Livro do homem que revelou o
estado de vigilância global sai nesta terça-feira. Ele segue em Moscou; teme
que a Inteligência Artificial multiplique o controle; mas crê na resistência
cidadã. Vale ler sua entrevista ao “Guardian”
Antonio Martins | Outras Palavras
Há seis anos e meio, Edward
Snowden, então um funcionário subcontratado da CIA, entrou num avião em
Honolulu, Havaí, e desceu horas depois em Hong Kong. Lá, num quarto de hotel,
encontrou-se com os jornalistas Glenn Greenwald, Laura Poitras e Ewen MacAskill
– e levantou
o véu que encobria o gigantesco aparato de vigilância global montado
pelos Estados Unidos. A história de sua vida (apenas 36 anos) está agora
contada em livro – Permanent
Record, que será lançado em 20 países, na próxima terça-feira (e ainda
não tem tradução em português. Na sexta-feira, ele concedeu ao Guardian uma entrevista
de duas horas, em que antecipa algumas das revelações.
“Estamos nus diante do poder”,
diz Snowden, que vive desde 2014 em Moscovo – onde casou-se com Lindsay Mills,
sua namorada desde os 22 anos. Tem visto de residência permanente. Viaja
bastante, embora não possa sair do país, para não ser agarrado por agentes
norte-americanos. Perdeu o medo e o hábito de usar sempre casacos e chapéus.
Mas, por temperamento, passa a maior parte do tempo em casa, de onde faz
teleconferências que são hoje seu meio de vida. Diz que está preparado para
viver longos anos no país e considera natural que Moscovo, tão atacada pelo
Ocidente, use (discretamente) o fato de lhe ter dado abrigo como propaganda
política.
Snowden está preocupado com o
avanço da Inteligência Artificial, também no que diz respeito à vigilância. Os
dispositivos de reconhecimento facial e de reconhecimento de padrões de
comportamento, diz ele, ameaça transformar cada câmera (são dezenas de milhões,
pelo mundo), num “policial automático”. Ainda assim, ele não está pessimista.
Crê que a consciência da vigilância terminará levando à revolta. “Quem deseja
mudar algo precisa por-se de pé”, diz ele. Vê a publicação do livro como algo
que pode ajudar esta luta.
Escritas por Glenn Greenwald e
Ewen MacAskill, as primeiras matérias sobre a rede global de espionagem dos EUA
foram publicadas pelo Guardian e pelo Washignton Post em 6
de Junho de 2013. Estão aqui: 1 2.
Dezenas de outras se seguiram e podem ser pesquisadas aqui. Citizen Four, o documentário de
Laura Poitras que conta a história das revelações, ganhou, em 2015, o Oscar de
melhor documentário. Jamais foi exibido comercialmente no Brasil. Outras
Palavras orgulha-se de tê-lo apresentado, em cinedebate. Uma vasta
entrevista de Laura pode ser lida, em português, aqui.
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