Equipa multissetorial incinerou
33,5 quilos de drogas apreendidos no aeroporto e no porto da capital
são-tomense. Ex-ministro da Defesa afirma que "disfuncionamento" nos
tribunais dificulta combate ao tráfico no país.
As drogas, incineradas numa
operação apoiada por fortes medidas de segurança e coordenada pela Polícia
Judiciária (PJ), na lixeira de Penha, a três quilómetros da capital
são-tomense, são 31,7 quilos de cocaína apreendidas no aeroporto de São Tomé na
primeira semana de julho, e 1,7 quilos de heroína apreendidos nas alfândegas do
país.
A operação envolveu agentes da
Polícia Judiciária, da Polícia Nacional, da Polícia Fiscal e Aduaneira, do
Ministério Público (MP) e dos tribunais e foi considerada "a maior incineração
de droga efetuada até hoje" pela polícia.
"Todas as drogas apreendidas
pela polícia devem ser queimadas, mas para isso precisamos de uma autorização
judicial", explicou a diretora da Polícia Judiciária, Maribel Rocha.
A diretora da PJ referiu ainda
uma nova apreensão de cocaína no aeroporto da Região Autónoma do Príncipe que
aguarda autorização dos serviços judiciais para incineração, sem, contudo, dar
mais detalhes.
Consumo nas escolas
Na quinta-feira, em declarações à
Rádio Nacional (emissora oficial), Maribel Rocha alertou as autoridades para o
consumo de droga em pelo menos nove escolas do país, sem especificar o tipo de
estupefaciente.
Dados avançados por esta
responsável indicam que pelo menos oito por cento dos alunos do Liceu Nacional
- a maior instituição escolar do país, na capital, com mais de seis mil alunos
- consomem droga, seguindo-se a escola secundária de Algés, em Cantagalo, com
seis por cento, e outros seis por cento da escola secundária da Trindade.
De acordo com a diretora da PJ,
dois por cento dos alunos da escola secundária de Neves (norte de São Tomé)
foram igualmente identificados como consumidores de estupefacientes, e um por
cento dos alunos do liceu Manuela Margarido, em Mé Zochi. Um por cento dos
alunos de quatro escolas da Região Autónoma do Príncipe, designadamente escola
secundária do Príncipe, de Santo António Segundo, da escola Nova Estrela, e da
escola Padrão, também são consumidores.
Problemas na justiça dificultam
trabalho da PJ, diz ex-ministro
Arlindo Ramos, deputado da Ação
Democrática Independente (ADI, na oposição) e ministro da Defesa e
Administração Interna no anterior Governo (de Patrice Trovoada, 2014-2018)
exortou as autoridades a "levarem a sério" o combate ao tráfico e
consumo de drogas no país.
Intervindo na quinta-feira
(08.08) em sessão plenária na Assembleia Nacional, o antigo governante
considerou que os tribunais atravessam uma fase de "disfuncionamento",
o que "complica ainda mais o problema" e põe em causa os trabalhos da
Polícia Judiciária (PJ).
O deputado do ADI lembrou as
declarações da diretora da Polícia Judiciária aquando da apreensão no mês
passado de 33 quilos de cocaína, segundo as quais 80% das drogas apreendidas no
país saem para o estrangeiro e outros 20% são consumidas em São Tomé e Príncipe.
Arlindo Ramos fez as contas e
concluiu que "20% de 35 quilos de cocaína dariam cerca de 70 mil doses e é
muita droga".
O ex-ministro convidou as
autoridades a refletir sobre este problema e saudou a cooperação da Polícia
Judiciária portuguesa no combate ao tráfico. Arlindo Ramos defende que o
combate ao tráfico e consumo de droga deve merecer o envolvimento de todos, mas
a realidade que se vive a nível dos órgãos judiciais "deixa muito a
desejar" e desencoraja a PJ.
"Se as drogas são entregues
aos tribunais acompanhadas de detidos, o tribunal diz que as provas não são
suficientemente claras para manter essas pessoas detidas, as drogas são
guardadas nos tribunais e depois desaparecem. As pessoas são identificadas e
indiciadas, mas acabam por entrar novamente no sistema", criticou o
deputado.
Arlindo Ramos não avançou nomes,
mas diz saber de "muitas pessoas" que são recetoras de drogas em São
Tomé, "são levadas ao Ministério Público e aos tribunais, mas depois estão
na rua". O ex-ministro considerou que "tudo isso tira credibilidade,
força e vontade de continuar a trabalhar" à PJ.
Deutsche Welle | Agência Lusa
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