O Gabinete de Proteção Financeira
da Deco já recebeu este ano 26.200 pedidos de ajuda de famílias
sobreendividadas e a principal causa já não é o desemprego, mas a deterioração
das condições de trabalho, com 21% dos casos.
A mudança no principal motivo
para as pessoas recorrerem ao Gabinete de Proteção Financeira (GPF)
da Deco está a ser acompanhada por um aumento do número de pedidos o que leva a
coordenadora deste Gabinete, Natália Nunes, a sublinhar a necessidade de se
“voltar a repensar os comportamentos adotados na época mais
complicada da crise”, em termos de recurso ao crédito.
A pretexto do Dia Mundial da
Poupança, que se assinala na quinta-feira, o Gabinete de Proteção Financeira
fez um balanço dos pedidos que lhe chegaram desde o início do ano e o resultado
mostra que os 26.200 entrados até outubro ultrapassam os
contabilizados em igual período de 2017 e 2018 e que foram 26.080 e 26.180, respetivamente.
Os dados revelaram ainda que, em
2018, a deterioração das condições de trabalho esteve na origem de 19% das
situações de rutura, mas o seu peso aumentou este ano para os 21%,
ultrapassando pela primeira vez o desemprego (20%).
“Há 19 anos que prestamos apoio
aos consumidores em situação de sobreendividamento e, ao longo destes
anos, a principal causa tem sido sempre o desemprego. Este continua a ser uma
causa importante, mas ocupa agora o segundo lugar porque o primeiro tem a ver
com a deterioração das condições laborais”, referiu à Lusa Natália Nunes.
Em causa estão, sublinhou a
coordenadora do GPF, pessoas que têm emprego, mas com rendimentos relativamente
baixos e muitas vezes com contratos a prazo, o que acaba por criar
“instabilidade” nos orçamentos familiares.
Em média, cada uma das pessoas
que pediu apoio ao GPF tinha cinco créditos, número que se tem
mantido estável desde 2015, mas que tem por trás uma subida do valor médio em
dívida e dos encargos mensais com prestações.
Segundo o GPF, o valor médio
do crédito pessoal dos que pediram ajuda aumentou de 16 mil euros em 2018 para
20.100 euros este ano. Por sua vez, o valor médio do crédito à habitação subiu,
no mesmo período, de 79 mil para 83.300 euros, e o montante em dívida médio dos
cartões de crédito avançou dos 7.500 para os 8.500 euros.
Tudo somado, o valor total das
prestações de crédito aumentou de 798 euros em 2018 para 870 euros em 2019, enquanto
no mesmo período o valor médio do rendimento líquido mensal avançou de 1.150
euros para 1.200 euros.
Ressalvando que “as famílias
continuam com taxas de esforço muito elevadas”, acima dos 70% e excedendo
largamente os 35% aconselhados pela Deco, Natália Nunes acrescenta que, entre
os que recorrem à ajuda do GPF para renegociarem créditos, há
situações de créditos contratados recentemente.
“Temos situações de pedidos de
ajuda para renegociar créditos à habitação contratados já este ano ou em 2018”,
precisou aquela responsável.
Todo este contexto leva Natália
Nunes a considerar que as medidas que foram tomadas no ano passado pelo Banco
de Portugal para limitar a concessão de crédito para compra de casa não são
suficientes.
“Na habitação existe algum rigor
na concessão do crédito, no que concerne nomeadamente em relação à avaliação da
solvabilidade, mas a situação dos consumidores não passa única e exclusivamente
pelo crédito à habitação”, precisou Natália Nunes para ressalvar que “se poder
prevenir situações de endividamento excessivo” deveriam ter-se em
conta todos os créditos, nomeadamente os pessoais e os cartões de crédito.
Acentuando que o atual contexto
de baixas taxas de juro tem evitado uma maior subida dos casos de sobreendividamento,
a coordenadora do GPF sublinha, contudo, a necessidade de as pessoas
voltarem a adotar alguns dos cuidados na gestão do dinheiro que adotaram durante
a crise.
“Temos de voltar a repensar os
comportamentos que adotámos na época mais complicada da
crise em que os consumidores eram muito mais responsáveis na forma como lidavam
com as questões do dinheiro e tomavam as suas decisões de crédito precisamente
para acautelar possíveis complicações que possam surgir”, precisou, defendendo
ao mesmo tempo um reforço da poupança.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © iStock
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