novo poder, que sabe também que nesse processo é necessário impedir a burocratização, ou formação de novas castas. (5)
Para a oligarquia conservadora, o Presidente Hugo Chavez é entre outras coisas que procuram denegrir a sua figura, um populista à cata constante de votos no eleitorado, mas de facto “Barrio Adentro”, assim como todas as iniciativas em benefício da maioria empobrecida do povo venezuelano, constituem o “ovo de Colombo” que os ricos jamais quiseram descobrir, apesar dos imensos recursos da Venezuela.
A “Missão Barrio Adentro”, cujo financiamento resulta de dividendos provenientes do petróleo, começa a ser um exemplo para todas as nações da Terra, umas com mais, outras com menos possibilidades, tendo em conta os seus próprios recursos e um processo que contribui para arrancar do subdesenvolvimento o país.
Outros países da América Latina iniciaram também esforços análogos, particularmente os países da ALBA. (6)
Apesar da situação degradada das Honduras após o golpe de estado fascista em curso, os médicos cubanos não saíram do país e continuam nele seus esforços para minorar as situações críticas que vive o povo hondurenho, um dos mais pobres da América.
A reunião América do Sul – África que se realizou na ilha Margarita, possibilitou aos países africanos tomarem algum contacto com os esforços que os povos da América Latina estão a fazer no quadro de políticas alternativas integradoras que recorrem ao sector da saúde como uma das suas principais chaves de êxito. (7)
Tendo recebido a independência muito mais tarde que os países da América Latina, os países africanos, uma parte deles minados por um subdesenvolvimento crónico e atingidos por crises e conflitos de mais ou menos longa duração, têm a oportunidade de tirar partido das experiências históricas acumuladas do outro lado do Atlântico e, bebendo delas, evitar erros e vencer mais rapidamente as etapas de superação que se lhes colocam.
Angola é neste momento um desses países, que afortunadamente possui recursos acima da média e está ávido de reconstrução e reconciliação após anos de confrontações pela libertação da África e em função das sequelas.
Angola é também um dos países em que há a oportunidade para, a partir e em função do movimento de libertação e sem hiatos, dar continuidade e sequência ao esforço sacrificados das “gerações da utopia”, em benefício de todo o povo e em estreita fidelidade à gesta libertadora.
É evidente que as destruições registadas ao longo das poucas décadas de independência, umas devido à justa luta de libertação contra o colonialismo e o “apartheid”, outras devido às sequelas injustas que redundaram na “guerra africana” que a nível do país se consumou na “guerra dos diamantes de sangue”, traumatizaram profundamente a vida directa ou indirectamente de toda a sociedade.
Todas as comunidades do país sofrem desses traumas que é necessário rapidamente ultrapassar e isso é mais um motivo para a lógica alternativa poder vigorar, tirando partido do húmus que constitui o movimento de libertação.
Durante a década de
Tal como a Venezuela, Angola é membro da OPEP e neste momento o maior produtor de petróleo ao sul do Sahara, tendo ainda como recurso os diamantes (5º produtor mundial) e outros minerais, assim como enormes potencialidades agrícolas, pecuárias e piscatórias. (9)
Angola e os dois Congos, possuem no conjunto mais de metade da água interior do continente, um continente onde existem os maiores desertos quentes da Terra. (10)
O exemplo que advém da Venezuela deve pois ser tomado seriamente em conta em Angola como fonte de inspiração, até porque é a altura de conhecer como nunca antes o povo angolano!
Na Venezuela são os recursos provenientes do petróleo que financiam os esforços da “Missión Barrio Adentro”.
É evidente que a Venezuela está, sob o ponto de vista infra estrutural e estrutural, num degrau muito mais avançado que Angola e isso influi nos programas de um e de outro país e nos critérios de distribuição dos investimentos.
Angola está a fazer o esforço do “cimento e do alcatrão” a que tão bem se têm adaptado os chineses, porque praticamente todas as estruturas ou se tinham degradado, ou pura e simplesmente haviam sido danificadas ou destruídas, mas as correcções na saúde são imprescindíveis, no quadro dum sistema nacional de abrangente, pois urge diminuir drasticamente os incentivos à privatização no ramo tendo em conta os resultados nefastos que têm acarretado para a sociedade e isso apesar da escassez de pessoal médico e de outros especialistas do ramo, urge tão rapidamente quanto o que é possível, conhecer sob os mais variados sentidos das ciências humanas, conhecer o homem angolano do post guerra, a fim de melhor levar a cabo o exercício dum poder soberano e cidadão.
Não consta que aqueles que estão à frente do estado venezuelano estejam a utilizar recursos provenientes do petróleo ou de outras riquezas naturais (de notar que a Venezuela também possui diamantes em Roraima, no sul do país e junto à fronteira com o Brasil) para seu próprio proveito, ou de propriedades privadas suas ou de suas famílias.
Os projectos de integração existentes na América Latina, que não são apenas extensivos aos países da ALBA, conforme se pode constatar por iniciativas como o Mercosur, o Unasur, ou o Banco do Sul que teve inauguração oficial durante a reunião América Latina – África na ilha Margarita, têm na indústria energética a sua principal fonte de financiamentos e tem havido rigor na gestão dos recursos, não sendo letra morta o combate à corrupção.
Vem isto a propósito dos indícios que vão surgindo em Angola que vão num sentido ao contrário do que tem sido implementado na Venezuela.
A Sonangol começa por ter sucursais em Londres (desde a década de 80 do século passado), em Houston e no Extremo Oriente e acaba propiciando a entrada de capitais de sua matriz em bancos europeus, onde muitas das “parcerias público privadas” têm sido forjadas, sem que haja ao menos um arremedo de prestação de contas. (11)
Desse modo, muitos recursos financeiros que poderiam ser canalizados para projectos nacionais como os da saúde, ou outros, inclusive internacionais (várias vezes referi a necessidade de investimentos sérios na produção de energia tendo em conta o espaço da SADC e em particular o deficit crónico da África do Sul), acabam por entrar em circuitos que abarcam outros interesses que não directamente os do povo e do estado angolano.
A imprensa, dentro e fora do país, tem-se referido amiúde a essa “involução”, em alguns casos com evidências que constituem autênticos escândalos.
O estado angolano desse modo, ao invés de concentrar todos os recursos nas estratégias internas e regionais (África Austral e África Central), parece estar mais empenhado na criação e consolidação duma oligarquia nacional, de nada servindo o exemplo que advém da América Latina, onde as oligarquias são refractárias ao aprofundamento da democracia, um processo que passa pela extensão abrangente de serviços sociais como os da educação e saúde a todos os povos latino americanos.
De facto o foço de desigualdades vai aumentando e a tendência para a marginalização sem melhor alternativa de largos substratos da população suburbana e de inúmeras áreas rurais por todo o vasto espaço nacional, é um mau indicador em termos de equilíbrio, de solidariedade humana e de justiça social, como um mau indicador de sustentabilidade do desenvolvimento.
A geografia humana da capital que se está a projectar, é a prova evidente desse critério que se tende a seguir e a trilha da posse e venda dos terrenos é esclarecedora.
No momento em que a crise põe em cheque como nunca o modelo capitalista, no momento em que as oligarquias para sobreviver e fazer sobreviver o seu poder, recorrem a financiamentos colossais do próprio estado já por si super endividado (como acontece nos próprios Estados Unidos), em Angola há a tendência para, fechando-se as portas inteligentes para a lógica alternativa, abrirem-se de par em par as portas da estupidez para a lógica da formação de elites que, se um dia se constituírem em oligarquias à imagem e semelhança das latino americanas, forçarão em África como do outro lado do Atlântico, a novas tensões, conflitos e guerras.
É urgente assumir a lógica da vida para todo o povo angolano e para os povos africanos duma maneira geral, para que a morte deixe de inibir as mais legítimas aspirações de paz e prosperidade de todos nós, cidadãos angolanos, cidadãos africanos, cidadãos do mundo!
Notas:
- (1) – Cubadebate – Más de 226 mil vidas salvo programa Barrio Adentro en
Venezuela – http://www.cubadebate.cu/noticias/2009/10/04/mas-de-226-mil-vidas-salvo-programa-barrio-adentro/ ;
Ministério del Poder Popular para la Salud – Misión Barrio Adentro –http://www.mpps.gob.ve/ms/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=239 ;
Rebelion – Amplia Venezuela red de atención médica gratuita y aumenta inversión
social en general – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=92775
- (2) – David Rockefeller Center for Latin América Stuadies – Harvard
University – Barrio Adentro – Arachu Castro –http://www.drclas.harvard.edu/revista/articles/view/1114
- (3) Revolución Bolivariana – Wikipedia – http://es.wikipedia.org/wiki/Revoluci%C3%B3n_Bolivariana ;
Nodo50 – La Revolución Bolivariana e el Socialismo del siglo XXI – http://www.nodo50.org/carlosmarx/spip/article.php3?id_article=51
- (4) – Analítica.com – Venezuela en la OPEP – http://www.analitica.com/va/economia/opinion/1819135.asp ;
Ministério da Relações Exteriores do Brasil – El Universal – Produción de crudo
se ubica en 3,1 millones de barriles – http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=587752
- (5) – Granma – Hugo Chavez alerta sobre planos separatistas na Venezuela – http://www.granma.cu/portugues/2009/junio/lun15/Hugo-Chavez.html
- (6) – ALBA – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Bolivarian_Alliance_for_the_Americas ;
Monthly Review -http://mrzine.monthlyreview.org/hattingh070208.html ; http://monthlyreview.org/090901hart-landsberg.php
- (7) – Ministério de Relações Exteriores do Brasil – ASA – http://www2.mre.gov.br/asa/ ;
BBC – Cúpula América do Sul – África é teste para a liderança do Brasil – http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090925_cupulaasa_cj_cq.shtml
- (8) – Página Um – Angola – Um singular balanço entre guerra e paz – http://pagina-um.blogspot.com/2008/04/angola-um-singular-balano-entre-guerra.html
- (9) – O Globo – Angola ingressa na OPEP – http://oglobo.globo.com/blogs/adriano/posts/2007/03/21/angola-ingressa-na-opep-51855.asp
- (10) – Hidrografia – Bacia do Congo – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Hidrografia ;
Congo River - Wikipedia –http://en.wikipedia.org/wiki/Congo_River ; Zambezi -
Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Zambezi ;
Kwanza river - Wikipedia –http://en.wikipedia.org/wiki/Cuanza_River ; Okavango
river - Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Okavango_River ; Cunene
river - Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Cunene_River
- (11) – SAPO Económico – Caixa e Sonangol antecipam abertura de novo banco – http://economico.sapo.pt/noticias/caixa-e-sonangol-antecipam-abertura-de-novo-banco_69694.html ;
MRA Alliance - Sonangol e a filha do presidente reforçam posições na banca –http://www.lawrei.eu/MRA_Alliance/?p=2495 ;
IOL – Sonangol admite entrar na EDP e reforçar na GALP – http://diario.iol.pt/economia/sonangol-edp-galp-capital-reforco-saudavel/1089565-4058.html ;
Jornal de Negócios – http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=345996 ;
Correio digital – http://www.correiodigital.info/2009/09/angolaportugal-empresaria-isabel-dos-santos-e-um-dos-rostos-da-aproximacao-entre-os-dois-paises/ ; http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/files/o_rosto_de_angola.pdf
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