As maiores economias do mundo
estão prontas para desistir da unidade monetária dos EUA como moeda de reserva,
opina especialista.
Recentemente, o chefe do Banco da
Inglaterra, Mark Carney, apelou aos bancos centrais mundiais para que criem uma
“alternativa global” à moeda americana.
A colunista da Sputnik Natalia
Dembinskaya explica o motivo pelo qual o dólar está perdendo
influência para um número crescente de países e por que motivo o Reino Unido
está fazendo esta proposta.
Substituto do dólar
Desde a crise financeira global
de 2008, os bancos centrais mundiais reduziram em sete pontos percentuais a
cota-parte do dólar dos EUA na estrutura das suas reservas financeiras. Em
2018, os países em desenvolvimento foram particularmente ativos na venda de
dólares e de obrigações do Estado americano. Uns, para estabilizar suas
próprias moedas, outros por causa de conflitos com Washington.
Segundo estimativas do Banco
Central Europeu, a posição do dólar nos resultados financeiros do ano passado
sofreu um grande abalo, com sua participação nas reservas cambiais mundiais
caindo para 61,7 %, enquanto a participação do euro aumentou para 20,7 %.
Só em abril, o Reino Unido se
livrou de US$ 16,3 bilhões (R$ 67,7 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA.
Durante um seminário econômico
nos Estados Unidos, o chefe do Banco de Inglaterra, Mark Carney, afirmou que o
dólar já não merece o estatuto de moeda de reserva mundial, propondo que os
bancos centrais dos vários países se unam para encontrar um substituto.
Na opinião do chefe do regulador
britânico, a importância da moeda americana no comércio mundial é
“inadequadamente alta”, o que desestabiliza a economia global.
Moeda digital como saída?
Para estabilizar o sistema
financeiro global, a moeda de reserva não deve ser a moeda nacional de um país,
mas sim uma “divisa alternativa digital global”, uma moeda virtual baseada em uma cesta de bens e criada a
partir de uma rede de moedas digitais dos bancos centrais. Isto facilitaria o
comércio transfronteiriço e os pagamentos internacionais, reduzindo a
dependência da economia mundial em relação ao dólar, explica a colunista.
Carney também salientou que a
dependência do dólar é muito arriscada por causa da guerra comercial lançada
por Trump, apontando que países não diretamente envolvidos nos conflitos comerciais também
sofrem com falhas na cadeia de suprimentos nos setores automotivo, siderúrgico
e de tecnologia.
No entanto, os especialistas
avaliam a ideia de uma moeda digital única como limitada, pois seria preciso
que todos os países chegassem a uma opinião comum, o que é muito difícil, uma
vez que a proposta de Carney implicaria limitar a soberania dos bancos centrais.
Solução alternativa
No final de junho, a Inglaterra,
a França e a Alemanha anunciaram o lançamento do mecanismo INSTEX (Instrumento
de Apoio ao Comércio Exterior) de transações financeiras, que permite contornar
as restrições americanas referentes à compra de petróleo iraniano, pagando as
entregas em euros e não em dólares.
O mecanismo está disponível para
todos os países da UE desde 28 de junho e, em breve, estará acessível para
empresas de outros países.
Os especialistas estão confiantes
de que o novo sistema irá desferir um golpe no desejo dos EUA de controlar a
ordem econômica mundial, pois não apenas a Europa, mas qualquer país que não
queira cumprir o regime de sanções da Casa Branca poderá “livrar-se do dólar”.
Desdolarização acelerada
Enquanto a Europa está tentando
descobrir como retirar o dólar do mercado e contornar as restrições dos EUA, a
Rússia está cortando seus pagamentos em dólares em um ritmo recorde. Ao longo
dos cinco anos de sanções, Moscou reduziu os acordos internacionais em dólares
em quase 13%, aumentando a participação do euro e do rublo em 26% e 14%,
respectivamente.
Uma das razões para a
desdolarização acelerada é a ameaça dos EUA de desligar a Rússia do sistema de
pagamentos interbancários SWIFT.
A desdolarização está ocorrendo
mais ativamente no comércio entre Moscou e Pequim, que decidiram passar a
efetuar transações nas suas moedas nacionais em dezembro de 2014. Desde então,
entraram em vigor diversos acordos russo-chineses sobre o comércio direto em
rublos, sem a participação de bancos americanos, do Reino Unido ou da UE.
Pátria Latina | Foto: © AP Photo
/ Amr Nabil
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