sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Colômbia | A PAZ NÃO EXISTE SEM JUSTIÇA SOCIAL


PCPE [*]

No dia de hoje, 29 de Agosto, através de um comunicado, diversos comandantes das FARC-EP que na altura assinaram o Acordo de Paz de Havana com o Estado colombiano, anunciaram sua intenção de continuar a luta pela paz, pelo único caminho que a oligarquia lhe deixou: o regresso à luta armada das FARC-EP. Entre o grupo de guerrilheiros que retomam as armas estão o que foi chefe da equipe negociadora e número dois da guerrilha, Iván Marquez; e Jesús Santrich, que conseguiu escapar de uma montagem do Estado colombiano e da DEA estado-unidense com o objectivo de extraditá-lo para os Estados Unidos.

A partir da prática coerente do internacionalismo proletário, tal como em 2012 reconhecemos o esforço da insurgência para conseguir uma saída negociada que superasse o enfrentamento armado, hoje respeitamos a decisão daqueles que dão por terminado o acordo de paz e decidem, com soberania, retomar o caminho da insurreição armada e popular. No mesmo sentido, respeitamos a posição daqueles que insistem no caminho da legalidade e que cumpriram o acordo de paz apesar de que a outra parte, o governo colombiano, o infringiu permanentemente.

O Estado colombiano, uma vez desarmada a guerrilha, através de um plebiscito desonesto, desnaturalizou o acordado entre as partes em conflito, mudando substancialmente o assinado, e incumprindo os aspectos fundamentais do mesmo. Nada resta do ponto agrário, da substituição voluntária de cultivos, das circunscrições eleitorais para as vítimas do conflito armado. A jurisdição especial para a paz que, como mecanismo de justiça transicional devia abranger todos os actores do conflito, hoje é uma caricatura do pactuado. Centenas de prisioneiros das FARC-EP continuam encarcerados, Simón Trinidad continua numa masmorra gringa. Dos milionários fundos para o pós-conflito, ninguém sabe o que aconteceu. Enquanto o assassinato sistemático de líderes sociais e ex-guerrilheiros não cessa, mais de 500 e 150 respectivamente, no tempo que decorreu desde a assinatura do acordo. A montagem da DEA contra Santrich e a operação militar contra Iván Márquez e outros comandantes, somam a este panorama desolador inquietação e incerteza.

A oligarquia colombiana traiu novamente os anseios de paz do povo colombiano. Demonstrou-se que o seu único interesse era desarmar a guerrilha sem tocar numa só mola que questionasse seu poder e permitisse uma máxima abertura democrática e um mínimo de soberania.

A Colômbia hoje é o porta-aviões guardião do imperialismo norte-americano e europeu na região. Enquanto na Espanha encerram-se minas de carvão, a Europa enche-se de carvão colombiano fruto da destruição de amplos territórios e do saque e aniquilação de comunidades inteiras. A agro-indústria despoja os camponeses das suas terras, deixando o país sem a mais mínima soberania alimentar, a mineração das grandes multinacionais, o fracking, a desflorestação e a pecuária extensiva destroem o território e são a origem de um genocídio contra comunidades camponesas, indígenas e de afro-descendentes. A Colômbia, como principal produtor de cocaína sob o controle da DEA, aumentou exponencialmente a superfície do cultivo da folha de coca na ausência das FARC-EP dos territórios, o que demonstra que a Colômbia é um narco-estado. Oitenta e cinco por cento da população sobrevive com menos de 400 euros mensais, as grandes urbes amontoam milhões de pessoas em intermináveis cinturões de miséria. Hoje a Colômbia é uma grande fazenda da qual o imperialismo espolia seus recursos naturais, obtém a droga que necessita e é uma grande base militar para controlar a região.

O regime colombiano é um dos actores principais da agressão contra a República Bolivariana da Venezuela, introduz paramilitares que exercem o banditismo (sicariato) político na república irmão, ao mesmo tempo que se configura como a base a partir da qual se ameaça com uma agressão militar.

Nesta conjuntura, o PCPE e a JCPE enviam uma fraternal saudação solidária e internacionalista às FARC-EP e ao conjunto do povo colombiano e a suas diversas expressões sociais e políticas que lutam por uma nova Colômbia soberana e independente.

Madrid, 29 de Agosto de 2019

[*] Partido Comunista dos Povos de Espanha

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