segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Portugal | Costa vai geringonçar… em vez de governar


Manuel Pinto Teixeira | Jornal de Notícias | opinião

1. Apurados os resultados eleitorais da emigração, o Parlamento está constituído e pronto para receber os novos deputados. Paralelamente, António Costa fechou a equipa ministerial, aguardando apenas que o presidente da República dê posse ao Executivo, na próxima quarta-feira. Sem surpresas, tudo está a postos para o arranque da nova legislatura.

Costa, em minoria parlamentar, definiu de forma muito clara o quadro em que vai atuar. Não há acordos escritos com nenhuma força política. Haverá negociações caso a caso, mas só com os partidos à sua Esquerda. Criou dois novos ministérios, apenas com duas estreias. A maioria dos ministros é independente, mas o núcleo político é da sua estrita confiança.

2. Os atores vão entrar em palco, e o objetivo é claro: o primeiro-ministro vai mostrar que o equilibrismo político-parlamentar lhe será suficiente para cumprir o seu segundo mandato de quatro anos. António Costa optou por geringonçar, em vez de governar. O que lhe interessa é sobreviver, com o máximo de aplausos e o mínimo de assobios. Conseguirá?
Olhando para os setores mais críticos, e que mais contestação lhe valeram até aqui, o sucesso parece muito difícil. Na Saúde, na Educação, na Justiça, na Segurança, e na Defesa os ministros são os mesmos. Logo, médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, professores e auxiliares de educação, magistrados, guardas, polícias e militares não tardarão a voltar à rua...

3. Terreno fértil para que as oposições façam ouvir a sua voz, e valer o seu poder. Duas lições óbvias saíram deste sufrágio. O novo Parlamento ficou mais fragmentado, e o PSD é o único partido a afirmar-se como alternativa de governação futura. Mais de 3,5 milhões de portugueses disseram que querem ser governados no espaço do centro-esquerda ao centro-direita.

Cabe agora ao PSD consolidar o seu papel de alternância governativa, batendo-se por políticas verdadeiramente sociais-democratas, personalistas e reformistas. Não há espaço para aventuras, nem para experiências ideológicas. Quem não entender a lição das urnas será cúmplice na degradação política, na descredibilização do partido, e na sua progressiva atomização fragmentária.

*Professor universitário e investigador do CEPESE (UP)

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