António
Jorge* | opinião
Pela boca morre o peixe!
Se a nossa língua é a pátria...
mais que a própria geografia do país onde nascemos ou vivemos...
- Se assim é... como é que a
África e os países e povos africanos que tem uma língua oficial estrangeira...
geralmente acessível apenas às elites e assimilados... e que foi imposta pelo
colonialismo... responsável por séculos de escravatura.. como idioma exclusivo
ou oficial... se podem libertar algum dia?
- E se a este facto juntarmos a
discriminação e desvalorização que é feita às línguas africanas... onde
milhões de crianças, (a maioria) por não falarem a língua adoptada como
oficial, estão afastadas do sistema de ensino... e crescerem sem puderem ter
acesso aos conhecimentos elementares... e que vivem na pobreza e nunca terão
uma profissão condigna... transformados apenas... em biscateiros, varredores,
lavadores de carros, carregadores, aguadeiros, catadores de lixo, vendedores de
rua... prostitutas, traficantes ou como bandidos para sobreviverem e encherem
as cadeias.
Como podem os Não alfabetizados
no idioma oficial compreender e participar da vida colectiva de um país... como
Angola que eu conheço.
- Ser um ser normal, numa escola, ter uma profissão, ter esperança e ter futuro?
Houve devido às várias guerras no
passado em Angola, e por razões de sobrevivência também, um êxodo... milhões de
pessoas que fugiram das suas terras para as cidades... principalmente para
Luanda... hoje com mais de oito milhões de habitantes... e que pela aculturação
e urbanização... muitos hoje comunicam em português... claro que
deficientemente, por conhecerem apenas alguns dos vocábulos da língua de
Camões... e de Fernando Pessoa... que afirmou certa vez... "a minha pátria
é a língua portuguesa"... e sabemos que é assim, nomeadamente quando nos
encontramos na diáspora.
Esta dependência da língua portuguesa continuará a fazer com que... a libertação seja uma miragem... já que a aculturação continua a ser feita neste idioma... e agora de forma massiva e geral na sociedade angolana... e reforçada ainda pelos meios de comunicação em massa... nacionais e estrangeiros.
- Angola deveria ser
constitucionalmente... no mínimo um país bilingue... e ter um sistema de ensino
universal para todos, (como se comprometeu nas Nações Unidas) com a criação de
escolas primárias e professores em línguas nacionais para as crianças nascidas
e criadas nas línguas maternas, como transição para a língua oficial, de acordo
com as principais línguas de Angola sem prejuízo e do aproveitamento das
capacidades cognitivas das crianças, da sua cultura antropológica e como
processo de extrapolação de um sentimento nacional abrangente e único.
*António Jorge - editor e
livreiro em Angola
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