Uma parte da opinião pública já aprendeu
a ser céptica em relação aos fluxos de “notícias” transmitidas pelos media
dominantes. Mas trata-se infelizmente de uma pequena parte. Tudo o que possa
ser feito para contrapor factos concretos às campanhas mediáticas é necessário,
sejam elas sobre ”armas de destruição massiva” no Iraque sejam sobre os
“combatentes da liberdade” em Hong Kong.
Nunca referir a versão da outra
parte no terreno e limitar-se a repetir a mesma história, sem o mínimo
aprofundamento, tornaram-se as regras seguidas pelos media dominantes para
abordar os factos internacionais. Quer se trate de China, Venezuela, guerras,
massacres ou catástrofes, de cada vez que se tem de informar recorre-se a uma
fórmula pré-confeccionada. Que coincide regularmente com os interesses dos
proprietários dos media, dos governos ocidentais e dos 0,1% que tentam governar
as coisas do mundo.
Para quebrar esta corrupção
mediática, que retira sentido ao discurso democrático e nos coloca nas mãos de
uma plutocracia cada vez mais restrita, precisamos de mergulhar no caos das
fontes alternativas de informação ou fundar jornais independentes. Ou ser-se
prémio Nobel como Paul Krugman. Que pode permitir-se, nas colunas do New York
Times, elencar as formas através das quais os 0,1% distorcem a seu favor as
prioridades públicas. E produzem, acrescentamos, a comunicação
hiper-simplificada, falsa e omissa da qual somos vítimas. Eis a lista de
Krugman: 1) Corrupção hard: suborno em dinheiro de políticos e jornalistas. 2)
corrupção soft. Isto é as “portas giratórias” entre governo e negócios,
subsídios para périplos de conferências, integração em clubes exclusivos. 3)
Contribuições eleitorais. 4) Definição da agenda política através da
propriedade dos media e dos think tanks, de modo a fazer prevalecer prioridades
que frequentemente são contrárias à razoabilidade e ao bem comum (P. Krugman,
NYT 22.6.2019). Quando os 0,1% decidem que um país deve ser atacado - seja
porque não tem armas nucleares e é rico em recursos naturais, ou porque está em
condições de competir no plano económico e geopolítico, ou porque assume
posições hostis à finança neoliberal, ou por um combinação destas razões - um
ataque coordenado ao seu governo é desencadeado. As outras prioridades da
política externa desaparecem e avança a cruzada mediática. Como vivemos uma
época de aversão generalizada à guerra, o pretexto preferido para agredir um
país tornou-se o “humanitário” e a “violação dos direitos humanos”.
Uma parte dos habitantes de Hong Kong, portanto, cultiva o sonho de um retorno ao passado que preserve um estatuto de nicho financeiro que perdeu relevância para a China. E isso não está de acordo com as políticas de Pequim viradas para favorecer a economia real em detrimento da finança privada. Mas não é uma história fácil de contar. Os 0,1% preferem fazer passar uma história mais expedita, com o tirano Xi Jinping de um lado e os heróis da democracia liberal do outro.
*O Diário.info
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