terça-feira, 27 de agosto de 2019

Por que Reino Unido pede ao mundo que crie alternativa global para substituir dólar?


As maiores economias do mundo estão prontas para desistir da unidade monetária dos EUA como moeda de reserva, opina especialista.

Recentemente, o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney, apelou aos bancos centrais mundiais para que criem uma “alternativa global” à moeda americana.

A colunista da Sputnik Natalia Dembinskaya explica o motivo pelo qual o dólar está perdendo influência para um número crescente de países e por que motivo o Reino Unido está fazendo esta proposta.

Substituto do dólar

Desde a crise financeira global de 2008, os bancos centrais mundiais reduziram em sete pontos percentuais a cota-parte do dólar dos EUA na estrutura das suas reservas financeiras. Em 2018, os países em desenvolvimento foram particularmente ativos na venda de dólares e de obrigações do Estado americano. Uns, para estabilizar suas próprias moedas, outros por causa de conflitos com Washington.

Segundo estimativas do Banco Central Europeu, a posição do dólar nos resultados financeiros do ano passado sofreu um grande abalo, com sua participação nas reservas cambiais mundiais caindo para 61,7 %, enquanto a participação do euro aumentou para 20,7 %.

Só em abril, o Reino Unido se livrou de US$ 16,3 bilhões (R$ 67,7 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA.

Durante um seminário econômico nos Estados Unidos, o chefe do Banco de Inglaterra, Mark Carney, afirmou que o dólar já não merece o estatuto de moeda de reserva mundial, propondo que os bancos centrais dos vários países se unam para encontrar um substituto.

Na opinião do chefe do regulador britânico, a importância da moeda americana no comércio mundial é “inadequadamente alta”, o que desestabiliza a economia global.


Moeda digital como saída?

Para estabilizar o sistema financeiro global, a moeda de reserva não deve ser a moeda nacional de um país, mas sim uma “divisa alternativa digital global”, uma moeda virtual baseada em uma cesta de bens e criada a partir de uma rede de moedas digitais dos bancos centrais. Isto facilitaria o comércio transfronteiriço e os pagamentos internacionais, reduzindo a dependência da economia mundial em relação ao dólar, explica a colunista.

Carney também salientou que a dependência do dólar é muito arriscada por causa da guerra comercial lançada por Trump, apontando que países não diretamente envolvidos nos conflitos comerciais também sofrem com falhas na cadeia de suprimentos nos setores automotivo, siderúrgico e de tecnologia.

No entanto, os especialistas avaliam a ideia de uma moeda digital única como limitada, pois seria preciso que todos os países chegassem a uma opinião comum, o que é muito difícil, uma vez que a proposta de Carney implicaria limitar a soberania dos bancos centrais.

Solução alternativa

No final de junho, a Inglaterra, a França e a Alemanha anunciaram o lançamento do mecanismo INSTEX (Instrumento de Apoio ao Comércio Exterior) de transações financeiras, que permite contornar as restrições americanas referentes à compra de petróleo iraniano, pagando as entregas em euros e não em dólares.

O mecanismo está disponível para todos os países da UE desde 28 de junho e, em breve, estará acessível para empresas de outros países.

Os especialistas estão confiantes de que o novo sistema irá desferir um golpe no desejo dos EUA de controlar a ordem econômica mundial, pois não apenas a Europa, mas qualquer país que não queira cumprir o regime de sanções da Casa Branca poderá “livrar-se do dólar”.

Desdolarização acelerada

Enquanto a Europa está tentando descobrir como retirar o dólar do mercado e contornar as restrições dos EUA, a Rússia está cortando seus pagamentos em dólares em um ritmo recorde. Ao longo dos cinco anos de sanções, Moscou reduziu os acordos internacionais em dólares em quase 13%, aumentando a participação do euro e do rublo em 26% e 14%, respectivamente.

Uma das razões para a desdolarização acelerada é a ameaça dos EUA de desligar a Rússia do sistema de pagamentos interbancários SWIFT.

A desdolarização está ocorrendo mais ativamente no comércio entre Moscou e Pequim, que decidiram passar a efetuar transações nas suas moedas nacionais em dezembro de 2014. Desde então, entraram em vigor diversos acordos russo-chineses sobre o comércio direto em rublos, sem a participação de bancos americanos, do Reino Unido ou da UE.

Pátria Latina | Foto: © AP Photo / Amr Nabil

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